Shiki Fuujin escrita por Pitty-chan


Capítulo 3
Parte Três


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada a todos os que acompanharam essa fanfic até aqui! Apartir de agora a história entra em sua parte mais crítica, e também onde a teoriazação é mais frequente. Falando francamente, tudo o que está aqui é na base da pura hipótese, do puro "guessing". Não me matem por isso. xD



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“Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca de sua alma?”

Mateus 16:26


Correndo com a maior velocidade que meu corpo me permitia, usei o que restava da minha presença de espírito para chegar até a fundação de pedra entre as árvores da floresta em chamas.

Lá, o chakra monstruoso de uma raposa-demônio se debatia contra os jutsus de sombra, controle de mente e toda sorte de ataque que ainda conseguiam atrasá-la debilmente, apenas ganhando pouquíssimo tempo. Suas caudas se sacudiam em ferocidade e formavam ondas de kamaitachi, que arrancavam árvores do solo e cortavam pessoas em partículas, como se nunca tivessem existido. Olhos vermelhos brilhavam puro fogo e olhavam furiosamente em todas as direções, enquanto eu pulava através dos galhos até aterrissar estoicamente no chão.

Observei. O monstro era algo quase indescritível. Seu rugido era ensurdecedor, como o som de águas volumosas. Seu tamanho era por si só aterrorizante. Seu chakra era selvagem e maligno. Mas o que traduzia aquela como sendo a visão do pior pesadelo de um homem era a expressão de seus olhos. Cruéis, maldosos, cheios de um prazer de mórbida devastação. Para mim estava claro que o monstro simplesmente se divertia com a nossa tentativa fútil de auto-preservação.

Por causa disso olhando para a raposa um pensamento rápido me passou pela mente: meus shinobis eram apenas homens e mulheres.

A Kyuubi se movia de forma diferente. Com aquele... Aquele passo naturalmente longo que devorava a distância e a carregava de forma tão fácil. Como se o bijuu fosse dono da terra abaixo de seus pés, como se todos os outros estivessem tendo apenas a benevolente permissão de usá-la.

E eles, os shinobis de Konoha, apesar de serem a força ninja mais sólida do mundo, eram apenas humanos.

E eu era apenas humano.

Qual é a definição da palavra ‘shinobi’? Ser shinobi é algo além de ser uma simples ferramenta, uma mera máquina de morte. Ser shinobi é ser humano. É ser um humano cuja alma cheira a sangue.

Mas isso não é algo que te ensinam, assim, no primeiro dia de aula da Academia. Não é nem ao menos algo que te ensinam no seu tempo de genin. Passam-se os anos e você percebe que é algo que nenhum sensei vai te ensinar.

Esta noção você aprende na carne; aprende sangrando e fazendo sangrar.

É algo que você só entende quando está cercado por cadáveres de pessoas com a qual se acostumou a conviver - respirando, se movendo, lutando lado a lado. E nem mesmo anos e anos sob o código shinobi são capazes de te preparar para esta visão. Mesmo todo o seu controle de emoções vacila quando você está rodeado pelos corpos inertes dos seus amigos.

Um, dois, três, quatro... vinte e sete, vinte e oito... sessenta e cinco... Perdi a conta, era impossível contar. Em um raio de setecentos metros computados a partir dos portões, uma quantidade inumerável de cadáveres se estendia como um tapete, um carpete carmesim. Um mar de sangue.

Jiraiya-sensei e Kakashi passaram correndo por mim, eu podia sentir o calor da batalha vagamente de onde estava. Mas algo parecia estar paralisando as minhas pernas e impedindo-as de seguir. Como se eu soubesse que se eu me movesse mais um centímetro à frente estaria assinando uma sentença de morte, como se estivesse deixando que algo precioso sangrasse até o fim.

E quem imaginava que isso um dia iria acontecer? Logo eu que sempre fui o primeiro a pular para a batalha, a terminá-la em um piscar de olhos. Mas só você pôde me fazer hesitar, só você foi capaz de fazer essa mudança em mim.

Segurando-o contra o peito com os braços consegui fazer um único selo, fumaça me indicando à minha frente que eu criara um Kage Bunshin com sucesso. Aquela era a única idéia que me passara pela mente, eu tinha ao menos que tentar.

O clone olhou de relance para mim e eu pude ver suas mãos se movendo em seqüência.

Serpente, Javali, Bode, Coelho, Cachorro, Rato, Pássaro, Cavalo, Serpente.

Esperamos. E esperamos. E esperamos mais um pouco.

Não aconteceu nada.

Neste momento eu tive vontade de acompanhar os gritos vindos da batalha, e gritar em frustração. O jutsu não havia funcionado, e todas as minhas suspeitas agora indicavam uma única e cruel verdade. O Shiki Fuujin era uma invocação que exigia um preço alto o suficiente para que um Kage Bunshin não pudesse pagar. Para que um Kage Bunshin não fosse capaz de invocar por si mesmo. Em troca, este jutsu exigia a única coisa que o meu clone não podia oferecer: uma alma.

Mordi o lábio inferior em profundo desespero, minha mente dando voltas frenéticas. Olhei para você e para a promessa que havia feito à Kushina meses atrás. Olhei para trás em direção à cidade devastada e para o juramento que eu havia feito quando me tornara Hokage. Eu teria que escolher entre viver por você ou morrer por Konoha. Que tipo de escolha infeliz era essa? Era como se te dessem a opção de decidir entre cair do vigésimo quarto andar ou do vigésimo quinto. Por que eu tinha que escolher entre algo ruim e algo pior?

