Capítulo 9 – Riscos

Sasuke acordou com dor de cabeça. Todos os dias eram assim. Reparou que não estava no apartamento onde estava ficando. Aos poucos, sua memória foi voltando e ele se lembrou da coça que ele tinha levado dele mesmo. Lembrou-se que estava na casa do Naruto.

– Que bom que acordou! Eu já estava ficando preocupada.

Ele virou a cabeça para o lado de onde a voz veio. Percebeu que era Sakura. Ela falou:

– Você dormiu quase um dia inteiro. Estava começando a pensar bobagens.

– Um dia inteiro?

Sasuke amaldiçoou em silencio. Ele precisava reforçar o jutsu de transfiguração logo.

– Eu preciso ir para casa... – ele disse.

Sakura o empurrou contra o futon.

– Nem pensar. Você ficou bem acabado. Sasuke é muito forte. Ele danificou você por dentro e por fora. Se não se recuperar bem, pode ficar com seqüelas graves. Parece que você vai ficar morando aqui com o Naruto também.

– Aqui?

– Hai. Ah, antes que eu me esqueça, Naruto buscou as suas coisas. Estão ali. – Sakura apontou para um lado do quarto e Sasuke viu suas coisas. Ele se preocupou. O que eles teriam visto?

– Eu preciso...

– ...ficar sozinho? – Sakura perguntou – Tudo bem. Eu vou lá embaixo falar com Hinata. Leve o tempo que precisar. Voltarei em meia hora. É o suficiente para você...hã...fazer o que tem que fazer?

Sasuke teve a sensação de que ela não estava falando de ir ao banheiro. Bom, ele também não estava falando disso. E por que ele sempre tinha a sensação de que ela sempre sabia o que ele estava pensando?

Sakura saiu do quarto e Sasuke tentou se levantar. O processo foi demorado e dolorido. Com muito esforço, ele chegou até o canto onde suas coisas estavam. As coisas estavam intactas dentro da bolsa. Percebeu que eles tinham pegado as bolsas e apenas isso. Suspirou aliviado.

Pegou um dos pergaminhos de transfiguração e reforçou o jutsu. Aquela técnica precisava ser refeita a cada dois dias. Arrumou as coisas e voltou a deitar no futon. Ele não entendia porque Sakura e Naruto o estavam ajudando. Era óbvio que os dois não sabiam realmente quem ele era e mesmo assim o ajudavam. Ele decidiu que por mais que temesse as conseqüências, teria que perguntar isso aos dois.

Sakura voltou ao quarto uns quarenta e cinco minutos depois. Sasuke percebeu que ela havia demorado mais de propósito. Naruto entrou um pouco depois.

– Kami! Aquela mulher e aquele maldito gato me perseguem, dattebayo. – Naruto entrou reclamando e sentou no chão ao lado de Sasuke.

Sakura riu e os dois começaram a conversar como se Sasuke não estivesse ali.

– Ela ainda acha que você é o mais indicado para procurar o gato? – Sakura perguntou rindo.

– Pois é. – Naruto disse – Isso é tarefa de gennin e não de um Hokage! Só essa semana ela já veio aqui quatro vezes.

Sakura não conseguiu mais segurar e começou a rir muito. Naruto percebeu a curiosidade de Sasuke e explicou.

– Estamos te deixando confuso aqui, não é? – Naruto disse.

– Não, imagina. – Sasuke falou indiferente.

Sakura começou a trocar os curativos dele e disse:

– A esposa do Daimyo do fogo, a senhora Shijimi, sempre perde o gato. E ela sempre contrata ninjas para buscá-lo. – Sakura contou rindo. Sasuke se lembrou da missão que cumpriu de pegar o gato.

– Qual o problema em pegar um gato? – Sasuke perguntou, mas já imaginando o motivo.

– Aquele gato maldito é mais rápido até que os cães ninjas do Kakashi sensei. – Naruto falou.

– Nós achamos que todas as fugas nesses anos todos serviram para treiná-lo. Nenhum gennin consegue pegá-lo. – Sakura falou ainda divertida enquanto passava uma pomada sobre os ferimentos de Sasuke.

– Agora eu tenho que mandar jounnins para procurá-lo. Acredita nisso? Um jounnin tendo que procurar um gato? – Naruto disse com certa revolta.

– E mesmo os jounnins não o pegam tão facilmente. Por isso, Shijimisama começou a pedir ao Naruto para procurá-lo pessoalmente. – Sakura falou e não conseguiu segurar as gargalhadas.

– Mesmo sendo Hokage? – Sasuke perguntou.

– Pois é. E eu que pensei que tinha me livrado do maldito gato. Isso não é justo não. – Naruto falou e cruzou os braços.

