Meu nome é Caroline. Tenho 14 anos há dois meses, ou seja, faço aniversário em Fevereiro. Desde pequena, sofro com algo que muitos aqui sofrem, mas não tanto ou apenas ignoram: Violência em casa.

Não pensem que meus pais são dois sádicos que adoram me bater. Eles nunca encostaram em mim sem motivo e foram pouquíssimas vezes. Meu problema, então? Apenas uma palavra: Irmão.

Sim, aquela mesma pessoa que deveria me proteger para todo o sempre me batia e me bate de vez em quando. Não posso dizer que ele faz isso, agora, nesse momento, Abril de 2011, mas no início do mês ele fazia de tudo comigo. Teve uma vez que eu o chutei e ele me encheu de pancada. Quando minha mãe resolveu se virar e viu o que estava acontecendo, nos mandou para nossos quartos e eu bati a porta com toda a força. Ela tentou me bater, mas acabamos chorando as duas em meu quarto, como duas idiotas.

Ele também já me socou no rosto sem motivo nenhum, alegando ser uma “brincadeira”. E, como eu uso óculos, pensei que eles fossem quebrar e eu ficaria cega. Mas isso não aconteceu, graças a Deus, apesar de que os socos do meu irmão sejam fortes. Sei por experiência própria.

Como ele tem na faixa dos 17 anos, ele presta vestibular mês que vem e está super sensível a qualquer coisa que eu faça, então me mantenho bastante distante, que é exatamente o que eu quero para nós.

Entendam... Eu sempre quis um irmão mais velho ou mais novo carinhoso comigo. Apesar de ser uma pessoa muito sociável, isso mudou de uns tempos para cá e minha carência aumentou. Dos meus 10 anos aos 13, eu fiquei sob “total dependência” de uma das minhas ex-amigas. Ela me controlava, por assim dizer. Eu me sentia sozinha, era horrível. Fazia de tudo para agradá-la e fingia que a amava quando não amava de verdade. Aprendi a fingir.

Ano passado, eu cortei relações e ela se juntou ao grupo das patricinhas, o qual ela sempre pertenceu internamente. E eu fiquei com minhas melhores amigas. No início da separação, eu fiz novos amigos e voltei velhas amizades.

No início do ano, eu senti que tudo seria ótimo em 2011. Pensei que tudo seria mágico, já que eu tinha amigos sem dependência. O problema é que eu, de alguma maneira bem estranha, consegui brigar com uma amiga minha bem... Popular. Ela disse que precisava de espaço. Senti-me como minha ex-amiga dominadora, mas apenas senti na pele quando minhas outras duas amigas me disseram. Fiquei maluquinha.

Outra coisa que conta dizer aqui é que logo após o aniversário de uma amiga minha, uma das melhores, eu cheguei a casa de pijama (havia dormido na casa dela) e havia milhões de amigos e parentes de meu avô paterno que eu nunca tinha ouvido falar. Eu, ainda de pijama, comecei a reclamar com minha mãe e fiquei quieta no porta-malas até que meu pai abriu a porta de trás da casa e eu corri como louca para não cumprimentar todo mundo, coisa que eu detesto.

Então, eu corri para o banheiro e me tranquei lá dentro. Minha mãe e meu pai esbravejaram e quase arrancaram a porta a pontapés para eu dizer “tchau” para as pessoas lá fora. Eu nem me dei ao trabalho. Olhei para a pia e avistei meu gilete. Eu parecia hipnotizada. Eu queria usá-lo em mim, queria ver como funciona toda aquela situação de auto-mutilação. Eu fiquei fascinada com tudo aquilo. E eu me cortei um pouquinho, ainda com medo de ser muito. Na perna, nunca no pulso. Senti-me culpada, mas não contei nada. Depois, contei para minhas duas amigas que mais me entenderiam e elas ainda sentem muito no que aconteceu.

Nunca pensei que me cortar fosse algo tão dependente. Eu, no total, já me cortei 7 vezes. Duas foram “acidentais” e as outras eu quis realmente.

Após me cortar pela primeira vez, uma semana depois o machucado já se fora. A segunda, eu não me lembro muito bem porque eu o fiz, mas deve ter sido por um motivo muito idiota. Eu me sentia dependente de me cortar.

A terceira vez foi tensa. Eu me cortei em dois lugares e eu acho que tenho as marcas até hoje. Afinal, fazem apenas dois meses que tudo começou. Comecei a me sentir mal por tudo e por todos. Já não conversava nas aulas e ficava horas olhando para o nada, pensando em me cortar quando chegasse em casa.

A quarta vez foi há pouco tempo. Foi fundo, saiu a pele e até hoje não cicatrizou e duvido que vá desaparecer. Quando olho para a marca, lembro-me de tudo e a vontade volta com tudo.

A última vez foi dia 29 de Abril de 2011. Eu me cortei com duas coisas: Estilete e tesoura. Sim, eu não uso facas e nem nada pior. Acho que morreria só de ver o sangue pingando...

Creio que o maior fator para tudo isso foi a violência de meu irmão. Ele já chegou a bater minha boca contra uma quina na nossa cozinha, ela não é pontuda graças a Deus. Mas doeu muito.

Briguei com aquela amiga minha mais popular, sabe? E então me sentia mal todos os dias e a vontade se intensificava todo dia. Disse para minhas amigas que o processo de deixar isso de lado demora e é difícil... Elas disseram que tem a questão de querer ou não querer.

Posso dizer que eu estou em cima do muro. Não sei o que fazer. Quero parar, mas não sei o que fazer quando mais situações difíceis chegarem. Chorar não adianta, desabafar também não... Cortar é minha opção e é a melhor para mim em certos momentos. Minhas amigas disseram que eu tenho que contar para meus pais.

Perguntei um dia o que minha mãe achava de auto-mutilação. Ela ficou assustada e me olhou como se eu não tivesse idade para falar dessas coisas. Imagina se soubesse o que acontece de verdade... Seria um desastre!

Por isso, duvide que eu lhe conte algum dia. Já vi casos de pessoas que se cortam há 15 anos seguidos e não quero que eu termine dessa maneira. Prometi às duas que tentarei parar com toda a minha força, mas ninguém é de ferro.

Meus problemas não são muitos, mas são fortes para mim. Sou fraca e eu sei. Obrigada por lerem isso e já sabem... Se quiserem ajuda... carolcniomdb desligando...

Beijos.