Eu teria que pensar depois, ao longe pude ver o chakra deles se esvaindo rapidamente, como uma bateria que fora usada até o seu limite. Eles não agüentariam muito mais e em breve o monstro estaria estourando portões adentro. Ele fizera todo aquele estrago à distância, se entrasse a vila seria esmigalhada.

Corremos, eu mais atrás com você e o meu outro eu mais à frente. Enquanto eu me agachava e ia em direção aos portões para elaborar algum tipo de estratégia que não terminasse em total massacre, o clone saiu do meu campo visual.

Todas as memórias seguintes só vieram a mim no momento que o senti desaparecer.

Eu - enquanto Kage Bunshin - mordi o dedo, deixando um pouco de sangue escorrer e minhas mãos fluírem em uma seqüência de selos com prática. Concentrei chakra nos pés enquanto uma nuvem espessa de fumaça emergia do jutsu, e fui elevado ao ar no topo da cabeça do imenso sapo rei.

“Hã…? Minato?” Gamabunta disse, movendo seu cachimbo para o canto da boca. É provável que estivesse prestes a reclamar por eu tê-lo invocado no meio de um cochilo, mas estacou no chão quando um rugido ensurdecedor preencheu o ar da noite caótica.

“Oyabin, preciso de uma mão com aquilo lá.”

Ele olhou para a Kyuubi ao longe, meio descrente da realidade que seus olhos estavam querendo mostrá-lo.

“Para aquilo ali você vai precisar de um braço inteiro, não?”

“Creio que sim.” Eu disse, minhas mãos inconscientemente produzindo outra seqüência de selos. Ao menos não estávamos perto de nenhuma grande quantidade de água, dado aos estragos aquáticos que as nove caudas faziam, quase tão lendários quanto ela própria. Tsunamis e terremotos ao mesmo tempo seria coisa de outro mundo.

Gamabunta fixou seu olhar para a ameaça crescente durante algum tempo, antes de desembainhar sua espada.

“Minato,” O som caótico quase me impediu de ouvi-lo. “você tem um plano?”

Tentei tomar o fôlego que me faltava antes de responder, mas tremi perceptivelmente. Minha mente ainda estava em Kushina, em você e na destruição. Eu não sabia o que fazer. Ele compreendeu minha resposta silenciosa, e usando um Suiton: Teppodama disparou algumas balas de água em direção ao monstro.

Em resposta a raposa apenas os desviou com uma única cauda, sem se mover um milímetro do lugar, simultaneamente enviando outra onda de vento com outra cauda. Enquanto Bunta esquivava dos ataques, só não escorreguei de cima dele por estar concentrando chakra nos pés.

Nos aproximamos, finalmente ganhando toda a atenção da raposa-demônio.

Regra número quarenta e oito do código de conduta shinobi: Quando se defrontando com um oponente que não se pode vencer, deve-se recuar e reagrupar, ou atrasar o inimigo até que reforços cheguem.

Acontece que eu era o reforço.

Isso se provou ainda em maior verdade quando os rostos dos meus shinobis, soterrados em desespero, se aliviaram ao me verem despontar frente ao portão norte da vila. Era como se para eles a minha presença tivesse força segura de vitória.

“Nome.” Kyuubi perguntou, sua voz como uma torrente de água ressoando pelo ar espesso de fumaça e fogo. Eu já devia estar preparado para o fato de o monstro falar, mas ainda assim sua voz fez um arrepio me percorrer pela espinha.

“Yondaime Hokage.” Respondi, meu campo visual finalmente alcançando a quantidade total de mortos pelo chão. Mais da metade da força ninja de Konoha em pedaços. A visão fez com que todos os outros sentimentos confusos espiralassem dentro de mim, e se tornassem uma cascata de ódio.

“Pedi por seu NOME!”

Outro rugido ressoou pela atmosfera, um som destruidor por si só. Todos ao redor colocaram as mãos nos ouvidos, menos eu e Gamabunta, que continuamos a olhar fixamente para a Kyuubi. O ódio queimando no canto dos meus olhos enquanto eu ainda mantinha parte do olhar no meu eu verdadeiro e em você.

“Namikaze Minato.”

“Tu és um clone, Namikaze Minato.”

“Percepção sagaz, Raposa.”

Concentrei chakra nas mãos, formando uma bola de chakra giratório e destrutivo. Se ao menos eu pudesse causar ao demônio dano permanente considerável... Se ao menos eu tivesse algum tipo de plano concreto para lidar com isso.

‘Minato-baka’, eu quase podia ouvir Kushina dizer enquanto me dava um tapa na nuca em exasperação, exatamente como todas as vezes em que eu agia impulsivamente.

Ah, infernos do capeta, o Gama-Oyabin estava me dando cobertura. Ao menos aquilo tinha que contar para alguma coisa. Joguei uma kunai especial em direção à raposa, que imediatamente fez menção de desviar-se como se a intenção fosse acertá-la. Ao contrário, Hiraishin no Jutsu, fazendo jus à fama de relâmpago me transportei onde ela estava, e a bola de chakra aterrissou abruptamente no couro da raposa gigante. Ignorando qualquer outro movimento, empurrei o jutsu com toda a selvageria que pude acumular no corpo exposto.

“RASENGAN!!”

Um sorriso de satisfação passou rapidamente pelas minhas feições, enquanto o pêlo se espalhava e a carne se retorcia e cedia debaixo da minha mão direita. Sem perder um segundo, investi em um Raiton: Gian que penetrou na fenda, fazendo com que a carne que já sofrera dano chiasse e tostasse com um cheiro nauseante.

