Jutsu do Medalhão do Tempo escrita por EstherBSS


Capítulo 17
Prisioneira




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Capítulo 17 – Prisioneira

O cara estranho correu sem parar por quase um dia. Primera era nova, mas as costas dela já protestavam como se ela fosse uma velha com artrose. Queria ir ao banheiro também e estava com fome. Quero ir ao banheiro! Tentou falar, mas a língua parecia mole em sua boca. Maldito o remédio que ele tinha injetado nela. O inimigo caminhou por mais algumas horas até parar. Ele devia estar cansado também. Se bem que sua mãe dizia que seu pai era capaz de lutar por dias seguidos sem parar. Queria que ele estivesse lá. Queria que ele a segurasse nas costas e dissesse que estava segura. Ela queria apenas ir para casa.


Ele parou perto de uns troncos caídos. A largou do alto e Primera bateu no chão com um baque surdo. Não sentiu dor. O remédio também amortece as dores. De que será feito? Valeriana talvez. Tinha uma cor avermelhada, broto de castanheira? Sua mãe sempre dissera que analisar um veneno com rapidez era mais vantagem do que retirá-lo do corpo. “Sua melhor resposta a um ataque só virá se souber como está sendo atacada.” Podia ouvir a voz da mãe quase como se ela estivesse ali.

Tentou se virar, mas o corpo mexia pouco. Estava recuperando os movimentos devagar demais. Virou um pouco a cabeça e sentiu algo sendo pressionado contra a sua boca. Tentou se afastar, mas o homem empurrou com mais força.

    - Não seja teimosa. Você deve estar com sede. É só água. Beba logo e não reclame.

Primera não tinha muitas opções e deixou que o líquido escorresse para dentro de sua boca. Até engolir era difícil. Castanheira com certeza. Só assim para que o corpo dela estivesse tão amortecido por tanto tempo. O homem a deitou de forma mais confortável. Ele nem precisava amarrá-la para ter certeza de que não fugiria. Não posso fugir sem saber que dará certo. Mais uma dose daquele remédio e até os meus pulmões pararão de mexer. Provavelmente, o coração pararia também.

O estranho usava uma capa de modo que ela não conseguia vê-lo. Viu-o caminhar de costas para uma árvore e percebeu, corada, que ele estava urinando. Fechou os olhos, envergonhada, já que não podia virar o rosto. Deu se conta da bexiga cheia. Aquilo tudo deixava a com vontade de se aliviar também. De olhos fechados afinou os sentidos. Ouviu pássaros, o barulho das folhas balançando com o vento, os sons que o outro fazia e pareceu ouvir o som de água correndo. Maldição. Apertou as pernas o pouco que conseguiu tentando conter a vontade de ir ao banheiro.

O homem voltou a se aproximar dela. Ele a pôs no ombro sem o menor cuidado e andou. O barulho do rio pareceu ficar mais alto e Primera tentou novamente apertar as pernas.

    - Tente não mijar em mim. Estou te levando para o rio.

Ele disse com ignorância. Quando o barulho estava alto o suficiente, Primera foi jogada para dentro da água. O cara a segurou pela cabeça para que a menina não afundasse nas águas e se afogasse. Ele voltou a falar:

    - Não pense que eu vou ficar aqui agindo como babá. Se quer fazer, faça na água e faça rápido. Te tiro daí daqui a cinco minutos.

Mesmo com o corpo amortecido Primera sentiu os olhos encherem d’agua e a visão embaçar. Engoliu o choro e fez com que o orgulho lhe desse as costas momentaneamente. Deixou que a bexiga se esvaziasse e esperou que o rio a limpasse de muitas outras coisas. Queria que as águas levassem também o medo, a preocupação e... Foi arrancada da água com brutalidade e jogada novamente sobre os ombros do inimigo. Quis bater nele. Sentiu os dedos se mexerem. De longe, não era nada do que ela precisava. Primera queria mesmo era um punho fechado na cara daquele desgraçado, mas aquilo era um bom sinal de que estava recuperando os movimentos.

Devia estar prisioneira há umas quatro horas. Um remédio com esse tempo de efeito deve ser de beladona. Mas considerando os efeitos deve ter Erva de Cascara. Então, os ingredientes devem ser beladona, castanheira, erva de cascara, valeriana. Primera franziu o cenho tanto quanto conseguiu. Já tinha escutado essa lista antes em algum lugar. Repetiu as palavras como um mantra em sua mente. Enquanto isso, tentava mexer os dedos lutando para recuperar o controle sobre o próprio corpo.

