Mit Dir escrita por Chiisana Hana


Capítulo 23
Capítulo 22 - Verdade e Veneno




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/11769/chapter/23

Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

–M -I -T -D–I -R –

MIT DIR

Chiisana Hana

Capítulo 22 – Verdade e Veneno

No pátio de Valhalla, onde meses atrás acontecera o desfecho da batalha entre guerreiros-deuses e cavaleiros de Athena, convidados esperam pelo início da cerimônia de casamento da princesa mais jovem. Totalmente reconstruído, o grande espaço aberto fora decorado para a festa com colunas cobertas por flores brancas que Hilda mandara buscar no continente.

Perto das escadarias está a mesa cerimonial. Os guerreiros-deuses estão acomodados do lado direito dela, exceto Mime, que ocupa um lugar mais elevado, de onde fará ecoar sua música. À frente, há outras mesas onde estão os nobres de Asgard e uma convidada especial: Saori Kido. A milionária chegara de helicóptero poucas horas atrás, acompanhada por seu fiel mordomo.

O povo aglomerava-se um pouco mais atrás para acompanhar a cerimônia que, para muitos, era a primeira grande festa da realeza asgardiana. Muitos ali sequer eram nascidos quando os pais de Hilda e Freya se casaram, há mais de trinta anos. A maioria aprova o casamento, embora haja alguns poucos que não concordem com a união da princesa a um soldado. Outra pequena parcela da população pensa que o correto seria Hilda casar-se antes da irmã mais nova. Mesmo assim, todos concordam que, depois daquela estranha guerra sem propósito, Asgard precisava mesmo de uma grande festa para deixar tudo para trás.

Siegfried está discretamente sentado no canto direito. Desejava que esse dia fosse também o de seu casamento com Hilda, mas está conformado. Sabe que é Hilda quem decide a hora certa. De qualquer forma, a princesa já admitira que o amava e isso era muita coisa para um homem que não esperava ser correspondido. Com a certeza do amor dela, ele sente que pode esperar o tempo que for.

Na extremidade oposta, Ann está sentada ao lado de Bado. Sofrera para encontrar uma roupa adequada e agradável, já que odiava tudo que se vestia em Asgard. Primeiro, precisou convencer a costureira local, habituada a seguir o estilo medieval do povo, a fazer algo diferente. Depois, os tecidos disponíveis eram todos horrendos para o gosto da médica, que acabou optando por um veludo vermelho sem brocados e bordados, menos feio que os demais. Encomendou um vestido de corte reto, com decote pronunciado, bem ajustado ao corpo, e com mangas compridas também ajustadas. Nada de bordados, babados, mangas fofas ou gola rolê. Acabou gostando do resultado final e está se sentindo bonita com aquele decote que lhe destaca os seios. Bado também gosta de ver a esposa com seu vestido fora dos padrões. Ele sabe que ela jamais se renderá totalmente aos costumes de Asgard. Desconfia inclusive que acontecerá o contrário: as pessoas é que acabarão por copiar o estilo da 'doutora do continente'.

– É hoje que a princesinha deixa de ser virgem – Ann brinca baixinho. – Já a princesona...

Ela completa a frase com uma risadinha irônica. Bado também se rende e ri. Já tinha desistido de censurar as piadinhas da mulher, ela é assim mesmo e pronto.

Como todos os guerreiros-deuses, ele traja um fardão cinza azulado com bordados dourados. A roupa faz com que ele se sinta importante e totalmente parte da elite militar de Asgard. Já não é mais o irmão bastardo. É um guerreiro-deus de fato e de direito. Não é mais um camponês pobretão. É sócio do curtume do irmão. Não está mais sozinho. Tem Ann.

Shido está sentado a seu lado, também usando um fardão. Quando chegou em Valhalla, ele se surpreendeu com a bonita decoração do pátio e com impecável organização da cerimônia. Surpreende-se ainda mais ao ver Judith. A ex-criada usa um rico vestido azul-celeste, no melhor estilo argardiano, com mangas de várias camadas. Vestida assim, com os cabelos arrumados, sem a touca de criada, ela até lhe parece bonita.

