A Luz dos Olhos Teus escrita por Sochim


Capítulo 16
Capítulo dezesseis


Notas iniciais do capítulo

Músicas:
Who's loving you - Michael Jackson / Jackson's 5
Love is a losing game - Amy Winehouse



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Quando eu tive você

Eu te tratei mal e errado, minha querida

E garota, desde que você se foi

Você não sabe que eu sento por aí

Com minha cabeça baixa

E eu me pergunto quem está te amando


Naquela noite, Naruto tinha decidido não ir ao Mangekyou. Não queria tocar, não queria cantar e, principalmente, não queria olhar Sasuke e Sakura, e admitir que tinha mais uma vez desejado Shion e perdido todo o amor próprio que precisou de meses para recriar, em apenas uma tarde. Não achava que Konohamaru tivesse contado para alguém o que tinha visto no apartamento deles, mas de alguma forma, era como se todos soubessem. Talvez fosse apenas a culpa que sentia, mas tinha certeza que Sasuke e Sakura, principalmente, seriam os primeiros a enxergá-la nele e fariam do resto daquele dia um verdadeiro inferno. E a última coisa de que Naruto precisava era de seus olhares de reprovação e decepção.

Era um medo bobo de Naruto, mas ele tinha certeza de que seus dois amigos de infância tinham poderes sobre ele, especialmente o poder de revelar seus segredos, sem que ele precisasse dizer uma palavra. Sakura era capaz de ler sua mente e ver se estava feliz, triste, melancólico, apaixonado ou culpado por alguma coisa. E, a Sasuke, cabia perfeitamente o papel de fazê-lo confessar o pior dos crimes.


Eu não deveria jamais ter feito você chorar

E garota desde que você se foi

Você não sabe que eu sento por aí

Com minha cabeça baixa

E eu me pergunto quem está te amando


Entregar-se novamente ao desejo que sentia por Shion não era exatamente um crime, mas era como se os dois preferissem que ele matasse alguém do que voltasse a se envolver com elas. Naruto sabia que era apenas preocupação deles e não queria que voltassem à seis meses atrás, quando precisou que os dois o sacudissem para fora da cama, para que fosse capaz de seguir com sua vida sem ela. Vida essa que não seria muito longa se Kabuto Yakushi descobrisse onde sua esposa esteve naquela tarde…

A única opção que Naruto encontrou para aquela noite, foi em um bar onde Iruka costumava tocar, quando precisava de algum dinheiro extra, depois das aulas na escola primária em que Naruto estudou até seus treze anos. Seu velho professor não havia mudado muito naqueles anos, nem por dentro, nem por fora, continuava apaixonado pelo que fazia, ensinar e tocar. Naruto não tinha esperanças de ter mais sorte que ele na carreira musical, por mais que tivesse os Lendários como professores, então, apenas torcia para algum dia encontrar algo por que tivesse tanta paixão em fazer quanto Iruka tinha por ser professor.


A vida sem amor é tão solitária

Eu acho que não conseguirei

A minha vida toda

Eu estive perdido só pra você

Venha e me pegue porque

Tudo que eu faço desde que você se foi é chorar


Iruka estava tocando uma música que não era dos Lendários. Chamava-se Who’s loving you, e Iruka cantava com uma emoção que Naruto nunca tinha ouvido e visto antes. Não precisou ouvir muito da letra, para entender que se tratava de algo extremamente pessoal, algo sobre o que o professor – e seu pai de consideração – jamais lhe contara. Ali estava a malícia que Iruka jurava não saber usar.

Ele a usava agora, misturada ao seu talento natural, embora, com a emoção, um pouco da técnica lhe tivesse abandonado. Mas estava perfeito. Sem dizer uma única palavra sobre o assunto, Iruka estava lhe contando uma história de amor, há muito escondida em seu passado. E era algo que, naquela noite, tocava o coração de Naruto de uma maneira direta e cruel. Porém, permitiu-se sentir aquilo. Precisava sentir e superar, para convencer-se de que algum dia seria capaz de seguir em frente.


E você nunca se perguntou,

nem se preocupou com o que eu fazia

Você não sabe que eu sento por aí

Com minha cabeça baixa

E eu me pergunto quem está te amando


*


Hinata estava cansada demais para continuar andando por aí sem rumo, com Karin praguejando sobre o subúrbio da cidade, sobre como era feio, escuro, perigoso e sem graça. Hinata não discordava dela em uma única palavra, mas preferiu permanecer calada, deixando que a ruiva descontasse naquele lado da cidade toda a sua frustração pelo Mangekyou estar fechado naquela noite. Ela foi a primeira a sugerir que fossem para lá, mas quando chegaram, deram de cara com a porta fechada e um aviso de desculpas. Karin queria ver mais uma vez o dono do estabelecimento, por quem parecia estar obcecada, mas a impossibilidade de repente a deixou mau humorada demais para tentar argumentar com ela.

