Uma luz bateu na minha cara.

Ai, que saco!

Eu estava dormindo tão bem... Forcei meus olhos, tentando adormecer novamente, mas não consegui. Isso não é nada maneiro.

Depois de um tempão me revirando na cama, abri os meus olhos e vi paredes brancas. O que diabos era aquilo?! As paredes de meu quarto sempre foram laranjas! Agora, estavam tão brancas quanto a cara do Kid. Onde estavam meus posters?!  Minhas coisas sumiram!

Me sentei na cama e continuei a observar tudo. Não dava nem pra ver uma porta. Que droga! Além de não estar no meu quarto, de não me lembrar de ter ido ali, ainda não tinha saída! 

Coloquei uma de minhas mãos na minha testa e pude sentir meu cabelo mais espetado do que nunca. Arranquei um fio de cabelo... Um fio de cabelo LOIRO?! Meus cabelos são brancos desde que me lembro por gente! Levantei às pressas e me lancei em direção à parede. Comecei a apalpá-la, em busca de uma porta ou qualquer outra abertura que poderia usar para fugir dali.

Bingo! Achei um vãozinho que parecia ser parte de uma porta. Tentei formar uma lâmina de foice no meu braço esquerdo, mas a única coisa que apareceu foi uma coisa muito estranha. Parecia uma espada branca, com uma estrela azul com as cinco pontas amarelas grudada na extremidade da espada, com o que parecia um coração ao lado.

O que DIABOS era aquilo?! Eu nunca vi nada parecido na minha vida! De qualquer jeito, tinha que sair dali!

Coloquei a ponta da 'espada' no vão que eu achei na parede e tentei fazer uma alavanca, mas não adiantou.

-Então vou ter que arrombar!

Dei alguns passos para trás e comecei a contar até 3 bem devagar. Quando terminei de contar, coloquei meu braço direito à frente de meu corpo e corri na direção da porta, de olhos fechados. Não queria ficar de olhos abertos e correr o risco de parar no meio do caminho por causa do receio de bater de cara na porta.

Eu não senti absolutamente NENHUM impacto, além de ouvir o baque do meu corpo se estatelando no chão. Isso sim doeu. Rolei no chão, com os braços junto à minha barriga, da esquerda para a direita algumas vezes, quando fui barrado por um par de pés.

-O que você está fazendo, Roxas?

Olhei pra cima. Tinha um palhaço ali! Pelo menos, pareceu um palhaço no começo. Ele tinha o cabelo vermelho espetado pra trás, os olhos verdes esmeralda sarcásticos focados em mim e duas tatoos logo abaixo dos olhos, que por um instante pareceu maquiagem.  Sentei no chão de imediato. As coisas estavam ficando cada vez piores pra mim!

- Pare de me olhar assim, guri! Parece até que você não me conhece!-disse ele

-... E eu conheço? -respondi

Ele me segurou pelo braço e me pôs de pé. Disse alguma coisa sobre eu estar ficando louco por, além de estar rolando no chão, ter me jogado pra fora do quarto de pijamas. Me aconselhou a colocar meu casaco, que eu não sabia qual era, antes que eu fosse pra sala de reunião, que eu não sabia onde ficava. Resolvi perguntar, afinal, estava mais do que óbvio que eu não conseguiria me achar sozinho.

-Está bem... Mas onde fica essa sala?

Ele então colocou a mão no rosto.

-Gosh, é isso que eu chamo de amnésia com 'A' maiúsculo. - Disse ele, com a voz mostrando frustração - A sala de reunião fica no centro do castelo, que você chega descendo as escadas do final desse corredor. Got it memorized? - Ele me disse esta última frase apontando para a própria cabeça. Nada maneiro.

-Ah, valeu.

Voltei pro meu quarto branco. Novamente, apalpei as paredes procurando pelo armário onde estaria o meu suposto casaco. Consegui achar os casacos, mas nenhum se parecia com os que eu tinha. Aquelas coisas não eram minhas, com certeza! 

Foi então que me lembrei de como aquele cara tinha me chamado. Ele me chamou por 'Roxas'. Roxas... Que nome estranho... Parece nome de mulher. Roxas. Que nome mais afeminado. Isso também não é nada maneiro.

Me perguntei: Por que ele me chamou daquele jeito?

Olhei para a porta do armário. Tinha um espelho ali. Mas... Ele não refletia a minha imagem.  Tinha um menino loiro, de cabelo espetado pra cima e olhos azuis, refletido.

Entendi! Eu estava no corpo de outra pessoa!  Agora fazia sentido!

Espera...

NÃO FAZIA NENHUM SENTIDO!

O que diabos estava acontecendo?!

Vesti um dos casacos pretos que estava no cabide, ao lado de tantos outros iguais, e corri para fora do quarto novamente. Aquele... palhaço (?) continuava ali. Parecia que ele me esperava. De fato, estava ali para me acompanhar.

-Vamos? - perguntou

-Vamos. - respondi

Fomos andando pelo corredor, ficamos quietos por um longo tempo, até que eu resolvi perguntar algumas coisas para ele.

-Então... Por que me esperou?

-Achei melhor ficar e ir com você até a reunião. Do jeito que você está esquecido hoje, é capaz de ter esquecido até meu nome!

Fiquei quieto. Ele olhou bem pra minha cara, suspirou e disse:

-É, você esqueceu. Meu nome é Axel.

Bom, agora que sabia o nome dele, as coisas seriam mais fáceis pra mim. Tentei fingir ser quem ele pensava que eu era, pra não surpreender ele tanto assim. Afinal, meio que estava escrito na cara dele que ele estava surpreso de eu não lembrar onde ficava a sala de reuniões e até mesmo seu nome.

Algo me disse que, se eu quisesse voltar a ser eu, eu deveria passar a confiar nele.