Deixei Jacob me esperando no carro. Espero que nada de ruim aconteça com ele.

Tinha que agir rápido para que ninguém desconfiasse. Caso contrário... Queria nem pensar nisso!

Sai do carro com toda a pressa do mundo; vidas precisavam ser salvas e a única capaz de permitir isso era eu.

O caminho até o hospital era um pouco longo, devia durar cerca de dez a quinze minutos a pé. Não dava para ir de carro, levantaria suspeitas demais. Um passo errado, uma atitude não calculada e tudo estaria por um fio.

Comecei a caminhada. Tentava ficar o mais calma possível, porque não queria que nada saisse errado. O caminho era íngreme e também cheio de curvas, o que me fazia lembrar dos inúmeros caminhos que me guiavam por entre a caverna no Alasca. A lembrança fazia meu estômago revirar, não eram nem um pouco boas. Deixando de lado todo pensamento negativo, fui caminhando.

O tempo parecia se arrastar, não saia do lugar.

Finalmente pude avistar o hospital do alto de onde estava. O letreiro brilhante e colorido chamava muita atenção. Era bem óbvio que nenhuma pessoa não saberia onde era o hospital na cidade de Forks, ainda mais depois da visão que tive os letreiros super-chamativos. Segui as letras e fui caminhando em linha reta. Minhas pernas já começavam a dar sinal de cansaço. Na tentativa de me distrair, tentei chamar a atenção de Bella. Mas ela não respondeu, novamente.

Gostou do beijo?

Senti que era hora de dar o gelo em Bella. Sua pergunta trouxe as lembranças do beijo de Jacob rapidamente. Era bom me lembrar do que acontecera agora a pouco, porém, não dava para ficar pensando em romance. Pelo menos não naquele instante. Eu e Jacob teríamos muito tempo pela frente para resolver o nosso impasse, acho.

O tempo parecia correr agora que eu estava perto de começar minha missão.

Gostou do beijo? Bella insistia. Não ia respondê-la.

Depois de uns dez minutos, estava na porta do hospital.

Se aparecesse daquele jeito, toda bem cuidada, com certeza eles não iam acreditar que estava doente, porque, afinal, eu não estava. Só precisava fingir.

Pegue aquela pedra ali e bata na sua cabeça.

Você tá louca?

O que quer, Renesmee? Acha mesmo que eles vão acreditar em você se estiver assim, sem arranhão algum? Será que eu vou ter que te passar um sermão denovo? Acho que não quer isso, não é?

Tudo bem, tudo bem. Eu me rendo. Você está certa, Bella.

Eu sempre estou certa, querida.

Será que existia algum ser mais petulante e irritante do que Bella? Acho que não.

Mas ela estava certa. A idéia, de início, parecia um pouco irracional, mas a cabeça dura de Bella tinha conseguido me fazer acreditar que havia um pouco de lógica ali naquela idéia. Parabéns! Renesmee mais uma vez é derrotada por Bella! Que novidade! Puff!

Minhas mãos tremiam, os joelhos batiam de encontro um ao outro enquanto eu tentava criar coragem até para pegar a pedra. Essa não era a tarefa mais difícil. Difícil mesmo seria o que viria em seguida. Respirei fundo, até sentir que, se fosse mais longe, meus pulmões não iriam aguentar. Com as mãos ainda tremendo, coloquei uma delas a certa distância do meu rosto e, fechando os olhos, taquei a pedra no lado direito do rosto. Fui tomada por uma dor insuportável. Ardia, sangrava, doia. Era uma mistura de sentimentos horríveis. O pior de tudo não era a dor - apesar dessa quase me matar - e sim o cheiro de ferrugem do sangue que escorria pelo meu rosto. Devia ter uma reserva muito grande de sangue dentro de mim, porque, sinceramente, essa era a única explicação depois do que eu passei durante todo tempo na Terra.

Isso não é o bastante.

Como é?

Bella, isso não é o bastante. Entendeu ou quer que eu desenhe?

Aquilo não era o bastante? Não! Não! Não! Só podia ser algum tipo de brincadeira de muito mal gosto. Teria que me ferir ainda mais. Fala sério.

Qual sua próxima idéia brilhante, hein, Bella?

Passe um pouco dessa pedra nos seus braços para parecer que foi arranhada. E depois bagunce um pouco o cabelo, por favor.

OK.

Fiz o que Bella dizia.

Dilacerante. Essa era a palavra certa para demonstrar o estado que estava agora. Os cortes ardiam e minhas veias queimavam como se houvesse algum tipo de veneno letal dentro delas. Algumas lágrimas caiam pelo meu rosto, só fazendo piorar a dor. Eu, porém, suportaria aquilo tudo sem reclamar. O futuro esperava uma reação da minha parte. 

-Estou ótima. - disse a mim mesma. Isso era no sentido figurado, lógico, porque meu rosto concerteza estava todo desfigurado.

Não dava pra ficar parada, imaginando como eu estaria.

Baguncei os cabelos, fiz cara de doente e corri para a porta do hospital. Tombei na porta. Não se preocupe. Isso fazia parte do plano.

-Está tudo bem, moça?

-Se está tudo bem? Não vê o meu estado? Tem como alguma coisa dar certo? Aqueles humanos malditos. - cuspi no chão.

-Garota! Fique calma. Vou te levar para a emergência.

-Sim, sim. Obrigada.

As coisas iam exatamente como havia planejado. A primeira parte do plano, ou seja, eu entrar no hospital, tinha sido cumprida.

Entrei num consultório. As paredes eram todas brancas. O lugar era um pouquinho gelado. O rapaz que me mandara entrar ali me deixou sozinha. Ainda não era hora de agir. Esperei até que uma moça, entrou.

-Então, qual o seu nome? - ela me perguntou.

-Renesmee.

-Belo nome.

-Obrigada.

-Sou Jordine. Então, me conte o que aconteceu. - era hora de retomar o teatrinho babaca.

-Aqueles humanos ordinários! Ah, eles me pagam!

-Entendo. Entendo. Realmente eles são ordinários. Não sei como é que pode existir uma espécie como aquela.

Eu não sei como pode existir uma espécie como a de vocês. Bella se retraiu.

-Mas foram eles que fizeram isso com você? Tem alguns deles que ainda está vivo? - Jordine olhou para mim espantada. Hora de colocar a parte dois do plano em ação.

-Sim e não. Sim, foram eles quem fizeram isso comigo e não, não sobrou nem um desses merdas. Afinal, eles não mereciam viver. Não passam de uns desgraçados, sem amor. Fúteis. Isso é o que eles eram.

Jordine soltou uma gargalhada histérica. Tudo estava saindo mais perfeito do que esperava.

-Suas feridas estão realmente horríveis - ''é, eu já sabia disso'', pensei - Fique aí que eu já volto, ok?

-Sim. Tudo bem.

Assim que Jordine saiu, esperei mais um tempinho até entender que ela havia ido de vez.

Meu coração faltava sair pela boca. A adrenalina corria solta em meu sangue. Peguei o saco que estava debaixo da minha blusa e comecei a derrubar tudo o que via pela frente e que talvez serviria de cura dentro do saco.

Minhas mãos não paravam de tremer. A qualquer momento Jordine podia entrar e ver o que estava fazendo. Isso seria o fim da picada!

Já ouviu que as palavras tem poder? É, realmente elas tem.

No mesmo instante em que pensei isso, alguém abriu a porta e gritou meu nome:

-Renesmee?

-Emmet? Rosalie?

Não era apenas um. Eram dois.