Por sua vez, Hinata não estava muito diferente, a possibilidade de encontrar mais uma vez seu taxista e músico preferido a havia preenchido com uma sensação gostosa, como uma promessa de algo bom aguardando por ela. Embora não demonstrasse sua frustração da mesma forma que Karin, sentava-se calada no banco do carona, sentindo-se estranhamente melancólica, e ansiosa por um pouco de música…

As duas estavam perto da divisa com o centro rico da cidade, quando Hinata olhou pela janela e sorriu o sorriso mais sincero que dera naquela noite. Karin parou de tagarelar quando Hinata deixou escapar um murmúrio de satisfação e olhou para a amiga Hyuuga.

– O que foi? – Perguntou, olhando dela para o lado de fora do carro. Viu apenas um bar com meia dúzia de pessoas dentro, mas nada tão interessante.

– É ele. – Hinata disse simplesmente, sem maiores explicações. Karin parou o carro encostado à calçada.

– Quem, criatura?

– Naruto. – Hinata olhou para ela sorrindo, incapaz de disfarçar o quanto aquilo a agradava.

Karin a estudou com os olhos de uma mulher experiente e maliciosa.

– Que animação é essa, Hyuuga?

– O que foi? Qual o problema? – Hinata corou um pouco e se esforçou para conter o sorriso.

Karin levantou uma sobrancelha.

– Problema nenhum. – ela deu de ombros, sem esconder que estava achando graça da situação. – Eu só não sabia que estava assim tão interessada nele.

– Não estou interessada. – Hinata defendeu-se, com ênfase demais e convicção de menos. – Eu não estou interessada nele, Karin. Esqueceu que eu já gosto de alguém? – Disse, de forma mais branda, tentando encarar Karin sem ficar envergonhada.

– Não esqueci, não. – Karin sorriu. – Por mais que eu entenda como é difícil não se apaixonar pelo seu primo, eu não consigo esquecer que ele é seu primo. – Karin abanou a mão, impedindo que Hinata tentasse explicar que aquilo não importava para ela. – Deixa de ser boba, Hinata. Não é da minha conta por quem você diz estar apaixonada ou não. Mas não pense que consegue me enganar. Com ou sem Neji, existe um espacinho na sua cabeça para esse tal de Naruto.

– Ele não é “esse tal de Naruto”. Você o conhece, Karin. – Hinata não quis argumentar sobre espaços em sua mente para esse ou aquele. De que serviria, se seus sentimentos mais puros eram reservados apenas a Neji?

– Conheço, mas não faço festa por vê-lo em um bar, como uma garota apaixonada.

– Não estou apaixonada! – Hinata defendeu-se, começando a ficar irritada.

– Tudo bem. – Karin ligou novamente o carro e procurou por uma vaga para colocá-lo.

– O que está fazendo?

– Estacionando.

– Por quê?

– Nós vamos entrar lá e você vai falar com o Naruto.

– Eu? Por quê? Conversar sobre o quê?

– Sobre o tempo, sobre música de novo, sobre qualquer banalidade até que finalmente encontre um bom motivo para ir para a cama com ele.

– Quê? – Hinata apavorou-se e arregalou os olhos para a amiga. Aquilo era um absurdo!

– Qual o problema, Hina? – Karin parou o carro na vaga do outro lado da rua e a olhou, como se estivesse propondo que fizessem uma viagem. – Você não é virgem, é? E está obviamente atraída pelo cara.

– Eu amo o Neji! – Hinata argumentou, mas Karin deu de ombros, novamente.

– Eu sei. Não se trata de amor. Mas você não vai me convencer de que quando o ouve cantar, não fica com vontade de beijá-lo. Lembre-se daquela voz rouca, sexy, daqueles olhos azuis tão lindos. – Karin riu, vendo que Hinata estava realmente tentando se lembrar. – Você sequer imagina como seria beijá-lo?

Hinata corou, sem saber o que responder. Não era impossível sentir-se atraída por Naruto, ele era bonito, gentil, inteligente e sua voz realmente mexia com seus sentidos. Mas beijá-lo? Estar em seus braços? Hinata realmente nunca tinha pensado naquilo. Nem na escuridão de seu quarto. Seus pensamentos estavam sempre voltados para Neji, que no entanto, permanecia distante e cruel com seus sentimentos. De repente, Hinata começou a rir, deixando Karin perdida.