Eles ainda conversaram sobre outras coisas e Sasuke não pôde evitar pensar nos tempos em que ele morava na vila.Lembrou se das missões realizadas, da captura do gato e das viagens que o time sete fazia. Ele então percebeu que precisava perguntar aquilo que o estava incomodando.

– Naze? (Por quê?) – Sasuke disse, interrompendo a conversa. Os dois olham para ele – Por que estão fazendo isso por mim?

Naruto olhou para Sakura com uma expressão que Sasuke não conseguiu identificar. Sakura parou de rir e se virou para ele.

– Você quer saber por que estamos mentindo por você, então? – ela perguntou séria.

– Claro. Eu apareci aqui dizendo ser outra pessoa, depois tentei sair da vila e mesmo assim vocês me protegem. Eu quero saber o porquê. – Sasuke falou quase com raiva.

Sakura ia falar algo, mas Naruto foi mais rápido.

– Você vai nos dizer quem é?

Sasuke não esperava que aquela pergunta viesse daquele jeito. Mas Naruto sempre vinha com tudo desde o início, inclusive nas conversas. Só que ele não podia contar quem era realmente. Isso seria complicado demais e, provavelmente, nenhum dos dois acreditaria. Achou melhor não falar nada. Diante do silêncio dele, Naruto sorriu como uma pessoa sábia e disse:

– Nesse caso, nós também não temos obrigação de te dizer por que o ajudamos.

– Pois é. – Sakura disse sorrindo e concordando com um Naruto igualmente sorridente.

Sasuke olhou para eles em dúvida. Aquilo era algum tipo de armadilha? Estariam zombando dele? Eles realmente ignoravam o fato de não saberem quem ele era? E a segurança da vila e tudo mais?

Eles voltaram a ignorá-lo e começaram a conversar sobre o Festival.

– Sasuke vai deixá-los participar esse ano? – Naruto perguntou.

– Ele diz que vai, mas quero ver na hora em que Primera for subir ao ringue. Duvido que ele deixe. – Sakura respondeu com ar cansado.

– Tive uma idéia! – Naruto disse animado e levantando de supetão – Gensan podia participar também.

– Tem certeza? – Sakura perguntou olhando para Sasuke com o cenho franzido.

– Participar de que? – Sasuke perguntou.

– No festival, costuma haver um pequeno torneio. Nada muito difícil. Apenas por diversão entre os adultos. – Sakura respondeu.

– Os gennins é que gostam. A competição entre eles é mais séria por que eles podem ser indicados para serem promovidos. Assim, eles ganham uma recomendação a mais no verdadeiro Chunnin Shiken. – Naruto explicou. O loiro se inclinou sobre Sasuke e perguntou – Você quer participar também.

– Acho que não. – Sasuke respondeu seco.

– Ah, vai ser divertido. Vamos, vamos, vamos! – Naruto quase gritava.

Sasuke até poderia participar, mas ele não podia lutar direito.

– Eu não acho boa idéia. – Sakura falou pensativa – É bem capaz do Sasuke entrar no torneio apenas para bater nele de novo.

– Acha que ele faria isso? – Naruto perguntou emburrado.

– Com certeza. Sasuke é muito orgulhoso e rancoroso. Principalmente rancoroso. Ele ainda vai tentar se vingar do Gensan. – Sakura disse e Sasuke se sentiu incomodado por ser o alvo da vingança dele próprio. Era uma triste verdade. Rancoroso? Era assim, então, que ela o via?

– Eu vou ficar de olho nele. – Naruto disse e se levantou, enquanto coçava a cabeça, pensativo.

– É bom mesmo. – Sakura concordou – Ah, vou terminar de dar os remédios a Gensan e depois eu vou para o Hospital. Você também não tem que ir procurar o gato da Shijimisama?

– Ah! – Naruto deu um tapa na testa – Não me fala nessa mulher e seu maldito gato! – ele suspirou e seus ombros caíram – Eu me recuso a procurar aquele bicho. Vou mandar todos os jounnins o procurarem.

– Como assim todos os jounnins? – Sakura perguntou zangada com as mãos na cintura.

– Eu disse todos os jounnins? – Naruto disse sem graça – Eu quis dizer todos os jounnins menos você, Sakura chan. E eu acho que tem alguém me chamando. Não precisa ficar com essa cara brava. Estou indo dar um jeito naquele animal.

Quando Naruto saiu, Sasuke perguntou:

– Achei que você já tivesse me dado os remédios.

– Já dei. – Sakura falou enquanto mexia na bolsa. Ela nem mesmo parecia se sentir culpada por mentir a Naruto, Sasuke pensou. Ele ficou curioso sobre o motivo dela ter dito isso ao Hokage.A Haruno, digo, a Uchiha achou um pote e então olhou para ele – Você não consegue moldar chakra direito, não é? Você deve estar em constante dor também.