Meio segundo.

Foi o tempo que durou para que a Kyuubi desse a sua resposta. Enquanto eu ainda preparava um Katon para manter a ferida aberta, garras gigantescas vieram na minha direção e não me empalaram por outro meio segundo.

“SENSEI!”

O Hiraishin no Jutsu salvara a minha pele outra vez. Como um reflexo, Kakashi jogara a kunai que eu o dera no dia em que ele fora promovido a jounin. Sem pensar, me transportei para onde ela fora jogada, rolando no chão desajeitadamente.

Observei em frustração enquanto o dano considerável que havia sido feito pelo Rasengan era fechado em uma onda de chakra. Apenas prova do que eu já sabia que aconteceria: além de ser quase indestrutível a Kyuubi se curava rápido demais.

“Oyabin, temos que acertá-la enquanto ainda está se curando do dano anterior.”

“Eu sei.”

O sapo-rei disse gravemente, pulando e avançando com sua espada sobre a cabeça do demônio que passara a tentar nos ignorar e concentrar sua atenção em esmagar Enma e outro sapo gigante, kuchiyoses de Sarutobi-sama e Jiraiya-sensei.

Ao retornar a concentração para nós a raposa rosnou, e mesmo sob os ataques e amarras invisíveis conseguiu se desvencilhar, evitando a investida. Simplesmente para então avançar com suas garras em direção à barriga exposta do sapo abaixo de mim, libertando-se de vez dos jutsus que prendiam sua locomoção. Outra onda de kamaitachi dispersou totalmente os membros restantes do Clã Nara, e Gamabunta resmungou algo incompreensível, girando no ar e aterrissando em frente à Kyuubi, parte do tecido de sua roupa esfarelando-se pelo chão. Eles se olharam vagamente por um momento, até recomeçarem a lutar em um ritmo insano.

Batalha cerrada. Meus olhos vasculharam a área, fazendo com que o Sandaime-sama entrasse em foco novamente. Se ele estava ali isso significava que não havia um segundo plano. Realmente não havia outros meios de parar o monstro que não fossem através do Hijutsu do Shodai-sama. O mínimo que se podia dizer era que estávamos... muito ferrados.

“Minato, me empreste um pouco de fogo.”

Uma seqüência rápida de selos passou pelas minhas mãos enquanto ele se preparava para cuspir um jato de óleo.

“Katon: DAI ENDAN!”

“Katon: GAMAYU ENDAN!”

As pessoas ao redor se protegeram quando a imensa onda de calor passou por elas em um rugido retumbante, contornando as árvores que já queimavam sob o céu carregado de fumaça. Alguns ninjas produziram jutsus Fuuton, fazendo com que a rajada de fogo crescesse ainda mais.

Porém, mesmo antes que ela pudesse se dissipar, uma sombra gigantesca saiu por entre a fumaça, pêlo cheirando a cinzas e dentes afiados gotejando. Gamabunta não foi rápido o suficiente para sair do caminho e garras afiadas perfuraram sua pele.

Tudo o que pude sentir foi o impacto da espada gigantesca indo contra as costas da raposa e sendo refletido no chão. Terremoto. Mais fendas abrindo-se. Gritos preenchendo o céu, as garras da Kyuubi estraçalhando o couro liso de Gama-Oyabin.

Eu já estava à meio caminho de criar outro Ransengan em represália, mas ele foi mais rápido do que eu, me dirigindo um olhar significativo.

“Minato, aquele jutsu!”

“Oyabin?!”

“AQUELE JUTSU!”

Infernos com lasers à oitava potência. Minha última saída era aquele jutsu incompleto, que por algum motivo eu simplesmente não conseguia desenvolver totalmente. Antes da idéia do Shiki Fuujin grudar na minha mente, todas as minhas preocupações eram ligadas a tentar colocar meu chakra elementar no Rasengan. Esta fora a minha grande premissa desde que eu o criara. Eu sabia que ele se tornaria um jutsu imprevisível, mas extremamente forte. Destruidor, mas quase perfeito. Fuuton

Fuuton: RASEN-…!

Não deu tempo.

Simplesmente não deu tempo.

Som estrangulado de dor saiu como um sussurro da minha boca, enquanto eu mordi a língua na tentativa desesperada de não gritar, o gosto de sangue fluindo. Uma presa havia se cravado na minha mão direita, partindo a palma em dois com uma fatia de chakra vermelho. Uma dor que subia pelo braço com tanta intensidade que fazia os ossos latejarem em retaliação.

E depois nada.

A última coisa que vi foram garras me empalando no abdômen. O clone se esvaiu em fumaça, fazendo com que todas as suas memórias viessem como um flash imediatamente para a minha cabeça.

“Yondaime-sama, isso é suicídio!” Era a voz de um dos meus jounins num tom familiar, um tom que eu já havia ouvido milhares de vezes durante a guerra. Meu estômago revirou desconfortavelmente com as palavras.

Era o som do pânico.

Eu suspirei. Já estava esperando isso, apesar de ter tentado passar a mensagem da forma mais calma possível, levando em consideração a emergência da situação.

“Não se preocupem comigo.” Tentei dizer na minha voz mais tranqüilizadora, caminhando vagarosamente pra longe de todos e observando enquanto o meu clone desferia um Raiton: Gian no monstro, ganhando tempo. Eu não tinha certeza de que conseguiria mentir convenientemente com os olhos deles grudados em mim. “Quando eu der o sinal quero que façam como eu disse. Em seguida a ordem é para todos, sem exceção, baterem em retirada. Tenho um plano e enfrentarei a Kyuubi sozinho.”

