Shiki Fuujin escrita por Pitty-chan


Capítulo 6
Parte Final


Notas iniciais do capítulo

Finalmente chegamos ao fim desta fic. Agradeço a todos os que tiveram a paciência de Jó com ela. Muito obrigada. 8D
PS: "Gaki" significa "criança mimada".



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“Ele vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.”

 

João 10:10-11

 

 

Quando se morre se vai pro céu ou para o inferno? Quem é que escolhe quem vai para onde?

 

Eu não sei. Não escolhi nada. Fazendo o que fiz não me lembro de ter tido uma opção. Não me recordo direito nem de como foram os meus últimos minutos... Algumas imagens estão embaralhadas na minha memória, como se alguém tivesse pego meu esquema em perfeita ordem e sacudido até que nada mais se encontrasse em seu lugar. Se meus últimos momentos foram dignos de honra?

 

Não saberia dizer.

 

Se você me fizesse um questionário agora talvez houvesse muitas coisas que eu não poderia responder. Boa parte do que eu fiz foi por impulso, movido por circunstâncias as quais na verdade ninguém normalmente teria que se expor. Circunstâncias essas em que nenhum ser humano imaginaria ter que enfrentar. Não há nenhum tópico de estudo na Academia Ninja sobre ‘Como selar bijuus’ ou ‘Como agir se você for o Kage de sua vila e uma raposa gigantesca começar a destruí-la’...

 

Eu tomei a responsabilidade em minhas mãos antes mesmo de saber o que faria com ela. Talvez houvesse alguém em Konoha que pudesse ter feito algo melhor do que eu fiz. Talvez alguém pudesse ter agido de uma forma mais sensata, de alguma maneira que pudesse ter evitado que tantos morressem. E é possível que dessa maneira ninguém tivesse que sofrer ou se sacrificar. Ninguém tivesse que ficar órfão. Ninguém tivesse que chorar a morte de seus queridos...

 

Mas eu carreguei a responsabilidade nas costas independentemente do desfecho. Talvez eu fosse jovem demais. Talvez eu tivesse expectativas demais acerca do futuro para me desfazer propriamente delas. Talvez eu fosse crédulo demais. Mas de uma forma ou de outra eu abri mão dos meus sonhos, dos meus ideais, dos meus planos, da minha vida... Eu abri mão de tudo porque acreditei que essa era a forma mais correta de lidar com as coisas.

 

Exatamente como meu pai, como um pastor que nunca esquece nenhuma das suas ovelhas. Como um mero, desimportante e totalmente substituível... pastor, que conhece cada uma delas e as chama pelo nome. Como alguém que amou cada uma de suas ovelhas como se houvesse apenas uma para amar.

 

Mesmo sabendo que por causa de vocês todos os dias e para sempre eu seria entregue ao matadouro como animal ao abate. E se eu morri naquele dia não foi por dever, e sim por amor. Pelo amor que eu tenho por Konoha, pelo amor que eu tenho a você.

 

Mas mesmo assim o tempo não deixou de correr escasso pelas minhas mãos. A areia da ampulheta descendo em uma velocidade alucinante. Uma aceleração insana...

 

“Isso não muda o fato de que não é eterno! Vai haver uma hora em que ele irá se expirar e ficará fora de controle!”

 

“Uma chave...” Eu ajoelhei em direção ao sapo, abrindo seu pergaminho e esticando-o no chão. O mero movimento de abaixar rápido demais me causou uma queda de pressão, esta expressiva o suficiente para que me desse a sensação de estar caindo vertiginosamente. Me apoiei no chão forçando os olhos a entrarem em foco de novo, e o sapo me enviou um olhar inquisidor. “Eu posso criar o modelo de uma chave de selo aqui nesse seu pergaminho. Dessa forma, todas as vezes em que ele começar a se abrir naturalmente poderá ser trancado de novo.”

 

“Quem ficará encarregado da chave?”

 

A resposta foi tão fácil que nem me consumiu tempo de raciocínio.

 

“Jiraiya-sensei.”

 

Ao fundo eu ouvi o som da Kyuubi resfolegando outra vez. O demônio tinha estranhamente parado de atacar, o que por um momento não me causou nenhuma reação. Concentrado em pensar no selo e com a mente aérea eu havia me esquecido que tinha que me proteger. O sapo falou de novo, seu tom de voz ainda meio incrédulo.

 

“Se for assim o selo de Hakke poderá conter o chakra do bijuu, mas não será capaz de distribuí-lo. Será apenas um chakra parasita dentro do corpo do bebê.” Ele olhou para você por um momento, e eu reprimi minha vontade de fazer o mesmo. “A menos que... Você use um selo de quatro símbolos.”

 

“Um Shishou Fuuin...?”

 

“Exato. O Hakke no Fuuin Shiki pode ser usado de modo que permita que o chakra da Kyuubi escape por entre o Shishou Fuuin e se misture ao da criança.”

 

“Isso permitirá que ele consiga retirar chakra da raposa sem que ela deixe de permanecer bem aprisionada?”

 

“Por um tempo limitado, sim.”

 

Eu não gostei da insistência dele em dizer ‘tempo limitado’. Tá, eu já tinha entendido. Já tinha dado pra compreender. Em situações normais eu já estaria arrancando os cabelos, não fosse a falta de... tempo.

 

Kusoooooo...

 

“E depois, quando o selo enfraquecer, Jiraiya-sensei terá apenas que usar a chave para reforçá-lo.”

 

Ele me olhou meio descrente outra vez.

 

“Segundo o seu raciocínio, sim.”

 

Agora eu não precisava de mais nenhum minuto para considerar. Era só fazer a base do selo no pergaminho e...

 

Foi de raspão.

 

Passou muito perto, mas foi de raspão. Porém, isso não fez uma diferença muito grande devido à força do baque, que me atirou à distância como se o meu peso fosse o equivalente a uma pluma. Nocaute.

 

Eu me choquei violentamente contra o chão sem a menor cerimônia. Dor brutal.

 

Minha visão girou. Tudo rodou sem discernimento, a profusão louca de figuras se misturando e procurando por sentido na minha cabeça. Meu entendimento falhou em organizar as cores e formas e transformá-las em algo inteligível, como a imagem invertida no fundo da minha retina. Quanto mais pensar se meus órgãos internos estavam ou não em massivo sangramento.

 

Tudo o que preenchia a minha mente era uma pressão de algo me esmagando de dentro pra fora, uma sensação de quebra.

 

...quebra?

 

O demônio-raposa tinha me atingido com sua força descomunal, me jogando há metros de distância.

 

Eu estava caído de bruços, cheiro e gosto de terra e de sangue inundando meu nariz e minha boca. Meus braços fizeram força contra o chão me impulsionando para cima, apenas para cederem e caírem de novo. Eu fui de encontro ao chão, dando de cara na terra outra vez. Um gemido de dor escapou desconhecido por entre meus lábios e eu arregalei os olhos sem acreditar que ele havia sido meu.

 

A Kyuubi gargalhou vitoriosa, sacudindo duas de suas caudas. Sua presa estava no chão para possivelmente nunca mais levantar. Eu sibilei, sangue saindo em fios finos por entre os meus dentes. Talvez eu tivesse quebrado o nariz. Talvez eu tivesse quebrado algumas costelas. Talvez eu tivesse quebrado muitas costelas. Mas esse não era meu atual problema.

 

Abaixo da linha da ilusão, aproveitei que estava temporariamente fora de alcance para me virar com dificuldade. Me apoiei nos cotovelos tentando levantar ao menos o torso, em um esforço tão inútil que parecia quase infantil. Um rolo compressor havia passado por cima de mim.