Ao lado dele está Fenrir, acompanhado por Liselotte. A princípio ela recusou o convite para acompanhá-lo, depois acabou cedendo. Ele ainda tentou levar o cachorro, alegando que ele saberia se comportar, mas ela o convenceu a deixar o bichinho em casa depois de prometer dar-lhe um jantar especial quando voltassem da festa. Ela convenceu-o também a usar o fardão dos guerreiros-deuses, o qual ele não queria usar de jeito nenhum por ser "desconfortável". Nesse tempo de convivência, Liselotte aprendera a lidar com Fenrir e conseguia convencê-lo a fazer qualquer coisa.

Apesar da distância de sua aldeia até Valhalla, Thor fez questão de comparecer à festa. Também usa seu fardão e surpreendera a todos ao chegar de mãos dadas com uma moça chamada Sidsel, a quem apresentou como amiga. Ao vê-los, Ann cochicha para Bado:

– Eu bem que achei a moça interessada no grandão...

A médica lembrava-se de ter reparado nela quando visitou a Vila da Baleia Azul. Era uma das mais interessadas no que ela ensinava, mas na ocasião Ann também tinha notado que ela se interessava pelo gigante barbudo.

– É aquilo, meu bem – ela continua. – Ou é uma benção ou uma maldição, depende de você gostar de coisas grandes.

Bado ri.

– Você não resistiu e olhou, é? – ele pergunta, ainda rindo.

– Claro! – Ann admite. – Levantei o lençol dele na cara dura. É impressionante, Bado.

– Parece que você não se impressionou tanto assim, já que está comigo – gaba-se o guerreiro-deus.

– É que com você é outra história... – ela admite, e quase diz que o ama mais que qualquer outra coisa, só não o faz para não cair na pieguice.

Alberich está na companhia de Grethe que, ao contrário de Ann, trajara-se com o melhor da moda asgardiana. Seu vestido rosa de estilo medieval tem até mesmo uma esvoaçante capinha que ondula quando ela se movimenta.

– Veja só, o peludo trouxe a criada como acompanhante – ele cochicha com a ex-primeira-dama de Narvik, torcendo o nariz. – Que decadência... Mas também, o que esperar de uma criatura como ele, não é? E o grandalhão com essa acompanhante sem classe? Deve tê-la encontrado naquela aldeia suja onde ele vive, claro.

– Não seja chato, Albie – ela retruca. – Elas até que são bonitas. Podíamos chamá-las para uma de nossas festinhas, não?

Alberich não responde. Aprecia os joguinhos sexuais com Grethe e alguns convidados, especialmente os do sexo masculino, mas já está se cansando de hospedá-la. Gostava de ter sua casa só para si e, além disso, as ideias conspiratórias da primeira-dama já o estavam irritando.

Quando Hilda chega ao pátio, todos se levantam. Ela cumprimenta os guerreiros-deuses e toma seu lugar na mesa cerimonial, onde aguardará pela entrada de Freya. A princesa aprecia a visão do local bem arrumado e repleto do povo de Asgard. Os nobres estão sentados à frente, mas ela gosta mesmo de ver a parcela mais humilde reunida atrás. É com eles que deseja comemorar a união da irmã, servindo-lhes boa comida e bom vinho, coisas que muitos não tem regularmente. Ela vinha se esforçando para distribuir melhor a renda em Asgard, procurava fornecer alimentos aos mais pobres e ninguém mais passava fome, mas era bom que eles pudessem gozar de um jantar festivo farto e com boa música.

Mime começa a tocar uma peça clássica muito apreciada na região assim que Judith lhe dá um sinal. Sob o som da harpa, Freya caminha lentamente e desce a escadaria lateral com a ajuda de pajens que seguram a cauda do vestido.

