Capítulo 6 – Jantar e Ameaças

Ele tenta de despedir da menina e, com muita dificuldade, consegue sumir na multidão. Primera ainda o chama, mas ele não volta. E ele nem percebe o interesse que despertou no pequeno AMBU.

Sasuke andava de um lado para o outro no pequeno apartamento. Será que quando o Naruto morava em um apartamento, ele também se sentia tão sufocado? Reconsiderando tudo o que acontecera naqueles dias, o Uchiha se surpreendia por ainda não ter perdido a razão.

            - Vejamos... – Ele começou a falar sozinho - ...fui enviado para o futuro. Não consigo utilizar nenhuma técnica direito. Eles acham que eu sou de Suna. Parece que todo mundo casou e tem filhos. Eu não sei como voltar para casa. Itachi voltou para vila e é mais bem tratado do que eu. Naruto virou Hokage. Itachi mora junto da Sakura. Não consegui me infiltrar no prédio Hokage. A filha da Sakura tem cabelo rosa que nem ela. Eu voltei para a vila. Bem... não eu exatamente. A Sakura...

Sasuke e seus pensamentos confusos foram interrompidos por uma batida na porta. Ele correu para esconder os pergaminhos do jutsu de transfiguração e depois foi abrir a porta. Para a surpresa dele, assim que abriu a porta, deu de cara com um bolo escrito “Obrioado”.

            - “Obrioado”? – Ele perguntou confuso.

           

            - Ohayo, Gen san. – Sasuke avistou Primera um pouco atrás, ainda na escada. Ele levantou a sobrancelha e só então reparou no garoto que segurava o bolo acima da própria cabeça.

            - Ohayo, Gen san. – Disse o garoto imitando as palavras da irmã. Sasuke olhou de um a outro, sem entender muita coisa. Primera tirou o bolo dos braços do pequeno e perguntou se poderia entrar.

Depois de verificar que não havia nada suspeito que eles pudessem encontrar no quarto, permitiu que os dois entrassem. Primera colocou o bolo sobre a mesa da cozinha e Kuran, o garoto que Sasuke salvara no dia anterior parou na frente de Gen. Sasuke encarou o pequeno menino que tirou um papel do bolso e parecia se preparar para lê-lo.

            - É uma honra estar aqui hoje, Gen san. – O menino começou a ler o que estava escrito no papel – Graças a sua bravura e habilidade, eu posso estar aqui hoje e por isso eu vim demonstrar a minha gratidão. Eu e minha família estamos agradecidos e por isso o convidamos para jantar em nossa casa esta noite...

Sasuke cruzou os braços e inclinou um pouco a cabeça, divertido, enquanto o menino lia as palavras como se aquilo fosse a tarefa mais importante do mundo. O menino segurava o papel com as duas mãos e tinha o cenho um pouco franzido.

            - ...Assim, aceitando o nosso convite, Gen san estará honrando a mim e ao clã Uchiha. Agradeço pela atenção que nos deu e lhe entrego este presente – Sasuke imaginou que ele se referia ao bolo – como prova da nossa amizade. Sua presença esta noite terá um valor ine... i... ineti... in... – o menino se embolou com a palavra  e mostrou o papel a Primera.

            - Inestimável. – A menina respondeu baixinho e voltou a ficar atrás do menino.

            - Ine o que?

            - Inestimável! – Ela disse um pouquinho mais alto e olhou para o teto.

            - Hã... Sua presença esta noite terá um valor “inetimável” para nós. – Primera suspirou, mas o menino terminou de ler e olhou para Sasuke com os olhinhos brilhando. Sasuke não pôde evitar um pequeno sorriso.

            - Bom, nós trouxemos este bolo de laranja. Espero que goste de laranja. – Primera começou a falar, mas então olhou para o bolo sobre a mesa.

Ela estreitou os olhos e inclinou a cabeça um pouco para o lado exatamente como a Sakura costumava fazer.

            - Kuran... – Ela disse parecendo zangada.

            - O que foi? Eu falei tudo direitinho como você me disse. – Kuran começou dizendo.

            - Você mexeu no bolo? – Primera perguntou. Kuran pareceu ficar sem graça e disse bem baixinho.

            - Eu queria ver se tinha ficado bom...

Primera deu um longo suspiro e sacudiu a cabeça. Sasuke achou melhor se manifestar.

            - Muito obrigado pelo bolo. Ele parece muito gostoso.

            - Perdoe-nos Gen san. Parece que meu irmão queria conferir se o bolo estava bom e comeu a perna do “G”.

“Isso explica o ‘obrioado’ escrito sobre o bolo.” Sasuke pensou enquanto Kuran sussurrou para a irmã.

            - Eu achei que não ia fazer falta.

