A Luz dos Olhos Teus escrita por Sochim


Capítulo 7
Capítulo sete


Notas iniciais do capítulo

Música: http://www.youtube.com/watch?v=1Cb8SXcxVpA&feature=channel_page



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Nas últimas semanas, Naruto estava trabalhando tanto, que até mesmo as visitas "sociais" ao Mangekyou foram quase deixadas de lado, para tristeza de seus amigos. Iruka deixava-o com inveja das noites que passava fora, das histórias que ele perdia, das músicas que há muito tempo não ouvia, nem tocava. Pela primeira vez, Naruto entendia a contrariedade de Konohamaru, que estava cada vez mais interessado naquele tipo de música. O garoto aprendia rápido e já estava craque em tocar My Girl, música composta por um dos Lendários, "o melhor", na opinião de Naruto: Jiraya.

Konohamaru tinha o talento para a coisa no sangue, mas faltava a malícia que aquele tipo de música exigia. Faltava o pressentimento para construir algo novo e a sensibilidade para reconhecer o antigo. Naruto, na idade dele, tinha mais malícia que técnica, mas foi com a ajuda dos Três Lendários que ele conseguira chegar ao nível em que estava. Aprendera a ter sensibilidade com Tsunade, a única mulher do grupo; A malícia que já possuía, desenvolvera com Jiraya, seu professor preferido; E a técnica, com o exigente Orochimaru, com quem Naruto nunca se entendera muito bem.

- Malícia não se aprende, Konohamaru. Você pode desenvolver o que já tem, mas não pode criar a malícia do nada. - Disse ao garoto, ouvindo-o errar a música mais uma vez, quando passava pelo quarto do garoto pela manhã.

Eles tinham passado algum tempo conversando sobre aquilo na noite passada e Konohamaru ainda não entendera perfeitamente o que ele quis dizer com "malícia".

- Mas Naruto... O que é a "málícia"?

- É a capacidade de transformar notas, batidas e sons em música. - Respondeu Iruka, parando logo atrás de Naruto - Talvez ele ainda não tenha despertado tal malícia Naruto, mas isso não significa que ele não a tenha.

- Eu não disse que ele não tinha. - Defendeu-se Naruto. - Apenas que estava faltando aquele "algo mais".

Konohamaru olhava de um para o outro, sem entender muito bem. Que tal malícia era essa? De fato, pensava que ter a técnica e o talento fosse suficiente para tocar bem. Afinal, estava rodeado de músicos incríveis, que respiravam, bebiam e comiam música. Enfim, viviam daquilo e para aquilo. Poderia aprender com eles qualquer coisa! Mas... Essa malícia...

- E, se eu tiver essa malícia... - Perguntou de repente, fazendo Naruto parar de dedilhar o violão. - Como eu faço para despertar isso? Iruka riu e deu de ombros.

- Isso depende. Vai de pessoa para pessoa. Tem gente que nasce com ela e aprende a usá-la. Tem gente que não tem, mesmo. E tem gente que não aprende a usá-la, como eu. - Sorriu, ao ver a expressão do garoto.

- Não?

- Não...

- Mas você toca bem, então esse papo todo é besteira.

- Eu toco bem, porque estudei muito, Konohamaru. Eu sei a técnica, tenho o talento, mas nunca tive pelo que tocar. Toco porque gosto, para mim.

- Puro egoísmo. - Brincou Naruto.

- E você, Naruto? - Perguntou Konohamaru.

Naruto não respondeu.

- Ele sempre teve a malícia. - Disse Iruka.

- E como despertou ela?

Naruto riu, encarando o garoto.

- Me apaixonando.

*

Hinata acordou com alguém pulando em cima dela.

- Hina... - Hanabi debruçou-se sobre a irmã. - Bom dia!

- Bom dia, Hanabi. - Cumprimentou Hinata, tentando abrir os olhos. - Que horas são?

- Seis.

- O papai já foi para o trabalho?

- Não. Está lá embaixo, tomando café.

- Jura? - Hinata levantou, empurrando Hanabi. - E agora que me fala?

