Além do Destino escrita por AnaBonagamba


Capítulo 4
Na sala dos segredos.


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo foi uma surpresa até para mim: meu coração foi capturado por seus encantos.



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Snape parecia convicto em atormentar Hermione naquela tarde. Devido ao turbilhão de pensamentos, a menina apresentou-se desatenta às perguntas dos professor, já acostumado a inquietação da mesma quando dirigia um desafio para turma. Desta vez, a resposta não veio.

– Menos 10 pontos para Grifinória pela incrível falta de concentração da aluna. - disse sorrindo desdenhosamente. - Que sirva de exemplo para os outros colegas. - completou.

A verdade foi que nem mesmo a agressiva ponderada de Severus serviu como base para atracá-la na realidade que se sobrepunha. As revelações de Ginny, bem como as palavras de Riddle em seu diário oculto, ainda caíam inegavelmente sobre seus ombros, de modo que aos poucos o sobrepeso destes pensamentos a deixaram confusa. Aquela seria uma das tardes que passam lentamente, como se o tempo presente pudesse ser retardado.

" Vou mandá-la aos poucos para o passado, utilizando uma magia rara e única, capaz de atrasar o tempo presente para que não se perca demais enquanto urge o passado..." Dumbledore tomaria todas as atitudes e precauções necessárias para consolidar uma tarefa de extrema importância e perigo, que não contaria apenas com sua discrição e coragem, como também seu instinto fraterno e amistoso. Teria sua capacidade de amar incondicionalmente aqueles que vivem ao seu lado sido a principal razão para ser escolhida? Não haviam respostas.

Seria demasiadamente complicado, todavia, requisitar uma terceira opinião sobre o assunto. Ginny mostrara-se extremamente afetada por Tom, mesmo que o tempo tenha urgido proveitosamente a seu favor e de seu relacionamento com Harry, porém estava claro para Hermione que a amiga jamais conjecturaria diante de tal situação: tomaria-a como um ato de abandono. Ron, por mais que ainda lhe tomasse como amigo e respeitasse todos os momentos que compartilharam juntos, não disporia de argumentos para contradizê-la, e provavelmente confiaria de maneira cega nos ideais de Dumbledore, tal qual Harry.

Por fim, não restaram opções.

O caminho para a aula de Slughorn só não fora perdido pelo velho costume dos pés em seguir seu instinto. Tropeçando na barra das próprias vestes, adentrou a sala com alguns minutos de antecedência, selando consigo mesma um acordo onde pudesse se esforçar para manter-se atenta. Porém, a chegada do velho professor relembrou-a de alguns comentários tecidos por Harry acerca da estadia do mesmo na instituição, a necessidade de arrancar dele uma memória íntima, retrocedendo anos, ainda quando lecionava Tom Riddle.

– Ora, ora, ora. - aproximou-se dela, prevendo sua reação. - Perdoe-me se a assustei, tão entretida que estava em suas divagações! - riu o mais velho. - Gostaria de poder ajudar a esclarecer alguma dúvida, se houver. - prontificou-se.

– Ah, hm... - Hermione não iniciaria um diálogo ínfimo com o professor naquele momento, mas a oportunidade calhava suficiente enquanto o olhar sustentado pelo outro tomava uma forma curiosa. - Agradeço imensamente sua preocupação, professor, se pudermos discutir após a aula...

– Perfeito! - bradou. - Perfeito, é claro, que isso não será nem um pouco inconveniente...

– De maneira nenhuma.

Harry apressou-se em tomar seu lugar ao lado da amiga, enquanto Ron sentou-se ao lado de Dino opostamente a ambos. Observou os colegas o máximo que pode antes de anotar as instruções da poção que realizariam. Os pares se movimentavam com pouca agilidade na reduzida sala, e algum cheiro incômodo tomou o ar fluindo de um caldeirão a outro.

– Não faço a menor ideia de como abortar esse problema com o odor... - citou Harry, movendo com a colher algo gosmento e pegajoso.

– Tenho que admitir, sem qualquer nota de rodapé ou indicação será impossível prever o que devemos fazer.

– Sinto falta do livro. Aposto dez galeões que o Príncipe Mestiço sabia como reverter isso. - comentou. - Sei que é contra as regras, antes que me ataque com um turbilhão de censuras...

– A verdade é que neste momento uma ajuda externa seria viável... - Hermione franziu o cenho. - Não buscou mais nada na Sala Precisa?

Harry aproximou-se da amiga, sussurrando.