Pausei por um segundo enquanto eles tentavam absorver minhas palavras, mudos de horror. Mas não era isso que estava na minha mente. Eu só podia ver os cadáveres ao redor, o remate final surgindo sombriamente como a luz no fim do túnel. A única pergunta era: quantas pessoas se machucariam até que eu finalmente chegasse lá? Eu não podia me dar ao luxo de deixar ninguém mais morrer enquanto a resposta estava em minhas mãos.

“Por isso, apenas esperem o meu sinal.”

Espaços vazios me preenchem com buracos. A luz nasce, morre e é tragada para o vácuo. Rostos distantes se aproximam, mas não têm foco. Vozes me dizem que eu deveria prosseguir, mas estou nadando em um oceano completamente só. Tropeço no silêncio, mergulhando, me afogando, sufocando. Onde estou, pra onde estou indo?

Alguém faz idéia?

Naquele dia eu tentei lutar como se eu nunca fosse ter que abandonar você. Te disse que estava tudo bem, mesmo sabendo que não estava. Te segurei nos braços e prometi que sempre te protegeria, mesmo sabendo que esta era uma promessa fadada ao erro.

E agora é como se eu estivesse preso entre a realidade e a ilusão, entre a verdade e a mentira, entre a vida e a morte. Acordado, mas como se metade do meu mundo estivesse dormindo.

Até que então o rugido me lembra.

“Namikaze Minato... Falta pouco para a sua criança morrer...”

Eu e a Kyuubi no ventre do Shinigami. Eu e a Kyuubi lutando eternamente.

“AGORA!”

Ao som do meu comando três ataques simultâneos entraram em ação, e o barulho infernal do urro da raposa fez com que você se assustasse no meu colo.

A tática não era intrincada, nem inteligente, nem por si só eficiente. Ao chegar nos portões da vila tínhamos nos dividido, e enquanto o clone ganhava tempo lutando com Gamabunta, circundei o campo de batalha avaliando as forças de combate que ainda estavam de pé. Dependendo do tipo de ninjas de que eu ainda dispunha poderia formar algum tipo de estratégia que não fizesse com que fossemos completamente chacinados.

Avaliei. A grande maioria que ainda era capaz de lutar eram ninjas de ataque à curta distância ou Tokubetsu Jounins, ninjas especializados. O que poderia ser feito?

Lutar à curta distância com um bijuu seria sinônimo de apunhalar a própria cabeça com uma kunai. Nenhum dos ataques elementais surtia efeito por muito tempo, nem mesmo o Katon dos Uchiha. O Rasengan acabara de falhar em frente aos meus olhos. A maioria já não tinha mais como concentrar chakra, e qualquer solução em que eu pensava era rapidamente convertida em uma inúmera lista de impossibilidades.

Eu sabia que tinha que pensar, mas minha cabeça estava cheia com o som de pânico da voz dos ninjas ao meu redor. Os segundos foram se passando enquanto eu lutava pra me controlar.

Pensar rápido... Pensar rápido. Pensar.

Não havia no que pensar. Minha mente estava dando voltas, tentando encontrar uma forma de sair desse pesadelo, mas não havia escapatória, não havia como adiar. Simplesmente não tinha outra saída, nenhuma outra alternativa. Ou era isso ou ver nossa vila afundar no chão diante de nós, Konoha no mais profundo abismo. Você no mais profundo abismo - onde a luz nasce, morre e é tragada para o vácuo. Isso eu não permitiria, haveria uma bola de neve no inferno antes que acontecesse, eu seria capaz de vender minha alma ao capeta antes que fosse possível.

Vender a minha alma...

Era hora de lutar de verdade. Era hora do Yondaime Hokage finalmente compreender para que havia se tornado Hokage.

“Quando se der por si será o seu sangue sendo sacrificado por Konoha.”

Lembrando das palavras de Orochimaru eu vi que invariavelmente esta era a única maneira. Namikaze Minato sempre havia dado o seu melhor no que fazia, eu sempre havia lutado com todas as forças. Mas uma coisa é certa... É só quando você decide proteger algo realmente importante que o verdadeiro poder shinobi aparece.

O clone desapareceu em tempo de libertar Gamabunta das garras da Kyuubi, e ele pulou para trás pressentindo o meu plano. Ao som do meu comando armas brancas presas à grossas correntes voaram pelo céu em uma chuva de metal, contornando e restringindo a raposa gigantesca. Rugindo e urrando ela tentava se livrar das amarras, sacudindo os elos com rajadas de vento, enquanto outras mais eram atiradas e substituíam as que haviam sido recém-partidas. Como uma brincadeira em que a única regra era que o último que se cansasse venceria.

Outro sinal foi enviado, fazendo com que a segunda parte do plano entrasse em ação. Ao meu segundo comando, enquanto o monstro lutava contra os pequenos focos ofensivos, todos os Tokubetsu Jounins especializados em barreiras executaram jutsus para tentar impedir o movimento do monstro novamente. Com o campo visual pude observar quando ao comando de Sarutobi-sama Enma executou o jutsu Kongou Rouheki, a Prisão Adamantina – centenas de bastões indestrutíveis circundando toda a raposa, que agora lutava contra três fontes poderosas de restrição.

Magen: Hyaku Kokoni Arazu no Jutsu.”

“Genjutsu: Kokuangyo no Jutsu.”