Eles andaram, ou melhor, ele a carregou por mais algumas horas até parar perto de uma árvore. Primera já tinha recuperado muito dos seus movimentos, mas ainda fingia estar com dificuldade. Não sabia nada sobre o inimigo, mas sabia dos pais dela. E aquele cara parecia muito com eles. Já tinha escurecido e ela tinha dois planos meio prontos. Um para o caso dele parar para dormir e o outro caso ele não o fizesse. Sua mente insistia em se lembrar de todas as coisas ruins que ele poderia fazer, mas Primera tentava se manter calma. O tempo passou e passou e ele finalmente parou. Deixou a menina cair sentada contra um tronco. Ela esperava que ele preparasse um lugar para dormir, mas estava enganada.

Primera viu o homem retirar um pequeno vidro da capa e entendeu que ele parara apenas para reforçar a dose do remédio. Xingou mentalmente. Deixou que ele se aproximasse. Podia pegá-lo com a surpresa. E foi o que fez. Esperou que ele abaixasse e segurasse um braço dela para aplicar a injeção. Acumulou chakra na mão do outro braço. Esperou e esperou. E então, quando ele estava próximo o suficiente, socou com tudo. Sua mãe lhe dissera como ter aquela força medonha e a ensinou a medir a força. Mas naquela hora, ela só bateu. Viu ele ser lançado para trás e quebrar algumas árvores. Não esperou para ver o que iria acontecer. Levantou com pressa e se pôs a correr.

O corpo inicialmente mole foi se aquecendo e tomando firmeza conforme ela corria. O nome estalou na mente dela como uma bomba. Poção da falsa morte! Era esse o remédio. Sorriu satisfeita enquanto corria. Aqueles ingredientes formavam uma poção que em determinada quantidade podia simular uma morte mesmo para ninjas médicos. Franziu o cenho pensando em como o inimigo tinha conseguido a receita de um remédio de Konoha. Sabia que aquilo tinha sido inventado pela Godaime quando ela ainda era nova.

Ignorou o fato e continuou a correr. As pernas já começavam a protestar e isso se devia um pouco aos efeitos colaterais da poção. Não quis nem saber. Correu até que suas pernas não respondessem. Inspirou fundo e continuou a fuga. Já estava ofegante e o coração batia acelerado. Mas estava feliz e não se importava. Tinha fugido. Tinha fugido. Tinha fugido. Repetiu isso em sua mente. Tirava forças dessa idéia. Riu consigo mesma ao pensar que o pai diria que ela tinha que ter visto o inimigo. Sua mãe ficaria alegre em saber que tinha identificado o remédio. Saskun diria “hum” e depois daria algum presente a ela mostrando o quanto estava orgulhoso. Kuran ia fazer ela contar aquilo várias vezes. Tio Itachi ia pedir para ela ler para ele durante a tarde e a tia Yoori faria um bolo bem grande. O sensei e os companheiros de time iriam ficar orgulhosos. Gen san também ficaria contente em descobrir como ela tinha melhorado.

Sorriu despreocupada apesar do cansaço que sentia. Estava livre. Suas pernas falharam assim que cruzou um pequeno córrego e deu por si de quatro com as mãos dentro da água. A luz da lua se refletia na água e a deixava como um espelho. Sorriu de novo. Tinha fugido. Repetiu para si mesma. Reconheceu alguns efeitos colaterais em seu rosto. Os olhos fundos, a boca rachando e... A sua análise, o seu sorriso, os seus planos, tudo sumiu quando o rosto dele apareceu atrás dela. Primeiro acho que fosse um fantasma. Não sentia a presença dele e nem deveria. Ele estava morto. Estava morto. Morto! Ele tinha olhos estranhos e a pele parecia quebradiça. Primera sufocou um grito e de repente estava ainda mais ofegante. Fechou os olhos com força pedindo para que sumisse. Quando voltou a abri-los não viu nada.

Seria alucinação? Não se lembrava desse efeito no remédio. Esfregou os olhos já sentindo a dor de cabeça chegando. Olhou em volta procurando, mas não viu ninguém. Procurou entre as árvores atrás de si observando tudo com atenção redobrada. Não havia nada.

    - Devo estar imaginando coisas. – disse a si mesma – Não há ninguém aqui além de...mim.

O “mim” saiu tarde. Saiu engasgado. Saiu sufocado assim como o grito que veio depois. A coisa estranha estava sobre o córrego e olhava diretamente para ela. A empurrou contra o chão apertando a sua garganta. Sentiu o ar faltar e temeu que o pescoço quebrasse tamanha a força da criatura. Sentiu o rosto esquentar e sabia que estava ficando vermelha. Inspirava fundo, mas o ar não parecia ser suficiente.

    - Você! Está morto! – Disse entre arquejos. Ele não se alterou. Apenas a olhou e disse:

    - Não mais.


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