O Diário de um Semideus escrita por H Lounie


Capítulo 13
Eu faço uma promessa




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De nada adiantou driblarmos Cérbero, Hades descobriu que entramos. Enquanto ele nos estudava com cautela, contamos o que Éolo nos disse e o porquê de estarmos ali.

– Meus familiares gostam mesmo de perder coisas em meu reino. – Disse Hades, entediado. – Agora, não venham dizer-me que acham que roubei o martelo de meu sobrinho, já que nem ao menos... - Ele parou, cerrando os punhos, visivelmente irritado. Nico estava prestes a perguntar o que houve, mas Hades adiantou-se – PERSÉFONE! – Berrou ele, fazendo a terra ao nosso redor tremer.

Uma mulher bonita, com longos cabelos negros surgiu ali, aparentemente assustada.

– Meu senhor?

– Sabe alguma coisa sobre um martelo desaparecido? – Perguntou Hades, olhando de maneira desafiadora para Perséfone.

– Não acredito que ela aprontou novamente. – Sussurrou Nico, revirando os olhos.

– Aprontou o que? – Perguntei.

Perséfone baixou olhar, como uma criança que aprontou e foi descoberta.

– Eu precisava de algo para terminar sua espada. – Disse ela por fim.

– De novo essa história de espada? Já não conversamos sobre isso?

– O que está acontecendo? – Sussurrei para Nico.

– Perséfone acha que meu pai precisa de um novo símbolo de poder, há algum tempo ela mandou que construíssem uma espada. Parece que ainda não terminou. – Respondeu ele, também aos sussurros.

Uma imagem surgiu em nossa frente. Vários homens esqueletos trabalhavam em uma espada longa, com uma chave dourada na empunhadura. Um dos homens segurava um martelo avermelhado com uma enorme letra grega “eta” gravada nele.

– Esse o é martelo? – perguntei

– É esse sim. – Respondeu Perséfone, um tanto fria.

Senti raiva na mesma hora. Por causa dela estavam me acusando de roubo. Eu devia atirar uma flecha bem no meio da cabeça daquela deusa imbecil.

– Poderia, por favor, nos devolver o martelo? – Perguntei, tentando me controlar.

– Como fez para roubar isso? – Exigiu Nico, antes que Perséfone me respondesse.

– Eu tive ajuda garoto, deuses não podem roubar outros deuses. – Disse ela, como se não estivesse nem ligando.

– Quem? – Nico estava irritado, muito irritado.

– Não é de sua conta.

– Ah, é sim. Os deuses estão acusando Lyra.

– Oh! Os deuses acham que foi sua namoradinha? Pobrezinha. – Riu a deusa.

Hades olhou de mim para Nico ao ouvir a palavra namoradinha. Estremeci com aquilo, o que será que ele estava pensando?

– Já chega! – Disse Hades – Perséfone, devolva o martelo.

– Mas meu senhor...

– Sem mais! Deixe os semideuses levarem o martelo.

– Eles terão que ir buscá-lo.

– Mas o quê? – Começou Jéssica. – Não pode fazer o favor de trazê-lo aqui?

– Não posso tocar no martelo, nem Hades pode. Vocês terão que ir buscá-lo.

– Mas onde está? Esse lugar é enorme! – Disse um Nico indignado.

– Está nas forjas dos esqueletos. – Disse ela, fazendo uma rosa negra aparecer no ar. – Levem está rosa, ela vai apontar o caminho.

Nico pegou a rosa e sem dizer mais uma palavra, começou a andar. Olhando assustadas para os dois deuses em nossa frente, Jessica e eu optamos por seguir Nico.

Calculei que estivéssemos passando pelos campos de punição, a julgar pelos gritos agoniados que ouvíamos. Em nosso campo de visão uma colina surgiu, um homem empurrava uma enorme pedra colina acima.

– Maldito seja Thânatos! – Berrava ele. – Malditos sejam todos esses deuses!

– Quem é esse cara Nico? – Perguntei, assustada com o jeito como ele falava dos deuses.

– Sísifo.

Caramba, por essa eu não esperava. Sísifo, o cara que enganou Thânatos estava bem ali.

– Ei, Sísifo! – Gritou Nico.

– Ah, não. Você aqui de novo? – Sísifo parecia assustado.

– Sim, eu estou aqui de novo. Onde fica a forja dos esqueletos?

– Que tal se você mandar um de seus amigos vir segurar essa pedra pra mim, sim? Posso te mostrar onde fica.