– Não seja ridícula, Karin! O que uma garota como eu faria com um cara como ele? Uma aventura no subúrbio e o que mais? Nós não temos nada a oferecer um ao outro.

– Sexo já é o bastante, queridinha. – Dessa vez as duas riram, Hinata mais timidamente.

– Vamos embora, Karin. Eu não quero fazer isso.

– Gosto mais de você quando você está bêbada. – Karin disse, destravando o cinto e abrindo a porta do carro. – Só vamos entrar e dar uma boa olhada no louro, Hinata. Não é uma visão desagradável, afinal. Quem sabe eu resolva animar a noite dele, já que você não está interessada.

– Fique à vontade. – Hinata também saiu do carro.

– Última chance. – Avisou, enquanto atravessavam a rua.

– Você daria para ele, mesmo que eu dissesse que o amo. – Hinata piscou para ela, e Karin não argumentou. Ambas sabiam que era verdade. Karin abriu a porta do bar para que a morena entrasse e os últimos acordes de Who’s loving you preencheu seus ouvidos. Outra noite ao som das mais bregas músicas de amores despedaçados e Karin já não saberia como ainda se mantinha viva.


*


Naruto nunca foi um homem de duvidar de sua sorte. Às vezes abusava dela, como naquela tarde, mas nunca duvidava de que ela estivesse ao seu lado. No entanto, quando a sorte lhe sorria fácil demais, não podia deixar de desconfiar de suas intensões. Mas, acima de tudo, sempre aproveitava as chances que lhe dava. Quando viu Hinata e sua amiga Karin entrarem no bar, sentiu que o universo estava realmente tentando não desperdiçar aquele dia, e estava grato por isso. Hinata não usava uma de suas roupas chiques de menina rica, apenas uma calça jeans e uma camiseta preta pequena e apertada, que deixava marcadas suas curvas generosas.

Naruto a estudou de longe, linda, pensou, tentando lembrar-se da última vez que se sentira atraído por uma mulher que não fosse Shion. Fazia muito tempo. Mas, naquela noite em que a conheceu, não deixou de reparar, e não conseguiu desgrudar os olhos dela, mesmo depois de sentenciar que jamais receberia sua atenção. Ele era um cara do subúrbio, acostumado à pobreza e a falta de oportunidades e ela… era a herdeira de hotéis, com um estilo de vida que ele jamais poderia pagar. O que poderia dar a ela? Uma ou algumas noites de aventura e o que mais?

Sorriu com um pensamento um tanto pervertido, enquanto as observou caminhar em sua direção: prazer. Ficou feliz por ter sorrido na hora certa, pois recebeu outro sorriso de volta e pode fingir que o seu era um inocente “que bom vê-las aqui”. O sorriso de Hinata era tímido e ao mesmo tempo atraente. Levantou-se para cumprimentá-las.

– Boa noite. – Disse, desviando os olhos de Hinata e os colocando um instante em Karin. – É bom encontrá-las aqui. Vocês estão bem?

– Estamos. – Hinata disse com uma voz baixinha, que o fez olhar para ela surpreso. Não estava acostumado com a versão tímida da herdeira Hyuuga.

– Poderíamos estar melhores, se o Mangekyou estivesse aberto. – Karin disparou, deixando transparecer um pouco de seu mal humor.

– Karin ainda está frustrada por isso.

Naruto não sabia que o Mangekyou estava fechado, e Iruka teria dito se soubesse também. Seu primeiro pensamento foi que tivesse acontecido alguma coisa muito séria, mas se fosse o caso, Sasuke teria lhe dito alguma coisa. Ou até mesmo Sakura e os outros amigos…

Foi então que se lembrou. Era o aniversário de morte do irmão de Sasuke, Itachi Uchiha. Naruto e ele não se falavam muito, por conta da diferença de idade, mas Naruto sempre o respeitou. Itachi era inteligente, determinado e um ótimo irmão mais velho, que havia estado mais presente para Sasuke do que seus pais e, no entanto, foi o primeiro a partir.

– Ele fecha todos os anos, nesse dia. – Naruto explicou para Karin. – O Mangekyou pertence à família do Sasuke há muitos anos e hoje é um dia especial para os Uchihas.

– Ah. – Karin pareceu um pouco desconcertada e seu mal humor foi obrigado a desvanecer de vez. Hinata ficou contente por isso.

– Ele está bem? – Perguntou a Naruto, percebendo que o especial em sua frase não era em um sentido bom.

– Está. – Naruto sorriu. – Sasuke é feito de um material diferente das outras pessoas.

