Sobrado Azul escrita por Chiisana Hana


Capítulo 30
Capítulo XXX




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/11765/chapter/30

Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são meus e eu não ganho nenhum centavo com eles.

 

SOBRADO AZUL

Chiisana Hana

 

 

 

Capítulo XXX

 

 

Pelo retrovisor do carro, Belerophonte observa o amasso frenético de Shun e June no banco de trás do carro e só consegue pensar em chegar logo ao apartamento que mantém em Tóquio para poder participar da brincadeira com o casal. Seu olhar lascivo e o estado da sua calça na área da virilha deixam esse desejo bastante evidente.

Sem se importarem com as câmeras do elevador, Shun e June continuam o amasso, agora com Belerophonte participando e quando chegam ao apartamento, os três vão direto para o sofá, onde June é deitada e despida pelos dois. Mesmo no meio da confusão de corpos e mãos, ela tenta observar Shun. Nota que ele está mais desinibido que o normal e que aceita bem as carícias do inglês, mesmo quando são as mais ousadas. Mais do que “aceitar”, June é obrigada a admitir que Shun está apreciando bastante o momento. Poucos minutos depois, ela já não consegue mais pensar em nada, nem sabe dizer quem está tocando onde, em seguida não faz diferença saber porque os dois estão nela ao mesmo tempo e tudo se resume à expectativa do clímax, o qual vem de modo tão intenso que ela grita mais alto do que pretendia.

Belerophonte sorri satisfeito, sai dela sem cerimônias e dedica-se a Shun. June os observa até o fim e finalmente compreende...

Enquanto os dois descansam, ela se levanta e vai ao banheiro principalmente porque precisa de um tempo sozinha. Abre o chuveiro e lava–se cuidadosamente enquanto pensa em tudo que acaba de acontecer. Quando sai, Belerophonte não está mais na sala, mas Shun está de pé em frente à janela, ainda despido, olhando o sol que começa a nascer. June aproxima-se dele sem ser notada e abraça-o por trás. Os dois ficam em silêncio, rememorando a noite insana e reveladora que acabaram de ter, e buscando conforto nos braços do outro.

— No que está pensando? – ela pergunta depois de alguns minutos.

— Claro que é no que fizemos.

June procura o tom mais amigável possível pois não quer julgá-lo nem colocá-lo contra a parede, pelo contrário, quer apenas compreendê-lo, entender como ele se sente.

— É daquilo que você gosta? – ela pergunta e dá um beijo no ombro dele. – Você nunca foi tão intenso quando estava sozinho comigo.

— Eu amo você, June. Sempre amei. Mas sexualmente falando… é, eu gosto de caras. Não sei se você vai compreender, mas as duas coisas podem andar separadas.

— Você poderia ter me contado antes.

— Não achei que você entenderia… No começo, nem eu estava entendendo.

— Admita que não é uma coisa fácil. Eu só não estou furiosa agora porque eu vi, eu participei, mas me sinto estranha.

— Sei que não é fácil e não espero que você compreenda ou me perdoe, mas estou aliviado por não ser mais um segredo.

— Ver você ontem quando ele… você sabe… Foi estranho, muito estranho, mas não doloroso… De certa forma, foi até bonito… E também foi excitante, muito excitante… Eu acho que estou ficando louca...

— Não está, não. É confuso mesmo.

Ela fica um pouco em silêncio. Queria encontrar as palavras certas para exprimir o que sente, palavras de amor e perdão, mas a verdade é que não sabe o que dizer, sabe apenas que quer ficar com Shun.

— Será que a gente pode recomeçar hoje? — ela pergunta depois de alguns segundos.

— Do zero – ele responde com um sorriso. – Se você ainda me quiser desse jeito.

— Não prometo nada, mas quero tentar – ela diz. – Não me odeie se eu não conseguir.

— Não sou capaz de odiar você, June…

Ela sorri e acaricia o peito dele, passando pelas costas e descendo as mãos até as nádegas.

— Podemos experimentar várias coisas… – June diz. – A três de novo ou só nós dois…

— Vou gostar de experimentar – ele declara. – Mas não agora. Minha cabeça dói como o inferno. Não estou acostumado a tanto álcool.