- É que ele pediu para te chamar...

- Hanabi! - Hinata correu para o banheiro. - Da próxima vez me avisa isso logo! A menina sentou na cama da irmã, um tanto irritada.

- Da última vez que fiz isso, você disse para fazer o contrário. Quer se decidir? Hanabi esperou a irmã se trocar e desceu com ela para a sala de jantar.

- Bom dia, papai. - Disse Hinata, cumprimentando Hiashi com um beijo no rosto.

- Bom dia. - Hiashi descansou a xícara no pires sobre a mesa e encarou a filha mais velha do jeito que ela detestava que ele fizesse. - Como foi a primeira semana de aula?

- Boa. Nada demais como sempre. - Respondeu Hinata, sem interesse, olhando para um pedaço de pão que ela não queria comer.

- Devia tentar se interessar mais pela faculdade. Em poucos anos estará no meu lugar...

- Eu me interesso. - Disse ela, sem conseguir enganar a ninguém. - Mas estou com dificuldades em me concentrar nas aulas. Mas prometo que vou me esforçar mais, papai.

- Espero que sim. Não pretendo continuar pagando pelo que não me traz resultados.

Hinata suspirou, mas conseguiu forçar um sorriso, que só foi visto por sua irmã. Hanabi sentia a frieza de sua casa diariamente. Quando seu pai viajava, Hinata era mais alegre, embora quase nunca estivesse em casa. Quando seu pai estava em casa, Hinata mudava completamente. Tornava-se triste e calada, embora há alguns anos tenha começado a ser apenas fria, o que aprendera com Hiashi. Hanabi suspirou. Às vezes queria fazer como Hinata e sumir por dias. Outras vezes, sentia vontade de gritar com os dois e fazê-los confrontar um ao outro.

- E você, Hanabi? -  Perguntou Hiashi de repente.

- Bem... A mesma coisa de sempre. Os mesmos professores, os mesmos alunos...

- Os mesmos alunos? - Hinata cortou-a. - Não pode ser que não tenha ninguém diferente naquele colégio. Lembro quando eu estudava lá e sempre tinha algum aluno novo. A maioria fazendo intercâmbio.

- Na verdade tem bastante gente nova, mas ninguém que valha a pena. - Respondeu Hanabi, dando de ombros. - Tem um moleque chato... Novo rico... Diz que é um Sarutobi.

- Um Sarutobi? - Perguntou Hiashi. - Então não é um novo rico... Pelo contrário.

- Conhece a família Sarutobi?

- Conheço. Hiruken Sarutobi foi meu professor no colégio.

- Um professor? - Hinata intrometeu-se. - E é rico?

- Ele era um idealista. Igual ao filho dele. Era um grande homem.

- Ele dava aula de quê? - Perguntou Hinata.

- Deixe eu adivinhar... - Começou Hanabi. - Música!

- Exatamente.

- As pessoas dessa cidade gostam muito de música! - Comentou a irmã mais velha.

- Todos, menos você! - Provocou Hanabi.

- Nunca disse que não gostava de música. Pelo contrário! - Defendeu-se Hinata. - Eu apenas não entendo como as pessoas podem levar música a sério!

- O meu professor diz que a vida não é nada sem música. Que não há um único momento de nossas vidas, que não poderia ser representado por uma música.

- Ah é? - Hinata a encarou, com um sorriso de desafio. - E que música seria perfeita para esse momento?

Hanabi a encarou, sem resposta. Olhou de relance para o pai, que terminava o café, e voltou a olhar para a irmã, que permanecia esperando. Uma música surgiu na sua mente instantaneamente e ela sorriu para a irmã.

- Todo dia ela faz tudo sempre igual. Me sacode às seis horas da manhã. Me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã. [1]

Hinata desfez o sorriso, mas logo outro o substituiu.

- Espertinha.

Hanabi fez um movimento de cabeça, graciosa.

- Eu faço o que posso. Quem manda não entender tanto de música, quanto a lindinha, aqui? - Provocou.

- Você não entende, nem nunca vai entender mais de música que eu...