O murmúrio saiu dos meus lábios anunciando o nome dos genjutsus, e perdeu-se em meio aos urros do demônio. Agora além de tentar se libertar de todas as amarras, cem camadas de ilusão se revelaram em frente aos seus olhos, escuridão total, as caudas se sacudindo e me fazendo entrar em contagem regressiva. Tínhamos pouco tempo até que todas as correntes se partissem e a última camada de ilusão fosse destrinchada. Restaria apenas a escuridão desoladora.

“Todos os pelotões, bater em retirada!”

Com olhos arregalados de pavor os ninjas rapidamente começaram a se retirar da área, e eu pude sentir o olhar preocupado de Rin perfurando as minhas costas enquanto ajudava a equipe médica a evacuar os feridos. Para cada um eles das duas uma: ou eu realmente tinha um grande plano, ou a minha sanidade estava indo literalmente pro espaço. Mas independentemente das razões que fossem, todos acabaram seguindo as ordens do Hokage de uma forma ou de outra.

Assim, a área esvaziou-se quase por completo enquanto a Kyuubi rugia e se sacudia de forma maníaca, revirando-se em suas amarras e tentando desvencilhar-se também dos ataques de Gamabunta, que haviam recomeçado.

Ali, naquele momento, alguma parte analítica da minha mente me disse que era tempo de dizer adeus.

“É hora de fazer o que precisa ser feito, Gama-Oyabin.”

Ao som da minha voz o sapo gigantesco virou-se para mim, desprendendo sua atenção da raposa e do espetáculo que ela estava promovendo. É provável que ele tenha sentido as ondas de angústia poderosas que estavam sendo emanadas de mim, já que pude perceber o pesar surgindo no olhar dele.

“Não compreendo o que você pretende dispersando todos os shinobis.” Ele declarou enquanto eu segurava você obstinadamente, meus olhos pregados no monstro e o pensamento no que eu estava prestes a fazer. “É melhor deixar a criança com alguém ou não poderemos lutar.”

Ao contrário da sugestão de Bunta, eu o segurei contra o peito ainda mais firme instintivamente. Meu corpo estava congelado de terror, eu não conseguia fazer com que meus dedos o soltassem. Eu estava prestes a fazer algo irreversível, algo que me separaria de você para sempre! Naquele momento não poderia soltá-lo nem se quisesse.

Lentamente, bem lentamente, meus pensamentos começaram a transpor a parede de tijolos que o pânico havia construído. Para suportar. Eu não tinha escolha a não ser uma: usar o Shiki Fuujin e morrer. Eu não tinha garantias, nada que com toda a certeza pudesse manter minha vila segura. Eu só podia ter esperanças de que o jutsu funcionasse e que selar a Kyuubi fosse o suficiente.

Afastei o terror tão bem quanto pude, minha decisão estava tomada. Eu não ganharia nada perdendo meu tempo agonizando por causa do desfecho.

“Não, Oyabin, nós não vamos lutar. Existe algo que só eu posso fazer.”

“Minato, você não acha que vou deixar você lutar contra esse bicho sozinho, não é?”

Aos poucos ele começou a compreender o caráter de despedida que havia na minha expressão.

“Sim.” Minha voz quebrou. “Muito obrigado por tudo até hoje.”

“Não há de quê, menino.” Assistimos em silêncio por mais um momento enquanto os últimos shinobis deixavam a área, os gritos e os rugidos onipresentes em uma única melodia. Até que ele falou mais uma vez, em uma última tentativa. “Eu posso fazer uma invocação inversa e levar você e a criança a um lugar seguro.

“Isso está fora de questão, Oyabin, eu não vou a lugar algum.” As lágrimas começaram a se somar nos meus olhos novamente, mas eu não choraria ainda. Eu ainda tinha um longo caminho a percorrer.

Mas era impressionante como cada célula do meu corpo parecia saber que o momento estava chegando, o que dificultou as coisas. Eu me peguei tentando inventar desculpas pra ficar, pra aceitar a oferta de Gama-Oyabin, pra ser capaz de viver e vê-lo crescer antes de deixar que o meu destino escapasse por entre as minhas mãos. Porém, eu sabia que isso era impossível se eu quisesse que Konoha tivesse alguma chance de sobrevivência.

Ninpou: Bahaguran no Jutsu

E esta foi a última vez que vi Gamabunta.

Terremoto. Caudas. Rugido. Choro. Shiki Fuujin. Rugido. Raposa. Choro.

Shiki Fuujin.

Uma pesada e profunda nuvem de letargia passou por mim, e meus olhos se fecharam sem a minha permissão. Era como se a partir do momento que eu havia encontrado uma solução e me decidido por ela, meus músculos e a minha consciência tivessem relaxado, me deixando dormente. Não obstante, minha mente lutou contra a nuvem, se dando conta do que estava acontecendo. Forcei meus olhos a se abrirem e comecei a caminhar em direção à Kyuubi.

Estava tão concentrado no que ia fazer que não percebi que ainda havia pessoas ao meu redor. E que uma delas estava falando comigo, ou melhor, berrando.

“Minato! Você sabe que isso é um kinjutsu! Você vai morrer!”

O homem me alcançou, e me puxou firmemente pelo ombro tentando me parar, o que estranhamente fez com que o contato físico tornasse a sensação de dormência ainda mais forte. O pânico ficou nublado, desfocado.

“Está me entendendo?! Você vai morrer!!”

“Não importa.” Respondi encarando o chão que ondulava, minha cabeça baixa como se fosse pesada demais para que meu pescoço pudesse sustentar. Jiraiya-sensei estremeceu ligeiramente, uma onda de frustração passando por sobre ele e fazendo com que paralisasse onde estava.


