Só se passaram dois dias desde que cheguei à Death City e as coisas já estão progredindo para que eu vá embora. Uma pena que meu segredo não seja mais tão secreto.

Sim, Death the Kid me descobriu.

Não que ele tenha me dito algo que indicasse isso, mas o jeito que ele anda me encarando durante a aula diz tudo.

Como contei em meu relato anterior, o filho do Diretor, que hoje fui descobrir que comanda a cidade também, encontrou-me na biblioteca, depois que fui dispensado por Nygus. Ele chegou a mim e perguntou-me o motivo de eu estar lendo um livro de mundos paralelos. Sinceramente, nem eu sabia. Tampouco sabia o porquê fui recorrer a um livro de pura teoria científica absurda. Idem o porquê de eu ter trocado de corpo.

Perguntei ao Kid, como ele pediu que o chamasse, o que ele faria se ele trocasse de corpo com alguém - de uma maneira impessoal; Afinal, ainda não tinha a menor intenção de que alguém soubesse de minha situação - e por que alguém troca de corpo.

-Por que você quer saber disso? - Disse ele, pousando a mão em meu ombro. Ele deu uma piscada bem longa, e depois me olhou estranho. - Você está passando bem? Tem algo de errado com a sua alma.

-E-Eu só acordei meio mal hoje!-Respondi, singelamente.

-Humpf, ok.

Grunhiu Death the Kid, me olhando meio torto. Mas, depois de alguns instantes, ele logo mudou a expressão. Deu algumas voltas ao redor da mesa e depois correu ao balcão da biblioteca, onde foi atendido por um homenzinho esquisito de bigode e voltou de lá com vários livros grossos nas mãos. Eram pelo menos cinco livros, com 300 ou mais páginas cada um.

Não sei quanto tempo passamos sentados naquela mesa lendo, só sei que ,quando saímos da biblioteca, os corredores já estavam extremamente escuros e, a meu ver, assustadores. Death the Kid andou calmamente por eles, como se ele visse tudo normalmente, enquanto eu o seguia completamente perdido, tateando as paredes ao redor. Tive o azar de que ele não estava indo embora. Ele disse que iria descer para a parte mais baixa do Shibusen visitar uma amiga dele. Pelo que entendi, a menina se chama Makenshi Chrona. Sinceramente, tem algo entre esses dois.

Mas não sou amigo de nenhum dos dois para falar algo.

Enfim.

Depois que consegui sair do Shibusen sem nenhum hematoma muito grave (Caí várias vezes devido à escuridão dos corredores), a caminhada foi tranqüila. Para minha sorte, Death City não é tão sombria de noite como eu havia pensado. É uma cidade bem iluminada, até. Parece que a cidade é mais movimentada durante a noite, já que eu não havia visto quase ninguém durante o dia. Durante a noite, as ruas ficaram lotadas. Pelo menos, algumas. De qualquer maneira, minha volta foi tranqüila.

Creio que Maka sentiu meu cheiro quando eu estava chegando. Porque, logo que eu terminei de subir as escadas, vi ela na porta do apartamento, de pijamas e com a escova de dente na boca, com cara de brava.

- Por que demorou tanto? - Disse ela, tirando a escova de dente cheia de pasta de dentro da boca - Por que não voltou pra casa como Stein-hagase mandou?

- Anno... - Disse, coçando a parte de trás da cabeça - Eu estava na biblioteca, Maka...

- Na biblioteca? - Ela pareceu interessada - Procurando o que na biblioteca?

Eu não respondi. Simplesmente entrei de cabeça baixa, admirando um dos livros que Kid me entregara mais cedo em minhas mãos. A capa era dura, de couro levemente avermelhado. Um livro impressionante, de fato. E o que mais me ajudaria até agora.

Fui ao quarto sem nem olhar para trás, ignorando totalmente o aviso de Maka de que minha comida estava no microondas.  Joguei o livro sobre minha cama, que estava perfeitamente arrumada, apesar de me lembrar claramente de que eu a havia deixado totalmente desarrumada.

O livro tratava de Almas Paralelas.

'Almas semelhantes que seguem caminhos paralelos,' Hm... Interessante. ' mas que nunca se encontram em nenhum ponto do contínuo espaço-tempo. O máximo de convivência que uma alma possui com a outra é uma possível troca de corpos, que ocorre eventualmente com 1 em mil pares de  almas paralelas. Uma vez que ocorre a destroca, elas nunca retornam a trocar.'. 

Fiquei estático ao ler isso. Esta era a minha resposta! Eu estava em meu -vamos dizer assim- corpo paralelo! É assustador, mas pelo menos alivia saber que eu posso voltar ao normal. Agora só me restava achar o método de destroca no livro.

Frustração. A única coisa que achei foi um simples "não há um jeito de induzir a destroca, mas esta ocorre naturalmente".

Isso significa que vou ter que esperar.

Só espero não ficar louco até que isso aconteça! 

Bom, vou dormir agora. Já fazem noites que não durmo -este já é meu terceiro dia aqui na Death City- e eu estou extremamente cansado. Mas de qualquer maneira, não deixarei de relatar tudo que me acontecer.