Usando seu fardão de guerreiro-deus cinza, Hagen procura conter-se. Dentro de alguns minutos, Freya finalmente tornar-se-á sua esposa. Ansiara por esse dia há tanto tempo que mal podia acreditar que ele finalmente chegara. Ainda mais depois dos últimos eventos... Para ele, pior do que a guerra em si, foi a chegada do forasteiro de Athena, o tal Hyoga, em quem Freya confiou cegamente. Agora ele entendia que ela o fizera para salvar a irmã da maldição do anel, mas não foi fácil aceitar esse fato. O rapaz deixa esses pensamentos de lado e volta a prestar atenção na noiva. Nunca a vira tão bonita, nem tão feliz. Ele então faz uma prece, pedindo a Odin que conservasse essa felicidade por toda a vida de ambos e que lhes desse muitos filhos.

Hagen recebe Freya beijando-lhe a mão, e então Hilda dá início à cerimônia.

– Amado povo de Asgard, estamos aqui reunidos para celebrar a união da princesa Freya com o honrado guerreiro Hagen. Por muitas gerações, na nossa linhagem real, os casamentos foram realizados através de arranjos entre os pais dos noivos. Em certos casos, como o de nossos avós, os nubentes só se conheciam diante do altar. Nossos pais conheceram-se poucos dias antes do casamento. A minha irmã teve a sorte de escolher seu noivo e de ser escolhida por ele. Seu casamento será o primeiro realizado por amor na nossa família. O amor, essa palavra aparentemente tão simples, mas que encerra em si tantos significados. O amor por um homem, por um filho, pela terra, pela vida, por nós mesmos. Ele é o sentimento que deve permear todas as relações humanas, principalmente as uniões entre homem e mulher. Espero e desejo que esse seja o começo da mudança e que as gerações seguintes possam continuar nesse caminho, casando-se unicamente por amor. Então, Freya Kristine Noora Susanne Nielssen Odegaard, princesa de Asgard, segunda na linha de sucessão ao trono, deseja receber como seu marido o nobre guerreiro Hagen Stohdart?

Freya olha ternamente para o noivo. Era apaixonada por ele desde menina, mas depois de tudo que viveram nos últimos meses, ela sente com ainda mais intensidade esse amor que os une. Não há mágoa por conta da atitude dele durante a luta com Hyoga. Ela o perdoou totalmente por entender que ele foi movido pelos ciúmes.

– Sim – ela diz.

– Hagen Stohdart, honrado guerreiro-deus sob a proteção da estrela Merak, deseja receber como sua esposa a princesa Freya Odegaard?

– Sim, eu desejo – ele diz, também pensando nos meses anteriores, na luta contra o cavaleiro de Athena, na raiva que sentiu quando ela se colocou ao lado do forasteiro, no medo de perdê-la. E também em como tudo isso deixou de ser importante quando despertou em Narvik e teve a certeza de que ela ainda o amava.

– Então, pelas prerrogativas que me foram dadas por Odin – prossegue Hilda –, através da linhagem real dos Odegaard, eu vos declaro marido e mulher.

Freya e Hagen trocam pulseiras de ouro no lugar de alianças, uma vez que ele não possui mais o dedo anelar esquerdo. Depois, os dois beijam-se sob o som dos aplausos dos convidados e da harpa de Mime.

Enquanto os observa, Hilda pensa nas próprias palavras. Tinha preparado seu discurso na noite anterior, mas só agora reflete sobre ele. O amor é mesmo a razão de tudo? É realmente possível conciliar seu amor pela terra, pelo povo e pela missão à qual está destinada com o amor por um homem e pelos prováveis filhos que virão dessa união? É tudo que ela vem se perguntando há semanas e agora, como num insight, ela tem sua resposta.

Terminadas as formalidades, a festa começa. Juntam-se a Mime outros músicos com flautas, oboés e tambores e eles passam a tocar músicas animadas. Os criados do palácio chegam ao pátio aos montes, servindo aos convidados carnes assadas acompanhadas de batatas, além de vinho e cerveja à vontade.

