Always a Chance - não é tarde Demais escrita por Lara Boger


Capítulo 2
Capítulo 2




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- Mas... como...? Por que fez isso? Não gostava mais dele?

-Eu gosto dele, Trini... eu sempre gostei e acho que sempre vou gostar. - pausa, parecendo constrangida – Mas acho que isso é complicado demais para tentar explicar ou entender...

-Realmente é complicado. Não entendi nada... se gosta dele, por que fez isso?

- Por mim... por nós dois – ficou rouca subitamente – Um namoro nessas condições seria muito desgastante pra nós dois... tomaria o tempo que preciso pra me concentrar no treino...

- O que está me dizendo? Não pode ser o que estou pensando... achou que o namoro estivesse te atrapalhando?

Houve uma pausa constrangedora. Trini se preparou para o que estava por vir. Logo percebeu que Kim estava prestes a lhe contar coisas muito importantes. Preparou-se para ouvir.

- Você sabe que a ginástica não é só um esporte pra mim... é o meu sonho... que eu sempre quis ser uma atleta de elite... que disputasse os maiores torneios e pudesse ganhar aqueles prêmios e ouvir a torcida me aplaudindo... e saber que aquilo era pra mim. - estava ansiosa – Agora eu posso... tenho uma chance. Eu ouvi o Schimidtt dizer a um dos auxiliares que sou uma das promessas dele. Tem noção do que isso significa, Trini? Eu não posso desperdiçar essa oportunidade...

- Kimberly?! Como um namoro a distância poderia te atrapalhar?!

- Eu ficava o dia todo pensando nele... me desconcentrava imaginando aquele monte de garotas dando em cima como urubus... ele sempre fez sucesso com elas, você sabe... e uma dessas garotas tão perto até mesmo de mim... não sei se te contei, mas...

- Eu fiquei sabendo. Já me escreveu falando dela.

Trini, na verdade, apesar da distância sempre ficou sabendo das coisas que aconteciam em Alameda dos Anjos. Sempre havia alguém para lhe contar as novidades. Fazia questão de manter o contato com todos eles. Ficou sabendo a respeito de Kat por Kimberly, mas os detalhes vieram com Billy: o único sem ser Tommy que ainda estava na cidade.

- Como eu poderia me concentrar? E também não queria que Tommy deixasse de levar a vida dele por minha causa. Eu não pararia por ele. É injusto pedir que fizesse isso.

-Foi o treinador quem mandou terminar o namoro?

- Não. Ele nunca me falou nada.

- Nem sugeriu?

Não, nunca. - pausa – Fui eu quem pensei e cheguei a esta conclusão sozinha. Eu precisava fazer isso. Fiz o que tinha de ser feito para ter uma chance de realizar o meu sonho.

Trini estava surpresa e indignada. Não reconheceu a sua amiga. A Kimberly que conhecia tinha se perdido em alguma parte do caminho. No lugar dela tinha ficado uma garota sem cuidados e sem vaidade, obcecada por algo que achava ser o seu sonho.

Era estranho perceber como as coisas haviam se invertido: há anos atrás era a ela que recorreria para desabafar. Não dava para acreditar naquela cena. Não achava que estaria viva para ver isso. Por um segundo, sentiu raiva, contra a qual lutou para não deixar transparecer. Mas, num instante o sentimento se extinguiu e se transformou em algo que lhe pareceu muito pior: pena. Sentimento que condenava.

- Kim... não acha que esse sonho está exigindo um preço alto demais?

A pergunta por si só era costrangedora. A pausa que se seguiu foi maior ainda.

-Do que está falando?

Uma nova mudança. Elas sempre se distinguiram pelo trato com os rapazes. Ambas eram da geração “Girl Power”, mas Kimberly sempre mostrou-se mais romântica, com inclinações a acreditar mais no amor. Trini parecia ter atitudes mais rígidas a respeito. Na verdade, ela era tão ativista e com a personalidade tão forte que acabava sendo mal interpretada. Também era romântica, mas não gostava de declaração melosas. Considerava-se uma neo-romântica em função disso.

Mas agora tudo tinha mudado: Kimberly nem tinha cogitado outra solução. Não via nem o quanto essa atitude poderia ter sido errada.

- Você realmente pensou em Tommy quando tomou essa decisão?

- Mas é claro que... eu pensei e...

-Não, não pensou. Eu te conheço, sei que não pesnou.

- Pensei! Pensei, sim!

- Olha pra você! Está arrependida! Está triste!

- O que está querendo dizer, Trini? - o tom mudou, agora era ironia - Que eu não sofri? Que fui a culpada?

- Não – ela fez que não percebeu – Sei que deve ter sofrido e ainda está sofrendo. Estou dizendo que a sua atitude foi egoísta. Se tivesse pensado nele teria falado cara-a-cara, ou então, mesmo escrevendo a carta teria contado a verdade.

- Eu não queria que ele viesse atrás de mim, me contestando...

- Mas acabou magoando ainda mais. Ele deve achar que foi traído... principalmente pelo modo que ele soube.

- E o que quer que eu faça?

O clima estava ficando pesado. Kimberly, ansiosa, estava andando pelo quarto e gesticulando muito. Trini já conhecia bem: os olhos dela estavam mudando, adquirindo nuances estranhas. Era ansiedade.

- Nada. Apenas que reflita. - respondeu, tentando não se deixar contagiar pelo nervosismo.

- Já refleti. Passei esse tempo todo refletindo.

- E chegou a alguma conclusão? O que a sua consciência diz?

Kimberly começou a se alterar ainda mais. Não tinha argumentos para derrubar o que Trini lhe dizia. Ela havia chegado ao ponto e dado o tiro certeiro.

Trini viu nervosismo nos olhos dela.

Quem pensa que é pra me dizer essas coisas? - a ironia continuou – Quem pensa que é pra me julgar?

Trini percebeu que tinha chego no limite. Daí para frente seria difícil conversar. Odiava chegar a aquele ponto com alguém mas naquele caso parecia ser necessário. Kimberly precisava de um choque. Não estava na realidade.

- Olhe-se no espelho... nunca teve um namorado... nunca chegou em um garoto, ou teve coragem pra isso... não pode me julgar. Não sabe o que é o amor... nem nada que chegue perto disso... - pausa, mais nervosa ainda – O que sabe sobre relacionamentos? - aguardou uma resposta mas ela permaneceu quieta. - Você se acha muito esperta... uma sabichona. - pausa – Quer saber de uma novidade? Não me importa o que você diz, ou o que vai me dizer, ouviu? NÂO IMPORTA!

Trini respirou fundo para não revidar a agressão. Sabia que Kimberly era impulsiva e instintivamente estava tentando inverter o jogo. Procurava manter-se calma. Se ficasse nervosa pioraria a situação. Sabia que ela faria de tudo para irritá-la, tocar no que considerava seus pontos fracos.

“Essa não é Kimberly...” pensava. “Controle-se, não é ela”.

Aquele era um desabafo. Algo que estava prestes a explodir. Não sentia-se no direito de impedir que acontecesse. Procurou então não piorar a situação.

- Acho que não chegou a conclusão nenhuma. Não me parece em paz.

Kimberly aproximou-se rápido e ameaçadora. Levantou a mão com a palma bem aberta. Era como se algo a estivesse dominando, o corpo reagindo a uma agressão que nunca existiu. Parecia possuída.

Trini, com seus reflexos de lutadora, segurou-lhe o pulso impedindo o tapa. Não mudou a expressão do rosto. Segurava com força, e quando olhou para seus olhos acabou vendo ódio. O mais perigoso dos sentimentos.


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Notas finais do capítulo

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