Naruto voltou para o palco, pouco antes de Jiraya, que ainda conversava com Hinata enquanto a puxava para cima do palco também. A moça sentia o coração bater cada vez mais acelerado. Há muito tempo não cantava e tocava. Estava enferrujada, tinha certeza absoluta. E, com aqueles dois músicos imprecionantes, não seria capaz de muita coisa. Ela precisava voltar para perto de Karin... Para perto do copo de conhaque que tinha deixado na mesa... Precisava...

Antes, porém, que fizesse qualquer coisa nesse sentido, Jiraya a deixou sobre o palco, ao lado de Naruto e desceu em direção ao balcão. Quando voltou, estava com uma bebida em mãos, que Hinata não pensou duas vezes em pedir um pouco. Jiraya sorriu para ela e entregou-lhe o copo, pedindo mais um para Sasuke.

Naruto apenas os observava.

- Nervosa, Srta. Hyuuga? - Perguntou, enquanto Jiraya recebia mais um copo de bebida das mãos do jovem Uchiha.

- Um pouco. Há muito tempo que eu não subo em um palco.

- Não precisa ficar assim. Todo mundo queria estar no seu lugar.

- Tem razão. Estudar com o grande Jiraya não é para qualquer um. - Hinata sorriu para ele. - O que vai ser, então?

- Acho que um música leve deve servir para te dar confiança. - Naruto falou, vendo Jiraya se aproximar. Virou-se para ele. - Que tal começarmos com "Pela luz dos olhos teus"? - Sugeriu, olhando de um para outro.

- Por mim, tudo bem. - Hinata sorriu. Como Naruto disse, não era uma música muito difícil para cantar e a conhecia muito bem.

- Ótimo. Eu vou para o piano. - Falou, sem esperar por resposta.

Hinata encarou Naruto e ambos sorriram. Naruto sentia vontade de anunciar para quem quisesse ouvir, que estaria cantando com Jiraya e a jovem mais bonita do Mangekyou naquela noite. Mas, para evitar que Hinata se sentisse mais insegura que naquele momento, preferiu ficar quieto.

Jiraya começou com os primeiros acordes da música no piano, sem dar a eles nenhum tipo de avido. Hinata olhou para Naruto, como se buscasse nele algum tipo de ajuda. O rapaz a encarava seriamente, mas com a expressão tão calma e serena, que Hinata ganhou um pouco de confiança. Mesmo assim, sentiu-se vacilar quando olhou para o público e a amiga no bar. Naruto atreveu-se então a seguir um instinto que ele não saberia explicar de onde saira. Pegou na mão de Hinata e sorriu. Era para ele que a jovem precisava olhar, para mais ninguém. Hinata encarou-o novamente, parecendo perceber a intenção dele e respirou fundo, começando a cantar em seguida.

 

 

 

Quando a luz dos olhos meus

E a luz dos olhos teus

Resolvem se encontrar

Ai, que bom que isso é meu Deus

Que frio que me dá o encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus

Resiste aos olhos meus

Só pra me provocar

Meu amor juro por Deus

Me sinto incendiar

Naruto ficou um pouco abobado com a voz suave que saia daquela boca pequena. Não entendia como a dona de uma voz  como aquela, poderia se sentir insegura. Hinata deveria, ao invés de se enconder daquela forma, mostrar o que era capaz de fazer. Ainda que aquela fosse a primeira vez que ele a ouvia cantar, alguma coisa lhe dizia que aquela garota não tinha sido aluno de Jiraya apenas por coincidência. Mas sua vez estava chegando. Para não perder o tempo da música, precisou concentrar-se. Continuou encarando-a, agora com um sorriso nascendo no canto do lábio.

 

 

Meu amor juro por Deus

Que a luz dos olhos meus

Já não pode esperar

Quero a luz dos olhos meus

Na luz dos olhos teus

Sem mais la ra ra ra...

