Eram sete da manhã e eu já estava em pé. Mesmo sabendo que o dia seria de folga eu não consegui mais dormir depois de perceber que o Justin não dormia mais ao meu lado. Eu não sabia para aonde ele teria ido tão cedo, mas o Scooter me garantiu que ele não teria saído do hotel, talvez tivesse ido à piscina ou estava na loja do hotel comprando alguma lembrancinha do Japão.

Acabei não me arriscando a procurá-lo, apesar de aquele hotel ter vários outros hospedes seria estranho eu chegar e do nada começar a falar com o Justin quando o visse, não queria que todo o esforço que o Scooter havia feito para me deixar em segurança fosse pelo ralo. Os únicos barulhos ouvidos dentro do meu quarto eram do relógio e a batidas do meu coração. A cada minuto que o ponteiro passava eu me sentia cada vez mais com medo.

Talvez não medo de perdê-lo, mas medo de me apegar demais a ele e depois acabar tudo não passando de um sonho bobo e infantil. Senti as lágrimas virem e fui para o banheiro, tranquei a porta e chorei como sempre fazia quando não queria que ninguém me visse naquela cena deplorável.  

Eu ainda estava no banheiro quando ouvi o barulho da porta se fechando. Levantei-me em um pulo e abri a porta. Dei de cara com um Justin alegre e molhado... Quando me viu ele me deu um abraço e um beijo na testa.

-Hello Anna! Dormiu bem?-

-Onde estava?- Falei cruzando meus braços e o olhando serio – Fiquei preocupada sabia? Você sai sem dizer nada e por cima ás 6 horas da manhã, o que se faz ás 6 horas da manhã no Japão? E por que está todo molhando?-

Ele tirou a camiseta molhada ficando apenas com o seu short, confesso que fiquei incomodada de ver seu abdômen definido. Ele passou por mim e pegou um toalha para enxugar o cabelo.

- Anna eu só fui dar uma volta, estava precisando pensar um pouco, estava começando a ficar louco trancado nesse quarto aqui!-

O Justin falava enquanto vestia uma roupa nova. Eu o olhava incrédula. Ele falava tudo com um sorriso no rosto. Percebi uma pequena maquina fotográfica jogada na cama. Peguei e liguei-a. O Justin não percebia nada, estava ocupado demais se olhando no espelho. No cartão de memória havia apenas 16 fotos e eu era tão curiosa que decidi olhar quais eram. Meu coração havia parado. As fotos não eram nada do que eu pensava. O Justin havia certa mania de carregar uma câmera para aonde que ele fosse, gostava de tirar fotos das paisagens.

Mas aquilo não era nada parecido com uma paisagem. Era mais uma vadia se jogando em cima do Justin, não uma vadia qualquer mais a Selena Gomez. As lagrimas desciam pelo meu rosto sem eu poder fazer nada para evitar.

-Anna, você está chorando?-

-Não! Estou apenas lavando meus olhos!- Falei sarcasticamente. Ele olhou para a câmera que eu ainda segurava e falou um palavrão baixinho.

- Anna... -

-Não é nada do que você esta pensando!- Falei com uma terrível imitação da voz do Justin – Porque vocês teimam em falar isso? Você sabe o que eu to pensando? Acho que não, pois vou lhe dizer o que estou. Que você não passa de um garoto idiota iguais aos outros que não se preocupam em quantos corações estão machucando. Você acha mesmo que estavam sozinhos ali? No mínimo tinham um monte de paparazzi tirando fotos de vocês e amanhã essas fotos vão estar em todos os sites e revistas, e você vai fazer milhões de garotas chorarem e lamentarem porque não são elas que não estão no lugar da Selena. Elas zelam tanto por você que ficam incomodadas com esse tipo de coisa, ela gostam de você, Justin, elas te amam. São tão idiotas quanto você. Elas não se valorizam e acabam deixando de viver suas vidas para idolatrar um garoto que não estão dando a mínima para elas!-

-Você não tem o direito de dizer que não dou a mínima para as minhas Beliebers. Eu tenho uma vida, fico e namoro com quem quero- O Justin estava vermelho, mas não olhava para mim encarava a parede branca.

- Então pensasse nisso antes de se tornar especial para as Beliebers. Não acho que a Pattie ficaria feliz com isso-

- Minha mãe não está mais aqui, então quem decide as coisas sobre a minha vida sou eu! E acho melhor você não se intrometer no que não é da sua conta-

Ainda chorando dei uma risada nervosa, ele me encarou e percebi que também chorava.

