Voltar para casa me dava a estranha sensação de sonho. Me peguei diversas vezes me perguntando se tudo não tinha sido imaginação da minha cabeça. O trabalho me ocupou grande parte do tempo. Depois das férias tinha muita coisa para colocar em dia. Um menos de uma semana tudo aquela confusão do inicio da viagem estava praticamente esquecida entre lembranças e sonhos. Não sei se sonhava sobre isso. Nunca me lembrava dos meus sonhos, mas algumas vezes acordei sobressaltada no meio da noite com muito calor. Inconscientemente eu tocava o colchão ao meu lado para testar sua temperatura.

Bianca continuava a ser uma grande amiga. Quando voltamos, ela se recusou a aceitar que eu não gostava de sair. Fui obrigada a agitar a minha vida social. Drinks, músicas, amigos, danças, conversas e muito riso. Tinha que admitir que gostava de ver e ouvir as pessoas e sem eu nunca me dar conta com clareza meus olhos procuravam sempre entre os presentes algo que nem eu sabia exatamente o que era.

- O que você tanto procura Bella? – Gabi me tirou da minha busca despreocupada.

- Também gostaria de saber... – falei tão baixo que duvidava que ela tivesse ouvido.

- Você precisa de um namorado Bella! – Bianca parecia decidida – E já vou resolver isso!

- Não! Não mesmo! – tentei brigar inutilmente enquanto era arrastada para a pista de dança junto com os nossos amigos.

Propositalmente Bianca parou ao lado dos colegas de trabalho dela. Mais especificamente ao lado de um cara tipicamente gato. Alto, moreno de praia, cabelos negros charmosamente revoltados, se usasse óculos eu diria que era um Harry Potter mais velho depois de muita malhação e sol. Já disse que ele tinha olhos verdes penetrantes?

- Oi... – a voz dele era grave, rouca e quente.

- Oi...

- Qual seu nome linda? – a mão dele era quente no meu pescoço e eu não gostei do toque. Era estranho.

- Isabella...

- Bells – ele sussurrou no meu ouvido e eu fechei a cara. Não gostava daquele apelido idiota.

- Isabella... – repeti e ele riu e eu tive que admitir que o riso dele era contagiante e acabei rindo junto com ele.

- Meu nome é Rodrigo. – ele segurou meu rosto e me encarava com aqueles olhos verdes profundos. – Seu sorriso é lindo!

Suspirei pesadamente e me afastei um pouco. Lembrava da ultima vez que tinham me dito aquilo e ainda não tinha certeza se era real.

- Você não gosta de elogios?

- Não é isso... – tentei me explicar – e que... – mas eu não consegui dizer mais nada, pois ele grudou nossos lábios e me beijou segurando minha nuca e me puxando para mais perto dele pela cintura.

O beijo dele era bom. Quente. Relaxante, eu precisava relaxar um pouco. Aproveitar como dizia Bianca. Me deixei levar pelas sensações e o momento. Quando nos separamos ele começou a beijar o meu pescoço enquanto ficávamos abraçados e foi nesse momento que meu coração parou.

Ele parou e voltou no instante seguinte alucinado. Senti o chão falhar e se o garoto não estivesse me firmando tinha ido ao chão. Eu não tinha coragem de piscar. Não podia ser real. Não podia estar acontecendo. Era só uma miragem. Tinha que ser só uma ilusão. E então eu pisquei. Pisquei varias vezes tentando voltar ao normal. Ele não estava mais lá. Tinha sido apenas só mais uma ilusão. Abracei mais forte o garoto nos meus braços que retribuiu na mesma intensidade. Escondi meu rosto no seu peito e tentei controlar minha respiração e meu coração.

- "É só uma ilusão Isabella" – fiquei repetindo sem parar no pensamento.

Rodrigo percebeu que algo estava errado e acariciou meu cabelo e meu rosto me fazendo encará-lo.

- O que houve Bells?

- Acho que não estou me sentindo bem. – respondi fraca, não conseguia olhar nos olhos dele.

- Não tem problema eu te levo pra casa. – ele me conduziu em direção a Bianca.

- Não precisa! – tentei me soltar, mas ele me segurou firme.

- Não seja boba Bells... Já é tarde e eu teria que ir embora mesmo... – e me dando um beijo na testa – E eu não vou deixar você assim...

Sorri sem graça e me despedi das minhas amigas. O caminho até a minha casa foi feito em silencio, mas Rodrigo não pareceu se importar. Estava preocupado e não me deixou sair sem que eu desse o meu número de celular.

Quando sai do carro praticamente corri para dentro do apartamento mesmo que eu soubesse o quanto inútil seria aquela decisão. Tranquei a porta e todas as janelas inclusive as cortinas e agradeci por todas as grades. Tentei acalmar minha respiração com um banho. Percorri toda a casa para me certificar que tudo estava em ordem e me sobressaltava com qualquer barulho estranho vindo do lado de fora.

Era inútil. Eu não podia fazer nada e me desesperei com essa realidade. Deitei na cama inquieta. Não conseguia dormir. Acendi a luz depressa com medo do escuro. Me encolhi na cama e tentei me acalmar. Não sabia por que estava tão nervosa. Sabia que no fundo não tinha motivo. Mesmo que fosse verdade. Sorri para mim mesma com esse pensamento.

- Não é verdade Bella! – murmurei par mim mesma. – Tudo não passou de um sonho louco! – eu tentava me fazer acreditar. – Foi apenas uma ilusão! Apenas uma ilusão!

Olhei para o relógio e vi que já devia estar amanhecendo. Deixei passar mais alguns minutos e abri a cortina receosa. Por fim senti os raios de sol e abri a janela inteira deixando o sol entrar e bater na minha cama.

Com o sol me aquecendo consegui dormir e nos sonhos fiquei em paz. Nos meus sonhos não havia nenhum par de olhos dourados me olhando. Nos meus sonhos eles não tinham aquela expressão triste e amargurada. Nos meus sonhos não tinha nada disso. Eu nunca me lembrava dos meus sonhos mesmo.

- Eu ainda quero você, Isabella! – pensei ter ouvido um canto baixo, mas devia ser só coisas da minha cabeça. Eu tinha certeza que quando acordasse não ia me lembrar de nada. Quando acordasse eu ia rir por voltar a pensar que podia ser verdade.