 

E foi isso, com o ápice da minha força eu me ergui o bastante abaixo da escuridão, só para encarar o Deus da Morte me fitando sombriamente. Sua mão esquerda há poucos centímetros do espectro da minha alma.

 

Ele fixou o olhar em mim, sua essência mortal aparecendo entre os dentes que seguravam a faca em sua boca de matéria metafísica. As extremidades de seus lábios se curvando para cima em uma carranca aterrorizante e sarcástica.

 

Ele não pertencia ao meu mundo. Ele não conhecia o meu mundo. Nada no meu mundo o interessava. Nada no meu mundo lhe era digno de nota.

 

Eu era apenas um mortal idiota o suficiente para colocar minha vida em suas mãos, e ele era o deus da morte...

 

Eu arregalei os olhos, tomado por uma onda sufocante de pavor. Olhei para o lado e vi o sapo do selo com você, ambos também abaixo do limite da ilusão. Havia chegado a hora e eu não estava pronto... eu ainda não estava nem perto de estar pronto.

 

Rastejei fora do alcance da Kyuubi na sua direção, cada pedaço do meu corpo dolorido, ainda mantendo os olhos vidrados nos do Shinigami. Olhando para mim ele aproximava sua mão e a afastava, como se estivesse me testando, como se estivesse querendo provar até onde ia a minha força. Até onde eu estava disposto a ir para alcançar meu propósito...

 

Ele não dava a mínima para o que estava acontecendo. E estava se divertindo comigo.

 

Chikuso!

 

A Kyuubi urrava me chamando para a batalha - querendo comprovar se eu já estava morto ou não. A terra abaixo de mim tremia e se revolvia com o seu furor maníaco. Porém, os rugidos do demônio agora pareciam cada vez mais um eco torto dentro da minha cabeça, que latejava como um teatro de acústica desfavorável. O teatro da minha mente, onde o elenco era o Shinigami, a raposa, eu e você. Uma tragédia grega... E ainda por cima daquelas bem ruins. Daquelas que eu não pagaria cinco ryou para assistir.

 

Uma tragédia de nome ‘Shiki Fuujin’.

 

Mas eu era o ator principal daquela peça, e aquele era o ato final. Eu não podia me dar ao luxo de errar, não era um ensaio. Eu nunca tive ensaios. Aquela era a única e última vez que eu estaria representando aquela peça. Ali, naquele momento... Eu estava no palco.

 

Eu rastejei, sentindo vagamente o chão desigual, os cortes ardendo com uma dor de estremecer. Uma dor que em qualquer outro momento me faria xingar toda sorte de impropérios aprovados ou não pela sociedade. Nunca antes eu parecera tão destruído. Nunca antes eu sentira com tanta força tudo cair sobre mim, mais pesado que o poder convergente das águas de uma cachoeira. Valentia... Intrepidez ilimitada não existe, ela é só uma grande mentira que serve para engrandecer os tão chamados ‘heróis’. Nenhum deles tem coragem absoluta. Não existe nada nesse mundo totalmente absoluto, simplesmente não há. E eu estava morrendo de medo.

 

Mas coragem de verdade... Coragem é quando só você sabe que está com medo.

 

Se era isso que o Shinigami queria ver em seu invocador, então era isso que eu iria mostrar. Apesar de que o que eu estava fazendo... Sim.

 

Aquilo era ridiculamente arriscado.

 

Continuei rastejando, minha consciência se desligando aos poucos como as luzes dos postes de Konoha quando atingem a claridade da manhã. Isso só podia ser uma piada sem graça... Uma brincadeira de péssimo gosto. Eu não podia estar morrendo. Não agora. Não enquanto ainda não tinha feito o que mais precisava fazer.

 

E eu não sei dizer se foi uma chama de força que consumiu alguma parte estranha do meu corpo como combustível, ou se foi pura obstinação. Mas o fato é que eu os alcancei, com uma vontade tão forte que poderia esmagar uma placa de metal de um metro de grossura.

 

Minhas mãos manejaram o pergaminho sem vacilar, meus dedos percorrendo o trajeto de inscrições que aos poucos desenhava o formato de uma chave. Gravado com sangue, e como pacto eterno não poderia ser escrito com nada além. O sangue significa que uma aliança foi selada.

 

As letras se desenharam rapidamente e de forma cadenciada através das pontas esmigalhadas dos meus dedos. Logo a chave do selo já estava praticamente pronta, a espiral negra anti-horária no cabo da chave de onde descendiam os parâmetros do duplo selamento. O último detalhe sendo naquele momento acrescentado no canto superior esquerdo: um quadrado de identificação, em cada um dos seus lados estava desenhado uma matriz do Shishou Fuuin. Ao encostar ali Jiraiya-sensei seria capaz de no futuro fechar a chave quando fosse necessário.

 

“Você vai ser desprezado. Vão ridicularizar a sua memória por sacrificar seu próprio filho.” A voz arranhou a minha profunda concentração, e o sapo apontou para você, acusador. “É isso o que você quer?”

 

“Deixe que pensem assim...” Eu o olhei por um mísero segundo, ofegando ruidosamente. “Não preciso justificar meus motivos a ninguém...”

 

Independentemente da dor ou do medo, da glória ou da honra, da vida ou da morte. Independentemente do que viessem a te dizer e até mesmo do que você chegasse a pensar no curso da sua vida. Eu te amava. Eu te amava, e por isso estava fazendo aquilo. Para que no fim das contas houvesse menos de mim para que pudesse haver mais de você.

 

O sangue é a única coisa que tem o poder de selar tudo seja para o bem ou para o mal, pois invariavelmente toda liberdade tem um preço. Seja ela em forma monetária ou sacrifical... Quem pagaria o preço caro da liberdade de Konoha? Talvez se eu tivesse que fazer tudo de novo e se fosse apenas por eles... Talvez eu não o faria. Mas por você...?

 

Não há como um pai deixar de amar seu filho. E apesar do que dissera ao sapo invocado, eu queria poder olhar nos seus olhos e te dizer algo do tipo ‘Te amo, por favor, acredita em mim!’ Para que ao menos você soubesse que eu iria te amar eternidade adentro, não importava o que pudesse acontecer. Que eu iria te amar até depois do meu coração parar de bater, até depois de não conseguir mais respirar.

 

Mas independentemente de qualquer coisa, era eu que tinha que ser aquele que diria ‘vai tudo por minha conta’, mesmo que a conta tivesse um valor muito mais alto do que se dispõe a pagar. Sim, eu teria que morrer como um ninja; um ninja que acima de tudo tem ousadia e sangue frio. Porque o preceito de Konohagakure diz que é melhor sacrificar um em prol de salvar milhares, não é, Danzou? Ele que afirmou isso faria o mesmo, não? Qualquer shinobi faria isso, certo? Não é, Danzou?

 

Não é...?

 

Porque apesar de sermos meros humanos, somos shinobis; e assim vivemos não debaixo da lei, e sim debaixo do código. E o Código Shinobi não só ordena, ele declara. Se você se movimenta ainda está vivo. Se você se movimenta ainda pode lutar.

 

Respirei fundo, ignorando o fato de que a cada segundo eu perdia tato, audição e visão. De forma que eu já não sentisse mais o contato entre os meus dedos e o pergaminho, de forma que eu já não sentisse nada. Pequenas ondas elétricas passavam por todo o meu corpo gritando que algo estava muito errado. E que por dentro eu estava todo esmagado, e que os meus órgãos internos estavam parando, e que eu estava me tremendo todo involuntariamente, e que... Apesar de tudo se você se movimenta está vivo. Se você se movimenta ainda está vivo.