- Eu já entendo... Conforme-se!

- Nenhuma das duas entende o suficiente de música. - Finalizou Hiashi. - Hanabi, vá se arrumar para o colégio. Hinata... Vá arrumar alguma coisa para fazer.

As duas levantaram-se junto com o pai, que não demorou muito para ir ao trabalho. Hanabi esperou ele sair para voltar-se para a irmã.

- Posso faltar hoje? - Perguntou, olhando para Hinata, que subia a escada.

- Faltar? Por quê? - Hinata parou.

- Quero ficar com você hoje! Faz tempo que não saimos juntas!

- Hanabi, hoje não vai dar! - Hinata voltou a subir.

- Por que não? Você não tem nada para fazer a essa hora!

- Claro que tenho!

- Tipo o quê?

- Minhas coisas. - Rebateu Hinata, entrando no quarto, no alto da escada. - Coisas essas que uma pirralha de dezesseis anos não pode meter o nariz!

- Pirralha? - Hanabi entrou no quarto atrás da irmã. - Por favor! É só a segunda semana de aula! Não tem nada de interessante lá. E, seja lá o que for que você tem que fazer, eu juro que posso ajudar! Mesmo sendo uma "pirralha"!

- Não dá para sairmos hoje, Hanabi. Mesmo porquê, não há nada de interessante para fazer. - Hinata estava sentada na cama e encarou a irmã, que estava começando a desistir. - Mas, prometo que faremos o que quiser no próximo fim de semana...

- Promete?

- Prometo!

Hanabi encarou-a, duvidando, mas deu-se por vencida.

- O que vai fazer hoje?

- Resolver uns problemas, falar com algumas pessoas... Nada muito empolgante.

- Tenho a impressão de que vai ser mais interessante que ir assistir aula.

- Você vai chegar atrasada... - Comentou Hinata, cortando o assunto.

*

Konohamaru olhou no relógio. Mesmo com a carona de Naruto, estava atrasado. O carro parou na esquina em frente ao colégio, a pedido do garoto, que não parecia nada animado com a perspectiva de mais uma semana naquele lugar.

- Tenho mesmo que ir?

- Qual o problema?

- Esse pessoal parece pertencer a outro planeta.

- E pertencem. - Concordou Naruto, não muito animador. - Mas é bom conhecer outros mundos, Konohamaru.

- Não começa com os discursos! Eles ficam melhores na boca do Iruka.

Naruto riu.

- Verdade. - Ficaram em silêncio. - Mas deve haver alguma coisa aí que valha a pena.

Konohamaru o encarou, hesitante. Naruto esperou que dissesse alguma coisa, mas não disse nada.

- Nada?

- Nada.

- Ah, vamos lá. Não é tão ruim assim! É o melhor colégio da cidade. Todo mundo quer estudar aí.

- Mas eu não quero! E não acho justo que seja obrigado a isso. O que tinha de errado com minha antiga escola?

- Acho que não havia nada de errado... - Começou Naruto. - Mas não era suficiente para você.

- Como pode saber? Como o Asuma pode saber?

- O seu avô deu aula na escola que funcionava aí, antes dessa. Era quase a mesma coisa. A melhor da cidade. Ele não precisava dar aulas, porque tinha muito dinheiro, mas mesmo assim... Ele sentiu que deveria.

- Eu também não me importo com dinheiro. - Bufou. - Por que não posso ser como ele?

- Pode ser o que quiser. - Naruto suspirou, precisava ir embora, trabalhar. - Mas Asuma gostaria que tivesse a melhor educação possível, porque o pai dele foi o melhor professor que pôde ser e não iria querer que você fosse jogado em qualquer escola pública, com qualquer professor...

- Por falar em professor... - Konohamaru cortou-o. - Meu professor de música conheceu ele! E conhece vocês também.

- Seu professor?

- É... Jiraya! Ele perguntou de você, do Iruka, do tio Asuma... Mandou lembranças.

- Mande lembranças minhas para ele também, então. - Naruto animou-se. Havia anos que não tinha pistas de onde estava Jiraya. - E diga para ele aparecer no Mangekyou para variar!

