- Foi você, não foi? – Andressa perguntou logo depois de descer do palco – ela estava de mãos dadas com o Cristian.

- Não sei do que você está falando – falei olhando para cima com cara de santa.

- Você realmente acha que pode mentir para a sua melhor amiga, Lê?

- Tá bom! Mas é sério, vocês estavam precisando muito de, digamos, um empurrãozinho.

- Sinceramente, também acho Lê. – Cristian falou – Principalmente por causa dessa cabeça dura.

- Eu cabeça dura? – Andressa perguntou indignada.

- Sim. – Ele afirmou – Mas é a cabeça dura que eu mais amo nessa vida. – e a beijou.

Eu estava ali, em pé, na frente do palco ouvindo pessoas que cantavam bem, e outras mal demais – dentre elas a Eloá -, mas depois de uma hora tudo estava ficando um pouco chato. O Josh estava cuidando da competição de karaokê, o Cristian e a Andressa não se desgrudavam - nem sequer reparavam na minha existência -, mesmo eu estando ao lado deles. Resolvi que não adiantaria muita coisa ficar ali, então me dirigi a uma mesa com quatro cadeiras, perto da piscina, que estava quase vazia agora, onde o som era um pouco mais baixo.

Sentei em uma cadeira e fiquei observado um grupo brincando na água. Percebi que alguns garçons circulavam pelo local com bebidas nas bandejas. Um deles passou por mim e perguntou se eu queria um refrigerante, peguei um copo e murmurei um “obrigada”. Ele se afastou em direção ao outro lado da piscina.

- Oi novamente. – uma voz familiar me saudou depois de um tempo sozinha bebericando o meu refrigerante.

- Ah, oi Esmond – respondi surpresa de ver quem era.

- Posso sentar aqui? – ele perguntou apontando para a cadeira ao meu lado.

- Claro.

- Tive que sair de lá, - ele falou sentando - já estava vendo a hora em que os meus tímpanos iriam estourar de tanta gente desafinada.

Eu ri.

- Foi muito legal o que você e o Josh fizeram. – ele disse. Olhei para ele desentendida.

- Sabe, – ele continuou. – para juntar o Ian e a Déa. O Ian é um cara legal, pelo que eu conversei com ele até a agora, e a Déa, bem, sei que ela não gosta muito de mim.

- Ah, não liga não. – falei. – Naquela hora ela tava meio... nervosa.

- Hum, imaginei isso.

- Posso fazer uma pergunta? – não resisti. Ele sorriu.

- Essa já é uma pergunta, mas eu deixo você fazer outra. Desde que não seja sobre mim e o meu “sumiço” por falta de palavra melhor.

- Certo. – hesitei por um momento. – Não é sobre isso é que... você falou, lá na cozinha, que uma pessoa tinha falado de mim para você. E que ela tinha acertado tudo. Eu já sei que essa pessoa foi o Josh, mas como assim ele não errou nada sobre mim? O que ele falou de mim para você?

Ele suspirou.

- Basicamente ele disse que você era uma garota legal, bonita, inteligente... e, claro, curiosa. Por quê?

Eu sorri dessa vez.

- Nada não, só... curiosidade.

- É, pensei que fosse. – ele riu mais uma vez.

Olhei em volta e percebi que o movimento na piscina estava intensificando, sem falar que, agora, ouvi a voz da Kesha cantando “Tik Tok”. Só podia significar duas coisas, ou campeonato de karaokê tinha finalmente acabado, ou a Kesha também estava na competição – o que, se depender do Josh, eu não duvidava nem um pouco. O Esmond tirou essa minha dúvida.

- Acho que o karaokê acabou.

- Que bom! – exclamei.

Ele não respondeu.

- Oi Lê! – era Andressa vindo de mãos dadas com o Cristian. – Eu estava te procurando. – ela sentou em uma cadeira, seguida do Cristian, e olhou sorridente para o Esmond. – Oi Esmond!

- Ãh... oi. – ele respondeu hesitante.

- Tudo bem com você? – ele perguntou, e não esperou resposta para continuar – Olha, me desculpa se te tratei mal naquela hora, é que eu tava um pouco... chateada.

- Tudo bem. – ele disse.

- Quem ganhou a competição? – perguntei.

- A Eloá. – Cristian respondeu rindo.

- Quem? – perguntei incrédula.

- Não sei como essa vaca ganhou, – Andressa disse – ela cantou mal pra caramba! Tinha outras pessoas que mereciam o prêmio.

- Tenho certeza que ela roubou de algum jeito. – falei indignada.

- Não, – O Esmond discordou. – a votação veio do público. Sabe, aquela pergunta: “quem acha que a Eloá cantou bem levanta a mão.” Impossível ela ter feito algo sobre isso.

- É Lê, – Cristian falou – a Eloá só é popular. E não sei por que você não gosta dela.

- Cristian! – Andressa interviu em minha defesa. – Essa... garota quase acabou com o nosso trabalho de História!

- Você disse certo, “quase” – ele respondeu resentido -, mas todos nós tiramos nota máxima.

- Inclusive ela, que não fez nada. – Andressa fez biquinho.

- Nada? – ele perguntou. – Ela fez o roteiro, e foi a todos os ensaios...

- Tudo bem, tudo bem! – Interrompi quando vi a Andressa abrir a boca para rebater. – Não quero que vocês briguem tá bem! Hoje não. E, além disso, o Esmond deve está desconfortável com essa história toda. Não está Esmond? – perguntei na mesma hora.

- Com certeza. – ele respondeu rapidamente.

Andressa revirou os olhos e fechou a cara.

- Déa. – Cristian sussurou docemente.

Pude ver um quase sorriso se formar no rosto da Andressa.