— Vamos embora daqui – ela diz com ternura. – Vamos para sua casa.

— Vamos – ele aceita. – Ficaremos quietinhos lá, vendo um filme qualquer até pegarmos no sono.

— Filme? Estou tão cansada que acho que vou apagar assim que deitar.

— Eu também – ri o rapaz e abraça June. – Vou chamar um táxi.

 

 

No sobrado, Ikki e Mino acabam de acordar.

— As crianças ficaram tão felizes com a festinha da Pepê – Mino comenta com o marido, aninhando-se preguiçosamente no colo dele.

— Mas você não – ele diz, sem rodeios como lhe é de costume. – Eu vi você triste, parou em vários momentos e quase chorou. Você faz aquela cara esquisita quando quer chorar. Parece que tá com raiva mas na verdade tá sufocando o choro.

— Eu ainda não consegui, Ikki – ela desabafa. – Queria ser como a Eiri, queria seguir em frente sem me perturbar, mas você sabe que ainda não dá.

— Então vamos adotar os guris – ele diz como se fosse a coisa mais simples do mundo.

— Penso nisso todos os dias e me pergunto se é possível.

— Temos dois amigos advogados. Vamos falar com eles sobre as adoções.

— Não estou falando da lei. Estou falando de cuidar deles bem, de prover as necessidades, de administrar a casa e a rotina… Eu sei como é.

— Por isso mesmo que vai dar certo, não é nada que você já não tenha feito.

— Sim, mas o orfanato recebe auxílio do governo, da Fundação, doações, ajuda de voluntários e mesmo com tudo isso não era fácil. Se eles virarem nossos filhos, vai ser conosco.

—Daremos um jeito. Comida não vai faltar, isso eu garanto. O resto a gente vê no dia a dia.

— Ai, Ikki, não fica me dando esperanças de que isso vai dar certo.

— Eu me casei com você pra fazê-la feliz. Se é isso que falta, então é isso que você vai ter.

— Eu sou feliz, meu amor – ela diz, fazendo um carinho no peito dele. – Você tem sido um marido incrível. Eu só preciso de um pouco mais de tempo.

— Está decidido. Vou falar com os dois bocós advogados assim que eles voltarem. Não sou homem de ignorar desafios.

— Você está falando sério? – Mino indaga, com os olhos marejados e um brilho de ternura neles.

Ikki dá um beijo nos cabelos assanhados dela e retruca:

— Eu tenho cara de quem tá brincando?

— Não, não tem! – ela diz e pula da cama para fazer o café. Tem uma vontade louca de rir e chorar ao mesmo tempo e enquanto cozinha, ela imagina como seria fazer café da manhã para vinte crianças, vinte e uma nos finais de semana que Penélope passar com o pai.

— Vai ser louco – ela murmura – mas eu consigo. Eu sei que consigo.

Depois de comerem, os dois voltam ao orfanato para ajudar a limpar os resquícios da festa e checar se tudo está bem.

Enquanto Ikki distrai as crianças no pátio, Mino ajuda Seika a fazer o almoço.

— Você está estranha – Seika diz a certa altura. – Dispersa... Me dá aqui essa faca. Vai acabar cortando um dedo fora. Vai lavar o arroz, vai. É mais seguro.

— É que o Ikki vai fazer uma coisa – Mino confessa, observando o marido e as crianças pela janela. – Tentar fazer pelo menos… E isso tá me mexendo comigo.

— Que coisa?

— Ele quer adotar as crianças.

— Que maravilha, Mino! Quais?

— Todas.

Surpresa, Seika larga a faca no balcão e dá um passo para trás.

— Você não pode estar falando sério – ela diz.

— Estou. Ele quer fazer isso e eu também quero mas estou com medo porque se não der certo eu vou sofrer ainda mais.

— Nossa, nem sei o que dizer… São vinte crianças!

— Tudo bem, não diga nada. Sei que parece loucura. Vamos continuar trabalhando senão esse almoço não sai nunca.

Seika concorda e continua picando legumes, enquanto Mino coloca o arroz na panela e mantém o olhar sonhador fixo em Ikki e nas crianças, imaginando-as chamando-os de mamãe e papai em um futuro próximo.