Ele se surpreendeu. Como ela sabia? Ele ficou sem saber o que responder e ela disse:

– Seus músculos estão atrofiando. Bom, estavam ontem.

– Não estão mais? - ele perguntou. Ela tinha percebido isso durante o exame médico, então?

– Não. Agora eles estão aumentando de tamanho. Mas eu posso apostar que amanhã estarão atrofiando de novo. – ela disse com uma expressão muito séria – Você não deve mesmo participar do torneio. Não queremos que você lute contra um Uchiha ou contra um Hyuuga.

– Naze?

– Sua rede de chakra está entrando em choque. Esse remédio aqui deve desacelerar o processo até que eu encontre um meio de revertê-lo. Seu chakra está correndo mais rápido em alguns lugares e mais lentamente em outros. Além disso, em alguns lugares da sua rede de chakra, parece haver uma ruptura. Sua energia está escapando por pequenas fissuras e afetando seus órgãos e músculos. Eu não sei o que te deixou assim e imagino que você também não possa me explicar. Demo, procure não usar chakra. Quanto mais você o usa, pior o seu corpo fica.

– O que acontece se eu continuar a usar chakra?

– Se você usar muito chakra, seu corpo vai envelhecer mais rápido em algumas partes. O processo vai diminuir com o remédio, mas é imprescindível que você não use chakra.

– Como assim envelhecer mais rápido?

– Imagina você com um rosto de vinte e um braço que aparenta ter oitenta. É assim que você vai ficar. – Sakura falou e Sasuke se assustou.

Ela pegou o vidro de remédio e explicou a ele como tomar. Uma colher do remédio em pó todos os dias e no mesmo horário. E ele não podia falhar nenhum um dia.

– É como um remédio de tuberculose. Se você não tomar direito, o problema se agrava e fica mais difícil de tratar. Estamos entendidos? – ela perguntou e ele concordou com a cabeça.

Sakura saiu do quarto depois disso e o deixou sozinho. Sasuke deitou novamente tentando descansar e também tentando colocar os pensamentos em ordem.

Aquilo tudo era tão confuso e cansativo. E ainda tinha as incertezas. Por exemplo, será que quando ele voltasse teria se passado muito tempo? Ele queria usar aquele medalhão para aprender um novo jutsu e o que ele conseguia? Ele obtivera uma aparente doença que o deixava com os dias contados caso usasse chakra.

Além disso ele se sentia como se estivesse preso em um lugar que lhe trazia lembranças...desconfortáveis. E tinha ele mesmo que parecia gostar de bater nele. Ele se incomodava por não entender o que motivava Naruto e Sakura a ajudá-lo. Ele tinha certeza de que eles não sabiam quem ele era. Duvidava que o atual-hokage-bonzinho-e-perfeito-de-Konoha não viesse correndo lhe dizer aquelas coisas sobre amizade.

E Sakura...ela provavelmente iria tentar convencê-lo a não se vingar, mais uma vez. Foi impossível para ele não recordar o dia em que partira da vila. Sakura não sabia nada, mas o conhecia bem o suficiente para imaginar que ele iria embora. Ela queria participar da vida dele e teve um momento no qual ele quase concordou.

Mas ele era um vingador e tinha objetivos maiores do que uma vida calma perto dela, com uma casa grande e...filhos. Sasuke pensou no jantar. Nos momentos em que não estavam implicando com ele, Sasuke podia perceber como aquelas pessoas se davam bem. Ele, no futuro, parecia tão em paz. Porém, quanto mais ele via aquilo, mais se convencia de que não era ele mesmo ali. O caminho dele era diferente.

Começou a achar que talvez aquele não fosse o seu futuro. Talvez fosse uma realidade paralela. Sim, isso fazia mais sentido. Porque na realidade que ele conhecia, seria impossível que ele não matasse Itachi e ainda convivesse bem com ele.

Sasuke pensava essas coisas quando ouviu a janela do quarto se abrir. Ele não estava acreditando no que via.

“O destino está de sacanagem com a minha cara”. Ele pensou enquanto via a menina de cabelo rosa cair sentada no chão depois de pular a janela.

– Itai! (Ai) – ela disse ao bater no chão.

– O que você está fazendo aqui, Primera? – Sasuke perguntou.

Ela se levantou envergonhada e caminhou até ele, tentando não fazer barulho com ao andar.

– Oi. – ela disse ao se ajoelhar perto dele.

– Oi nada! – ele disse irritado – O que você pensa que está fazendo aqui? Seu pai não vai ficar nada feliz com isso. – Sasuke disse.

– Ele só vai ficar irritado se descobrir e eu não pretendo contar para ele. – Ela disse apesar de aparentar estar sem graça.