- O quê?

- Não fica chateada não. – ele continuou. – Quer dançar comigo?

- Hum... – ela fez uma pausa misteriosa como se estivesse pensando e respondeu. – Tá bom!

O Cristian levantou e levou a uma Andressa sorridente para dançar.

- É – comentei. – Difícil de entender esses dois.

Esmond balançou a cabeça em sinal de concordância.

- Oi Lê... e Esmond.

Olhei para o dono da voz tão familiar e sorri.

- Oi Josh!

- Oi cara. – o Esmond também respondeu.

O Josh sentou na cadeira, que antes estava ocupada pelo Cristian, no mesmo tempo em que o Esmond levantou.

- Vou procurar... a Angélica. Tchau Lê. – ele deu uns tapinhas no ombro do Josh e foi embora.

Bebi um gole do refrigerante e falei.

- Nosso plano deu certo.

- Seu plano. – o Josh rebateu.

- Bem... é! Meu plano. – eu ri – Mas se não fosse por sua ajuda, não teria dado certo.

- Verdade. – ele riu também – Reconheço os meus méritos.

Tomei mais um gole de refrigerante.

- Josh! – quase cuspi o todo o refrigerante da boca assim que eu ouvi essa voz. – Estava te procurando.

Eloá puxou uma cadeira e sentou ao lado dele.

- O que você quer agora Eloá? – Josh perguntou revirando os olhos.

- Nada demais, só dançar com você. – ela sorriu.

- Eu não quero. Eu já pedi pra você...

- Letícia! – ela exclamou como se nunca tivesse me visto na vida. Olhei para ela cética. Como poderia existir tanta falsidade em uma pessoa só?

- Você por aqui? – ela perguntou. – Pensei que você não gostasse muito de ir a festas.

- Pois é né. – limitei-me a responder.

Ela voltou-se para o Josh.

- Por favor, realize só mais esse pedido, e prometo que depois do nosso jantar eu não te peço mais nada.

- O quê? – perguntei abismada olhando diretamente para o Josh, a raiva subindo à minha cabeça. – “Nosso jantar”?

- Você não sabia Lê? – Eloá falou cinicamente. – Eu ganhei a competição de karaokê, e chamei o Josh para ir comigo. É claro que ele aceitou. Quem não aceitaria?

Eu mal podia acreditar.

- Eloá, você sabe que não foi assim... – O Josh disse rapidamente - Lê, por favor senta.

A raiva e surpresa era tanta que eu mal tinha percebido que eu havia levantado. Respirei fundo.

- Não quero sentar. Pode ir dançar com a Eloá, Josh. – falei saindo dali.

- Lê, espera...

- Deixa ela Josh! Vamos dançar. – ainda pude ouvir.

Saí sem prestar realmente atenção aonde ia. Os meus olhos estavam cheios de lágrimas. Por que? – pensei - Por que o Josh ia jantar com a Eloá? Aquela garota cínica e irritante...

Meus pensamentos voaram quando esbarrei em alguém e caí no chão.

- Lê?! Você está bem?

Olhei para cima. Era o Esmond.

Ele me ajudou a levantar.

- Tudo bem? – ele perguntou novamente. Parecia preocupado.

- Tudo – menti. Ele olhou nos meus olhos, não pareceu ter acreditado no que eu disse.

- Cadê o Josh?

Na mesma hora me irritei e respondi asperamente.

- Deve estar dançando com a Eloá.

- Ah! – sua face se inundou de compreensão.

- Você sabe onde está a Déa? – perguntei em um tom de voz suplicante.

- Sim, – ele respondeu – está perto do palco.

- Valeu. – agradeci e saí para procurar a Andressa.

Achei-a dançando com o Cristian ao som da Katy Perry.

- Déa! – chamei quase gritei por causa do som que estava mais alto desse lado.

- Oi Lê! Vem dançar também.

- Não... será que você pode me levar pra casa?

- O que? Agora? – Cristian perguntou.

- É, por favor, não estou me sentindo muito bem.

Andressa me olhou atentamente, na certa verificando se eu dizia a verdade. Algo em meu rosto a fez perguntar.

- Você está bem?

- Não, – respondi impaciente – eu já disse, não me sinto bem. Me leva pra casa.

- Certo, vamos.

Ele segurou minha mão e me puxou em direção à casa do... Josh. Cristian vinha ao meu lado.

Assim que passamos pela enorme porta de vidro, o som do lado de fora foi abafado.

- Cristian, me empresta seu celular. – Andressa disse.

Ele puxou o celular do bolso e entregou a ela.

- Vou ligar pro meu motorista. – ela explicou enquando andávamos pelo corredor.

Finalmente chegamos a sala. Sentei no sofá emburrada, ainda com raiva do Josh.

- Ele já está chegando. – Andressa anunciou.

- Eu vou com vocês. – Cristian disse sentando também no sofá.

- Tudo bem. – Andressa sentou-se ao meu lado. – O que aconteceu Lê?

- Nada. – repondi rapida e asperamente.

- Lê... – ela começou, mas a interrompi.

- Depois eu te falo Déa.

- Você que sabe – ela respondeu.

- Desculpa por fazer você sair da festa. – falei sinceramente.

- Que nada. Na verdade já está na hora mesmo. Amanhã o shopping só fica aberto até as doze horas, e não vou poder gastar os meus cinco mil se eu ficar até tarde e não acordar a tempo.

Uns dez minutos depois o celular do Cristian tocou, era o motorista da Déa avisando que já estava na porta.

- Vamos. – ela disse.

Entrei no Audi a3 satisfeita por sair dali. A última coisa que eu precisava agora era ver, estar, ou falar com algo que tivesse a ver com o Josh.