– Depois do incidente com Malfoy preferi não me envolver. Tem sido suficiente. Apesar de saber que há algo errado, Dumbledore nega veementemente qualquer relação entre o caso, e pior - o moreno abaixou ainda mais o tom de voz. - Snape tem algo a ver com isso.

– Snape? - repetiu mais aguda, arrependendo-se em seguida. Olhou distraída para a poção flamejante do caldeirão, sem qualquer esperança, e volveu-se a Harry. - O que ele poderia fazer?

– Não entendo a influência de Snape sobre Dumbledore, sinceramente. - ele parecia pouco conformado. - Sua confiança é quase insensata, e das piores companhias parece que a dele torna-se essencial.

– Harry, - começou pacientemente. - você mais que ninguém sabe que por trás de qualquer pretensão Dumbledore tem antecedentes.

– Claro, mas a falta de lógica pra mim é espontânea, veja, você mesma comentou n'Toca: - Dumbledore está ficando velho. É óbvio que fica muito mais fácil manipulá-lo assim, e é o que está acontecendo entre ele e Snape.

– Você deve ter mais motivos além de minha própria fala.

– Talvez. Foi só um presságio.

– Não entendi.

– Sem maiores detalhes, é claro, quando o diretor me pediu para investigar um possível modo de entreter os alunos ensinando-lhes técnicas de combate pouco prováveis e muito eficientes... - justificou. - me pareceu que Snape descordou de absolutamente todas as convicções dele, e por isso, apenas por isso, coube a mim esta tarefa.

– Ele buscou por uma alternativa experiente, Harry, não desmerecendo suas ideias! - adiantou-se.

– Desta vez não funcionou bem.

O assunto estava longe de terminar, se não fosse os passos pesados de Slughorn a avaliar os caldeirões um por um, franzindo o nariz ao mover o conteúdo. Ao se aproximar, sua face iluminou.

– Vejamos o que nossos melhores alunos produziram desta vez! - anunciou, recolhendo um pouco da gosma em uma pequena folha. - Ah, acredito que algo deve ter dado errado por aqui, meus caros, infelizmente temo que este não foi o melhor que poderiam ter feito.

– Professor, - interrompeu um aluno da Sonserina. - afinal, o que é isto?

Inacrobatula?– Hermione levantou-se. - É um fermento digestivo artificial, porém sua melhor aplicação ao que se refere é dissolver o veneno de acromântula do sangue de sua presa.

– Eu não esperaria menos da Srta. - Slughorn piscou para a menina, recebendo em troca um sorriso envergonhado. - Estão todos dispensados, até breve, não esqueçam o material requisitado!

A correria característica não sobrepôs Hermione, que esperaria um momento a sós. Ron desviou seu trajeto, olhando-a profundamente. A grifinória olhou para os próprios pés enquanto Lavender recebia o namorado calorosamente do lado de fora da sala.

– Vamos? - perguntou Harry, segurando a mochila em seus ombros.

– Preciso discutir algo com o professor, encontro com vocês no jantar. - respondeu, aparentemente cansada. - Sim, Harry, eu vou ao jantar, e não, não me deixarei afligir por Ron e Lilá.

– Você é incrível, sabia? Já sabe até ler pensamentos. - o garoto riu. - Bom, nos falamos depois.

– Tchau.

Alguns instantes de espera foram bem-vindos. Um pouco mais concisa, preparou como roteiro virtual um diálogo com Slughorn, este aparentemente não se desbravara num completo desastre. As versões dele seriam extraordinárias para completar um pequeno acervo de conjecturas a respeito de Tom Riddle e seu futuro.

– Bem, cá estamos! - animou-se o mais velho. - Como posso ajudá-la?

Hermione aproximou-se da mesa principal, um tanto repreendida pelas próprias considerações. Soltou o ar que continha em seus pulmões e justificou-se antes de questionar.

– Acredito que soará no mínimo estranho, professor, já que supostamente eu sou a última pessoa capaz de causar qualquer intromissão em assuntos que não me dizem respeito... - Slughorn indicou uma cadeira próxima, onde ela sentou ereta e preocupada. - Preciso de algumas informações a respeito de Tom Riddle, como aluno. Sei de referências suas, tal qual sei que era o professor favorito dele. Eu preciso de seu depoimento, senhor, o mais impassível que possa ser, inclusive, se parecer muito atrevimento, mas de alguma forma o que puder me declarar fará uma diferença incrível.