Pela luz dos olhos teus

Eu acho meu amor e só se pode achar

Que a luz dos olhos meus precisa se casar

 

Naquele intervalo da música, em que Jiraya solou no piano, os dois jovens não pararam de se encarar. Naruto temia que, se desviasse o olhar, o encanto da música se quebrasse. Hinata, temia que se olhasse em outra direção, não tivesse mais coragem para cantar, ou para olhar novamente dentro daqueles olhos vivos.
As vozes dos dois, então, se uniram. A de Naruto fazendo eco à de Hinata, para finalizar a música que era curtinha, mas para eles pareceu, de repente, enorme.


La ra ri ra ra ra...

La ra ri ra ra ra...

Quando a luz dos olhos meus

E a luz dos olhos teus

Resolvem se encontrar

Ai, que bom que isso é meu Deus

Que frio que me dá o encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus

Resiste aos olhos meus

Só pra me provocar

Meu amor juro por Deus

Me sinto incendiar

Meu amor juro por Deus

Que a luz dos olhos meus

Já não pode esperar

Quero a luz dos olhos meus

Na luz dos olhos teus

Sem mais la ra ra ra...

Pela luz dos olhos teus

Eu acho meu amor e só se pode achar

Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

 

 

Quando terminaram de cantar, Hinata abriu um tímido sorriso, sentindo o rosto queimar, como há muito tempo não acontecia. Baixou os olhos, recebendo os aplausos dos clientes. Não ousava sequer olhar novamente para Naruto, pois, como temera, não conseguia mais encará-lo da mesma forma. Era sempre assim quando era pequena. Não podia simplesmente ser o centro das atenções. Preferia ficar a um canto, quieta, do que ter que falar ou olhar para outras pessoas. Principalmente de forma tão... Acolhedora como fora segundos atrás.

Buscou o olhar do antigo professor, que sorria abertamente, provavelmente orgulhoso dos dois alunos que formara.

- Muito bem minha jovem. Eu estava com saudade do seu talento. - Disse Jiraya, levantando-se e indo até ela, que aproveitou para se afastar do contato com Naruto.

- Que isso eu apenas... - Calou-se, tímida, quando percebeu que Naruto, que até aquele momento não tirara os olhos dela, aproximou-se novamente. - Ele me deu um pouco de confiança. - Confessou, ainda sem olhar para o loiro.

- Você me surpreendeu. - Disse Naruto, com o sorriso sumindo nos lábios, mas ainda a encarando-a.

Hinata não respondeu, mas arriscou-se a fitá-lo brevemente. Aquele olhar, aquele sorriso... O que Naruto fazia para deixá-los tão irresistíveis?

- Mais uma? - Perguntou o velho professor, ansioso.

Hinata prendeu a respiração. Ficou tentada a aceitar, mas não sabia se conseguiria de novo, enfrentar todas aquelas pessoas.

- Dessa vez eu vou ter que recusar. Eu vou falar com a minha amiga. Vim aqui para cima e a deixei lá, sozinha.

Naruto riu.

- Tudo bem. Mas saiba que da próxima vez você não escapa.

- Ora, é o que veremos, Sr. Uzumaki. - Ela riu de volta, sentia-se um pouco mais a vontade agora. Deixou os dois para trás e desceu do palco, tentando não correr na direção de Karin, em busca de apoio.

- Metida. - Karin falou, assim que Hinata se sentou ao seu lado. - Nunca me disse que cantava!

- Então não sou tão metida assim. - Retrucou, um pouco sem jeito.

- Ah... E o que foi aquele olhar? - Karin aproximou-se mais do rosto dela, falando com a voz baixa, mas nitidamente maliciosa. - Os olhos dele quase brilharam olhando para você! Por pouco, não esquece de cantar.

- Não exagera, Karin. O que queria? Era o que a música pedia. A letra fala de troca de olhares, queria que cantássemos olhando para vocês?

- Tudo bem, eu concordo, mas o brilho nos olhos de vocês foi um bônus. Você não me engana, Hyuuga!

Hinata não teve argumentos, apenas riu, sem saber se era a melhor ou pior forma para despitar Karin. De qualquer forma, não poderia mesmo dizer que a amiga estava... Não. Melhor não pensar mais naquilo.