– E que tal se você simplesmente me mostrasse? – Retrucou Nico, ameaçador.

– Senão o que? Vai me matar? Novidade: já estou morto.

Nico desistiu e continuou andando, enquanto a rosa negra em suas mãos nos dava uma nova direção.

Andamos por horas e horas, que na verdade mais pareciam dias. Enfim, chegamos a um lugar com portões de fogo. Antes dele, um rio. Um rio de fogo, é claro.

– Rio Flegetonte.

– E o que é isso Nico? Como vamos passar? - Perguntei

– É o rio de fogo, feito para torturar os violentos. E eu ainda não sei como passar. – Disse ele, me abraçando pela cintura.

– Pular? – Sugeriu Will.

– Ah, claro, ótima ideia. – debochou Nico.

No rio eu podia ver almas gritando no meio do que parecia ser um calor insuportável.

– Deve haver um jeito. Tem que haver. – Foi tudo o que eu disse, embora não acreditasse nisso.

– Acredito que esse rio eu não possa conter. – Disse Jessica, sentando-se no chão. – Cara, vamos morrer aqui. Ou morrer lá em cima, sem o maldito martelo.

– Talvez eu possa ajudar. – Disse uma voz calma e tranqüila. Ao me virar para trás vi uma mulher flutuando como uma brisa leve. O lugar todo se encheu com um aroma doce.

– Macária? – Perguntou Nico.

– Olá semideuses.

– Macária? – Will olhou confuso para Nico.

– A deusa da boa morte. – Disse a mulher.

– Ah, que ótimo, teremos uma boa morte. Legal.

– Cala boca, Will! – Disse, dando um empurrão nele.

– Suponho que queiram ajuda para atravessar, não é mesmo? – Perguntou a deusa, ignorando Will.

– Sim, nós queremos, temos que recuperar um objeto roubado...

– Sim, sim, eu sei. Quero que recuperem logo. Sou contra qualquer tipo de morte violenta e uma guerra entre os deuses vai gerar muitas mortes desse tipo.

Com uma brisa leve, fomos levantados para cima, sendo levados para o outro lado do rio.

– Para voltar para esse lado do rio, basta que digam Μέχρι! Para cima! – E a deusa desapareceu.

– Obrigada, Macária! – Disse para o nada, quando aterrissamos do outro lado do rio.

– Fiquem aqui, eu me viro com os esqueletos. – Disse Nico, correndo para os portões de fogo antes que pudéssemos dizer qualquer coisa.

Alguns minutos depois, ele voltou com o martelo nas mãos.

– Só isso? O martelo de Hefesto é só isso?

Um martelo avermelhado simples com um ‘eta’ gravado no centro. Perdemos Meganny por isso?

– É, bem, é o que parece – Concluiu Nico. – Agora vamos! Μέχρι!

– Μέχρι!

– Μέχρι!

– Μέχρι!

E estávamos do outro lado do rio novamente.

– Vamos ter que voltar todo esse caminho? – Perguntou Will

– Bom, não precisamos, tem um caminho mais curto, porém não faço ideia de onde vamos sair. – Nico parecia preocupado.

– Que lugar?

– A caverna de Melinoe, a deusa dos fantasmas. Ela tem sua própria saída para o mundo dos vivos.

– Nada bom – sussurrei.

– Com toda certeza.

– Mas me parece melhor do que andar todo o caminho novamente, certo? Vamos lá.

E assim fomos. Depois de algum tempo de caminhada, nos deparamos com outro rio.

– Então, essa é a pior parte. – Começou Nico. – Mas se Percy conseguiu, Jessica também conseguirá.

– Que rio é esse? – Perguntei preocupada.

Nico parecia um tanto inseguro quanto a dizer que rio era. O que poderia ser pior que o Styx e o flegetonte?

– O rio Lete.

– O que? – Claro, o Lete. Só esse para ser tão terrível quanto os outros dois. – O rio do esquecimento?

– Esse mesmo. As almas que escolhem renascer vêm aqui para um banho, um banho que apaga as memórias. Todas elas.

– E você quer que eu o abra como fiz com o styx? Você se lembra o que houve no styx? Eu quase morri!

– Mas Jessica, nós realmente precisamos.

– Bom, tudo bem, vamos lá.

Então Jessica começou a fazer sua mágica. Em minutos a água do Lete começou a se separar.

– Não deixem que nem uma gota respigue em vocês, ou começarão esquecer quem são. – Alertou Nico.