– Diferença em que, minha cara? - colocou as mãos gordinhas sobre a mesa, entrelaçando os dedos.

– Na minha retratação da vida de Lord Voldemort.

A menção do nome fez Slughorn tremer como Hermione nunca vira antes. Os lábios entreabriram-se de choque, os olhos arregalados, na total aversão ao que surgia. Porém, num estalo de sensibilidade, acalmou-se, inspirando profundamente várias vezes, antes de se pronunciar.

– Tom Riddle sempre foi mais que um simples aluno, apesar de não aparentar socialmente. - coçou a orelha displicentemente, como se buscasse maiores lembranças. - Era fascinado por magia, como muitos, e sua concepção de poder nos instigava a escolher para ele o mais brilhante e promissor futuro que um jovem estudante poderia sequer imaginar.

– Ministro da Magia.

– Sim. Tom não pareceu satisfeito com essa revelação desde o começo, quando ainda era uma ideia, tratada junto a um cálice de vinho em uma de nossas pequenas reuniões. Eu mesmo me certificava de que ele se entretinha com as pessoas corretas, de boa espécie, que garantiriam todos esses planos. - citou, com certo orgulho. Porém o receio tomou parte da voz do velho professor. - Era inegavelmente dedicado, e pelo que vejo, não apenas às artes reais. Entenda, jamais, em qualquer hipótese, nutrimos suspeitas por parte de Tom, e o que se tornou é avesso a o que ele mesmo pregava.

– Senhor?

– Pureza de sangue. Foi uma época horrenda, querida, todos fomos afetados. - baixou o olhar. - Fôssemos bruxos ou trouxas, cada vida perdida era motivo de luto para esta escola, e também para ele, que não tinha outro lar além destas paredes.

– O senhor se preocupava? - quedou-se, sentindo que havia mais a ser descoberto.

– Não nego. Ele era meu melhor aluno, e muito querido... Não há dúvidas quanto aos interesses por trás de cada sorriso, sabia como conquistar e, ainda mais, quem conquistar. Apesar de ser seu foco primordial, a arte das trevas não fazia parte do cotidiano dentro de nossa fortaleza, e se desenvolveu isso em Hogwarts, acredite Srta... - suspirou. - Fez isso com uma perícia astuta e silenciosa.

– Eu não duvido que tenha enganado a todos.

– Nos surpreendemos negativamente com o que se fez de Tom, cujo nome não ouso pronunciar e, o que ouso, já está perdido. - disse pesaroso. - Um jovem promissor, capacitado, bonito. O que valeu tanto esforço, se por fim decidiu transgredir os laços humanos a se tornar tal criatura sem amor, menos honra.

– Compreendo seu olhar sobre isso, senhor, mas não creio que houvesse esperança. - comentou a menina, satisfeita.

Slughorn levantou-se da mesa, a idade sobressaindo-lhe devido à conversa angustiante.

– Será? - argumentou. - Eu ainda sou um dos poucos tolos que acredita que toda alma deve ter uma chance de ser salva?

– Não. - respondeu, arrastando a cadeira para longe. - Absolutamente não.

– Seja como for, peço que tome total sigilo desde o primeiro passo para fora daqui, Srta. Granger. - pediu. - Mantenha essa conversa para si como uma conjectura.

– Tem para mim como se nada tivesse acontecido, senhor.

Hermione não esperava tantas informações de sua pequena entrevista com Slughorn, que fora essencialmente proveitosa. Sua jornada em busca da personalidade de Riddle estava se dissolvendo aos poucos enquanto, empenhada como para tudo, reconhecia seu reflexo nas palavras caprichosamente dispostas no livro pessoal, que se tornara parte de sua rotina diária.

Haviam passado dez dias desde o encontro com Dumbledore. Pelo que soubera, as aulas extras já teriam começado na própria semana em que se notificara, atraindo uma leva de estudantes curiosos acerca das novas atividades. Auspiciosamente, fora a única a demonstrar interesse pelo que considerava a mais intrigante das opções propostas, e suspeitara - após a conversa com Harry - que Dumbledore teria de alguma forma decidido que seria dessa maneira antes mesmo que pudesse consolidar sua assinatura.

Nunca duvidara do diretor, entregando-se livremente a sua sabedoria insondável. Porém, tão reclusa em si, percebera que por fim todos os seus dias circundavam através de Tom Riddle e seu diário, onde tão rapidamente tornou-se íntima do rapaz como se o conhecesse há anos. Era improvável desconsiderar que através daquela ferramenta adquirira uma estranha confiança e, - se permitisse aderir esse pensamento - conforto.