 

*

 

- Aquela música é dos Três Lendários? - Konohamaru perguntou, num cochicho para Udon.

Ambos estavam sentados nos bancos do balcão, sob o olhar atento de Asuma, que já proibira Konohamaru de ir ao Mangekyou, pois afirmava que não era lugar para criança.

- Não. Os Três tocavam Jazz.

- Ah. Eu jurava que iria ouvir mais uma música deles hoje. Do jeito que o Naruto e o Jiraya são, a próxima com certeza será dos Três... Aposta quanto?

Sasuke aproximou-se dos dois, com um sorriso irônico.

- E então, o que vão querer?

Konohamaru riu, consciente de que seu tio estava ouvindo atentamente.

- Que tal começarmos com uma dose generosa de whisky? - Perguntou, olhando para Udon, que fitou brevemente Asuma.

- Por mim, tudo bem. - Respondeu, entrando no jogo. - Depois passamos para um pouco de conhaque.

- Certo. - Konohamaru olhou para Sasuke novamente. - Pode trazer...

O Uchiha riu e olhou para Lee.

- Você ouviu. Traz o que eles querem.

Lee sorriu, assim como os garotos que, segundos depois, receberam apenas refrigerantes e riram.

- Covardia Sasuke! - Disse Konohamaru. - Você está é com medo do meu tio.

Asuma, então, deixou-se despreocupar. Afinal, não havia com o que se preocupar. Konohamaru estava consideravelmente mais ajuizado do que quando foi morar com Naruto e Iruka. E sabia que devia isso aos dois.

- Ele não deveria ser o único, não é? - Mesmo assim, provocou.

Konohamaru não deu ouvidos para ele. Naruto e Jiraya pareciam estar matando a saudade do palco juntos. Tocavam uma música atrás da outra, chamando os demais amigos para tocar com eles. E, como o garoto prevera, a maioria das músicas eram dos Três Lendários. Udon sabia o nome de cada uma delas e conhecia a histórias que envolviam algumas delas. Asuma, Gai e Kakashi escutavam, tão interessados quanto Konohamaru. Era impressionante o quanto aquele garoto, que tinha apenas 16 anos, sabia sobre os músicos.

Quando Jiraya e Naruto finalmente fizeram uma pausa e desceram do palco, Kakashi chamou-os para perto dos garotos. Apontou para Udon.

- Esse garoto sabe tudo sobre os Três... - Disse, reparando na reação de Jiraya.

- É mesmo? Gosta dos Três Lendários, garoto? - Jiraya perguntou, fitando-o desconfiado.

- Gosto. Eles eram incríveis. - Respondeu Udon

- Eram? - Jiraya sorriu, trocando um olhar significativo com Kakashi.

- Não sei dos outros, mas pelo menos o Orochimaru ainda é.

- Ah... - Jiraya torceu o nariz ao ouvir aquele nome. - Pelo visto conhece um deles.

- Não posso dizer que conheço, senhor. - Udon se defendeu. - Mas...

- Nós encontramos o Orochimaru esses dias, do outro lado da cidade. - Konohamaru interrompeu.

- Orochimaru está na cidade? - Gai encarou os dois garotos.

- Não sei. - Konohamaru deu de ombros. - Pelo menos naquele dia estava.

Jiraya olhou-os por algum tempo, sem comentar nada. Fazia tempo que não tinha notícias de Orochimaru e achava estranho que ele tenha estado na cidade, depois de jurar que jamais colocaria os pés lá novamente.

- Garoto... - Falou finalmente, olhando para Konohamaru, que assustou-se com a gravidade da voz dele. - Está ensaiando o que eu mandei?

- Claro. - Konohamaru respondeu sério. Seria mesmo cobrado pela lição de casa, longe da escola? - Onde eu moro não se faz outra coisa. - Disse, alfinetando Iruka e Naruto, que o olharam reprovadores.