 

—----------------------------------------------------------

 

Em Asgard, Hyoga acaba de acordar. Uma eficiente equipe de salvamento de plantão o socorreu rapidamente e o levou para o hospital. Foi constatada uma fratura no braço esquerdo, que passou por uma pequena cirurgia e foi imobilizado. Além disso, ele sofreu apenas uma luxação no tornozelo direito.

— Acordou o belo adormecido – uma voz de mulher anuncia.

Hyoga encara a moça tentando compreender de quem se trata. No jaleco branco está escrito Dra. Ann Dagsland.

— Como se sente? — ela pergunta.

— Como se tivesse levado um tombaço na neve – ele responde. Ainda está um pouco tonto e dolorido, e nota o braço imobilizado.

— Foi um tombo feio mesmo, mas você está bem – ela diz. – Empolgou-se na descida, não é? — Ele assente. – Acontece o tempo todo. O pessoal se empolga e acaba estatelado na neve. Você teve sorte. Podia ter sido grave, até fatal, mas foi só uma fratura de úmero.

— Obrigado, doutora – ele diz e observa melhor a médica. É uma mulher alta, de olhos azuis penetrantes, quase ferozes, e o cabelo loiro tem um corte curto repicado e agressivo. Tudo no visual dela passa a impressão de força, agressividade e poder. – Vou ouvir um sermão do meu sócio – ele prossegue.

— Ah, sim, não havia nenhum contato com você, não sabíamos a quem avisar.

— Sim, por favor avise-o. Estamos hospedados no palácio. Peça para chamar Shiryu Suiyama, Dra. Dagsland.

— No palácio? — ela indaga em tom debochado. — Você é um convidado da realeza?

— Na verdade, somos os novos advogados do reino — Hyoga declara orgulhoso. — Vamos cuidar dos interesses do país na Ásia.

— Parece muito jovem pra isso, belo… – ri a médica sem acreditar nele.

— É que eu e meu amigo somos muito competentes – ele responde, dando uma piscadela charmosa.

— Meu marido também é advogado – ela diz, mesmo sem ainda acreditar na história do suposto advogado da coroa que mais parece um garoto travesso aprontando no gelo durante as férias.

— Pois estamos procurando alguém para trabalhar conosco aqui em Asgard. Se ele estiver interessado, peça para vir me ver aqui ou falar com meu sócio lá no palácio, como ele preferir.

— Olha que eu vou falar mesmo.

— Pode falar. É sério!

— Ok, belo! Agora descanse. Volto em algumas horas para checar sua evolução.

Hyoga sorri e quando Ann sai, ele nota as exóticas botas de couro vermelho que quebram o branco habitual de médica e reforçam a primeira impressão que teve ao vê-la.

Ainda sonolento, ele aproveita para dormir um pouco. Acorda cerca de duas horas depois, quando Shiryu e Shunrei chegam ao hospital para visitá-lo.

— Eu te avisei – Shiryu diz ao sócio.

— Não foi nada – retruca o russo. – Só um tombinho.

— Pelo que disseram, foi um tombo enorme — corrige Shunrei.

— Exagero. Relaxem. Eu tive muita sorte. Já estou pronto para outra e não vamos preocupar a Eiri sem motivos. O que ela vai ficar sabendo pelo telefone daqui a pouco foi que rolou uma quedinha boba e vocês vão confirmar isso.

— Longe de mim dedurar você – ri Shiryu. – E não se preocupe, já terminei a papelada.

— Ótimo! Ah, talvez eu tenha encontrado o sócio para a filial do escritório aqui.

— Você fez isso quando? Enquanto era operado?

— É o marido da médica que me atendeu. Vamos conversar com ele e ver se ele se encaixa no nosso estilo de trabalho.

— Ok. Se sentirmos que é o cara, já deixamos tudo acertado.

— Assim que gosto de ver! — comemora Hyoga. — O antigo Shiryu diria “ai, não é prudente”.

O comentário arranca risos do casal.

— O novo Shiryu está disposto a se arriscar mais — diz o cabeludo.

— Eu dei um jeito nele — Shunrei declara.

— Com licença – a doutora Ann interrompe ao abrir a porta. Entra no quarto acompanhada por um homem.

