Aniya penteava o longo cabelo loiro e Shizuka lia seu livro preferido. Ambas olharam para Marine que, sentada sobre o parapeito da janela, admirava o nada. A morena e a loira trocaram olhares melancólicos e Mameha apareceu. Aniya lançou um olhar de apelo a Mameha e ela interrogou silenciosamente Shizuka, que balançou negativamente a cabeça.

- Pretende ficar quanto tempo desse jeito? – Marine não respondeu. Mameha suspirou e foi até a janela – Vendo a lua? – perguntou com a voz baixa.

- O reflexo dela. – seus olhos apontavam para o pequeno lago oriental.

- Acha bonito?

- Muito.

- Sabe... A lua é uma coisa muito estranha. Não gosto tanto assim dela.

- Mameha, me poupe de suas analogias metafóricas.

- Prefiro o sol.

- Como é? – Marine se enfureceu, pois sabia que se referia à Rika.

-Veja só. A lua traz consigo a escuridão. A noite. De vez em quando, ela abre mão de seu egoísmo e permite um espaço para as estrelas. Ora ela quer aparecer por completo, ora só quer desaparecer... O sol não.

- Ah, que legal! Vamos ouvir mais uma vez todas as qualidades de Rika! – ela falou com Shizuka e Aniya que também prestavam atenção na história.

- O sol brilha sozinho. Ilumina qualquer coisa. Afasta a temida escuridão, é quente. É vida... Não gosto da lua, prefiro o sol. – Mameha se virou e ia deixando o quarto.

- Obrigada por mais uma lição, Mameha. – Marine voltou a observar o reflexo prateado e redondo.

- Mas sabe... A combinação me agrada muito mais.

- Combinação? – murmurou Marine.

- Sem o sol, a lua não aparece. E somente a lua pode trazer o sol de volta, trocando a noite pelo dia. – Marine olhou atônita para Mameha – E você, Marine? Você não deveria estar procurando seu sol? – ela riu cinicamente e cruzou os braços, enfiando as mãos nas mangas opostas da yukata.

Marine abriu um sorriso malicioso.

- Está com saudade, Seiryuu? – disse apertando o braço.

=§=

 Rika estava em pé, com Kurenai ajustando sua yukata para o casamento. Ela admirava o jardim através da janela.

- Pensando em seu casamento? – perguntou Kurenai.

- Sentindo saudade de casa. – ela respondeu com um meio sorriso.

- Rika, esqueça esse passado ruim. Esqueça essa gente.

- Não foi ruim. E “essa gente” me tratou muito bem, me acolheram quando outros me expulsaram.

- Mas se envolver com aquela bruxa...

- Ela é uma bruxa, sim. Mas ela só cuidou de mim e minhas irmãs. – tirou o olhar furioso de Kurenai e o voltou para a janela – E cuida até hoje... – ela se aproximou e sentou sobre o parapeito da janela – Não é mesmo,... Suzaki? – colocou uma das mãos sobre os ombros.

- Rika, minha querida, seu casamento será daqui a dois dias. Temos muito o que preparar ainda.

- Eu sei... Só queria que elas pudessem ver isto também. – ela voltou para perto de Kurenai.

=§=

No dia seguinte, Marine preparava seu cavalo negro quando Aniya apareceu.

- O que faz aqui?

- Irei com você, Marine.

- Volte pra junto de Shizuka.

- Então está tudo certo. – Shizuka surgiu com dois cavalos, um a cada mão, um acinzentado e outro branco.

- Você também?

- E acha que são capazes de sobreviver sem mim? Só respiram sozinhas porque é involuntário.

- Ninguém merece. – reclamou Marine, Aniya tomou o cavalo acinzentado e o montou.

- Vamos levar o de Rika também? – perguntou Aniya.

Shizuka mostrou a corda, amarrada à cela de seu cavalo e ligada ao belo animal de pelagem dourada.

- Ela irá adorar. – sorriu Aniya.

- Ah, claro... Vamos logo. – Marine saiu às pressas com cavalo.

Shizuka também montou o seu e seguiu com Aniya para fora do território da Okiya. Antes de prosseguirem, passaram em frente ao portão principal, onde Mameha esperava, balançando seu leque.

- Voltaremos para te buscar, Mameha. – disse Aniya.

- Uhum... Juízo, Shizuka. – ela brincou, ignorando as outras. Todas suprimiram uma risadinha e os cavalos seguiram a galope o caminho para o Imperador.

- Renka, Naghiny, Seiryuu e Suzaki... Por favor, protejam suas crianças. – Mameha rogou.