 

Porém, ao fim daquilo eu estava esgotado. Como se tivessem drenado todas as minhas forças, como se tivessem me matado e a morte não tivesse tido nem ao menos a decência de terminar sua tarefa. Tudo o que o meu ‘eu’ físico queria era deitar ali e não se levantar mais.

 

Eu queria dizer que aquilo não era justo, chorar, espernear, chutar, fazer qualquer coisa. Mas eu não tinha a energia para isso, tudo o que podia era me apoiar nas palmas das mãos e me levantar pela última vez esperando que aquilo servisse de consolo. Que o fato das minhas emoções estarem me delatando no final não me fizesse o ser mais desprezível da face do planeta.

 

Meu rosto se contorceu de frustração enquanto eu tentava recuperar o fôlego e forçar meus pulmões a trabalharem. Era a hora. Pronto ou não, não havia desculpas para adiar mais, apesar do silêncio que agora aterrorizava meus ouvidos ser torturante. Eu não ouvia mais nada e o nada era assustador. Eu sempre fui do tipo que era muito mais bem sucedido no caos da guerra, das vozes gritando, da morte, do terror, e eu era o terror... E o Shinigami estava me olhando com sua faca na boca. E era a hora. E por mais que eu não quisesse era a hora.

 

 

Ao pegá-lo no colo eu não vi sapo, eu não vi Kyuubi, eu não vi deus da morte. Eu só vi você. Quando olhou para mim pela última vez, você mesmo tão pequeno leu a relutância nos meus olhos. Você suspeitou da nota falsa das minhas promessas. E sabe, você estava certo, eu prometi coisas que não podia cumprir só para consolar a mim mesmo. E por causa disso você teve que morrer como ser humano, por amor às minhas mentiras...

 

Eu não poderia estar com você nunca mais. Não haveria berço na sala Hokage, não haveria comemorações de graduação com ramen, não haveria banhos nas fontes termais, não haveria bolos de aniversário. Assim como eu, você não saberia que no futuro prefeririam proteger a minha memória em detrimento à sua vida. Que prefeririam tomar segredo da nossa ligação sanguínea, de modo que ninguém nunca soubesse que eu havia cometido o ‘engano’ de selar um monstro em meu próprio filho. Não o mais lendário Kage de Konoha. Não o Quarto Hokage... Nada poderia manchar a minha glória. Uma lenda não poderia ter nunca ter cometido um ‘erro’ de tal magnitude.

 

E por isso você nunca foi Namikaze. E por isso você nunca foi tratado como tal. E por isso você jamais saberia que um dia o Yondaime Hokage tinha te pego no colo e chorado descontroladamente. Você nunca se lembraria de que eu te olhei e te vi - que eu te olhei e vi tudo...

 

Eu vi a coisa toda em meus sonhos, a nossa vida inteira. Eu vi você, Kushina e eu andando pelo parque em um dia de sol. Eu imaginei tudo durante nove meses, inclusive qual seria a sensação de te pegar no colo, de observar seus primeiros passos, de... Eu queria muito, Naruto, com uma força tão grande que me dilacerava.

 

Eu queria ficar e nunca precisar me mover, eu não queria ser o Às na manga de Konoha. Eu queria ter a permissão de ser seu pai, de te amar e fazer com que todos os seus momentos fossem felizes; de atrair para mim todo o sofrimento pela qual você um dia teria que passar... Mas eu não pude e mesmo hoje isso ainda me mata. É uma dor que gira, gira e gira em uma espiral sem fim. É como a inevitabilidade de que Hizashi falava, eu nunca tive uma escolha, eu sempre soube que nada mudaria. E talvez tenha sido por isso que eu tenha lutado tanto pra permanecer consciente no final.

 

Retirei o contato visual de você relutante, olhando para o demônio que bufava de ódio. Era fácil adivinhar o que se passava pela mente dele naquele momento - ele simplesmente não podia acreditar que eu estava de pé de novo. Um mero humano, um mero... falho, desimportante e totalmente substituível...

 

Hokage.

 

Mas agora aquele não era só o Hokage. Aquele também era Namikaze Minato; também era discípulo de um dos lendários Sannin; também era sensei de Kakashi, Obito e Rin; também era marido de Kushina; também era pai de Namikaze Naruto; também era um ex-ANBU; também era um shinobi da Vila da Folha. E aquele também era um cara fulo da vida. Lívido de raiva por ter perdido a chance de continuar sendo tudo o que foi citado anteriormente. E vale também dizer... Que aquele ainda era o Relâmpago Dourado de Konoha, um homem que havia chacinado número incontável de ninjas e carregado uma guerra mundial nas costas.

 

Sendo assim, o Relâmpago Dourado observou enquanto seu hitaiate afrouxava e lhe escorria pela testa, caindo com um baque metálico no chão aos seus pés. Que não haja nenhum engano, este agora não era nada além do Relâmpago Dourado de Konoha. A intenção assassina, os olhos semicerrados, a face que você poderia jurar que nunca sorriu em sua vida. Era muito raro que eu ficasse com ódio profundo de algo, mas estava muito claro que esta era tal ocasião.

 

“Você não devia ter esperado se meter comigo e sair ileso, Raposa-chan.”

 

O ódio já estava praticamente saltando dos olhos vermelhos do monstro, mas não fiz o menor caso disso. Provavelmente semelhante fúria estava estampada nos meus.

 

Sorri, correndo uma última vez, a mão do Shinigami indo na direção da minha alma. Inconscientemente te segurei de encontro ao meu peito tão forte que poderia ter te machucado. Você chorou, só dando tempo ao monstro de arregalar seus olhos pela precipitação. Com a mão esquerda agarrei o pêlo marrom da raposa-demônio, vendo-a urrar e tentar afastar-se. Mas agora tudo era inútil, tanto para ela como para mim. Porque eu a havia segurado e ela estava paralisada. E através de mim e de você uma mão nos atravessava.

 

 

Fator seis: Selamento

 

Meus pés estavam doendo.

 

Já fazia quatro horas que estávamos andando sob o sol escaldante do País do Vento quando avistamos um cedro-do-líbano majestoso ao longe. Reita e Hiroshi, meus dois colegas de time, passaram correndo na minha frente procurando pela sombra, saltitantes como duas gazelas que acabaram de parir. Meneei a cabeça em reprovação como se fosse o ser mais adulto do planeta, simplesmente por ter recebido minha patente chuunin.

 

Eu estava prestes a me juntar a eles quando nosso sensei fez sinal para que eu o seguisse, me chamando para uma conversa particular.

 

Shinigami com lasers vezes a quantidade de algarismos de uma dízima periódica. Quando Jiraiya-sensei me chamava para conversinhas privadas isso só podia significar duas coisas bem distintas:

 

A. Ele estava prestes a assaltar minha carteira sob pretexto de ‘estouro de fundos monetários’.

 

B. Eu tinha feito algo estupidamente idiota na última missão. O que provavelmente deveria ter acontecido, dado ao olhar significativo que ele estava me dando.

 

O fato é que nós havíamos sido selecionados para uma missão simples de rank C. O daimyo do País do Vento pedira ao Hokage por ajuda para transportar ao lado de shinobis de Suna certo carregamento de couro até a capital do País do Fogo. Como era uma questão aparentemente do interesse de ambas as nacionalidades, nosso time foi enviado como escolta diplomática.