- Tudo o que você sabe deve a nós. Não se esqueça. - Disse Naruto.

- Deixa. Os jovens são mesmo ingratos. - Iruka sorriu.

 

Enquanto os dois meninos voltaram a ser bombardeados pelas perguntas sobre os Três Lendários e Asuma fazia propaganda do talento latente do sobrinho, que rebatia falando de Udon, Naruto deixou o pensamento distanciar-se daquela bagunça. Passou os olhos pelo bar, como costumava fazer e mais uma vez não pode evitar não olhar para Hinata. Ela e Karin conversavam animadas. Mas, assim que perceberam o olhar dele, o chamaram para sentar-se com elas. Sem pensar duas vezes, foi exatamente o que ele fez.

- Como estão? - Perguntou, com aquele sorriso que fazia seus olhos brilharem de sinceridade.

- Muito bem. - Karin respondeu antes que Hinata conseguisse abrir a boca. - A Hinata tinha me faado muito bem do Mangekyou, mas quando cheguei aqui, vi esse lugar incrível! - Sorriu e então continuou. - Aliás, ela não é muito boa em descrever as coisas. - Hinata olhou para a amiga, sem entender. - Ela me disse que você era um dos melhores músicos que ela conhecera, mas eu nem poderia ter imaginado que fosse tanto assim.

Hinata sorriu, mas não mais que Naruto, que a encarou, satisfeito consigo mesmo.

- Obrigada pela indicação, Srta. Hyuuga, mas não sou tudo isso. Mas, devo dizer que também não esperava que você tivesse uma voz tão bonita.

- Imagina. - Hinata forçou-se a encará-lo. Trancou a menina tímida em um quarto escondido dentro de si e continuou, com um tom brincalhão. - Aposto que diz isso para todas.

- Nem conheço tantas assim! - Naruto defendeu-se, com o mesmo tom.

Karin não atreveu-se a interromper a conversa que iniciaram em seguida, sobre música, assunto que definitivamente não entendia. Sentia-se sobrando, mas para onde poderia ir? Olhou em volta, procurando uma distração qualquer... E encontrou. Atrás do balcão, viu aquele que Hinata indicara como dono do bar, Sasuke Uchiha. Antes, não tinha reparado, mas agora, que o via sorrindo, ele parecia especialmente mais interessante, com aqueles olhos negros penetrantes.

- Eu já volto. - Disse, levantando-se e deixando os dois sozinhos.

Karin passou pelo balcão, lançando um olhar enigmático para Sasuke que a acompanhou com o olhar.

- Que foi Sasuke? - Ouviu uma voz feminina, muito familiar, falar com ele. Encarou-a.

- Que foi o quê? - Falou, fitando Sakura atentamente.

- Nada. - Ela respondeu, orgulhosa. - Pensei ter visto você com o olhar perdido.

Sasuke encarou-a, sem querer acreditar. Não conseguia entender o que Sakura queria dele. Afinal, não eram mais que amigos, como ela mesma dissera, não é?

- Sakura, Sakura... Será que algum dia eu vou conseguir entendê-la?

- Só não entende porque não quer.

 

*

 

A noite demorou para passar, menos para Naruto, que sentia-se cada vez mais a vontade na presença daquela mulher, tão diferente dele. Hinata tinha uma mistura de tímidez e inteligência que estavam chamando a sua atenção, à medida que conversavam. Não se prenderam em nenhum assunto particular, apenas falaram de música e de alguns interesses em comum nesse sentido. Logo, porém, quando estavam começando a ficar sem assunto, Karin voltou para a mesa e Hinata pareceu despertar para a presença dela. As duas trocaram um olhar rápido e a Hyuuga pensou que talvez Karin já estivesse cansada e quizesse ir embora.

- A noite foi muito boa, mas acho que chegou a hora de irmos embora, não é Karin? - Perguntou, voltando-se para a amiga.

- É. Acho melhor irmos mesmo. Já está tarde.