“O que quer dizer com ‘não importa’?” Kakashi se aproximou, me encarando, prestes avançar na minha direção. “Importa para mim, importa para todos nós! E o seu filho?! Para ele, perder você vai ser tão terrível quanto perder seu próprio destino!”

“Mas não para mim.” Pela primeira vez. Pela real primeira vez eu o vi verdadeiramente louco de raiva, em vista do meu egoísmo. “Que escolha eu tenho?”

“Você pode escolher não fazer isso.”

“Não acho que esta seja uma opção válida.” Eu respondi saindo, andando novamente em direção ao ponto mais profundo da devastação, segurando você contra o peito com minhas mãos sangrentas.

“Sensei, você não está me ouvindo!”

Meu ex-aluno veio mancando atrás de mim, seus punhos contraídos em ambos os lados, quase desejando que eu continuasse discutindo com ele como Obito fazia.

“Não.”

“Por favor... Me ouça...”

Foi a minha vez de estourar. Será que não podiam me deixar fazer ao menos isso sozinho? Eu estava tentando lidar com o fato de que ia morrer e deixar você para trás. Estava tentando pensar claramente apesar do terror que preenchia meu cérebro. Eu queria neste momento estar livre para me sentir despedaçado em privacidade.

“Para que você diga o que, Kakashi?! Para que me diga que é uma péssima idéia, que é fora da razão comum, que eu simplesmente tenho que aceitar ver tudo sendo destruído em frente aos meus olhos?!” A despeito do meu autocontrole, a histeria estava borbulhando nas minhas palavras. Você recomeçou a chorar no meu colo, enquanto minha voz se elevava e eu passava a gritar a plenos pulmões, frustração corroendo meu interior como ácido. “Não posso, e você sabe disso!”

Eu tinha que escolher entre eu e te perder.

“Você ao menos parou para pensar no que está prestes a fazer?!”

“Não preciso pensar.”

“Precisa sim!”

“Não preciso não.”

Jiraiya-sensei pareceu sair de seu transe e voltar a me questionar antes que eu começasse a caminhar outra vez resolutamente.

“Minato, você nem ao menos sabe se esse jutsu vai funcionar. Isso é um erro!”

“Mesmo que seja um erro, Jiraiya-sensei... Você no meu lugar faria exatamente igual.”

Com isso Kakashi se calou e virou a cara, e eu pude jurar que estava chorando. Não tive tempo de sentir nada por ele naquela hora. Eu sabia que se tornaria um dos melhores ninjas desta geração e não precisava que eu me preocupasse.

Ao fundo vi Sarutobi-sama se aproximar e colocar a mão no ombro de seu e do meu discípulo. Seus olhos me diziam claramente que ele próprio não estava nem um pouco feliz com a decisão, mas que era obrigado a me apoiar. Eu sabia que mesmo sendo o Sandaime Hokage, o Deus Shinobi provavelmente não poderia tomar o meu lugar naquela situação.

“É inevitável, esta é a decisão dele, Jiraiya. Tudo o que podemos fazer é nos assegurarmos que ele pesou todos os prós e contras, e que está tomando a decisão baseada em fatos e não apenas em emoções.”

“Não há nada além de emoções em um momento como esse, Sarutobi-sensei! Minato, você vai deixar tudo para trás se fizer isso! Você realmente não se importa?!”

“Não.”

Virei as costas, e quando estava prestes a entrar na ilusão ouvi a voz do meu sensei novamente.

“O grande sábio predisse que eu educaria um ‘revolucionário’, alguém na qual o destino de todo o mundo shinobi se apoiaria.” A cabeça dele estava baixa como a minha, sua expressão escondida. Até que ele levantou o rosto e seus olhos cravaram nos meus com a intensidade de mil sóis. “E também disse que eu teria que tomar uma grande decisão, que agora sei que é deixá-lo morrer ou salvá-lo, Minato!”

“Esse não sou eu, Jiraiya-sensei...”

“Mas...”

“Não sou eu.”

Espaços vazios me preenchem com buracos. A luz nasce, morre e é tragada para o vácuo. Rostos distantes se aproximam, mas não têm foco. Vozes me dizem que eu deveria prosseguir, mas estou nadando em um oceano completamente só. Tropeço no silêncio, mergulhando, me afogando, sufocando. Onde estou, pra onde estou indo?

Para lugar nenhum.

Eu e você entramos na última ilusão dos Cem Arredores Falsos, onde o que perdurava era apenas um poço de profunda escuridão. Ali a floresta queimada e o solo devastado não estavam presentes, dali eu não podia ver os portões de Konoha. Ali, em frente aos meus olhos, ao alcance das minhas mãos, estava a Kyuubi - presa em correntes.

Depois de ser reduzido a este estado primordialmente humilhante, o demônio-raposa queria nada além de me reduzir a cinzas. E isso se mostrava claramente em seus olhos. Era como se eu estivesse levando várias injeções de ódio líquido ao mesmo tempo.

Confesso que ao contrário do que eu esperava e a despeito do que eu estava prestes a fazer, poucos pensamentos me passaram pela cabeça naquela hora. Não sei, talvez tenha sido algum tipo de mecanismo de defesa psicológico. Talvez algum tipo de neurotransmissor responsável pela auto-preservação, que falha quando um ninja precisa fazer o seu dever.

Tudo isso porque eu sempre pensei que por ter visto a morte inúmeras vezes, morrer não seria algo tão dramático assim.

Os olhos da Kyuubi espreitaram os meus solenemente, fazendo com que ela parasse subitamente de se mover para me observar. Por pouco tempo nos encaramos, olho no olho, há menos de três metros de distância. Até que seu focinho arreganhou-se em um sorriso macabro e me desferiu uma torrente de palavras venenosas.