 

A missão era ridiculamente fácil. Deveríamos encontrar o grupo de Sunagakure nos portões da Vila da Areia e escoltá-los até os containeres providenciados na capital do nosso país. Rápido e fácil, não? Ledo engano.

 

Quando nos recrutara para a missão o Sandaime não contara com o pequeno atrito de ideais entre um dos shinobis de Suna e eu. Coisa esta que através de uma simples frase fizera com que nosso adorável time fosse expulso da Vila da Areia aos pontapés, assim impedindo o acordo comercial estipulado entre nossos daimyos. Ah, sim, o Terceiro teria razões consideráveis para querer me enterrar vivo sete palmos abaixo da terra quando chegássemos a Konoha.

 

Jiraiya-sensei sentou-se, chutando um punhado de terra do chão arenoso e apoiando a cabeça na mão, o cotovelo por sua vez no joelho. Protegeu os olhos com a outra mão, fazendo uma espécie de concha. Por um momento eu achei que a frase a seguir havia sido dita pelo vento quente.

 

“Por que o que aquele moleque disse te afetou tanto?”

 

Optei por alegar insanidade temporária durante vasta quantidade de tempo... Mais ou menos por uns treze segundos. Porém, ao receber certa indicação psicológica que aquilo não seria válido, apenas suspirei, jogando a resposta no ar.

 

“Porque ele me irritou.”

 

“Você passa longe do tipo esquentado, isso está mais para o Hiroshi.” Ele disse, fazendo menção do membro mais velho da nossa equipe. “O garoto só falou mal do monumento Hokage, nem todo mundo tem a obrigação de gostar da nossa vila, Minato.”

 

“Ele desrespeitou os fundadores de Konoha.”

 

“Não, ele só disse que era burrice erguer estátuas gigantes, porque uma hora ou outra elas irão desabar.” Eu podia sentir o olhar do sensei formando uma cratera na minha nuca. Era nessas horas que encarar um Sannin se tornava muito difícil. “E é verdade. Nenhuma estátua resiste intacta eternamente.”

 

“Eu sei,” Mordi o lábio, tentando encontrar um motivo racional para o que fizera. “mas é que...”

 

“Você tem um problema em ver as coisas terem um fim, não é?”

 

Era isso, ele estava falando da minha família de novo. Kuso. Só porque os Namikaze haviam sido torturados e chacinados em um mar de sangue em frente aos meus olhos quando eu tinha por volta dos quatro anos de idade e eu tinha sido forçado a olhar enquanto minha mãe e minhas irmãs eram estupradas e mutiladas e meu pai e meus irmãos eram queimados vivos ou eram escalpelados ou tinham os membros destroçados, e eu havia sido forçado a asssassinar dez homens, isso não era nenhuma explicação lógica ou analítica para que eu viesse a ter algum tipo de trauma psicossomático ao ver as coisas acabando ou ruindo ou se quebrando ou... Sem dúvidas eu não tinha problema nenhum. Jiraiya-sensei estava viajando cem por cento na pura e insípida maionese.

 

“Não tenho problema nenhum, Sensei.”

 

Ele me ignorou, tirando a mão da frente dos olhos e focando o olhar na luz por dois segundos antes de piscar.

 

“Qualquer dia desses até o sol vai deixar de esquentar nossas cabeças.”

 

“Eu prefiro não pensar nisso.”

 

Levei um pescotapa automático.

 

“Gaki, entenda que nada dura eternamente. Mesmo esta árvore que parece sólida e cheia de vida um dia irá sucumbir à força do tempo e cairá exausta.” O gama-sennin apontou vagamente para o cedro-do-líbano, sem nem ao menos tentar amenizar seu discurso com um tom de brincadeira. O que era difícil de acreditar, pois esta era a forma que ele encontrava de nunca levar as coisas realmente a sério, mesmo ao tratar de assuntos delicados. Porém, pouco antes que eu pudesse perguntar qual era o ponto daquilo tudo, ele continuou. “Nada é pra sempre.”

 

Eu o olhei sem entender, uma sobrancelha se levantando e encontrando apenas a indagação.

 

“Mas árvores como essa são centenárias. Demoram muito para mor-...” De repente constatação cruel me atingiu, fazendo meu rosto empalidecer por alguns graus de branco. “Jiraiya-sensei vai morrer?”

 

Ele me enviou um olhar curioso, meneando a cabeça negativamente.

 

“Não, gaki, não é isso.”

 

“Então...”

 

“Minato, sente aqui.”

 

Meus olhos encontraram os dele de forma suspeita, enquanto o Sannin me indicava o espaço livre ao seu lado e longe da sombra da árvore para sentar. Eu o encarei por alguns segundos, implorando-o com o olhar que fossemos para a sombra, mas ele fingiu que não percebeu.

 

“Ero-sensei...-”

 

“Ouça.” Me calei, surpreendido pelo súbito tom de urgência naquele comando. “Tudo tem um tempo limitado por aqui, garoto. A partir do momento em que passa a existir tudo neste mundo também é fadado a morrer. Mesmo você tão jovem e cheio de gás; mesmo eu. No universo em que vivemos, onde o tempo é contado por algo muito mais significativo do que por um relógio... As coisas e as pessoas se vão muito depressa, e por isso você deve estar sempre pronto, constantemente preparado para ver tudo cair em frente aos seus olhos e não morrer de dor.” Ele me olhou com intensidade, e eu desviei outra vez. “Do jeito que você se mostrou hoje em relação à perda, se perdesse alguém não suportaria. Você morreria sufocado pela tristeza, Minato, e você não pode agir como está agindo. A morte é algo natural e da qual ninguém escapa, mas é ela que nos faz dignos de estarmos agora andando nessa terra. Justamente porque temos um corpo limitado e um tempo finito.”

 

“Não existe nada de bom na morte.”

 

Ele sorriu com o meu comentário curto.

 

“Ah, existe sim. O verdadeiro mérito de um shinobi não está em como ele vive, e sim como ele morre... Não é o que ele fez durante sua vida, mas o que ele fez minutos antes de morrer que prova o seu valor. A morte engrandece o homem.” Sorriu outra vez, colocando uma mão pesada na minha cabeça. “Um dia um de nós pode deixar o outro, e a saudade dói muito e não tem mais como voltar atrás. Irá doer, mas às vezes será necessária de sentir, boa de lembrar. Porque se não houver saudade... Isso significa que quem se foi nunca importou realmente.”

 

Ficamos em silêncio por alguns minutos enquanto o suor escorria pelo meu pescoço.

 

“Por que está dizendo isso?”

 

“Porque essa é uma das lições essenciais que se deve aprender na vida, e um dia você terá que dizer o mesmo para alguém.”

 

“Para quem, por exemplo?”

 

Jiraiya-sensei sacudiu a mão, fazendo uma farofa no meu cabelo.

 

“Para seus filhos.”

 

Espera um pouco... O quê? A palavra me pareceu estrangeira. Filhos?! Os meus planos eram de me tornar um ninja lendário ou um hokage - ou na melhor das hipóteses um hokage lendário. Neles não havia lugar para um conceito tão ultrapassado e desgastado como... filhos.

 

“Eu não vou ter filhos, vou ser como Jiraiya-sensei. Solteirão, pegador e lendário.”

 

Cinco minutos se passaram até que o homem ao meu lado tivesse forças para recuperar-se de seu ataque de riso. Não deu a mínima para minha cara de ofendido. Riu quase até se mijar.