- Verdade. - Naruto afastou um pouco a cadeira e preparou-se para levantar, junto com elas. - Espero que voltem mais vezes. Tenho certeza que não vão conseguir esquecer esse lugar tão cedo. Ninguém esquece.

- Com certeza. - Hinata sorriu. - Nós voltaremos, sim. Até um dia, Naruto. - Sorriu.

- Até mais Hinata. - Ele sorriu de volta, chamando-a pelo nome, gentilmente. - Até mais, Karin.

- Até.

Naruto acompanhou-as até o balcão, onde Hinata se despediu de Jiraya, com mais um abraço caloroso.

- Até um dia, Hinata. É sempre muito gratificante encontrá-la. Você e sua irmã estão entre os meus melhores alunos!

- Hanabi gosta muito das suas aulas, professor. Ela realmente se empenha bastante.

Konohamaru ouviu o nome de Hanabi e fez uma cara feia para Udon, que já conhecia de cor as histórias do novo colégio do amigo. Mas seu movimento não passou despercebido por Naruto, que esperou Hinata sair do bar, para falar com o garoto.

- Hanabi Hyuuga é aquela menina que te percegue na escola, não é?

- Percegue? - Jiraya olhou de um para o outro. - Hanabi não percegue nenhum garoto. Pelo contrário, eles é que a perceguem. - Alguns riram da cara que Konohamaru fez ao ouvir a defesa de Hanabi.

- Professor, com todo o respeito... - Konohamaru encarou-o, mal-humorado. - Aquele lugar é um inferno! E a rainha desse inferno é a sua protegida. Só você não encherga isso!

- Tenho certeza que a Hanabi não faria nada sem motivo. Você deve ter feito alguma coisa... - Jiraya disse, num tom que Konohamaru não soube distinguir se era irônico ou sério.

- Quer saber, tem razão professor. - Konohamaru encarou-o sério. - Eu devo ter feito algo muito errado e feio para a mini-Hyuuga. - Falou com ironia. - Deixe eu ver... Ah, já sei. Entrei na escola dela. Esse foi o meu maldito erro.

Jiraya sorriu divertido para o garoto e colocou a mão sobre seu ombro.

- Vai passar. Quando entrar outro novato, prometo que todos vão esquecer de você.

- Espero.

- Principalmente as meninas, que andam falando de você por todos os cantos! - Jiraya fingiu um tom sério. - Isso é tão cansativo!

Konohamaru sorriu, malicioso, para o professor.

- Essa é a única coisa que me faz ficar naquela escola! - Disse, num misto de brincadeira e verdade, fazendo os adultos rirem e Udon balançar a cabeça incorformado.

 

*

 

Na manhã de domingo, Hanabi e as meninas marcaram de se encontrar no shopping da cidade. Tinham combinado de transformar Yumi em uma pessoa mais confiante e bonita, e não havia ninguém melhor que Hinata para fazer isso pela pequena. A jovem foi até o quarto da irmã, que naquela noite não chegara tão tarde e a acordou, mexendo em seus ombros.

- Hina, preciso da sua ajuda. - Disse, quando Hinata finalmente abriu os olhos.

- Minha ajuda? Pra quê?

- Para ajudar uma amiga minha.

- Precisa da minha ajuda para ajudar outra pessoa? - Hinata perguntou com a voz pastosa, vencida pela preguiça da manhã.

- É. Eu e as meninas vamos ao shopping para comprar umas roupas novas para a Yumi. Ela é igual a você, sabia?

- É? - Hinata mal ouvia. Afastou as cobertas e se levantou sem pressa.

Hanabi percebeu a falta de interesse da irmã mais velha, mas não se rendeu.

- Você prometeu que sairia comigo hoje.

Hinata lançou-lhe um olhar contrariado, mas pareceu funcionar. Ergueu-se com mais vontade e foi para o banheiro, se lavar. Logo, as duas desciam as escadas até o térrio e chamaram Sora para levá-las para o shopping. O rapaz apenas confirmou com a cabeça e partiram.