Era chegada a hora.

– Você engoliu a comida. - comentou Harry discretamente. - Há algo errado?

– Tenho minha primeira aula de Reviravolta. Estou nervosa. - disse sincera.

– Agora a noite? Depois do jantar? - questionou confuso.

– O que vocês estão cochichando? - aproximou-se Ginny, sentando ao lado do namorado. - Espero que não seja algo monstruoso. - riu a ruiva.

– Estou dizendo a Harry que terei minha primeira aula extra com Dumbledore essa noite. Não sei o motivo deste horário, e não concordaria com ele se não tivesse sido bem claro.

Hermione retirou das vestes um pequeno bilhete em papel marfim.

Cara Srta. Granger,

Fico muito satisfeito que tenha se sentido disposta em iniciar nossas atividades. Tenho absoluta certeza de que serão proveitosas, de fato.

Aguardo sua presença no meu gabinete após o jantar. Entre sem bater.

Atenciosamente, Dumbledore

– Admito, parece fiel. - Harry devolveu o bilhete a amiga, sorrindo. - Faz bem o tipo.

– Imaginei que diria isso. - encerrou. - Bem, eu devo ir agora, passarei meu aposento privado antes.

– Boa sorte! - gritou Ginny animadamente, enquanto a outra saía em disparada pelo Salão.

O cômodo, agora mais reconhecível, revelou-se diante do feitiço silencioso. Sobre a cama, jazia uma caixa branca ornamentada, sem qualquer indicação de remetente, apenas uma inscrição:

Para ser usado propositalmente.

Não foi difícil identificar a caligrafia de Dumbledore, porém a mensagem por trás da caixa revelara-se pelo brasão azul e prateado cintilando ainda que iluminado apenas por um candelabro baixo.

Beauxbatons.

Era um traje típico de época, entre os anos 1940 e 1950, um sobretudo aveludado cuja cor lembrava o céu nublado. As luvas, de um couro acetinado, faziam par com as botas, numa combinação no mínimo bizarra.

Vestiu-se como pôde, tentando apresentar-se ao máximo como uma dama. Soltou os cachos, um pouco abaixo dos ombros, colocando na própria cabeça uma tiara que ganhara da mãe, porém jamais usaria por ser um artefato demasiadamente feminino. Para a ocasião, seria no mínimo perfeito.

Em segurança, desviou-se da multidão tomando rotas alternativas até o gabinete do diretor. Como ditava o bilhete, não foi preciso sequer uma senha: a escada se revelara como uma espera. Subiu, um degrau por vez, até que os olhos azuis pacíficos de Dumbledore encontraram-na na saleta.

– Boa noite, Srta. - cumprimentou. - Vejo que de seu empenho tem colhido bons frutos. - observou-a com um sorriso gentil, guiando a menina para dentro da sala. - Permita-me. - tomou as mãos de Hermione para si.

Novamente, milhares de pequenas luzes flutuantes surgiram na Sala dos Segredos.

– Diga-me, querida, - Dumbledore dirigiu-se a uma estante, recolhendo pequenas amostras de memórias com a mão saudável. - o que achou da leitura?

– O enredo é bem diferente da produção, devo dizer. - Hermione aproximou-se, lendo as inscrições nos frascos. Tom Riddle, 1945. – O senhor não leu uma página sequer, não é?

– Absolutamente. - concordou o diretor. - Não quis intervir em suas próprias conclusões acerca do que - suponho - era inesperado.

– Algumas, inclusive, um tanto absurdas. - acrescentou, piscando várias vezes.

– Desculpe, é realmente desconfortável, tanto brilho. - colocou a penseira em uma mesa de vidro, despejando as memórias sobre ela. - Essas, em especial, tive o cuidado de observar. São memórias particulares minhas, Tom Riddle entre seus 16 e 17 anos.

"Acredito que tenha ficado claro, a partir de nosso primeiro contato, que minha escolha deve-se, singularmente, a capacidade extrema de reproduzir carinho e afeto, Hermione, o que considero uma concepção transgressora. Contudo, devo alertá-la que nosso colega é um tanto hostil, apesar de que, ao que me consta, você é a moldura de apreciações por parte de Riddle: inteligente, bonita, dedicada. Valorosa em tantos aspectos. Todavia, compreenda que ele não será conquistado facilmente..."