Sasuke se surpreendeu rindo da pequena confusão infantil. Primera e Kura acabaram por relaxar diante do riso do outro e começaram a rir também.

            - Então Gen san vai jantar em nossa casa esta noite, não vai? – Kuran perguntou ansioso. Sasuke parou de rir e olhou sério para os pequenos.

            - Eu tenho uns relatórios para fazer... – Ele tentou desconversar.

            - Mas umas duas ou três horinhas não vão atrapalhar. E Gen san tem que jantar. Por que não jantar na nossa casa? – Primera perguntou tentando parecer persuasiva.

            - Isso mesmo. Por que não? – Kuran repetiu a pergunta da irmã por não conseguir pensar em nenhum outro motivo pra Sasuke jantar com eles.

            - Vocês não precisam me agradecer pelo que aconteceu ontem. Eu fiz o que qualquer pessoa na vila faria. – Sasuke tentava arrumar uma desculpa.

            - É, mas deste modo, Gen san pode...

            - Se você for eu posso te mostrar a minha enciclopédia de patas! – Kuran gritou interrompendo a irmã.

            - Enciclopédia de patas? – Sasuke perguntou quase engasgando.

            - Ora, ninguém quer ver a sua enciclopédia de patas idiota, seu cabeça dura! – Primera deu um cascudo em Kuran.

            - Não é idiota! – O menino retrucou muito ofendido – Foi o papai que me ensinou. – e virando-se para Sasuke continuou animado – Meu pai me deu um desafio. Eu tenho que capturar todos os gatos ninjas e pegar a impressão da pata deles. Aí eu guardo a cópia da pata em um caderninho que é a minha ‘Enciclopédia de patas’.

Primera ia falar que provavelmente Gen san não ia querer ver nenhuma brincadeira de criança quando Sasuke disse:

            - Interessante. E quantas patas você já tem? – Sasuke perguntou para alegria do garoto. Kuran estufou o peito e disse.

            - Dezenove patas. Na última vez...

Sasuke ficou olhando o menino contar como conseguira pegar a última pata e como o pai e o tio ficaram orgulhosos dele. E ele se lembrou do pequeno jogo entre ele e o irmão. O desafio que Itachi dera a ele. Juntar todas as patas em uma enciclopédia. E ele se lembrou da ultima missão onde ele venceu o Nekomata graças a ajuda da Sakura e do Naruto. Aquilo tudo parecia tão distante agora. Ele sabia que ia acabar se arrependendo.

~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.

Sasuke se chutava mentalmente. Ele sabia que iria se arrepender. E já estava arrependido. No momento, ele estava sentado em uma bonita sala de estar, sentado em uma confortável poltrona vermelha com uma enciclopédia de patas no colo. Kuran o havia mostrado todas elas e contado como as conseguira também. Primera, sentada do lado dele, vestia um quimono muito elegante com o símbolo Uchiha nas costas. Aliás, Kuran também estava vestido com elegância mas sem ser algo formal.

Eles o atenderam quando chegara e disseram para ele aguardar na sala enquanto Yoori e Sakura terminavam de preparar as coisas. Itachi ainda não haviam chegado e o eu dele no futuro também não estava presente. Ele sabia que aquela noite seria muito, muito difícil. Por que aceitara vir mesmo?

            - Será que a sua Kasan (mãe) não precisa de ajuda? – Sasuke perguntou – Ela deve estar arrumando tudo sozinha.

Na verdade, ele queria era se afastar um pouco de Primera. Ele gostava da menina, mas ele percebia que a menina estava ficando mais o que apenas grata. Ele não podia correr o risco de ser descoberto apenas porque mais uma garota se apaixonara por ele. Já bastava aquelas garotas enjoadas na academia. A Sakura mesmo fora uma delas.

Mas o plano não pareceu sair como ele esperava. Primera já começava a protestar quando Kuran pulou do acento e puxou Gen da poltrona, dizendo que os dois ajudariam a Sakura. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa Itachi e Sasuke do futuro chegaram.

Kuran e Primera correram para abraçar o pai e o tio. Gen se levantou e cumprimentou os dois. Aquela sensação de opressão estava de volta. Era estranho. Sempre que ele se aproximava do “outro Sasuke” ele começava a se sentir mal. Era como um desconforto. Primera ajudou Itachi a se sentar e Gen sentou-se também. Sasuke abaixou-se para ficar da altura de Kuran. Colocou a mão na cabeça do menino e perguntou:

            - Onde está o seu irmão?

Gen estranhou a pergunta. Primera e Kuran não eram os únicos filhos da Sakura?

            - Ele disse que tinha que ver o Hokage sobre uma missão ou algo do tipo. – Kuran respondeu.