As amigas de Hanabi chegaram praticamente juntas na entrada leste do shopping, que dava direto para loja de roupas mais movimentada dali. Hinata reuniu coragem para passar o dia com um bando de adolescentes e as guiou para dentro da loja. Enquanto andavam, tentava achar uma roupa que combinasse com o jeito meigo de Yumi. Era relativamente fácil para ela, já que ela própria passara por aquela mudança de guarda-roupa uma vez e devia a isso a mulher que aparentava ser agora. Mas Yumi não se identificava com nada e ficava com o rosto corado, só de se imaginar com certas roupas que as amigas lhe mostravam.

- Ai, Yumi, você tem que escolher pelo menos uma. - Reclamou Saaki, depois de ver a expressão desanimada de Yumi, com a roupa que Mizuki acabara de mostrar-lhe.

- Eu gosto, mas...

- O que tem demais nessas roupas, Yumi? - Nagaki aproximou-se da pequena roda que as meninas estavam formando.

- Não sei se eu conseguiria me sentir a vontade com elas. - Yumi respondeu com a voz baixa, encarando a roupa.

- Se acha que não se sente bem, não precisa vestir. - Hanabi falou. - Não viemos aqui apenas para mudar o seu visual, mas para mudar você por completo. Se não está gostando das coisas que te mostramos, não precisa fingir. Apenas nos diga.

Hinata apenas observava o andamento daquela transformação, um pouco de longe. Enquanto as meninas faziam uma pequena conferência, deixando Yumi ainda mais sem graça, Hinata passava pelos outros amontoados de roupas espalhados pela loja e, cada peça que chamava sua atenção, comparava com as que Yumi usavam. Precisava de alqo que se parecesse com aquilo, mas que ao mesmo tempo deixasse a menina mais bonita.

Não que Yumi precisasse parecer mais bonita. Pelo contrário. Ela tinha um rosto fino e a pele bem clara, os olhos eram negros e grandes, expressivos. Tinha o cabelo ruivo, cortado pouco abaixo do ombro. O corpo parecia frágil e sem curvas, mas talvez por baixo daqueles panos bem comportados ouvessem algumas curvas...

No mesmo momento que pensou nisso, Hinata colocou os olhos em uma saia que ia até um palmo acima dos joelhos. Tinha o desenho de um tabuleiro de chafrez, combinando preto com vermelho. Um pouco mais além, achou uma blusa preta, com um decote bem discreto.

"Não custa tentar", pensou, pegando as duas peças de roupa e indo até Yumi. Sem dizer nada, pegou a menina gentilmente pelo braço e, quando recebeu um olhar questionador dela, apenas sorriu, tranquilizando-a. Foram até os provadores e só então entregou-lhe as roupas.

- Deixa eu ver como fica em você! - Falou, sorrindo animada.

Yumi olhou para a saia, que apesar de simples, era muito bonita e chamativa. Depois, olhou para o sorriso de Hinata e não teve como negar. Entrou no provador e trocou de roupa. As meninas ficaram do lado de fora, esperando. Hinata piscou para Hanabi, quando Yumi saiu do provador.

- Aaahhh - Matsuri exclamou, sendo a primeira a ir até a Yumi. - Ficou tão bonitinha!

- Bonitinha nada, ficou linda. - Comentou Nagaki. - É a sua cara, Yumi!

- Parece uma bonequinha. - Mizuki riu, mas estava realmente impressionada.

- O que achou, Yumi? - Hinata interrompeu o falatório. - A gente pode procurar outras cores, se quiser.

- Não. Eu gostei assim. - Yumi falou, olhando-se no espelho. - Mesmo.

- Ehhh! Finalmente! - Saaki comemorou. - Gostei dessa saia. Vou comprar uma para mim.

Matsuri encontrou o olhar de Hanabi e as duas preferiram não comentar nada.

 

*

 

Konohamaru e Moegi estavam do lado de fora de uma loja de discos, onde Udon entrara para comprar o Vinil definitivo do "Blues in Town", uma coletânia com os principais artistas do estilo, das últimas décadas. Quando o garoto estava quase pagando disco, viu na prateleira atrás do vendedor, um disco que lhe chamou ainda mais atenção.