– Mas que ótimo. – murmurei

Assim que atravessamos, Jessica fez o mesmo, conseguindo passar intacta dessa vez, porém assim que ela chegou até nós, desmaiou de tão exausta.

– Ah, pobrezinha! – Disse uma voz irritante que me fez lembrar Annith.

– Melinoe? – Perguntou Will.

– Está me confundindo com aquela deusa de quinta, garoto? – Desafiou a mulher. – Melinoe não está aqui, está lá em cima, assustando pessoas com seus fantasmas idiotas.

– Então quem é? Essa não é a caverna de Melinoe?

– Sim essa é a caverna dela e tudo mais. – Disse a deusa, impacientemente. – Só usei porque estou voltando do Olimpo, e essa caverna é a maneira mais fácil de ir e voltar de lá. Ah, sou Hécate, deusa da magia.

– Você não deveria ter três cabeças? – Era Will novamente. Ele conseguia ser muito inconveniente.

A deusa o fuzilou com os olhos.

– Quem disse?

– Ahm, desculpe por isso, Lady Hécate, Will é meio... você sabe. – Tentei concertar.

A deusa me estudou com cautela, dando de ombros, por fim.

– Imagino que vocês sejam os semideuses que vieram recuperar o martelo de Hefesto que Perséfone mandou roubar, estou certa? É uma pena que tenham fracassado. – riu ela.

– Fracassado? Do que está falando? – Perguntei.

– Em meia hora será dia vinte e um de junho minha querida, acabei de voltar do Olimpo e os deuses não estão mais lá. Eles foram... lutar! Não é divertido? – Ela agitou sua mão e uma imagem surgiu, um telejornal ao vivo, da Grécia.

"O vulcão Santorini começa a dar sinais de uma erupção, as autoridades tentam evacuar a área", narrava o locutor.

– Estão vendo? Hefesto está prestes a fazer a ilha de Eufemo, o filho de Poseidon, ser coberta de lava!

– Mas isso não é justo! E não pode ser vinte e um de junho... não pode...

– O tempo passa de maneira diferente aqui minha querida, você deveria saber disso - a deusa sorriu.

– Mas precisamos evitar essa guerra! Tem de haver um jeito!

– Precisamos ir até o vale da morte. É esse o lugar onde os deuses irão se enfrentar, não é? – Perguntou Nico.

– O vale da morte? Death valley, no deserto de Monjave, na Califórnia? – Jessica parecia assustada quando acordou do desmaio – É , Zeus é esperto, meu pai não terá água por perto.

– Califórnia? Como faremos para chegar na Califórnia? Onde a saída dessa caverna vai dar?

– No empire state. Terceiro andar. – Disse a deusa. – mas eu acho que posso ajudar vocês a chegar até a Califórnia.

– E de que vai adiantar ir apenas nós quatro? Vamos conseguir parar os deuses? – Will parecia amedrontado.

Então, uma coisa me ocorreu, uma linha da profecia, na verdade. ‘Quando das portas da morte passar todos atenderão ao chamado de guerra’. Todos.

– Hécate, como pode nos ajudar? – Perguntei, ainda tentando achar outra solução, aquela me parecia impossível.

– Bem, sou a senhora dos cães infernais. E cães infernais podem viajar nas sombras...

– Então pode nos ajudar? Pode... levar todos do acampamento para o vale da morte?

– Todos Lyra? Mas... Ah. – Jessica parecia ter compreendido também. – Todos atenderão ao chamado de guerra.

– Sim, mas com uma condição.

Ouvi atentamente o pedido da deusa e quando ela terminou, não tive outra escolha senão concordar.

– Jure pelo Styx. – Pediu ela.

– Eu juro pelo Styx que farei o que puder.

– Isso não serve.

– Eu juro pelo Styx que farei!

– Ah, assim é melhor.

Ignorando o momento de infantilidade da deusa, lancei um dracma para o alto.

– Íris, a deusa do arco-íris, aceite minha oferta! Mostre-me Quíron, acampamento meio sangue.

Assim que uma imagem de um centauro dormindo surgiu em minha frente eu comecei a falar.

– Quíron, acorde! Acorde todo mundo... temos uma guerra nas mãos. – Contei a ele rapidamente o que estava acontecendo, ele concordou e a imagem sumiu.

Eu ia desabar em lágrimas a qualquer momento e Nico pareceu perceber isso.

– Fique calma. – Disse ele me abraçando. – Vamos conseguir, você vai ver.

Aquilo não soou nenhum pouco verdadeiro.


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