- Tá... - Konohamaru percebeu que não havia outra saída, além de sair do carro de uma vez. - Desculpe ter te segurado aqui.

- Não tem problema. Talvez venha te buscar na saída.

- Jura?

- Vou tentar. Me liga quando acabar a aula.

- Beleza!

O garoto saiu do carro e correu para o portão. Precisou de alguns segundos para convencer o porteiro a deixá-lo entrar e depois correu para a sala de aula. Abriu a porta, tentando não chamar a atenção, mas assim que colocou o rosto para dentro da sala, todos os colegas o olharam e o professor olhou-o torto.

- Sente-se, Sarutobi.

- Desculpe, professor.

Konohamaru caminhou para o fundo da sala, tomando novamente o cuidado para não passar nem perto do grupo de Hanabi Hyuuga. Embora ela sequer parecia ter notado sua presença, Kiu e Inari o acompanharam com o olhar e ele percebeu que aquele jogo de queimada teria consequencias. Ao chegar em sua carteira, recebeu, surpreso, o cumprimento de Tuy e Katisu.

- E aí? Mais um pouco, não poderia entrar na sala. - Comentou Tuy, mais amigável.

- Como se ele se importasse... - Comentou Katisu, lançando um olhar rápido para o professor. - Ei, Sarutobi...

- Fala. - Konohamaru deixoua mochila e encarou o garoto, sentado à sua direita, atrá de Tuy.

- A Hyuuga te odeia!

Konohamaru olhou para a menina, que parecia muito interessada na aula.

- Isso eu percebi sozinho.

- Você não entendeu... - Tuy mexeu-se na cadeira, praticamente dando as costas para o professor. - Ela realmente te odeia!

- Agora que falou... Entendi perfeitamente a diferença.

Katisu balançou a cabeça, mas quando abriu a boca para falar, foi interrompido pelo professor.

- Os três podem conversar lá fora, se quiserem...

- Não... Desculpe, professor. - Começou Tuy.

- Sarutobi, já não bastava chegar atraso, ainda quer perder mais um pouco da minha aula?

- Não. - Konohamaru ajeitou-se na cadeira, assim como os dois colegas.

- Então poderia deixar os senhores Kimito e Hiza prestarem atenção à minha aula?

- Não estou impedindo, senhor...

Algumas pessoas na sala abafaram os risos. Hanabi arriscou um olhar para trás. O professor se mexeu na frente da sala e chamou a atenção dela e de todos os outros.

- Não precisamos de um palhaço de turma no Colégio Satélite. Portanto, não conte que terá espaço aqui para as suas...

- Não fiz palhaçada nenhuma, senhor.

- Está avisado. - Disse o professor, como se não o tivesse ouvido e dando as costas para a sala.

Konohamaru olhou para Katisu e Tuy, que deram de ombros, voltando a atenção para a aula.

"Inferno."

*

Naruto passou o resto do dia fazendo corridas com seu taxi pela cidade. Volta e meia, encontrava um cliente mais animado, que começava a falar sem parar. Outras vezes, pegava clientes que mal pareciam se dar conta de que havia alguém no volante. Ele não se importava. Desde que pagassem, podiam qualquer coisa.

Passou pelo imponente Hotel Hyuuga algumas vezes, perguntando-se se algum dia entraria nele. Uma coisa era certa, jamais teria dinheiro para pagar uma diária naquele lugar, mas com certeza valeria a pena gastar todas as economias ali.

Ao deixar o último cliente em frente a um prédio exageradamente alto, olhou no relógio. Ainda faltava muito para o fim das aulas de Konohamaru, embora ele tivesse certeza de que tinha rodado tanto com aquele carro, que as horas teriam passado mais rápido. Odiava aquele emprego.

Mas não teve muito tempo para pensar no tempo. No primeir farol em que parou, ouviu a porta do carro ser aberta e uma voz feminina perguntar:

- Você está livre?

- Estou, sim.

A mulher, antes de receber a resposta, já estava quase sentada no banco traseiro.