— Bado Aekersen – ele se apresenta.

— Meu marido – Ann completa.

Hyoga observa o asgardiano. É um homem alto, com cabelos loiros muito claros, penteados para cima de modo que ficassem parecendo arrepiados, e um rosto comprido e fino. Usa um terno cinza claro comum mas calça botas parecidas com as da esposa, só que castanhas. Shiryu nota que a voz rouca dele é segura e confiante, e gosta dessa impressão.

— Ouvi falar de vocês – Bado diz, olhando intrigado para os dois. Como Ann havia dito a ele, ambos parecem jovens demais, e também ouviu comentários sobre um deles ser cego. – Os jovens advogados da coroa obviamente são assunto no meio.

— Não imaginei que estávamos famosos – comenta Hyoga e se apresenta. Depois Shiryu faz o mesmo e apresenta também a esposa.

— O senhor Siegfried deve confiar muito em vocês – Bado comenta.

— Sim – Shiryu responde. – Trabalho com ele desde o estágio e assumi o escritório dele.

— Ah, sim. Ann me falou que vocês procuram um advogado local.

Hyoga é quem responde:

— Precisamos de alguém familiarizado com as leis locais e apto a atuar de imediato. No futuro, pretendemos mandar algum dos nossos para ficar aqui.

— Acho que me encaixo no que procuram – Bado diz e começa a falar sobre seu estilo de trabalho e sobre os casos em que atuou.

— Passou uma boa impressão, senhor Bado – Shiryu conclui. – Por mim, está decidido, ficamos com o senhor.

— Por mim também – concorda Hyoga.

— Agradeço a confiança – Bado diz, realmente feliz por isso. A carreira em Asgard não era fácil para ele, especialmente porque concorria diretamente com o grande escritório do irmão com quem não se dava bem. Ann ter conseguido essa oportunidade significava muito pra ele.

— Ele é ótimo! – Ann completa, sem esconder o sorriso orgulhoso. – Não vão se arrepender. É o melhor daqui.

 

 

Dias depois, os dois advogados embarcam no jatinho de volta a Tóquio com a sensação de missão cumprida, prontos para os novos rumos da profissão. Shunrei tem a mesma sensação, mas no seu caso ela se refere à mudança no ânimo do marido.

Quando desembarcam, são recebidos por Eiri, que checa Hyoga da cabeça aos pés pois está certa de o que acidente foi mais grave do que ele contou por telefone.

— Você está bem mesmo? — ela pergunta, olhando o braço na tipoia. — Foi só esse braço mesmo? Por que você está mancando? Você não falou nada sobre ter machucado a perna também.

— Estou ótimo, amor. E você? Como vai nosso meninão?

— Ele está bem, ansioso para chegar e conhecer a gente — ela diz sem confessar ao marido que de fato o bebê está perto de nascer. Há dias vinha sentindo isso e na última consulta, a médica revelou que provavelmente o parto aconteceria um pouco antes do previsto. — Mas não mude de assunto! Me conte direito como foi!

— Ah, assinamos dois contratos milionários! Vai entrar muito dinheiro, Eiri. Vamos ficar muito bem.

— Estou falando da queda, Hyoga!

— Ah, não foi nada. Um tombinho bobo. E foi até bom. Por causa dele conhecemos um cara que vai trabalhar conosco em Asgard. Senti firmeza nele.

— Não me enrola, Hyoga – resmunga a grávida e volta-se para o sócio do marido. – Shiryu? – pergunta.

— Eu não vi nada! – responde o cabeludo, rindo.

 

No dia seguinte, Eiri dá à luz um menino saudável e os antigos companheiros de sobrado reencontram-se no hospital. Pelo vidro do berçário, Hyoga mostra a eles seu bebê.

— É aquele ali – ele aponta orgulhoso para o berço onde está o menino. – Meu pequeno Hiro. Nasceu uns dias antes do esperado mas está muito bem, nem vai ficar na incubadora. — Hyoga começa a descrever o bebê para Shiryu. — Ele é carequinha, tem um nariz parecido com o da Eiri, mas o resto é parecido comigo, lindo como eu.

— Deixa de ser besta, russo – Ikki diz.