 

“Sinto muito te desapontar, gaki, mas você não é como eu.” Eu o enviei um olhar mortal. “Ah, não se preocupe, não é uma crítica! Você é do tipo que em um piscar de olhos já vai estar casado e com vários Minato-chibis pulando pra todo lado.”

 

“Sensei fala como se eu fosse reproduzir como um coelho...”

 

“Sinceramente, eu já posso até imaginar a cena!” Ele fez uma de suas poses ridículas e eu estreitei os olhos em reprovação. “Você e sua esposa fazendo bodas de ouro e populando o planeta. E então, quando ambos estiverem em uma idade avançada...-”

 

“-...e eu for um Hokage lendário...”

 

 “Tá, e você for o Hokage mais lendário que Konoha já viu... Assim está melhor?”

 

“Sim, está de bom tamanho.”

 

“...você e sua esposa irão morrer ambos ao mesmo tempo, de mãos dadas, realizados e felizes com a vida que tiveram.” Levantou as mãos e fez um ‘tadã’. “O que acha? Final perfeito para um livro de romance, não?”

 

Eu sorri, apoiando a mão na cabeça e desistindo internamente.

 

“Tirando a parte dos filhos.”

 

“Minato...”

 

“Sensei, colocar um bebê nesse mundo cheio de guerras e conflitos...? Fazendo isso talvez eu só esteja repetindo os mesmos erros.” Suspirei. “Sujeitar uma criança a um mundo desses em que vivemos deveria ser ilegal.”

 

“Você se considera infeliz?”

 

Parei, aturdido. Eu nunca havia olhado as coisas sob esse prisma. Era verdade, o mundo era cruel e as pessoas poderiam ser terríveis. Mas... Eu não era infeliz. Por mais que ser um shinobi fosse uma carga pesada, havia momentos bons. Havia pelo que lutar e pelo que viver. Havia... vida.

 

“Acredito que não, gaki. E sabe por que eu sei? Porque diferente de muitas pessoas, quando você sorri o seu sorriso não é superficial. Você sorri com o que está aí dentro, você sorri de espírito e verdade.” Abri a boca para protestar, mas fechei-a de novo ao perceber que não tinha argumentos. “Você fala do futuro como se fosse um dar um passo no escuro... Mas não precisa ser assim. E pra que não seja, é só você trabalhar dobrado para dar aos seus filhos o que seus pais não tiveram a oportunidade de te dar. Assim, quem sabe? Se não tendo tudo o que deixou de ter você ficou desse jeito, essas crianças vão mudar o mundo shinobi se viverem o bastante! Com essa sua perseverança bizarra eu tenho certeza que você vai ser um ótimo pai!”

 

Houve silêncio, até que nós dois caímos na gargalhada e deixamos a conversa de lado pelo o resto do dia, indo disputar a sombra com Hiroshi e Reita. Porém, durante anos aquilo que Jiraiya-sensei disse ficou comigo, martelando em minha cabeça ciclicamente. Dar aos meus filhos o que eu não tive? Isso era coisa demais, tanta coisa que eu achava que nunca ia conseguir suprir. Eu havia perdido meus pais muito cedo. A mim faltaram coisas durante o meu crescimento, coisas que eu não sabia se estaria algum dia pronto para dar a alguém. Amor, cuidado, valor, carinho, afeto, e acima de tudo...

 

Proteção.

 

Foi por isso que no dia em que você nasceu, quando saí do hospital sendo arrastado por Jiraiya-sensei para bares... Eu achei que seria preso a qualquer momento. Como poderiam permitir que no dia seguinte eu saísse daquele hospital em liberdade?

 

Descendo as escadas da maternidade eu tinha certeza que não iria agüentar a pressão. Do nada iria começar a gritar algo do tipo ‘Gente, eu estou com uma criança, como é que vão me deixar sair daqui com uma criança?!’

 

Como eu poderia tomar as decisões certas e saber o que deveria ser feito? Quem era insano o suficiente para achar que eu saberia como cuidar de um bebê? Quem poderia realmente achar que eu seria um bom pai? Quem em sã consciência poderia pensar que eu seria capaz de proteger uma criança desse mundo? Eu não pudera nem ao menos impedir a morte de Obito. Eu permitira que Madara envolvesse Konoha com seu véu de destruição.

 

E eu sabia destroçar corpos. Eu sabia o ponto certo em que pressionar a carótida para impedir a condução do oxigênio para o cérebro. Eu tinha mil maneiras de matar alguém das formas mais obscuras, lentas e dolorosas possíveis. Eu sabia tirar uma vida... e não criar uma.

 

E por isso, virando um copo de sake eu sussurrei para mim mesmo algo do tipo...

 

Deus... Estou perdido...

 

Porém, isso foi antes de tudo. Antes que eu olhasse nos seus olhos e tivesse uma vontade incontrolável de construir uma redoma ao seu redor. De colocar você em um pedestal inalcançável por qualquer um que quisesse te tocar.

 

Mas esse não era o momento. Nesse momento outra coisa estava acontecendo. Eu não estava te protegendo, eu estava te jogando no olho do furacão. Mergulhando com você direto na cova dos leões.

 

Agarrei o pêlo da raposa com a mão esquerda, a mão direita te segurando na minha direção de modo que você ficasse com o rosto contra o meu peito. O rugido do demônio me bombardeou, me deixando completamente surdo apesar de eu ter me encolhido ao seu redor. Nem mesmo o seu choro conseguiu chegar aos meus ouvidos. Meus sentidos estavam sobrepujados, inconscientemente eu fechara os olhos em auto-preservação.

 

Abri-os e fitei a raposa por um seg-...

 

Por uma fração de segundo, porque foi como um clarão. Como um raio que me atingiu de forma fulminante em seus milhões de volts, - uma dor excruciante explodiu por todo o meu corpo me impelindo a fechar os olhos novamente. A força usada para tirar a Kyuubi de seu corpo era uma agonia que eu nunca havia presenciado antes; dor intransponível, chicoteando de cima a baixo e por dentro e por fora, através de todos os meus nervos.

 

Meu sistema nervoso implodiu, obrigando meu coração a bater como louco e a enviar o sangue com uma pressão aterrorizante para todas as minhas células. Completamente subjugado, meu cérebro não conseguiu registrar tanta dor. Cada terminação nervosa do meu corpo era um supercondutor de agonia desesperadora.

 

Doía. Queimava.

 

Os músculos queimaram como se o inferno inteiro estivesse ardendo dentro de mim. Minha pele parecia em chamas, tostando de forma tal que seu incêndio próprio parecia descascar cada pedaço da superfície. A tensão entre os meus tendões estava tornando o seu pequeno peso estafante, torturante, cruel. Era doloroso. Era inconcebivelmente doloroso segurar você. Tocar você... Estava ardendo, estava queimando... Como se a qualquer momento eu não fosse suportar e acabaria por te largar.

 

Naquela hora eu esqueci tudo. Esqueci meu propósito, esqueci onde estava, esqueci o que estava fazendo e o porquê. A mão do Shinigami estava me atravessando através do peito e por conseqüência também passando pelo seu abdômen. Ela estava trespassando impiedosamente nós dois como se nos empalasse. Mas no Shiki Fuujin, independentemente do inimigo o feitiço virava contra o feiticeiro. Eu era o invocador, eu era o contratante. Eram os meus braços e pernas que pareciam estar sendo arrancados como se fossem membros de um boneco.

 

O Shinigami sorriu macabro, olhando para mim.