– Sei exatamente o que devo fazer. - afirmou. - Se o senhor confiar em mim...

– Eu confio! - adiantou-se Dumbledore, arrumando os óculos meia-lua sobre o nariz.- Estou apenas precavendo-a, inclusive, zelando por sua segurança. Agora, - aproximou-se sério. - escute com atenção. Estamos tratando do maior bruxo das trevas da história, mesmo que este seja ainda um adolescente aparentemente inofensivo. Para o ano que desejo enviá-la, Tom ainda é dependente do orfanato em que morava e, neste período de retorno, acabou a sangue frio com a vida da única família consanguínea que lhe restava, - Hermione abriu a boca, espantada. - o que eu gostaria imensamente que fosse reparado, é claro, conto com sua colaboração.

– Farei o possível. - respondeu num sopro de voz, atordoada.

O diretor pareceu notar o desespero da grifinória, levando sua mão até o ombro da mesma.

– Não se preocupe. Está tudo combinado com meu eu de 1945, inclusive, ele a aguarda ansiosamente. - sorriu abertamente.

– O senhor quer que ele se sinta querido por alguém, especial de uma forma furtiva. Como farei isso, se ele é tão alheio quanto parece ser?

– É claro que no início ele a tratará educadamente como uma estranha, porém, conhecendo-o como tive a oportunidade, acredito que com o passar dos dias, reparando em suas habilidades e, principalmente, se me permite a ousadia, seu bom senso, ele não tardará a se aproximar. Não se deixe levar pelos encantos de suas gentilezas até que se sinta segura para retribuir.

– Sim senhor.

– Você está preparada, Srta. Granger?

– Não, senhor, mas não importa. Eu me prometi que conseguiria. - com os olhos marejados de lágrimas, numa despedida interna, Hermione não deixaria se abater diante do medo e da dúvida.

– Antes de partir, devo mostrar-lhe uma coisa. Aqui. - entregou um porta retratos antigo e empoeirado, tal qual o diário, porém a figura que se movia não parecia menos altiva e elegante. - Achei que deveria conhecê-lo.

– Monitor? - exasperou-se ela, diante da patente.

Monitor-chefe. - salientou. - Esteja preparada quando recebê-la. É uma aluna trouxa transferida da escola de magia cuja perda em números foi a mais considerável. Pode manter seu nome, se preferir. Tradicionalmente passará pelo processo seletivo, e espero que me perdoe por isso...

– Não será o melhor dos inícios, admito. - divagou. - Principalmente perante uma sociedade atrasada e repreendida.

– Há outros motivos para se preocupar agora. - Dumbledore virou-se, proferindo um tipo de magia diferenciada - Estará de volta em breve. Assim que chegar, eu a encontrarei. Boa sorte! - ouvira pela segunda vez na noite, seguido de um sussurro inaudível - Reviravolta.

Não havia apoio em que pudesse se segurar. Arrastada como estava sendo, o simples ato de respirar parecia sacrificante, e logo a tontura aparente revelou-se num torpor. Todo o tempo e espaço desfigurado, regredir anos a fio através de uma fonte mágica desconhecida, onde o navegante pode interagir diretamente com a realidade em que foi engatilhado... muitos acasos para uma única mente assimilar, mas que não seriam esquecidos.

O mau súbito da viagem não parecia ter fim quando, num sobressalto, um ambiente aconchegante e conhecido era desenhado lentamente. Hermione arriscou olhar para baixo, agradecida por estar no chão, e satisfeita por parecer intacta. Uma análise rápida de si mesma confortou-a. Pouco confiante, caminhou largamente até encontrar uma escadaria de pedra, iluminada pelo fogo dos corredores: sabia que estava em Hogwarts; o que a confundia era, exatamente, em que parte dela.

– Posso lhe ser útil, senhorita?

Hermione virou-se, buscando pelo dono daquela voz. Reprimindo o pouco de ar que restara, admirou-se ao encontrar quem menos esperava conhecer no momento; seu rosto liso banhado pela curiosidade e desconfiança, os olhos azuis cerrados, enquanto produzia luz com a própria varinha.

– Sou monitor desta escola. Meu nome é Tom Riddle.


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Notas finais do capítulo

Perdoe-me se o tamanho surgiu como desacato (e é bem verdade que me cansou digitalizá-lo - imagine, pois, lê-lo), não consegui reduzir minhas ideias.
Finalmente, o encontro! Quase não os reconheço, sinceramente. A partir de agora começamos nossa história ;)
Até breve!