Abri os olhos devagar. A luz que batia em mim era forte. O lugar estava gelado. A sala onde estava me parecia conhecida.

Bella, você está ai?

Nenhuma resposta.

Bela, você está ai?

Tentei mais uma vez e nada denovo. Estava me parecendo uma brincadeira da parte dela. Afinal, eu já estava mais do que acostumada com suas brincadeiras de esconde-esconde.

Ah, Bells. Qual é ? O que foi que eu fiz dessa vez?

Nada! Nenhuma resposta! Nenhuma reação!

Comecei a ficar desesperada. Onde Bella estava? Os piores pensamentos passavam pela minha mente. O maior medo era a possibilidade de eles (Emmet, Jasper, Alice e Rosalie) terem tirado de mim o corpo hospedeiro. Os laços de amizade entre eu e Bella tinham se tornado mais fortes do que eu esperava. Eu a tinha como uma amiga de verdade, a quem eu podia recorrer toda vez que precisasse; nós duas compartilhávamos as mesmas idéias, as mesmas coisas. Bella era a única em que eu podia confiar. Mas agora, veja só! Algo me dizia que nós duas haviamos sido separadas.

Foi só então que percebi que o que eu mais temia tinha acontecido. A hipótese da separação tinha se tornado verdade. Hipócritas! Isso sim era o que aqueles quatro eram. Mas pode ter certeza de uma coisa: aquilo não ia ficar barato, eu iria dar o troco e na mesma moeda.

O brilho prateado do meu verdadeiro corpo brilhava diante do espelho. Tudo bem que eu me sentia, de certa forma, bem, porque não ia mais precisar ficar nervosa quando ela resolvi ficar calada e nunca mais falar comigo. Bella podia ter inúmeros defeitos, mas ela era uma boa pessoa. Me compreendia, me ajudava.

Ouvi um barulho estranho. Era ensurdecedor. Se assemelhava a uma britadeira. Tão esquisito. Foi só depois de um tempo ouvindo aquele barulho estranho que identifiquei de onde vinha e onde estava. Estava de volta ao planeta das Almas Torturadas, meu eterno lar. Tudo parecia perfeito demais. Já estava mais do que desconfiada. Com a luz batendo contra meus olhos - o que era uma situação tão comum, mas que a qual eu ainda parecia não ter me acostumado - abri-os lentamente. A luz contra o meu rosto não era tão cegante assim, mas incomodava. Fazia meus olhos arderem, como se estivessem cheios de areia e essa sensação era pior do que a dor. A sala era minha eterna conhecida: o laboratório de inserção e aquele barulho era do criotanque, onde a alma de Bella provavelmente estava.

-Onde ela está?! - gritei desesperada, olhando o meu reflexo patreado pelo espelho em minha frente.

Sabia que Bella não estava mais em mim, nem eu nela. O meu maior medo havia se tornado a mais dolorosa realidade.

-Onde ela está?!Onde? Onde?!

-Ei, se acalme. Quanto estresse, Renesmee. Até que pra uma alma, suas emoções estão a flor da pele.

-Cale a boca, idiota!

-Vejo que aprendeu rápido com os humanos.

-Emmet, por favor. Não vamos começar mais uma discussão, por favor. Chega disso. - Alice interveio. - Renesmee, pode ficar tranquila. Bella está viva e está bem, só pra te avisar. Nós refizemos a inserção em vocês, exatamente porque não dava mais para controlar a humana. Ela estava te dominando e achamos que isso iria atrapalhar na nossa missão. Agora, vamos fazer tudo de novo. Confie em mim.

Apesar de tudo, Alice era a única ali em que podia depositar toda a minha confiança. E assim fiz.

O criotanque voltou a funcionar. O primeiro passo estava dado. Dali em diante, não podia ter certeza de que tudo daria certo. Estava jogada a minha própria sorte mais uma vez.

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Passaram-se pelo menos duas horas até que tudo, finalmente, havia terminado.