Os guerreiros-deuses passam a ocupar uma mesa com Hilda, Saori e os noivos. Os colegas parabenizam Hagen pela união, enquanto Hilda conversa com Freya.

– Minha querida, você agora é uma mulher casada. A minha menininha! É estranho!

– É tão bom! – a irmã mais nova corrige, exibindo a pulseira de ouro maciço, decorada com um intrincado desenho em baixo relevo, que representa sua união com Hagen. Na face interna, estão gravados a data da união e os nomes dos noivos. – Estou tão feliz!

– Estou vendo, querida. E isso muito me alegra também.

– Foi muito bonito o que você falou sobre o amor.

Hilda sorri. Freya continua a falar:

– Acho que devia usar isso na sua própria vida, irmã.

– Eu sei, querida... Já tomei uma decisão – ela diz. – Mas falamos sobre isso depois, sim?

– Não perca tempo, irmã. Permita-se ser feliz também.

– É o que vou fazer – Hilda diz, mas logo muda de foco e volta-se para Saori. – Obrigada por ter vindo, senhorita Kido – ela diz.

– Ficamos muito felizes e honradas – Freya completa.

– Eu não perderia seu casamento, Freya. Foi uma grande honra ter sido convidada.

– Por que não trouxe seus cavaleiros? – a noiva pergunta. – Gostaria de revê-los.

Saori explica a Freya que Hyoga está se mudando para os Estados Unidos, onde se dedicará à carreira de ator, e que Shiryu se casara há pouco tempo. Ela justifica a ausência de Shun e Ikki explicando que estavam atarefados com a escola. Na verdade, o irmão mais novo até tinha aceitado vir, mas o casamento de Shiryu trouxe também o reencontro com June e ele acabou desistindo da viagem. E quanto a Ikki, ele sequer cogitou a possibilidade de voltar a Asgard. Por fim, ela inventa que Seiya está se dedicando a um projeto especial da Fundação, quando a verdade é que não queria a companhia dele. Tinham terminado o namoro há pouco tempo e, como ambos já estavam em outros relacionamentos, a milionária preferia evitar problemas.

Julian Solo, seu namorado, insistira para acompanhá-la, mas ela fora incisiva ao negar. Ele não estava mais possuído por Poseidon, mas não fazia sentido aparecer na festa de casamento de Freya como se nada tivesse acontecido. Além do mais, Saori queria mesmo aproveitar essa viagem a Asgard para ficar sozinha, organizar os pensamentos, conhecer novas pessoas. Também pretendia oferecer a Hilda o apoio da Fundação Graad para vários projetos que a princesa mantinha em seu reino.

Quando Judith vai à mesa verificar se tudo corre bem, Shido aproveita para cumprimentá-la pelo esmero na organização da cerimônia e da festa.

– Está de parabéns, Judith. A festa beira à perfeição.

– Obrigada, senhor Shido. Fico feliz que tenha gostado do meu trabalho.

– A princesa Hilda estava certa ao promovê-la.

– Estou fazendo o meu melhor, senhor.

Enquanto fala com Shido, Judith luta para manter uma postura séria e impessoal, mas quando se afasta dele, ela suspira longamente.

"Meu Deus", pensa, "será que eu teria uma chance com ele agora que não sou mais criada? Não quero me iludir, mas será?"

–M -I -T -D–I -R –

A certa altura da festa, Grethe retira-se da mesa com a desculpa de ir ao toalete. Esgueira-se até lá, onde tira o vestido de festa e veste-o do avesso, revelando um traje igual ao das criadas da corte. Mandara fazer os dois juntos dizendo à costureira que era uma fantasia para agradar Alberich.

Ao chegar à cozinha, ela logo se mistura aos demais criados. Há muito movimento lá dentro, mais do que o esperado, o que ela considera bom para o seu plano. Ela se aproxima do criado que está servindo vinho. O rapaz pergunta por que ela está sem touca e ela lhe responde que perdeu o acessório.

– Estou vendo que é nova por aqui – ele diz. – Espere aqui, eu vou arranjar uma touca pra você. Se a senhora Judith a vir sem touca, você levará uma bronca.