- Pode me levar ao Hotel Hyuuga?

Naruto olhou-a pelo retrovisor ao ouvir o nome do Hotel, mal podia acreditar que num dia só tantas pessoas quisessem ir ao maldito hotel. No entanto, foi o rosto de Hinata Hyuuga que encontrou e não pôde deixar de sentir que finalmente valia a pena retomar o caminho até o hotel.

- Eu provavelmente precisarei ir para outro lugar depois, então, acha que pode me esperar?

- Se não for demorar, srta. Hyuuga...

Hinata levantou os olhos para o motorista, reconhecendo aquele cabelo loiro e os olhos azuis que podia ver pelo retrovisor. Ele observava o trânsito com a expressão séria, mas seu rosto parecia de um menino, sem os traços fortes de Neji, mas tão belos e diferentes que ela terminou por sorrir para os olhos azuis que a encararam de relance.

- Não tinha percebido que era você. - Disse. - Nos conhecemos no Mangekyou, não?

- Foi.

- Eu queria voltar para lá. Mas ultimamente não tenho tido muito tempo.

- Eu não vou já há algum tempo. - Comentou Naruto, com a certeza de que ela não se interessava.

Hinata olhou pela janela por alguns minutos, mas o silêncio de repente a incomodou.

- Você toca muito bem.

- Obrigado. - Naruto sorriu, olhando pelo retrovisor.

- Você não tem cara de taxista... - Comentou Hinata, casualmente.

Ele riu.

- Só por curiosidade, que cara tem um taxista?

Hinata não soube responder, mas levantou uma sobrancelha, orgulhosa.

- Não sei... Mas não é a sua.

Naruto ficou sem saber o que responder dessa vez. Poderia levar aquilo como um elogio?

- A gente tem que se virar como pode, srta. Hyuuga. Tendo ou não cara de taxista.

- Você trabalha muito?

- O dia inteiro...

- Mas não tem hora para começar, para acabar?

- Não. É um emprego autônomo. A gente ganha por aquilo que faz.

Hinata calou-se. Não queria levar aquela conversa a diante, mas também não queria ficar em silêncio. Continuaram, então, falando de coisas banais e sem importância, mantendo-se em um nível de conversa que não dizia muita coisa. Conversa típica de desconhecidos. Ao avistar o prédio de Hotel Hyuuga, Hinata esticou o braço para indicar o caminho.

- Não vá pela entrada principal. Dê a volta por ali e pare atrás dele.

Naruto obedeceu.

- Me espere aqui. Volto em vinte minutos...

Vinte minutos não era exatamente o que Naruto chamava de rápido para quem dependia de horas para ganhar o salário do dia, mas ela saiu antes que dissesse qualquer coisa, pagando pelo menos o custo da corrida até ali. Encostou a cabeça no banco e ligou o rádio, olhando mais uma vez para o relógio. Konohamaru ficaria sem carona...

*

Hanabi estava decidida a mostrar para seu professor de música que ainda era a melhor aluna da sala. Por isso, abriu mão do intervalo, e foi para a sala de música. Jiraya ainda estava lá, ajeitando a bagunça que os últimos alunos deixaram e preparando a sala para a próxima aula.

- Bom dia, professor.

- Ah, Hanabi! O que faz aqui? - Perguntou Jiraya, sorrindo para a menina.

- Eu... - Hanabi baixou os olhos, fingindo timidez e constrangimento. - Eu queria treinar um pouco de música.

- Ah... Mas agora é a hora do intervalo...

- Eu sei... Mas não quero ficar no meio daquela gente toda. Queria melhorar umas notas... Posso ficar aqui?

- Não, não pode. - Jiraya encarou aqueles olhos tristes com um pouco de compaixão, mas tentou manter-se firme. - O colégio não permite que alunos fiquem nas salas de aula sem um professor.

- Mas, eu vou apenas tocar...

- Eu entendo, menina, mas não posso deixar. Entende?

Hanabi entendia, mas não aceitava. Mesmo assim, suspirou, incapaz. Lançou ao professor o mesmo olhar inocente.