Era capaz de sentir Bella junto a mim, minha alma dentro do seu corpo hospedeiro. Como era boa aquela sensação! Dei um suspiro profundo. Bella estava novamente comigo. Só que havia um pequeno problema: ela não parecia a mesma. Sinceramente, não sei se isso era coisa da minha imaginação, mas sentia um ar pesado ao nosso redor, uma atmosfera de malícia.

É bom ter você de volta, Bella.

Não posso dizer o mesmo.

Ui! Aquilo me machucou pra valer. Sério mesmo! Não disse que sentia algo errado acontecendo? Está aí a prova disso.

Tem alguma coisa acontecendo?

Me poupe da sua preocupação sórdida, Renesmee. Não preciso de nada.

Caramba! Achei que era melhor ficar quieta no meu canto.

-Agora está na hora de você ir, Renesmee. Tem uma missão a cumprir. - Alice disse com ar de superioridade.

Sai do planeta em direção a Terra na nave.

Ao chegar em Forks, percebi que nada havia mudado. Todos descansavam, dormindo sobre a areia clara. O barco permanecia também no mesmo lugar.

Eu também precisava descansar mais do que ninguém. A inserção havia me deixado exausta. Coloquei meu corpo sobre a areia e dormi em poucos segundos. Tão rápido!

Bella! Bella! Acorda!

O que foi?

Acorda!

Pra quê?

Você vai ver!

Como Bella havia aprendido a ser fria rapidamente. Estava começando a pensar que ela era capaz até de matar, mesmo que isso, por vezes, parecesse impossível. 

Então, Bella controlava toda a situação agora. Com certeza isso era culpa daquela inserção. ''Não se preocupe. Confie em mim'', Alice dissera agora mesmo. Como eu pude ser tão burra e acreditar que tudo estava bem? Não estava nada bem, a situação só piorava a cada segundo que se passava.

Segui por um beco da floresta. O tempo estava fechado. Uma tempestade ia cair a qualquer momento. E se isso acontecesse, não sei o que seria de mim. Bella não parecia preocupada comigo, então parece que eu deveria fazer o mesmo.

A caminhada foi longa e difícil. Torcia pra que nenhum dos humanos desconfiasse do que estava prestes a fazer.

A jornada foi longa e assim que eu estava prestes a desabar no chão por causa do cansaço, olhei para o horizonte. Na minha frente, um galpão enorme e abandonado se impunha sobre o verde da floresta. Haviam algumas telhas soltas pelo telhado e o portão de ferro colocado logo a frente estava super enferrujado.

Onde estamos? O que está acontecendo? Quero uma explicação. Eu exigo uma explicação, Bella.

Como você é mimada, garota. Já disse pra ficar quieta que logo, logo você vai entender tudinho. Caralho! Deixa comigo! 

Tudo bem, sabichona!

A porta do galpão se abriu sozinha, com um barulho de arrepiar os cabelos. A ferrugem cinzenta caiu junto com a poeira do telhado. O lugar parecia mais um cenário de filme de terror. Macabro!

Dei um passo em frente. Meus joelhos quase batiam um de encontro ao aoutro por causa do medo, que me fazia tremer todinha.

Lá dentro, uma névoa grossa encobria o espaço escuro e vazio. A luz fraca entrava por algumas aberturas no teto, mas nada que me ajudasse a enxergar alguma coisa ali. Mas não faria diferença. Estava ali para cumprir uma missão, pelo jeito. Então, tinha que seguir em frente.

Como que num passe de mágica, uma silhueta masculina apareceu na minha frente. Seus cabelos cor de mel mal penteados, mas que davam um charme sobrenatural a ele; o corpo alto e escultural. Conseguia ver apenas uma parte do seu corpo. Sua roupa era que nem a noita: negra.

O homem deu um passo a frente.

Meu coração começou a bater freneticamente, num descompasso total. Não tinha mais ritmo, não fazia mais sentindo respirar. O fôlego se prendera em mim. Meu corpo estava sólido e entorpecido por uma dor aguniante de um reencontro inesperado.

EDWARD.

Era ele quem estava ali, na minha frente. O anjo humano que revivera. O pesadelo que me acompanhava.