“Tolo mortal! Finalmente apareceis sem clones?!” Som de correntes e caudas se sacudindo foi ouvido. “Tu tens muita audácia de prender-me e colocar-me sob jugo!” Deu uma pausa de efeito, para então rugir e enviar na minha direção uma onda de kamaitachi. “MORREREIS!”

Permaneci parado, recebendo o chakra de vento cortante, sem me incomodar em esquivar e apenas protegendo-o enquanto você chorava assustado. Por que motivo? Pode ser talvez que eu já não quisesse mais agarrar-me à vida, e sim mostrar ao monstro que ela seria dada de bom grado, - o que fez a Kyuubi parar em meia surpresa por um momento.

Tudo o que me lembro sobre o choque das lâminas invisíveis vindo contra a minha pele é de uma mera sensação de frio. Uma impressão de que algo gelado havia tocado o lado esquerdo do meu rosto, logo abaixo do olho. Senti vagamente o sangue me escorrer pela face até aterrissar contra a gola da minha blusa, manchando o azul.

“Humano,”

A criatura monstruosa rosnou, exalando fogo e destruição entre a escuridão maciça ao meu redor. Mesmo no estado vulnerável que as correntes a seguravam, ela era capaz de me dar um calafrio na espinha através de suas palavras.

“o que pretendes fazer aqui sem nem ao menos seu pequenino exército?” O ar que o monstro exalou era o suficiente para me sacudir os cabelos, e ali ele teve certeza da minha aparente fragilidade. “A não ser que tu não tenhas vindo sozinho, é claro.”

“Eu estou sozinho”.

Eu nunca estive tão sozinho a minha vida inteira.

“Mesmo? Não estás com medo?”

“Estou apavorado.”

“Então, por que não fugis?”

Tive que esboçar um sorriso dado à pergunta quase inocente do monstro, que ainda me olhava de forma absolutamente intrigada.

“Porque sou o pilar dessa vila.”

“É mesmo?” Ele pareceu novamente satisfeito quanto à resposta, como se eu estivesse aparentemente tornando tudo mais fácil. Quem sabe um pouco sobre construções deve saber que quando se quer derrubar uma casa corrompe-se primeiro a fundação. “Então o quebrarei, o pilar, e destruirei esta pilha de cacos que chamais de Konoha.”

Eu acompanhei sua linha de pensamento. A frase não deveria ter me surpreendido, mas não pude evitar o brilho de ódio queimando meu olhar ao ouvi-la ser dita na voz gutural da raposa.

“Mesmo que você me mate, o suporte não será quebrado. Eu sou aquele que herdou o legado do Shodai-sama... o legado de fogo de Konoha. Acima de ser Namikaze Minato...” As palavras na parte detrás da minha capa queimaram minhas costas com seu significado. “Eu sou o Yondaime Hokage.”

Ao ouvir a menção à Hashirama-sama a Kyuubi quase sorriu em deboche, me dirigindo outra onda de vento que agora acertara meu braço direito. A manga branca da capa rasgou-se e tingiu-se rapidamente de vermelho, e para nova surpresa do demônio reação zero foi mostrada na minha expressão.

Ele continuou a me olhar fixamente, seus dentes afiados arreganhados em divertimento há poucos metros de distância.

“Não importa quantos venham invadir Konoha depois de mim... Um novo Hokage que herdou a minha vontade deverá ser a nova fundação desta vila e protegê-la.” Deixei que meus olhos desviassem rapidamente para onde Sarutobi-sama estaria fora da ilusão, e pude jurar que por um momento ele me devolveu um olhar afirmativo. “A partir daqui, assim como Shodai-sama, eu deixo com o Sandaime-sama. Está fora de minhas mãos.”

Aquele monstro que havia vindo apenas para roubar nossa felicidade, matar as pessoas que amamos e destruir nossos sonhos.

“Tu não és do Clã Senju, não podes suprimir o meu poder. Vede, humano, não és ninguém!”

A Kyuubi tinha razão. Eu não nascera em um dia especial, nem em uma família especial, nem com poderes especiais. Eu não nascera com uma kekkei genkai, nem com inteligência excepcional, nem com poderes acima da média. Eu não nascera importante o suficiente para ser alguém insubstituível. Não nascera nem ao menos em um grande clã de ninjas.

Meus parentes não eram shinobis, nem nenhuma descendência de guerreiros lendários. Meu pai era apenas um pastor de ovelhas, um camponês sem nenhum atrativo e de conhecimento rudimentar e intelecto raso. Mas o que dá o direito a um homem de ser chamado de homem?

“Sabe o que caracteriza um homem como sendo bom no que ele faz, Minato? Alguém que se põe em risco por aquilo que julga importante. Não importa se você venha a ser um grande ninja, um simples vendedor de ramen ou um mero pastor de ovelhas como eu. Se for necessário, sacrifique-se por aquilo em que você acredita.”

“Sacrificar, Otou-san?”

“Sim. Quando uma de minhas ovelhas se perde do rebanho, não importa que tipo de perigos eu tenha que enfrentar, eu irei atrás dela e a trarei de volta mesmo que tenha que arriscar a minha vida. Isso faz de mim um bom pastor.”

“Pode ser que eu não seja ninguém, mas Konoha me intitulou seu líder e eu a protegerei com a minha alma. Eu lutarei, mesmo que só seja o suficiente para ceder à minha vila apenas mais um segundo de vida.” Você começou a se mexer nos meus braços, chorando, e meu olhar ganhou nova obstinação. “Mesmo que seja apenas por mais um segundo.”