– Aposto que da melhor qualidade. – Karin comentou, mais para si, mas não se intimidou quando Naruto a olhou achando graça.

– É uma boa aposta. – Ele concordou.

Karin era tão gritantemente diferente de Hinata, que tornava a Hyuuga ainda mais curiosa aos olhos de Naruto. Bonita, inteligente, às vezes parecia arrogante, às vezes muito tímida, outras vezes ingênua como uma adolescente que tentava ser rebelde. E, acima de tudo, atraente, vestida como uma dama da alta sociedade, ou como sua vizinha do subúrbio, Hinata Hyuuga era absolutamente linda.

Os três se sentaram, Naruto um tanto sem graça por tê-las o acompanhando à mesa. Já haviam se sentado juntos em outra oportunidade, porém, mesmo assim, era estranho pensar que aquelas duas jovens de famílias nobres tivessem qualquer interesse em manter uma conversa com ele. Mas não deixou que o nervosismo transparecesse e conversaram sobre alguns assuntos neutros, e Karin pediu uma bebida para todos. Levantaram os copos, para um brinde, puxado pela ruiva:

– Por uma noite que salvará nosso dia.

Ao fundo, Iruka continuava seu som com a banda, observando de vez em quando o trio do qual Naruto agora fazia parte. Para ele não importava se era Shion quem ocupava a mente de Naruto ou outra mulher qualquer. Preocupava-se sempre que o rapaz decidia apostar em quem estava fora de seu alcance e lá deveria permanecer. Hinata Hyuuga era tão proibida para ele por ser rica, quanto Shion por ser casada. E Naruto cairia na mesma armadilha mais uma vez. Melancólico, sorriu quando seus colegas começaram a tocar Love is a losing game, torcendo para que Naruto entendesse o recado.


O amor é um jogo de azar

Pra você eu fui um caso

O amor é um jogo de azar

Cinco andares se incendiaram assim que você chegou

O amor é um jogo de azar


Como eu queria nunca ter jogado

Oh, que estrago nós fizemos

E agora o lance final

O amor é um jogo de azar.


Karin ouviu os primeiros acordes da música e estremeceu. Daria qualquer coisa para que a interrompesse imediatamente


Desgastado pela banda

O amor é uma aposta perdida

Mais do que eu poderia aguentar

O amor é uma aposta perdida


– Vou fumar um cigarro. – Karin avisou e antes que Naruto e Hinata tivessem tempo de olhá-la, já havia levantado e saído do bar.

– Ela está bem? – Naruto perguntou, mas Hinata não sabia qual a resposta certa para aquilo.

– Eu não sabia que ela fumava. – Disse apenas, virando-se na direção da amiga, que lutava para acender um cigarro com mãos trêmulas. – Eu vou falar com ela.


Declarado... intenso

Até o encanto se quebrar

... e notar que você é um jogador

O amor é uma aposta perdida


Lá fora a música ainda se fazia ouvir, fazendo a irritação de Karin elevar-se e, quando a porta do bar abriu, fazendo o som da música aumentar, a garota virou-se com raiva na direção da porta, encontrando Hinata parada, olhando-a surpresa.

– Volta lá para dentro, Hinata. – Falou, em tom de ordem, virando-se novamente para a rua, e insistindo com o cigarro que não queria acender.

– Desde quando você fuma?

– Eu fumo às vezes. – Respondeu impaciente.

– Karin…

– Eu estou bem, Hinata. – Karin lançou-lhe um olhar sentenciador. – Eu só não quero ficar lá dentro enquanto essa música estiver tocando. Eu volto quando terminar meu cigarro.

– Tudo bem. – Hinata disse, voltando ao bar. Observou os músicos e prestou atenção na música. Não era uma letra feliz, realmente, mas era preciso um bom motivo para odiá-la.


Apesar de estar bastante cega

O amor é um resignado destino

Lembranças denigrem minha mente

O amor é um resignado destino


Acima de inúteis expectativas

Ridicularizado pelos deuses

E agora o lance final

O amor é um jogo de azar


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei... mais de um ano sem atualizar! Dezesseis meses, para ser mais exata. Eu sei que tem muita gente de mal comigo, mas por favorzinho, não fiquem muito bravos...
Nem vou dizer que não tive tempo, porque estive escrevendo outras três fics nesse meio tempo e não quero mentir para vocês.
O motivo foi falta de inspiração para essa fic... mas depois de levar uma bronca aqui, outra ali, eis que temos caps novos e aviso que o 17 já está começando a ser escrito.
Pessoas, por favor, não deixem de conferir minhas outras fics:
Os Outros
O jeito como você mente
Cantandk na chuva
Lua de prata