— Você também ficou besta quando a Penélope nasceu – alfineta Shun.

— É verdade, admito. Bebês são só dois, três quilogramas e pouco de gente mas nos envolvem de um jeito inexplicável. É muito louco.

— Verdade — concorda o novo papai, encantado com seu pequeno.

— Aproveite bem pois eles crescem muito rápido — aconselha Ikki.

— Vou aproveitar.

— O tempo em geral está voando – comenta Seiya. – Quase não conseguia vir aqui porque estou ficando louco com a escolinha. É muita papelada, muita burocracia, muita coisa pra resolver…

— Na boa, Seiya, esquece isso – Shun diz. – Ou pelo menos delega a papelada, a parte chata. Saori tem quem faça isso. Você só está fazendo isso tudo por causa da opinião dos outros, para provar para eles que não é encostado na Saori.

— Até porque você é mesmo – Ikki completa. – Assume e pronto.

— É complicado – Seiya diz, coçando a cabeça.

— Você não deve nada a ninguém – Shiryu conclui. – Não deve explicações.

— É… – Seiya responde, pensando que talvez fosse mesmo uma boa ideia delegar tarefas em vez de tentar fazer tudo sozinho.

Ikki aproveita o momento para falar com os amigos advogados.

— Tô precisando tratar de um assunto profissional com vocês dois — ele diz.

— Cobramos por hora – retruca Shiryu.

— Como é que é, seu cegueta filho da puta?

— Tô brincando, Ikki. Fala.

— Vou direto ao assunto. Quero adotar os moleques do orfanato. Os vinte. De uma vez só. É possível?

— Tá doido? – Seiya indaga.

Hyoga balança lentamente a cabeça para os lados enquanto Shun limita-se a olhar para o irmão com um sorriso enigmático. Shiryu prossegue em tom profissional:

— Tenho que checar a legislação. Sei de alguns casos de vinte, trinta, até quarenta filhos adotivos, mas nunca vi nenhum caso que tenha sido ao mesmo tempo.

— Pois descubra se é possível e entre com o processo. Obviamente não tenho como pagar agora mas podemos ver isso depois...

— Nem precisa, né, seu bobão? Mas você tem certeza de que quer fazer isso?

— Tenho – ele responde sem hesitar. – Vou fazer pela Mino.

— E se der certo? – pergunta Hyoga. – Como vai ser? Vão morar todos lá no sobrado? Como você vai sustentar vinte crianças?

— Sinceramente, não sei. Não pensei ainda.

— Aconselho que comece a pensar porque a Justiça vai querer saber.

— Hyoga tem razão – Shiryu aduz. – Vamos ter que provar que vocês podem manter as crianças.

— Se esse for o problema – Seiya fala –, eu e Saori podemos ajudar no que for preciso. Sei lá, podemos incluir vocês nas paradas da Fundação...

— Em uma situação normal eu ia mandar você se ferrar – Ikki diz – mas acho que realmente vamos precisar de ajuda, então agradeço de coração.

— Não é por você, seu mala – Seiya diz rindo e dá um tapinha nas costas de Ikki. – Mino e as crianças merecem isso. Faço por elas.

— Pois é, com um dinheiro que nem é seu! – debocha Ikki.

— Tá vendo? – replica Seiya. – É por isso que você é um mala, mas eu gosto de você na maior parte do tempo.

— E o que você vai fazer pelas crianças – Shun finalmente se manifesta – é de uma generosidade admirável. Só prova que debaixo dessa casca muito, muito grossa tem um coração.

— Um bem grande – completa Shiryu rindo.

— Ah, parem com isso! – Ikki protesta encabulado. – E vamos embora, ceguinho. Vou te dar uma carona e você vai para casa pesquisar a merda da lei.

— Outro conselho de amigo – Shiryu diz. – Diminua os palavrões desde já para não soltar nenhum na audiência que certamente teremos.

— Eu sei me comportar em uma audiência! – ele protesta.

— Assim espero!