- MEUS PAIS TAMBÉM NÃO ESTÃO AQUI! E NEM POR ISSO ESTOU DANDO UMA DE MENININHA MIMADA E ARROGANTE. VOCÊ NÃO ACHA QUE EU TAMBÉM NÃO SOFRO COM ISSO? MEUS PAIS ERAM AS UNICAS COISAS QUE ME FAZIAM CONTINUAR VIVENDO. VOCÊ NÃO SABE QUANTAS VEZES EU HAVIA PENSADO EM ME MATAR? VOCÊ PODE ACHAR RIDICULO, MAS ERA A PURA VERDADE-

- EU NÃO ESTOU SENDO UM MENINO MIMADO E ARROGANTE! SE VOCÊ FICASSE NO MEU LUGAR IRIA ENTENDER. VOCÊ NÃO SABE A PRESSÃO QUE ELES COLOCAM EM CIMA DE MIM. EU SO SOU UM GAROTO DE 17 ANOS, SOU DE CARNE E OSSO, TENHO SENTIMENTOS. EU SEMPRE TENHO QUE DAR MAIS DO QUE EU POSSO PARA NÃO DECEPCIONAR AQUELAS GAROTAS. VOCÊ NÃO ACHA QUE EU FICO TRISTE POR NÃO PODER NAMORAR COM ELAS? MAIS EU NÃO QUERO ALGUÊM QUE FAÇA TUDO POR MIM, QUERO ALGUÉM QUE ME AME PELO QUE SOU NÃO PELO MEU DINHEIRO E ME TRATE COMO UMA PESSOA NORMAL!-

Agora nós dois chorávamos inconsoláveis. Eu queria poder falar alguma coisa, mas eu soluçava tanto que não conseguia falar. O Justin limpou as lagrimas e se acalmou mais.

- Que se dane! Cansei de ficar aqui como uma prisioneira!-

Enxuguei as minhas lagrimas e peguei a minha mala que ficava em baixo da cama. Passei pelo Justin e peguei todas as minhas roupas e enfiei dentro da mala. Não iria ficar ali para ter que aturar e o seu papinho de que a Selena é uma Santa.

-Aonde você vai?-

-Evitar uma tragédia. Talvez você não tenha se lembrado a minha melhor e única amiga é uma Belieber. Depois dela ver essas fotos ela pode tentar fazer alguma coisa como já tentou antes e nesse momento ela é a minha família!-

Fechei a mala e saiu do quarto. O Justin me seguiu.

-Achei que eu fosse sua família. O que eu faço?-

Virei-me e fiquei o encarando, aquelas fotos vieram a minha cabeça e a única coisa que senti naquela hora foi ódio.

-Vai pro inferno!-

[...]

Sair do hotel foi fácil, difícil foi ter arranjado dinheiro para pagar a minha passagem para Stratford.  Por sorte eu ainda estava com o cartão para emergências que o Scooter havia me dado no início da turnê. Depois de tanto tempo sumida, não sabia como a Letícia iria reagir, mas estava certa de que ela não iria deixar de me ajudar.

-Gostaria de alguma coisa para comer ou beber?-

A aeromoça estava parada ao meu lado empurrando um carrinho cheio de guloseimas, bebidas e outras coisas. Se fosse outro momento eu com certeza pegaria varias coisas para poder aliviar meu medo de saber que estou a não sei quantos quilômetros de distancia do chão, mas com tudo o que havia acontecido nem ligava mais para aquilo. Balancei a cabeça negativamente e ela se virou para o cara que estava do meu lado.

Olhei o meu relógio que havia ganhado do Ryan, teria que esperar mais uma hora até finalmente chegar ao meu destino. Dei um longo suspiro e fechei meus olhos, tudo que queria naquela hora era pode dormir e esquecer tudo aquilo. 

Ás nove horas da noite eu estava chegando a Stratford. Chovia um pouco e sem dinheiro para pagar um táxi, decidi que iria a pé, afinal caminhar um pouco nunca matou ninguém. Foram longas as horas que eu passei caminhando. Parecia que quanto mais eu andava mais longe ficava, e para piorar a chuva havia aumentada e eu estava completamente encharcada. Depois de andar muito e meus pés começarem a doer parei em frente à casa da Letícia. Sem esperar mais um segundo toquei a campainha.

Ouvi-a dizer que já estava indo. Assim que abriu a porta e me viu, ela se assustou e deu um grito que com certeza assustaria metade da vizinhança

-Oh meu Deus, isso não pode ser possível. Anna é você? – Assenti – Achei que você estivesse morta...  Entre, senão vai pegar uma pneumonia-

Entrei na casa e observei que nada mudará. Os mesmos móveis as mesmas fotos e as mesmas lembranças. Apenas a Leti estava diferente. A baixinha não era a mesma. Para começar ela havia mudado a cor dos seus cabelos para preto e tinha cortado deixando da altura do ombro, seus olhos castanhos escuro estavam do mesmo jeito, mas tinham um brilho diferente. Ela foi para a sala e eu a acompanhei.

 - Letícia, eu não entendi a parte de eu estar morta!-

 -Senta que eu vou lhe contar tudo!- 

Sentei no sofá indicada por ela, que continuou em pé. Sua expressão ficou mais séria.