            - Vocês têm outro filho? – Sasuke perguntou quase num guincho.

            - Sim. Temos três filhos adoráveis. – A resposta não veio de quem ele esperava. Aliás aquela voz trazia lembranças demais...

Sakura apareceu na sala seguida de Yoori. Ela abraçou Sasuke e lhe deu um beijo na bochecha. Depois ela foi até Gen e o cumprimentou. Sakura vestia um belo quimono rosa claro ricamente bordado com o cabelo preso em uma trança. O Uchiha do passado tinha que reconhecer que ela estava muito bonita. Agora que ele estava parando para pensar, ele nunca a tinha visto em uma roupa que não fosse aquela para as missões. Também, ele nunca tinha passado tempo suficiente com ela para vê-la com outra roupa que não fosse a de batalha.

            - Achei que o Saskun estava com você. – Sakura disse para Sasuke.

            - Não. Treinamos durante a manhã, mas não o vi desde a hora do almoço. – Sasuke respondeu e depois acrescentou – Quer que eu vá procurá-lo?

            - Não é preciso. Já estou aqui. – A voz veio da porta da frente. Lembrava muito a voz do Sasuke quando novo. Fria e indiferente.

Gen ficou surpreso ao reconhecê-lo. Um ninja AMBU com máscara de falcão entrou na sala e Gen se lembrou dele no dia anterior. Ele estava com Primera quando Gen salvara Kuran da cobra.

            - Você devia ter chegado mais cedo. Sua mãe não lhe disse que teríamos um convidado para jantar? – Sasuke disse numa voz muito séria.

            - Eu tive que resolver uns assuntos. – ele disse enquanto retirava a máscara e olhou diretamente para Gen. “Ele tem os mesmos olhos cautelosos do pai quando olha para mim. A ironia é que, de certa forma, eu também sou pai dele.” Gen pensou.

            - Bom, tudo bem, mas da próxima vez avise-nos, Saskun. – Sakura disse conciliadora.

Sakura avisou que o jantar já estava pronto e a mesa posta e chamou todos para a sala de jantar. Itachi, que se mantivera calado junto da esposa, explicou a Gen que Saskun era um apelido posto pela Primera. Acontece que ele era o filho mais velho e também se chamava Sasuke. Como ele detestava que o chamassem de Junior, começaram a chamá-lo do mesmo jeito que Primera o chamava quando era pequena: Sas kun... Saskun.

O jantar começou bem e a comida estava deliciosa. Sakura havia se tornado mesmo uma boa cozinheira. Quem diria... Gen, de vez em quando, precisava inventar uma mentirinha ou duas para sobreviver às perguntas mortais que Sasuke lhe fazia. Saskun também não ficava atrás do pai. Foi por isso que lá pelo meio da noite, as perguntas começaram a ficar seriamente complicadas de responder. Elas eram do tipo:

            - Por que Gen San chegou antes da data que os mensageiros de Suna costumam chegar?

            - Como ele lutara na batalha do deserto de Kobi? “Suna teve uma batalha no deserto de Kobi?” Gen pensava atordoado.

            - Qual a decisão do Kazekage que ele achara mais interessante. – Parece que Gaara colecionara uma coleção de atitudes honradas junto do Naruto que deixaram os antigos conselheiros de Suna de queixo caído.

            - Você se graduou como chunnin a muito tempo? Não?

            - Então por que não ouvimos falar de você durante os últimos chunnin shiken?

E elas foram ficando piores e mais traiçoeiras. Até mesmo Sakura, Gen percebeu com certa satisfação, deu um pequeno chute na canela do marido e um cascudo no filho quando se levantou para pegar a sobremesa. Primera estava morta de vergonha, ao lado de Gen. Ela parecia ficar pior a cada pergunta que o irmão e o pai faziam. Itachi e Yoori sentiam o clima ficar cada vez mais pesado mas não falavam nada. Uma hora ou outra, Itachi ainda tentava distrair os familiares mas nada parecia surtir efeito. Teve um momento em que Sasuke perguntou:

            - Me diga, Gen san. Qual dos estilos de luta da sua vila que você acha mais interessante, o das Espadas voadoras ou o das Adagas Negras?

Sakura deu uma olhada fulminante para o marido, mas Gen conseguiu entender a manobra. Até onde ele se lembrava, nenhuma daqueles estilos pertencia à aldeia da areia. É claro que muita coisa podia ter mudado naquele futuro, mas ele tinha quase certeza que nenhum membro de Suna, ia querer aprender um estilo que foi usado contra eles durante a última Grande Guerra Ninja. O primeiro estilo pertencia à aldeia da Nuvem enquanto o segundo era proveniente da vila da Chuva. Ele teria que arriscar. Fez uma cara de confusão.