– Hum. – Sasuke disse mal humorado.

– Eu vim me desculpar. – ela disse.

– Você não precisa se desculpar. Não foi você que me bateu.

– Mas foi o meu pai e eu me sinto responsável de certa maneira.

– Seu pai já me pediu desculpas então você já pode ir embora. – ele disse e apontou para a janela. Ela se irritou.

– Por que está tentando se livrar de mim? Eu vim aqui numa boa pedir desculpas e ver como você estava e parece que Gensan me jogaria pela janela se pudesse. Por que está sendo tão mal educado comigo? – ela disse tentando parecer zangada, mas Sasuke podia ver os olhos dela encherem de água. Ele quase se sentiu culpado. Quase.

– Você está na casa do Hokage. Quanto tempo você acha que leva para ele perceber que você está aqui?

– Tio Naruto não está em casa. Só está a tia Hinata e a prima Nyu. Ninguém vai me pegar.

Sasuke suspirou cansado. Como ele podia explicar os riscos a ela.

– E você acha que ninguém na sua casa vai perceber que você não está? Se o seu pai te encontrar aqui, nem mesmo Naruto vai conseguir me salvar. – Depois que falou, percebeu que não usara o sama depois do nome. Olhou para ela procurando algum sinal de desconfiança. Não achou nenhum e agradeceu por isso.

– Se você parasse de tentar me espantar, eu poderia falar logo o que tenho a dizer e ir embora. – ela disse ainda tentando parecer zangada.

Ele olhou para ela imaginando sobre o que ela poderia estar querendo conversar. “Kami, faça, por favor, com que ela não tenha vindo aqui se declarar. Por favor! Por favor! Eu imploro! Que não seja uma declaração de amor!”

– Muito bem. Fale então.

– Gensan sabe que vai ter um festival daqui a alguns meses, não é?

– Ouvi falar a respeito. Mas eu não vou participar. – ele disse já tentando desanimá-la, mas ela pareceu ainda mais feliz.

– Isso é ótimo! Agora você pode ser o meu sensei!

– Nani? – ele perguntou de olhos arregalados.

– Não costumam permitir que um participante treine outro. Mas se você não vai participar, Gensan pode me treinar.

– Eu não vou te treinar. – ele disse ríspido e ela se entristeceu. Ele respirou fundo e disse – Por que você não pede ao seu pai ou a sua mãe?

Primera ficou muito triste depois que ele disse isso. Os ombros dela caíram e ela começou a lutar mais intensamente para que as lágrimas não rolassem. Ela disse com a cabeça baixa.

– Da última vez que meu pai me treinou, ele disse que esperava mais de mim. E eu tinha dado tudo o que podia. – ela disse em voz bem triste e Sasuke estreitou os olhos – Minha mãe acha que as minhas técnicas são de pouca utilidade e sempre me força a estudar ninjutsus médicos. Mas eu nem quero ser médica. Eu não quero ser do time de apoio e sim da linha de frente. Na verdade, ela não força, mas faz de um jeito que eu me sinto culpada por não ajuda-la. E o meu irmão me acha uma inútil. Nas raras vezes em que eu treino com ele, Saskun sempre tenta e geralmente consegue me humilhar. Eu não tenho coragem de chegar para outra pessoa na vila e contar essas coisas.

– Então por que contou isso para mim? – Sasuke perguntou.

– Ouvi a discussão da minha mãe com o meu pai, escondida. Meu pai disse que você era estranho, pois era um ninja aposentado mesmo sendo tão novo. Ele também disse que você sobreviveu ao sharingan dele. Otousan (papai) disse que você não caiu no genjutsu dele apesar de olhar nos olhos dele.

– Ele está tentando proteger a família dele e a vila. Você devia seguir os conselhos dele.

– Mas o tio Naruto e a okasan (mamãe) te defendem. Se eles acreditam em você, é porque Gensan é confiável. Eu acredito no julgamento deles. Afinal eles são sannins, a opinião deles deve ser respeitada.

Sasuke imaginou que ele, no futuro, também devia ser considerado um sannin.

– Seu pai também é um sannin. – ele disse, arriscando –Você não confia no julgamento dele?

– Até parece que você quer que eu duvide de você.

– Seria mais sábio.

– É claro que eu acredito no meu pai, mas nesse caso ele só está com ciúmes.

– Ciúmes?

– É. Da mamãe. – Primera falou naturalmente e nem percebeu a olhada que Sasuke lhe deu. Ela continuou a falar novamente - Bom, quando ele disse aquelas coisas, eu pensei que você devia ser muito forte e muito experiente. E se minha mãe e o próprio Hokage confiam em você, eu também posso confiar. Eu estou implorando, Gen san. – ela se inclinou na frente dele – Onegai, me treine, por favor!