Grethe dá seu melhor sorriso ingênuo.

– Muito obrigada. Você é muito gentil. Que Odin lhe abençoe.

Enquanto o rapaz se afasta para buscar a touca, Grethe despeja no vinho o conteúdo de um vidrinho que trazia escondido no corpete.

"Está feito", pensa, e sorri já se sentindo vitoriosa. "Agora é só uma questão de tempo até o plano se concretizar".

Ela entrega o vinho a outro criado, instruindo o rapaz a servir a bebida na mesa das princesas.

Quando o primeiro criado volta e lhe entrega a touca, ela novamente usa seu sorrisinho.

– Você é um anjo! Vou colocar agora mesmo!

Ela corre de volta ao banheiro e desvira o vestido, transformando-o de novo em traje de festa. Depois, volta à mesa ainda a tempo de ver o criado começar a servir o vinho a Hilda. Alberich, entretanto, impede a princesa de beber, para surpresa de Grethe.

– O que foi, Alberich? – Hilda indaga.

– Tenho razões para acreditar que esse vinho não é apropriado para consumo, não é, Grethe?

– E como eu poderia saber, Albie?

– Então você o beberia? – ele provoca.

– Claro, querido.

– Alteza, com sua permissão, nossa adorável convidada do continente vai provar o vinho primeiro.

– Ah, Alberich, agradeço a deferência – Grethe diz –, mas quem deve beber primeiro é a princesa Hilda.

– Faço questão que seja você – insiste Alberich.

Ann se impacienta com o joguinho entre eles.

– Mas que palhaçada é essa? O que você colocou no vinho, sua primeira-biscate? E você, Rosinha, para com o floreio e enfia essa porra desse vinho na goela dela.

– Vamos, Grethe – ele diz, ignorando Ann.

– Mas que diabos! – Grethe exclama, acuada. – Como você soube? Eu fui tão cuidadosa.

– Você achou mesmo que ia armar uma cilada para as princesas debaixo do meu nariz, Grethe? Ora, eu sou o cérebro de Asgard! Mas nem precisaria porque você é tão simplória, tão previsível.

– Eu sabia que a psicoputa burra ia tentar alguma – Ann diz a Bado.

– Você só está fazendo isso para ficar bem aos olhos da princesa! – Grethe grita para Alberich. Seus olhos perscrutam o espaço, procurando uma rota de fuga. Ele percebe e segura o braço dela com firmeza.

– Eu faço isso porque é minha obrigação como guerreiro-deus – ele retruca. – Agora beba o vinho!

– Deixa que eu faço isso – Hagen diz. – Essa vadia do continente ia matar todos nós!

– Já chega! – Hilda intervém. – Ninguém vai beber esse vinho. Primeiro, precisamos verificar se há mesmo algum problema com a bebida. Depois, se for o caso, julgá-la-ei dentro das leis de Asgard. Por ora, determino que a suspeita fique detida nas masmorras do castelo. Cuidem para que tenha água e comida.

– Eu a levarei – Alberich diz.

– Não – Hilda retruca. – Thor, conduza a acusada. Shido, vá até a cozinha, interrogue os criados, descubra se ela manipulou apenas esse garrafão de vinho. Você, Alberich, virá comigo.

Enquanto Thor e Shido cumprem as ordens dela, Hilda e Alberich acompanham o criado a fim de verificar a letalidade do vinho. Eles forçam uma cabra a beber um pouco do líquido. Hilda não gosta do que acaba de fazer, mas não havia outro meio de verificar isso rapidamente em Asgard. Enquanto espera o efeito, ela faz uma prece pedindo perdão a Odin pelo possível sacrifício do animal em nome da segurança dela, de seus guerreiros e de quem mais teria bebido aquele vinho supostamente envenenado. Mal ela termina sua prece, o animal começa a contorcer-se. Sua agonia dura poucos minutos e ele logo desaba sem vida.