- Esse é o In Your Soul? - Udon perguntou ao vendedor, apontando para um disco todo em branco, apenas com as palavras escrito em dourado na capa. - Dos "Três"?

- É?

- Quanto custa?

- Caro.

Konohamaru e Moegi trocaram olhares. Entraram no loja e trataram de pagar pelo disco do "Blues in town". Levaram o garoto para longe da loja de disco, assim que ouviram o preço da relíquia dos Três. Já sabiam qual seria a nova obsessão do amigo.

- Vocês não entendem. Aquele disco é uma raridade!

- Pensei que esses Lendários não lançassem discos. - Comentou Moegi.

- Por isso mesmo. - Rebateu o garoto. - O disco provavelmente foi gravado no Ichiraku. Vocês têm idéia da chance que perdemos? Konohamaru! - Chamou de repente, parando na frente do garoto com o olhar vidrado. - Você pode comprar aquele disco! Você tem dinheiro!

- Fala mais alto idiota. Acho que nem todo mundo ouviu que sou um bilhionário. - Ironizou, mas achando graça da urgência do garoto. - Eu não vou gastar meu dinheiro com isso.

- Mas não é uma besteira...

- Pra mim é.

- Pra você não conta Moegi, você não reconheceria uma música boa nem se fosse o único som do mundo.

- Ai, a criança ficou nervosa.

- Pára, Moegi. - Konohamaru interrompeu-os. - Você também Udon. Pra quê comprar o disco dos caras, se pode ouvir o pessoal do Mangekyou tocando a música deles o tempo todo?

- Com todo respeito aos seus ídolos Asuma, Iruka e Naruto, mas não se compara...

- Está bem. Vou conversar com o meu tio e ver se ele me libera grana para comprar o maldito disco. Se sim, eu te empresto...

- Empresta? - Udon perguntou surpreso e um pouco desapontado.

Konohamaru riu.

- Claro. Acha que vou gastar toda essa grana para dar para você? Seria um presente para os próximos trinta anos. Se não mais.

- Eu pago!

- Com o quê?

- Sei lá... - Udon deixou-se rir, voltando a si aos poucos. - Eu arranjo um jeito.

- Eu sei um jeito. Mas você não vai gostar. - Moegi provocou.

- Deixa pra lá. - Udon forçou um sorriso para ela. - Prefiro ficar longe dos seus conselhos.

 

*

 

Depois de muito dinheiro gasto em roupas e alguns sapatos, as meninas resolveram sentar em uma mesa na praça de alimentação. Hinata teve de pegar uma cadeira de outra mesa, para poder sentar-se com as seis adolescentes. Nagaki, Saaki e Mizuki conversavam animados sobre como seria quando Kiumaru e os outros meninos do colégio vissem Yumi daquele jeito. Matsuri e Hanabi cochichavam qualquer coisa a um canto. Yumi estava sentada ao lado de Hinata, que estava deixando-a verdadeira admirada com as coisas que lhe contava.

- Mas quando você decidiu mudar? - Yumi perguntou, deslumbrada.

Hinata sorriu.

- Um dia eu percebi que não conseguia fazer com que as pessoas conhecessem a verdadeira Hinata e estava perdendo muito tempo. Então, resolvi fazer alguma coisa.

- Mas a mudança partiu de você.

- É. Me diz uma coisa, Yumi, porque as meninas querem que você mude?

- Bem... - Yumi corou, mas se sentiu a vontade para falar com Hinata. - Tem um garoto...

- Ah... Nem precisa dizer mais nada. - Hinata riu. - As mudanças sempre são por causa deles. Mas, sabe não vale a pena mudar por causa deles. Eles tem que gostar da gente do jeito que somos.

- Eu sei... Mas... Como a Matsuri disse, não custa nada dar uma forcinha.

Hinata riu. Yumi era mesmo uma menina esperta e encantadora. Seja lá quem fosse o garoto, ele teria muita sorte se a notasse.