 

 

—------------------------------

 

Alguns meses depois, na audiência de adoção dos órfãos, Ikki e Mino comparecem representados por Shiryu. Quando o juiz pergunta a Ikki sobre o desejo de adotar as crianças, ele responde:

— Eu vivi naquele orfanato com meu irmão até a maioridade. Eu sei o que é, conheço bem a realidade daquelas crianças. E minha esposa, além de também ter vivido lá, foi monitora durante a vida adulta. Sabemos como é, temos ciência de todas as dificuldades do dia a dia. Não é uma atitude impensada.

Quando chega a vez de Mino falar, ela luta para conter a emoção enquanto fala:

— Eu já me sinto mãe deles. Sempre me senti e não consigo me desligar deles nem eles de mim. Por isso é que decidimos adotá-los. Sei que são vinte, mas cuidei deles por anos, alguns estão lá desde que nasceram, conheço cada um, sei do que gostam ou não, sei a história de cada um deles porque é assim que uma mãe é.

Quando questionados sobre a questão financeira, Ikki responde:

— Eu sou engenheiro civil. Trabalho em uma empresa em ascensão, nós temos casa própria, que inclusive já foi reformada e está preparada para receber as crianças. E também contamos com a ajuda da Fundação Kido.

A seguir Eiri, Shun e Seiya são ouvidos. Em nome da Fundação Kido, Seiya confirma que o casal terá ajuda financeira. Depois de ouvir também o psicólogo e o assistente social que atuaram no caso, o juiz dá a sentença favorável à adoção. Então todos seguem do fórum para o orfanato a fim de dar a notícia às crianças, que estão agitadas por causa da suposta viagem que farão. Saori, Seika e Shunrei estão lá desde cedo, tentando mantê-las tranquilas e entretidas. Mandaram que arrumassem as mochilas para a “viagem” e esperassem no pátio. Alguns acreditam, principalmente porque há um micro-ônibus parado na porta, mas a maioria desconfia de que não se trata apenas de uma viagem pois semanas atrás o pessoal do Juizado de Menores apareceu por lá fazendo perguntas. Os mais velhos já sabiam que isso geralmente significava adoção a caminho, só não estão entendendo por que razão todos estavam esperando.

Quando a comitiva chega, eles se agitam e correm para Mino e Ikki e enchem-nos de perguntas.

— Para onde é a viagem, tia? — uma menina chamada Aira pergunta.

— Aposto que é para a praia! — Mimiko responde.

— Então tenho que pegar meu calção de banho! – preocupa-se outro pequeno de nome Hideo.

— Não é viagem – comenta Akira, um dos garotos mais velhos e que está há mais tempo no orfanato. – Tenho certeza.

Mino faz um carinho nele.

— É, você está certo, não vamos para a praia agora – ela fala e tira da bolsa um papel. — Nós vamos para casa.

— Mas a gente mora aqui, tia! — outra criança grita.

— Agora vão morar comigo e com o Ikki. Sabem o que é esse papel? Esse papel aqui diz que vocês são nossos filhos.

— Todos nós? – Makoto pergunta.

— Todos! — Mino exclama e diz o nome de cada um deles com ternura. — Akira, Makoto, Mimiko, Hideo, Kimiko, Mariko, Kazuaki, Jun, Daisuke, Shigeru, Ayumi, Inoue, Yuki, Tengo, Reira, Mayumi, Haruki, Chitose, Jun e Aira. Todos meus!

— E agora vocês todos vão para casa conosco, pirralhada – Ikki completa com toda a delicadeza que lhe falta.

As crianças entreolham-se ainda um tanto confusas.

— Então a tia Mino vai ser nossa mãe? – Mimiko pergunta.

— Isso mesmo! — Mino responde. — Prontos para sermos uma família? Nós dois, vocês e a Penélope.

A resposta é sonoro “sim” que enche o coração de Mino de alegria.

 

Continua…

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Voltei, people. E com esse capítulo que talvez seja massacrado... Tudo bem, é algo que queria fazer há tempos com Shun e June, talvez até em EOF, mas optei por fazer aqui. Gosto da ideia, conheço um casal parecido, enfim... Aí está! Mesma coisa pra Ikki e Mino, só que o casal daqui do meu estado tem 51 filhos, ou seja, o casal da fic ainda está perdendo feio... 

É isso! 

Obrigada a todos que continuam acompanhando! Não sejam muito malvados!

Beijooo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sobrado Azul" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.