– Parece que você estava certo – ela diz a Alberich. Hilda conhece bem as intenções dele, sabe que é um homem ambicioso e nunca o deixaria de ser. No momento, entretanto, ela não tinha razões para acreditar que ele participara do plano, até porque era ingênuo demais para a mente privilegiada dele.

Também sabe que Grethe salvara sua vida em Narvik pelos próprios interesses, mesmo assim, ainda sentia-se grata por isso. O irmão de Linus, entretanto, tinha sido morto apenas para incriminar Ann. E agora esse veneno no vinho... Quantas vidas se perderiam com isso? Ela sequer pensou que mataria vários inocentes. Ou pensou e não se importava. Em ambos os casos, Hilda não podia perdoá-la. Era preciso dar um fim na loucura da primeira-dama.

A governante, que também exercia os papéis de sacerdotisa e juíza, costumava submeter os casos ao conselho dos nobres porque preferia assim, mas pelas leis de seu país, ela podia decidir sozinha o destino de quem infringisse a lei. E ela já tinha decidido o de Grethe.

–M -I -T -D–I -R –

Hilda retorna à festa com Alberich. Apesar da insistência dele para que ela falasse sobre o que faria com Grethe, a princesa mantém o suspense. Shido confirma-lhe que Grethe só havia tocado naquele garrafão de vinho.

– Sinto muito pelo imprevisto – Hilda desculpa-se com Saori, depois se volta para Freya. – Espero que esse incidente não lhe tire a alegria, querida.

– De forma alguma. Estou um pouco assustada, é verdade. Aquela mulher é completamente maluca. Podia ter sido o fim, mas ao menos eu morreria feliz.

– Não fale essas coisas – Hagen diz.

– Hagen tem razão, querida – Hilda diz. – Precisamos esquecer isso e continuar a festa. Por que vocês não vão dançar?

– Ótima ideia – Freya diz, e puxa o esposo.

Os recém-casados dançam até se cansarem. Depois, retiram-se e vão para o quarto nupcial. Hilda aproveita a deixa e retira-se também. Siegfried a acompanha.

– Admirável sua prudência diante do incidente com o vinho – ele diz. – Confesso que desejei torcer o pescoço daquela mulher que se atreveu a ameaçar sua vida e a de Freya.

– E a sua, e a de todos à mesa – Hilda corrige, voltando a face para ele a fim de que leia seus lábios. – Fico feliz que não tenha tentado fazer nada. Quero resolver as coisas do modo correto.

– Eu sei. Por isso me contive.

Quando chegam à porta dos aposentos dela, ele faz menção de despedir-se.

– Entre comigo – ela pelo. – Ainda temos o que conversar.

– Claro.

Depois de se acomodarem nas poltronas que guarnecem o aposento, Hilda começa a falar, sempre de frente para Siegfried.

– Eu não sei se você captou tudo que eu disse na cerimônia... Eu falei sobre o amor.

– Sim, eu entendi. Estava prestando atenção. Eu não tiro os olhos de você.

Hilda sorri, terna e lisonjeada. Sabe disso, mas é bom ouvi-lo falar.

– Eu pensei muito sobre tudo e cheguei à conclusão de que estou pronta. Agora eu tenho certeza de poder conciliar a Hilda princesa e sacerdotisa com a outra Hilda, a que sonha, a que anseia, a que o ama com toda a força do mundo, Siegfried. Eu quero ser a senhora Bendiksen, quero ser a mãe dos seus filhos.

Siegfried acha que não merece esse amor, ainda mais de uma forma tão entregue. Odin o abençoou ao permitir que ela o amasse e ele seria para sempre grato por isso. Ele então se aproxima dela e ajoelha-se.

– Minha princesa... Esse é um sonho que achei que nunca se realizaria.

– Eu também. Não conseguia ver uma forma de conciliar minha missão com nosso amor.

Hilda desliza até o chão e, também de joelhos, abraça Siegfried.

– Mas agora eu vejo... – ela completa, e se entrega aos beijos amorosos dele.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mit Dir" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.