 

Era assim que funcionava, este era o seu contrato de sangue. Para selar a Kyuubi ele me esmagaria até tirar a última gota de chakra, o último traço de força existente. De cima para baixo, do início ao fim, por todos os lados. Do meu corpo, da minha alma, eu o dei o controle. Todo o controle para que ele me consumisse de dentro para fora.

 

E foi o que ele fez.

 

Eu queria gritar, externar aquela dor de alguma forma além dos solavancos que me faziam tremer de dentro pra fora. Mas não consegui emitir nenhum som além de um gemido inaudível, como se isto fosse me consumir energia que estava focada apenas em suportar o jutsu.

 

Abri uma fresta dos olhos, a raposa estava completamente paralisada e olhando para mim com um brilho bestial e demoníaco. Rugindo ferozmente em profunda e completa hostilidade, esperando o momento em que poderia me esmagar de vez. Eu podia ver sua tentativa vã de soltar-se conflitando com a força triturante que estava sendo usada para arrancar sua alma corpo afora, a mão do Shinigami saindo de nós fazia um pequeno trajeto até o bijuu. Aos poucos, bem devagar, com uma velocidade torturantemente lenta... Cada segundo trazia o espectro da alma da Kyuubi para fora, prestes a ser capaz de atravessar por nós e...

 

E eu não agüentava mais aquilo. Já era o bastante, tudo o que eu queria era perder a consciência o suficiente para não saber mais o que estava acontecendo.

 

O conjunto da minha existência não valia o suficiente para gerar toda aquela dor.

 

Eu não valia o suficiente.

 

Era uma tortura silenciosa e eu não tinha a permissão nem para gritar, só tinha a força necessária somente para permanecer ali com uma das mãos no monstro e a outra te segurando obstinado, enquanto carbonizava vivo. Cada célula do meu corpo parecia estar se queimando até virar pó. A dor era suficiente para me derrubar, para quebrar cada um dos meus ossos com um único golpe, para me reduzir a lixo espacial.

 

Eu não queria a dor, eu não queria mais nada daquilo. Eu só queria me livrar dela, expulsá-la pra longe. Qualquer coisa que a tirasse de mim e fizesse parar de queimar.

 

Eu queria morrer. Entre todas as vezes que eu estive às portas da morte durante a guerra... Por que ninguém me matava quando eu queria morrer? Eu levantaria minhas mãos e clamaria por morte se a dor não estivesse me dobrando e me partindo ao meio.

 

Trinquei os dentes com uma força tal que imaginei se eles se quebrariam. Mas eu queria que eles se quebrassem. Qualquer outra agonia seria melhor do que essa - qualquer uma que fosse capaz de redirecionar a atenção infalível que os meus nervos sensitivos estavam dando a ela.

 

Mas não, ainda não tinha acabado. Ainda estava pela metade... Ainda faltava. Porém, alheio a isto meu corpo estava me traindo, meus braços estavam me sendo desleais. Independentemente da demanda eu estava escorregando, caindo, prestes a ficar de joelhos...

 

Um sussurro de ódio chegou aos meus ouvidos através do choque de sensações agonizantes. Um sussurro que dizia que eu devia cair de uma vez. Que eu devia parar de agir tão teimosamente, já que no fim, tudo seria inútil. Eu morreria uma morte inútil. Eu não seria capaz de salvar ninguém.

 

Por um momento que me pareceu extremamente longo eu considerei esta verdade como absoluta.

 

Eu estava derrotado. Meus dedos dos pés estavam se curvando para trás, se encolhendo dentro da sandália. Meu coração estava rugindo tão intensamente contra minhas costelas quebradas que os pedaços pareciam estar perfurando-o.

 

Mas não eram os ossos, não... Não. Era a minha falta de força. Era o fato que eu estava desistindo que já estava penetrando no meu coração; com uma dor que já era física.

 

“O verdadeiro mérito de um shinobi não está em como ele vive, e sim como ele morre... Não é o que ele fez durante sua vida, mas o que ele fez minutos antes de morrer que prova o seu valor.”

 

Se era assim... Eu estava ferrado. Não era dessa maneira, não era desse jeito que eu queria morrer. Deixando a minha vila desprotegida e surrada por um demônio? Deixando meu filho órfão e à mercê da Raposa de Nove Caudas? Deixando todos para trás como uma falha, um erro, um pivete que tivera o título de Hokage apenas para tomar decisões erradas e assinar papéis estúpidos? Não era assim...

 

Não era dessa forma que eu devia acabar.

 

Kuso... Eu vou morrer...

 

“Escrever essa história foi uma total perda de tempo.”

 

Arregalei os olhos para meu sensei sem acreditar.

 

“Ah, não fale isso. Eu achei o máximo! Cada capítulo parece mesmo com uma página da sua vida, Sensei. É quase como uma autobiografia.”

 

Ele me observou - ainda meio incrédulo - segurando seu livro nas mãos.

 

“É, mas... Eu não vendi nada. Talvez eu devesse tentar colocar algo mais sedutor na seqüência... Esse é o meu forte, no fim das contas.”

 

Abri o livro, folheando suas páginas outra vez. Entre toda a pressão da investigação dos Uchiha, o livro de Jiraiya-sensei havia sido a única coisa naqueles dias de loucura que tinha sido capaz de tirar uma parte da tensão de cima de mim. Era assim que eu queria ser... Exatamente como o ninja daquele livro. Irredutível, fiel e capaz. Insistente.

 

Perseverante.

 

“A forma como o protagonista se recusou a desistir, mesmo no final... Aquilo foi muito digno. Ele é exatamente como você, Sensei.” Ouvi o barulho de Kushina lavando a louça na cozinha. “Por causa disso eu estava pensando... Nós queremos criar nosso filho para ser como o shinobi desse livro.”

 

Era isso mesmo...

 

Naruto,

 

Seu nome foi inspirado em um ninja que nunca desiste.

 

“Assim, quem sabe? Se não tendo tudo o que deixou de ter você ficou desse jeito, essas crianças vão mudar o mundo shinobi se viverem o bastante! Com essa sua perseverança bizarra eu tenho certeza que você vai ser um ótimo pai!”

 

Abri uma fresta dos olhos novamente, a pressão sobre mim me rasgando como uma fina folha de papel. Não, eu não tinha me enganado, o meu chakra estava desfalecendo junto comigo, e assim a Raposa já havia conseguido puxar parte de sua alma de volta para dentro.

 

Aquilo me irou. Porque poderiam quebrar meus ossos, meu orgulho, minha vida. Mas não se quebra a vontade de um shinobi. Não se quebra o amor de um pai. E assim eu procurei desesperadamente por uma reserva de força. Por qualquer coisa que me levasse além, a nível mais profundo de garra.

 

Naruto,

 

Eu o amei muito antes que você abrisse os olhos pela primeira vez, e vou amá-lo muito depois de fechá-los. Ninguém nesse mundo possui o poder de te arrancar do meu coração.

 

Nunca volte atrás com sua palavra.

 

Nunca desista, não importa quão terrível seja a situação.

 

Este era o caminho ninja do shinobi daquele livro, e era exatamente assim que eu queria que você fosse. E se era assim, antes que você fosse, era desse jeito que eu tinha que ser.

 

Meus olhos fecharam involuntariamente e um rugido mais alto aplacou a minha surdez. Eu sorri, sabendo dessa forma que agora era o demônio que estava perdendo. Perdendo para sempre em nosso combate eterno.

 

“Eu já disse, não se atreva a se meter comigo, Raposa-chan... Porque eu não posso parar por aqui... Porque eu não volto atrás com as minhas palavras... Esse é o tipo de ninja que eu quero ser até o final...”