-Depois do dia que você veio aqui dizer que iria viajar para o sítio daqueles amigos do seu pai, nós também viajamos, mas alguns dias depois um dos colegas de seu pai ligou avisando que todo vocês haviam morrido. Uma caverna havia desabado enquanto vocês estavam dentro. Voltamos o mais rápido possível. Felizmente os corpos haviam sido resgatados, mas estavam tão deformados que o caixão deve que ficar fechado. Você não sabe o quanto foi difícil para mim saber que você nunca mais voltaria, que nunca mais você poderia vir tomar sorvete todas as tardes, aqui em casa enquanto assistíamos TV e que eu não poderia deixar você irritada de tanto ficar falando sobre o Justin-

Ela desabou no sofá ao meu lado e começo a chorar. Eu estava me sentindo tão culpada. Se eu soubesse tudo o que ela estava passando, teria ligado para contar que estava viva, que estava bem. Mas eu estava com medo de contar o que realmente havia acontecido e como uma Belieber, sair se gabando por ter uma amiga que estava morando com o Justin. Eu abracei.

- Leti, desculpe-me por fazer você sofrer desse jeito. O desabamento na caverna de fato aconteceu mais eu sobrevivi. Eu e outra pessoa-

Ela se acalmou mais e limpou as lagrimas do seu rosto. Esperei até ela ficar totalmente calma, para poder lhe contar tudo. 

-Letícia primeiro de tudo quero pedir perdão, eu estava com medo e não sabia o que fazer, mas agora sei que não foi a melhor escolha que fiz e me arrependo-

Fiz uma pequena pausa mais logo continuei.

- Enquanto esperávamos o tão amigo de papai, minha mãe falou que eu não iria no carro deles. Disse algo sobre eu precisar ter mais amigos além de você e queria que eu fizesse amizade com o filho deles. Eu nunca que imaginaria que o tal garoto era o Justin Bieber. Fiquei até meio surpresa quando vi, ele era uma pessoa totalmente diferente do que eu pensava. Falei de você para ele. Logo no outro dia eu não conseguia mais dormir. Eu estava na mesma casa que o Justin, o seu amor. Fui à cozinha beber um pouco de água, e logo depois ele apareceu, ficamos um tempo conversando e depois chamei para ver o pôr do sol. Quando todos estavam acordados, os garotos insistiram para conhecer um rio que era perto dali, mas acabamos perdidos e a única coisa que tinha ali era a tal caverna. Entramos e não me lembro o que realmente aconteceu, só sei que tudo desabou. Eu e o Justin ficamos vivos, por milagre. Eu havia ficado com um ferimento na minha perna e o Justin ficou com algumas cicatrizes, nada que uma boa maquiagem não cobrisse. Não sei ao certo quanto tempo ficamos lá mais conseguimos sair. O Estranho é que agora não consigo me lembrar quem nós tirou de lá. Mas o importante é que eu estou viva-

A Leti escutava tudo o que eu dizia e não falava nada, nem mesmo se animou quando falei o nome do Justin. Ela se levantou novamente e ficou andando de um lado para o outro.

- Então foi por isso que o Justin sumiu... O que você veio fazer aqui?-

- Como você sabe o Justin está no Japão e hoje de manhã eu briguei com ele e vim embora, não agüentaria ficar lá com ele!-

Ela parou de andar e depois voltou, parecia bastante nervosa e confusa. Eu sabia que ela estava tentando processar tudo. Eu me levantei e a segurei pelos ombros.

-Olha Leti, sei que deve estar com raiva de mim, se não quiser que eu fique aqui tudo bem eu vou embora. Só não sei aonde vou ficar-

-Você está maluca? Eu quase te perdi e agora que voltou vou te expulsar da minha casa? Você é a minha melhor amiga, sempre foi e sempre será independente de você conhecer o Justin ou não. Mas é claro que e vou querer um autografo uma foto um beijo e outras coisinhas, mas depois a gente conversa sobre isso!-

Não pude deixar de rir, essa era a Leti que eu conhecia. Ela me deu mais um abraço e me arrastou para a cozinha. Tudo o que eu precisava naquela hora era de uma cama para dormir, mas segundo ela não podia dormir de barriga vazia. Aproveitando que os pais não estavam em casa, ela me emprestou uma de suas roupas e preparou chocolate quente e um sanduiche natural, logo após comer ela colocou um colchão ao lado da cama.

-Anna a cama é toda sua!-

-O que? Não posso deixar você dormir no chão! Eu sou a intrusa aqui-

Ela me olhou com aqueles seus olhos castanhos e colocou as mãos na cintura. Tive que me segurar para não ir lá e apertar as suas bochechas.

- Você não é uma intrusa! É minha irmã mais velha agora. Apesar de termos a mesma idade você é um pouco mais alta e isso deixa você mais velha do que eu!-

Não consegui convencê-la e ela acabou dormindo no chão. Ficamos algumas horas ainda conversando até que o cansaço venceu a Leti e ela dormiu. Eu dormi logo após, e por mais estranho que isso pareça tive um sonho em que eu estava em um jogo de Pac- Man e a Selena Gomez corria atrás de mim tentando me pegar, esse havia ido o sonho mais estranho de todos.