- Tudo bem, então... Até mais tarde professor...

- Até mais, Hanabi.

A menina afastou-se do professor, frustrada.

"Aquele velhote..."

- Hanabi, onde você estava? - Perguntou Matsuri, encontrando-a no caminho.

- Estava com o professor Jiraya.

- Ah... - Matsuri agarrou o braço da amiga e começou a andar com ela na direção contrária a que tinha vindo. - Advinha quem quer ficar com você!

- Quem? - Hanabi perguntou, sem interesse.

- Kiu...

- Ah, não diga! - Hanabi falou impaciente, parando de repente. - Isso eu já sei há anos!

- Mas, porque não dá uma chance a ele?

- Porque ele não tem graça. - Hanabi suspirou. - Estou tão cansada desses meninos. - Comentou, sinceramente.

- Eu também... - Os garotos aqui da escola são tão... - Matsuri olhou em volta. - Sem graça...

Hanabi riu, olhando para a garota, maliciosa.

- É, mas bem que na semana passada, você estava doidinha pelo Sarutobi...

Matsuri ficou vermelha.

- Isso foi antes daquele jogo de queimada!

- Sei. - Dessa vez foi Hanabi que a agarrou e a arrastou para longe. Passaram longe da mesa em que seus amigos estavam e continuaram. - Tem certeza?

- Tenho!

Hanabi a fez parar e apontou para a mesa em que estavam Konohamaru, Tuy e Katisu.

- Se é assim... Então não vai se importar que a Nagaki fique com ele, não é?

Matsuri olhou na direção que Hanabi apontava. Nagaki aproximava-se da mesa deles, com mais quatro amigas. A jovem Hyuuga sabia que Matsuri não ia com a cara de Nagaki desde que as duas competiram pelo mesmo menino no ano anterior. Ainda que Matsuri não estivesse nem remotamente interessada em Konohamaru, não deixaria que Nagaki ganhasse. E, no que dependesse de Hanabi, Matsuri sairia na frente.

- Aquela coisinha oferecida.

- Não é mesmo? Mas você não se importa, não é? Então vamos embora.

Matsuri hesitou, mas acabou aceitando que Hanabi a levasse dali. Quando sentaram-se junto com os amigos, as duas se entreolharam.

- Você me ajuda?

- Se me prometer que não vai se apaixonar por ele.

- Prometo. Não corro esse risco! - Afirmou Matsuri.

- Então está feito!

Hanabi e Matsuri não responderam às perguntas que os amigos faziam sobre o que quer que elas estivessem falando. Kiu tentou se aproximar de Hanabi, mas a menina o evitou várias vezes, até que o sinal tocou e o grupo se dirigiu para a sala de música. Hanabi percebeu que Inari estava quieto e não muito animado, andando atrás do grupo.

- O que foi, Inari?

- Nada...

- Como nada? - Hanabi parou, puxando-o pela camisa. - Vai fala, o que foi?

- Não. - Negou mais uma vez. - Você não pode me ajudar.

- Por que não?

- Porque você acabou de dizer à Matsuri que a ajudaria.

Hanabi compreendeu, então qual era o problema.

- Inari... Você ainda gosta dela?

O garoto não respondeu, mas não foi preciso.

- Ah, Inari. Eu não sabia!

- Está tudo bem. - Disse ele, retomando o caminho. - Não tem problema.

- Claro que tem! - Hanabi foi atrás dele. - Eu não sabia mesmo e agora me sinto péssima!

- Não precisa. - Inari tentou parecer conformado. - Que chance eu teria, se ela prefere brincar com outros?

Dissendo isso, Inari afastou-se dela e andou de pressa para a sala de aula. Hanabi não estava se sentindo a melhor das amigas agora. Se ajudasse Matsuri, magoaria Inari. Se ajudasse Inari, falharia com Matsuri.

- Hyuuga! - Ouviu alguém chamando-a, mas não precisou ver quem era, pois ele já tinha esbarrado nela.

- Ai. Não olha por onde anda, não? - Perguntou, irritada.

- Olho, mas que culpa tenho eu, se você fica parada no meio do caminho?