 

Outro rosnado enfurecido.

 

“Kyuubi...?”

 

“O quê?!”

 

“Vá pro inferno.”

 

Um estampido ressoou pelo ar espesso. Eu vi quando a mão do Shinigami puxou em um impulso toda a alma da imensa Raposa de Nove Caudas para fora, que atravessou por nós dois. Primeiro através de você, deixando em seu pequeno corpo a parte Yang, metade do monstruoso chakra do demônio. Logo após passando por mim, invadindo e mexendo com a minha estrutura, arrancando as minhas entranhas e tomando seu lugar. Na minha pele, no círculo deixado pelo buraco do colete jounin desenhou-se o selamento final do Shiki Fuujin. A espiral negra do fuuinjutsu.

 

Você gritou. Eu caí de joelhos. Meus braços cederam sem forças e eu te soltei, em tempo para que o sapo o agarrasse e começasse o processo de Kage no Fuuin. Usando como base o que eu fizera no pergaminho, ele selou por completo o chakra da Kyuubi em você, o duplo selamento de Hakke no Fuuin Shiki e Shishou Fuuin. Você gritou novamente. Eu caí no chão de vez, a ilusão de escuridão desaparecendo ao nosso redor, assim como todos os traços de que um dia o corpo da Kyuubi - a lendária Raposa de Nove Caudas – estivera em Konoha.

 

Por um momento a ausência da dor foi tudo o que eu pude compreender.

 

O excesso de luz estourou nos meus olhos e eu vi, a paisagem inteira estava queimada até não restar nada. A única coisa que havia sido deixada para trás era eu, um homem quase morto nadando no meio de terra e sangue com um bebê chorando ao seu lado. Eu quis alcançá-lo, eu quis me mover... Eu queria te tocar e te dizer que iria parar de doer e que iria ficar tudo bem, mesmo que não fosse verdade. Eu queria limpar suas lágrimas e tirar a dor que aquelas marcas pelando como fogo estavam fazendo na pele do seu rosto, como os pêlos de uma raposa.

 

Depois da morte da minha família eu havia levado anos para me conformar que estava sozinho. Você não teria nem dias. E ainda assim ou eu havia te abençoado com poder inimaginável ou te amaldiçoado para uma vida inteira de miséria...

 

Tudo o que eu queria era ser capaz de estar lá para ver qual dos dois seria verdade.

 

Mas...

 

Eu estava morrendo.

 

Morrendo de verdade.

 

E não havia nada que podia ser feito quanto a isso.

 

Minha mente estava aérea, meus olhos estavam querendo se fechar sozinhos. Toda a dor que antes explodia pelo meu corpo em ondas agonizantes havia desaparecido completamente. Não havia mais dor para me manter acordado.

 

Ah, não, não! Me dêem a dor! Me dêem de volta a minha dor! Eu prefiro mil vezes a dor a isso! A minha parcela de culpa por ter pedido o fim da dor me golpeou como um soco no estômago.

 

Eu queria a dor. A dor era prova de que eu estava vivo.

 

Imagens difusas e desconexas como manchas de tinta cresceram na minha visão. Uma delas eu reconheci vagamente como sendo Jiraiya-sensei, mais pela sua voz do que por seu rosto. Ele me ergueu do chão e logo eu não estava mais de cara na terra. Não havia dor, não, não havia. Mas a minha garganta estava se fechando. Eu mal podia respirar. O sangue estava se avolumando e escorrendo pelo canto da minha boca.

 

Gotas de água com sal estavam caindo sobre mim, as palavras dele estavam confusas. Mais outras duas pessoas estavam ali... Talvez Kakashi. Talvez Sarutobi-sama. Eu não sabia, não conseguia entender o que eles diziam. A escuridão estava me chamando, me puxando, me vencendo... E eu estava morrendo.

 

Não, por favor...

 

“Minato-sensei!”

 

Sim, era Kakashi. Ele tinha nas mãos um mini-pergaminho? Ah, é. Era a chave do selo, o seu duplo selamento. E onde estava você? Onde diabos estava o meu filho? Eu me mexi como um zumbi, tentando mover meu campo visual, tentando achar você. Havia pouco tempo, eu sabia... Eu sabia que logo a minha alma estaria toda trancada.

 

Mas o meu ar estava acabando. E eu estava sufocando. E você não aparecia. E todos estavam falando ao mesmo tempo e eu não conseguia ouvir o seu choro, chikuso, calem a boca, parem de falar um pouco, onde? Onde...?

 

Virei para o lado em um acesso, cuspindo o sangue e respirando convulsivamente. A saída do líquido liberou a minha voz, me deixando falar por um tempo curto. Com minha afobação a visão girou, e eles pararam de gritar todos ao mesmo tempo para tentar me socorrer.

 

“Sen...sei...”

 

“Minato! Não fale!”

 

“N-não.” Apontei para mim mesmo. “C-chakra Yin... Naru-...”

 

Engasguei no meio do seu nome, o que deixou todos eles apavorados.

 

“Fique parado, não se mova! Me ouça uma vez na vida!”

 

Eles ainda achavam que eu ia sobreviver?

 

“Naru...to... Cha...kra Yang... Chave...”

 

Apontei fracamente para Kakashi, que segurou o pergaminho na minha frente. Sarutobi-sama olhou para mim, em seguida olhando de volta para o pergaminho por cima do ombro do meu aluno, que o abriu com mãos ágeis. Em uma rápida olhada aparentemente entendendo o recado.

 

“A chave do selo serve para reforçar o Hakke no Fuuin Shiki quando estiver se desfazendo, e também para enfraquecer o Shishou Fuuin, permitindo que o chakra da Kyuubi se misture ao de Naruto.” Eu confirmei, meneando a cabeça devagar. “Isso é perigoso, Yondaime. Quem vai ficar com isso?”

 

Jiraiya-sensei deu uma olhada mortal para o Sandaime. Ele ainda não estava pronto para assumir que eu não poderia ficar com a chave porque estava morrendo.

 

“Sin-...to muito..., Jira-...iya-s-senzei...”

 

O rosto dele se contorceu de dor. Ele fechou os olhos segurando a minha mão, tentando aquecê-la inutilmente.

 

“Não vá sentindo muito. Eu quero que você vá se sentindo orgulhoso.”

 

O sangue estava começando a tomar minha voz de novo. Eu estava engasgando no líquido outra vez, minha visão escurecendo, o ar ficando mais difícil de entrar. Agora ele raspava nas laterais da minha garganta, arranhando, ardendo.

 

“S-sensei... Kyuubi... Não foi um des-stre ...natural...”

 

Não deu tempo.

 

O ar me escapou dos pulmões, e eu falhei em inalar o oxigênio que manteria minha consciência por mais alguns segundos. Minha garganta estava queimando, a ardência descendo pela traquéia e inundando os alvéolos.

 

Minha visão começou a ficar cada vez mais turva, caótica, até que placas negras de escuridão começaram a tomar meus olhos e a denegrir a imagem. Eu lutei com tudo o que tinha contra a entorpecência, eu sabia que quando fechasse os olhos seria para sempre. Eu ainda tinha o que falar. Eu ainda tinha muito pra dizer.

 

Deus, por favor! Por favor, ainda não!

 

Ainda existem muitas coisas que eu quero fazer. Eu não posso morrer ainda.

 

Não, não, NÃO!

 

Alguém, por favor, alguém me ajude a ficar de olhos abertos!