            - Perdoe-me, Sasuke san. Mas até onde eu sei, esses estilos de luta não podem ser considerados como sendo da minha aldeia. Estaria tirando o crédito das vilas da Nuvem e da Chuva se dissessem que vem de Suna.

Sakura deu um olhar vitorioso para o marido como se fosse ela que estivesse sendo testada. Itachi deu um leve sorriso e Sasuke fez uma cara de decepcionado.

Eles estavam na sobremesa quando a ultima pergunta assassina da noite veio. Saskun se virou para o pai e disse:

            - Otou-san (pai), lembra daquele jutsu que me ensinou no verão passado? – Diante do olhar confuso de Sasuke, Saskun continuou – Aquele jutsu que o Kuran chamou de invocação ao contrário.

Gen sentiu um frio na espinha. Ele pensara que ninguém havia reparado no jutsu que ele fizera para salvar o garoto daquela maldita cobra.

            - Sim, um dos jutsus que os Uchihas usam. Quase mais ninguém conhece. – Sasuke respondeu voltando à pose de indiferença. Saskun percebendo que perderia o interesse do pai, insistiu.

            - Eu acho que não é tão desconhecido assim. Gen san salvou o otouto (irmão mais novo) com esse jutsu. Ele até fez aquele movimento com o braço que o senhor costuma fazer.

Pronto, era o fim dele. Nada que ele dissesse ia poder consertar esse estrago. Sasuke parou de comer a torta e olhou ara ele com um olhar estranho e nada amigável.

            - É mesmo? Que interessante...

            - Não acho. – Sakura deu de ombros enquanto mordia um pedaço de torta – Lembra daquela vez em que Suna foi usada por Orochimaru para invadir a vila. Isso faz muito tempo... Se bem me lembro, a vila do som ensinou alguns truques à areia. Eles devem ter ensinado esse jutsu também. Porque você pode não saber, Saskun, mas foi Orochimaru que ensinou isso ao seu pai.

            - Foi?? – Saskun perguntou com as sobrancelhas quase alcançando a linha do cabelo.

Enquanto Sasuke se explicava para o filho, Gen suspirou aliviado e notou, surpreso, a piscadela que Sakura lhe enviou. O fim do jantar não demorou muito. Gen se preparou para ir embora. Sakura insistiu para que alguém o acompanhasse até o a saída do bairro Uchiha. Ele negava veemente quando Saskun se ofereceu. Todos, exceto Kuran, estranharam a oferta. Entretanto, por mais que Gen dissesse que não era preciso, Saskun acabou acompanhando-o até a saída do bairro.

Durante a caminhada, Saskun pareceu menos ofensivo e pediu perdão:

            - Sinto se o fiz se sentir desconfortável durante o jantar.

            - Imagina. Não achei nada demais nas suas perguntas. – Gen tentou distrai-lo – É apenas a curiosidade normal de alguém que se preocupa com a sua família.

Eles estavam perto da entrada do bairro. Passou tanto tempo desde que Gen fizera aquele comentário que ele não esperava resposta. Mas ela veio. Saskun parou na frente dele e assumiu uma posição que Sasuke conhecia bem. Ele, depois de muitos anos de prática e treino com Orochimaru, desenvolvera uma postura que pode aparentar indiferença, mas serve tanto para iniciar movimentos de defesa quanto de ataque. Kakashi a usava de vez em quando também.

            - Escute aqui seu infeliz. Pode ter enrolado meus irmãos, meus tios e até mesmo a minha mãe, mas você não me engana. Eu sei que tem algo de errado com você e vou descobrir o que é.

            - Algo... de... errado... – Gen falou as palavras devagar – Isso não é algo muito gentil de se dizer a uma pessoa.

            - Eu vi como se moveu rápido ontem. Aquela velocidade... nenhum mensageiro tem aquela habilidade. E depois mandou aquela cobra de volta... Meu pai também sente que há algo estranho em você. Eu vou lhe dar um aviso.

            - Hum... aviso, é? – Gen disse como se fosse um guennin estivesse ameaçando um hokage – Estou escutando.

Saskun pareceu ficar ainda mais nervoso, mas respondeu com uma voz fria:

            - Se afaste imediatamente da minha família. Se afaste dos meus parentes. Se afaste da minha vila. E talvez assim eu tenha piedade de você e não o mate.

            - Sei, e como exatamente você vai explicar a minha morte para o Hokage e o Kazekage?

            - Quando eu descobrir quem você é de verdade e desmascará-lo, tanto o Hokage quanto o Kazekage vão criar filas para eliminar você. Mas não se preocupe. E se você não conseguir me achar no meio dos seus algozes, fique tranqüilo, pois a Kunai no seu coração será a minha.