- Não sabe desviar?

- Eu teria feito isso, se tivesse espaço para ficar bem longe de você!

- Você é tão chatinho, Konohamaru.

- Somos dois, não é?

- Idiota...

Hanabi deu as costas para ele e entrou na sala, fechando a porta atrás de si, deixando Konohamaru e seus dois novos amigos do lado de fora.

- A gente disse... - Riu Katisu.

- Ela é sempre assim? - Perguntou Konohamaru, antes de abrir a porta.

- É pior. - Respondeu Tuy.

"Que ótimo...", pensou, Konohamaru, passando por ela na sala de música. Mas foi o olhar de Matsuri que lhe chamou a atenção. "Gente esquisita..."

*

Hinata abriu a porta do táxi de Naruto, muito antes do esperado. Estava carregando uma bolsa cheia, que não estava com ela, quando chegaram ao Hotel Hyuuga. Parecia cansada, mas contente com alguma coisa.

- Podemos ir.

- Para onde?

- Para a casa de uma amiga minha...

Naruto ouviu o nome da rua e percebeu que iriam para a casa daquela garota ruiva, que estava com Hinata no começo da semana anterior. Ao ligar o carro, automaticamente desligou o rádio, mas Hinata falou em seguida.

- Não, pode deixar ligado!

- Como quiser.

O trânsito da cidade estava começando a piorar, sinal que estava quase chegando a hora do almoço. Naruto ouvia a música e tinha vontade de cantar, mas continha-se, limitando-se a cantar em silêncio. Hinata não parecia conhecer aquela música, mas, se ele estava entendendo bem, ela estava gostando do que ouvia. Quando o carro parou em um farol que costumava demorar muito para abrir, devido aos cruzamentos que havia naquele pedaço da cidade, ele resolveu arriscar.

- Gosta dessas músicas?

- São ótimas! - Hinata encarou-o pelo retrovisor. - Quem é o artista?

- Os Outros[2].

- São bons.

- São...

- Mas não são os melhores!

- Com certeza que não. - Naruto sorriu.

- Você deve conhecer... Os Três Lendários.

Naruto não pode deixar de sentir-se surpreso com a citação.

- Claro que conheço. Não existe ninguém nesse mundo que tenha sido melhor que eles!

- Meu primo disse que existem muitas lendas sobre eles, na cidade.

- Existe uma única lenda, srta. O resto, é verdade.

- Está falando do Ichiraku?

- E do que mais seria?

- Você sabe onde fica?

- Você sabe? - Naruto rebateu.

- Não, claro. - Hinata sorriu, agora olhando pela janela. - Mas imagino que ele esteja em algum lugar do lado nobre da cidade.

- Por que pensa assim?

- Porque os Três pertenciam a famílias ricas e importantes da cidade. Não eram... - Hinata calou-se, de repente.

Naruto tinha uma idéia do que ela diria, mas preferiu tirar a prova.

- Não eram o quê? - Perguntou, gentilmente.

- Bem...

- Não eram o tipo de pessoa que frequenta o Magekyou, por exemplo? - Naruto perguntou,  observando a reação dela, que ficou um pouco vermelha.

- É, basicamente.

- Mas você é o tipo de pessoa que frequenta o Magekyou... - Retrucou, percebendo que ela ficara ainda mais sem jeito.

- Não sou como eles, de qualquer forma. - Hinata respondeu. - Não quis te ofender, se foi o que pensou...

- Eu também, não... Porque pensaria algo assim?

Hinata mais uma vez encontrou os olhos dele no retrovisor. Ela sabia que tinha falado a coisa errada e que, ao tentar consertar, tinha feito tudo ficar pior.

- Vamos esquecer esse assunto...

- Como quiser.

"Eu mereço", pensou Naruto, deixando que caíssem no silêncio mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

[1]"Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode ás seis horas da manhã. Me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã": Cotidiano - Chico Buarque.
[2]Os Outros - Nome da minha outra fic... Isso que é imaginação, heim?? Hehe.. Nada que uma propagandazinha não resolva ^^



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