 

O desespero da falta de ar asfixiante não era nada comparado ao terror de ir sem saber o que aconteceria depois que eu fosse. A escuridão tomou meus olhos totalmente, parecendo ser mais sólida do que deveria. Um som estranho saiu da minha garganta, provavelmente um gemido de tristeza.

 

Senti um pequeno peso sobre o meu peito, uma forma que se movia e chorava. Alguém havia te colocado no meu colo e cerrado meus braços ao se redor. Agradeci mentalmente, chorando como uma criança, as lágrimas escorrendo incontrolavelmente pelos meus olhos enquanto eu ainda tentava forçar o ar a entrar com um som rouco, arranhado. Inútil. Eu ainda tinha que te ver... Pelo menos por uma última vez. Te dizer que te amava, que estaria sempre contigo...

 

Deus, por favor, por favor...

 

Mas meus sussurros de súplica não chegavam à superfície - eles eram mudos, como se eu estivesse aprisionado em alguma outra parte da minha mente que já não estava sob o meu controle.

 

E agora não era só o sangue, eu estava engasgando no líquido que se formava dentro dos meus pulmões. O oxigênio que estava tentando inalar agitou a água e fechou minha garganta.

 

Eu não queria ter que fazer você encarar esse mundo sozinho... Eu não queria te deixar.

 

Mas tudo o que pude fazer foi sussurrar para quem ouvisse, para que Konoha ouvisse, que deveria cuidar de você. Que esta era a última missão que seu Quarto Hokage a daria: prestigiar seu único herói vivo... Namikaze Naruto.

 

...Uzumaki Naruto.

 

Meus braços penderam. Eu pensei em Jiraiya-sensei. Pensei nos meus alunos. Pensei em Kushina. E pensei em você. O seu rosto foi o último rosto que eu vi antes que minha alma desaparecesse.

 

Sabe, Naruto, eu também perdi meus pais muito cedo, mas tive muitas pessoas que estiveram lá durante a minha vida. Jiraiya-sensei... Sarutobi-sama... Tsunade-sama... Kakashi... Eles e todas as outras pessoas que formam o corpo de Konoha me acolheram quando eu não tinha nada que pudesse dar em troca. E foi por causa deles que esse eu que não tinha nenhuma posição social ou poderes fora do comum... Que até mesmo esse eu que não tinha nada para oferecer cresceu forte e digno, e no fim se tornou capaz de protegê-los.

 

Eles estiveram comigo durante todo o meu trajeto, cada um a sua maneira. Eles me fizeram quem eu sou hoje, e foi por eles e para eles que eu fui capaz de dar a minha vida. Você viverá em Konoha. Você será parte deles e eles serão parte de você. Desta forma eu sei que mesmo depois da minha morte alguém estará ao seu lado acompanhando a sua rota.

 

Por isso você não precisa ter medo...

 

Eu sei que não poderei estar aqui como prometi, e eu sei que haverá momentos em que a tristeza e a solidão irão querer te tomar. Porém, não se apavore. Até mesmo a tristeza tem que ter o seu lugar, porque nem tudo é alegria. Se tudo fosse alegria ninguém seria capaz de diferenciar os momentos bons dos momentos ruins. Tudo seria estéril e monótono.

 

Mas, Naruto, deixe seu pai te ensinar apenas uma coisa: a tristeza também não é eterna. Assim como o cedro-do-líbano e até mesmo a vida de um ser humano, por mais que se pareça sólida e intransponível, nada dura para sempre. A tristeza estará lá, os momentos ruins chegarão. As lutas, as dificuldades, as provações... Elas são coisas com o que a gente aprende ao passar pela vida e da qual ninguém escapa. Porém, saiba que nada é para sempre.

 

Por isso eu desejo que você seja feliz todos os dias, mas que às vezes sinta um pouco dessa tristeza, para que aprenda a valorizar a alegria.

 

Que você seja amado por muitas pessoas, mas que tenha pelo menos um que te odeie, para que aprenda a valorizar a quem te ama.

 

Que você tenha força para vencer as dificuldades do caminho, mas que pelo menos por uma vez leve uma rasteira da vida, para que aprenda a resistir aos temporais e a valorizar o seu esforço para ficar de pé.

 

Que você tenha muitos amigos em quem possa confiar, mas que pelo menos um deles te traia e te deixe, para que você aprenda a lutar por quem ama e a perdoar mesmo quem não merece.

 

Que você seja um bom shinobi, mas que acima disso seja um bom homem, e que aprenda que o mundo é feito de homens, sejam bons ou maus, e que às vezes eles precisam apenas de uma boa influência.

 

E que assim como me prometeu naquela ilusão... Que você seja feliz.

 

Porque chegou esta hora... Foi muito cedo, mas chegou o dia em que um de nós teve que deixar o outro. Eu sei, a saudade dói muito e o pior de tudo é que não tem mais como voltar atrás. A vida não é algo que possa ser como uma ampulheta, virada de cabeça para baixo e ter a areia retornada para seu lugar de princípio outra vez. O tempo não volta...

 

Por isso, irá doer. A solidão irá apertar e irá doer. Mas às vezes até mesmo essa saudade será necessária de sentir, boa de lembrar. Lembrar que um dia esteve lá, mesmo que apenas por um momento tão curto, uma memória tão frágil, tão fácil de ser esquecida... Tão difícil de se agarrar com as mãos... Mas esteve lá. Porque como aprendi com nosso Ero-sensei, se não houver saudade... Isso significa que quem se foi nunca importou realmente.

 

E essa é a certeza, Naruto - esta é a convicção que te fará seguir todas as vezes que você tiver que parar, coagular todas as vezes que sangrar, levantar todas as vezes que cair, sorrir todas as vezes que chorar. Sorrir um sorriso de espírito e verdade, e não apenas um sorriso superficial.

 

E sabe, talvez no futuro você também se torne Hokage. Talvez isso venha a se tornar o seu destino. Talvez isso venha a se tornar o seu sonho. Quem sabe esse não venha a ser... o seu caminho ninja?

 

Fui eu quem o carregou primeiro e você foi a última pessoa que vi antes de morrer. Você é o meu legado e o orgulho do meu coração. Você é a minha pessoa mais preciosa. Você é o meu filho.

 

Por isso... Por isso, diferente de mim, você precisa viver. Aqui eu morro e aqui você vive. Naruto, sobreviva...

 

Conta a sua história através de mim.

 

 

 

 

“Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu corpo. Porque o amor é forte como a morte e duro como a sepultura; as suas brasas são brasas de fogo...

 

“As muitas águas não poderiam apagar o amor, e nem os rios afogá-lo.”

 

Cantares 7:6-7a


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada a todos os que tiveram paciência para acompanhar essa história... Espero que gostem, digam o que acharam e leiam (não exatamente nessa ordem, isso seria estranho).
Como vocês devem ter reparado existem algumas indicações ao longo da fic, principalmente nesse capítulo que falam do passado do próprio Minato. Assim, como a história é narrada por ele vemos tudo através dos olhos dele, inclusive ele mesmo.
Por esse fato eu tive uma idéia para uma four-shot. Será uma fic ramificada dessa, contando quem é Namikaze Minato e o que aconteceu durante a vida dele, através dos olhos de quatro pessoas: Jiraiya, Kakashi, Kushina e por último Naruto.
Quem tiver interesse de dar uma olhada, ela se chamará "Aos Meus Olhos", e será postada em breve aqui no Nyah!.
Chega de alugar vocês! Muito obrigada, nos vemos na próxima esquina.
Pitty