“O que dizes?!”

“Não vou descansar enquanto houver algo como você ameaçando Konoha. Não irei mais permitir que meu povo sangre por sua causa.” As palavras longínquas do meu pai vagaram na minha mente. “Eu quero ser... um bom pastor.”

A Kyuubi fez um som de irritação irônica, sacudindo-se novamente em suas correntes e exalando fogo e vento cortante, que agora ricocheteava e me atingia do lado esquerdo da cintura e na perna direita, cortando a capa flamejada em duas partes.

“Eu serei um bom pastor.” Visualizei a vila em minha mente, ainda de pé e lutando com todas as forças para impor sua resistência. Olhei para você. E sorri. “Eu me arriscarei pelas minhas ovelhas. Para que elas tenham vida, para que tenham esperança de futuro.”

Escuridão, escuridão, vasta escuridão. Se eu tivesse palavras difíceis meu discurso seria mais bonito, mas não seria uma solução. Nem ao menos teria sentido.

“Você pretende deixar Konoha em paz em algum momento num futuro próximo?

“Não mesmo.”

“Então não me deixa escolha.”

Em resposta o demônio-raposa gargalhou com sua voz de mil águas, fazendo-a ressoar através do fogo e do escuro.

“Tu não podes me segurar por muito mais tempo, humano! Eu serei livre! E quando for, partir-vos-hei, assim como a todos estes miseráveis e patéticos pontos de sujeira que chamais de amigos! TODOS EM PEDAÇOS!”

Isso provavelmente faria qualquer pessoa se escandalizar de medo e afastar-se, ainda mais há tão curta distância. Porém, ao invés, resolvi simplesmente sorrir maliciosamente para a raposa-demônio.

“Tá, claro. O que disser, pequena Kyuubi.” Um estalo de deboche saiu de meus lábios enquanto o coloquei delicadamente no chão ao meu lado, seu choro alto finalmente chamando a atenção da criatura.

“O que é isto? Uma refeição, talvez?” o demônio sorriu, lambendo seus dentes famintos. “Maravilhoso! Crianças são as mais deliciosas! Especialmente as recém-nascidas!”

Não dei chance ao comentário mordaz, apenas dirigi meu olhar a você. Seus olhos ainda estavam fechados, dois filetes de lágrimas escorrendo por suas bochechas enquanto chorava com toda a força que podia.

“Eu decidi salvar esta vila de você, monstro.” Murmurei entre dentes. As orelhas da raposa se levantaram em surpresa ao ouvir isso. “Eu perdi minha esposa... Muitos amigos... Mas...” Há esta altura dirigi o olhar ao demônio, revelando olhos transbordando de ódio fervente ao lembrar-me de Kushina. “Não vou perder meu único filho para você.” Me virei para olhar para você mais uma vez. “E agora sei que esta é a única maneira que tanto Konoha quanto ele ficarão em segurança.”

A raposa rosnou para mim, se virando com um sorriso sarcástico.

“Tolo. Tu nunca te livrarás de mim. Eu sou eterno, nunca morrerei.”

Por um momento ficamos em silêncio. O fogo crepitava entre a escuridão, o seu choro ressoava entre as correntes de vento, o meu sangue escorria petulantemente. O som...

O som da morte.

“Entendo”, sussurrei. “Sendo assim, você em nenhuma circunstância terá medo de mim?”

“Nem em um milhão de anos.”

“Então isto quer dizer que não faz idéia do que estou prestes a fazer com você.”

A raposa me olhou de forma curiosa, me observando começar uma seqüência de selos. Apesar de ter sido a primeira vez que o jutsu estava de fato sendo utilizado, o monstro reconheceu que se tratava de um fuuinjutsu imediatamente, seus olhos se arregalando em choque.

“Não ousarias!!”

Serpente, Javali, Bode, Coelho...

Uma luz fraca se fez a partir das minhas mãos insinuando o jutsu, já que estávamos entre a completa escuridão. A luz se chocou com seus olhos, e a raposa-demônio rugiu um urro monstruoso que sacudiu a terra em sua agonia, as correntes se sacudindo.

“Ah. É fruto da minha imaginação ou você parece estar com medo agora, hein?” Fiz outro som de deboche e continuei, enquanto a raposa se sacudia, esquecendo que ainda estava debaixo de minha prisão.

“Tu sabes muito bem que não poderás me manter em cativeiro por tempo deveras longo! Morrerás no processo! Eu escaparei!” O demônio gritou.

“Bem, de uma forma isso até me ajuda, porque não pretendo te manter aí nessas correntes por muito tempo mesmo.”

“O que dizes?”

“Eu vou te selar, raposa. De modo que você nunca mais escape. Não dessa vez.”

Serpente, Javali, Bode, Coelho, Cachorro, Rato, Pássaro...

“Morrerás uma morte inútil.” O demônio disse, sorrindo maliciosamente. “Quaisquer buraco infernal onde tentardes me selar não irá me prender por muito tempo.”

“Não, eu sei que não irá.” Eu disse simplesmente, como se este fosse apenas um fato já pensado.

Serpente, Javali, Bode, Coelho, Cachorro, Rato, Pássaro, Cavalo, Serpente.

Minhas mãos se juntaram, uma palma contra a outra, os dedos esticados. Meus olhos cravaram nos da raposa com uma fúria que eu jamais imaginei que possuía.

“Fuuinjutsu: SHIKI FUUJIN!”


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Notas finais do capítulo

O Shinigami acaba de me confidenciar que está com fome. Mande uma review para ser salvo de sua ira... 8D