- Você é linda sabia? - Falou, achando graça da timidez da garota.

- Meninas... - Saaki chamou de repente, fazendo todas a olharem. - Vocês não vão acreditar em quem está aqui.

- Quem? - Nagaki começou a virar a cabeça para todo lado.

- Ai, que merda... - Hanabi achou o garoto do outro lado da praça, antes de todas as outras. - Chegou o muso inspirador delas... - Disse, mais para Hinata e Yumi, que para qualquer outra.

Todas as meninas olharam para a mesma direção e depois trocaram olhares animadas. Nagaki levantou-se.

- Onde você vai? - Matsuri perguntou, fitando-a.

- Falar com ele.

- Eu vou com você. - Saaki levantou-se também.

- Eu também. - Mizuki animou-se

Hanabi cutucou Matsuri, irritada com a falta de reação dela.

- Eu também. Para segurar as três, antes que fiquem babando demais no garoto. - Matsuri levantou por fim. - Vamos logo, que eu estou morrendo de fome.

As quatro então foram ao encontro de Konohamaru, deixando Hanabi mal humorada, Yumi rindo e Hinata sem entender nada.

- Perdi alguma coisa? - Hinata perguntou à irmã.

- Só o fim do mundo.

- Quem é ele?

- O Konohamaru. Um garoto novo lá no colégio. - Yumi respondeu.

- Vocês não vão falar com ele?

- Eu não tenho nada para falar com ele. - Hanabi falou logo.

- Ah, pelo menos dizer um "oi". - Disse, Yumi. - Fica chato só elas irem falar com ele...

Hanabi olhou para a menina, depois para a irmã e então levantou.

- Okay. Mas vamos logo.

 

*

 

- Oi... - Nagaki se aproximou da mesa que Konohamaru dividia com Udon e Moegi. - Que surpresa te encontrar aqui.

Konohamaru sorriu para as meninas.

- Pois é. Como vai?

- Bem. São seus amigos?

- São. - Konohamaru voltou-se para os dois. - Ele é o Udon e ela a Moegi. E essas são a Nagaki, Saaki, Mizuki, Matsuri, Yumi... Nossa... - Exclamou, reparando na roupa da pequena. - Yumi, você está... Linda!

- Ela não está linda, ela é linda. - Corrigiu Hanabi, com um sorriso falso no rosto.

- Ah, e essa é a Hanabi. - Konohamaru apresentou-a como se não tivesse importância. - O que vieram fazer aqui meninas?

- Que pergunta... - Comentou Udon baixinho para a amiga e Moegi deu um risinho.

- Viemos ajudar a Yumi... - Mizuki respondeu.

- Ajudar no quê?

- A ficar mais bonita. - Hanabi respondeu automaticamente.

- Pensei que ela já fosse linda. - Konohamaru sorriu para Yumi, mas a provocação atingiu em cheio Hanabi.

- Meninas, vamos. Minha irmã está sozinha lá. Se já disseram "oi" para o garoto novo, vamos indo.

- Tchau meninas. - Konohamaru riu da reação de Hanabi.

Não percebia que a expressão de Moegi, ao seu lado não era nada agradável na presença de todas aquelas meninas ricas. Se antes ela se sentia ameaçada por elas, agora que as conhecia e percebia que eram lindas, todas elas, sua auto-estima sofreu uma forte queda.

- Está fazendo sucesso, heim, "garoto novo". - Udon brincou, indiferente ao humor de Moegi.

- Que nada. Elas são todas amigas. - Konohamaru riu. - Se eu pegar uma, não pego mais ninguém.

Udon deixou escapar um suspiro de desgosto por aquela fala e recebeu um olhar divertido de Konohamaru.

- Você é um lixo, Sarutobi.

Konohamaru riu mais ainda. Moegi lançou um olhar para as meninas que se afastavam, encontrando o olhar de Hanabi que se voltara naquele momento, para observar o trio.

"Droga...", pensou, irritada. Seu dia tinha começado tão bem...