Geisha escrita por Najayra


Capítulo 2
Capítulo 2 - As Quatro Irmãs


Notas iniciais do capítulo

Narrado por Rika


Irie é um nome de Itazura na Kiss
Shizuka é um nome de Vampire Knight
Marine é um nome de Magic Knights of Rayearth(versão dublada)



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Shizuka foi a primeira a ser acolhida por Mameha. Aos cinco anos, foi encontrada vagando por esta vila. Magra, mancando, com fome e sem dizer uma palavra. Mameha sabia que deveria ter uma explicação pavorosa por trás daquilo, então a acolheu e cuidou dela. Com poucos meses, já não estava mais desnutrida e conseguia manter um sorriso lindo no rosto, mas continuava calada. Ela mostrou a voz quando Mameha perguntou o que haviam feito com ela. Shizuka havia sido violentada. Dois homens perversos raptaram-na e a levaram para um local longe de sua casa e abusaram de uma pobre garota de cinco anos. Depois de todo o estrago, ela fora abandonada, sem família, sem comida, sem saber onde estava. Vagou por alguns dias até chegar a esta vila e ser encontrada por Mameha. Quando os homens foram cometer o ato pavoroso, ela estava inquieta e assustada, então, decidiram amarrá-la. Como a corda era muito fina e eles apertaram muito, esta afundou contra sua coxa direita. Um corte que, sem exageros, chegou a expor o osso. Claro que o ferimento fora tratado por Mameha, mas ainda tinha uma aparência terrível. Então, ela usou sua magia para modificar o machucado, que deu forma a uma serpente. O animal esguio se enrolava pela perna de Shizuka, rumo à parte externa em direção aos quadris. Além disso, a bela figura tomou a cor verde, a mesma cor dos olhos da menina. Shizuka é a dona da Serpente Esmeralda.

Marine foi a segunda acolhida. Ela gosta de mostrar as pernas e os ombros, mas mantém os braços sempre ocultos com a yukata. Quando pequena, sua vila fora atacada por bandidos e todos os habitantes foram mortos. Ela havia conseguido fugir, mas quando pensou que estava a salvo, os bandidos a encontraram e lhe impuseram algo pior que a morte, a tortura. Atearam fogo em seu braço esquerdo e riram da criança que gritava de dor. Quando foi acolhida por Mameha, tinha apenas sete anos. A dona da Okiya olhou para o braço destruído dela e pensou em “consertá-lo”. Depois de semanas de tratamento, o braço estava praticamente reconstituído, porém algumas partes da queimadura tinham sido severas e, por isso, ficaram incrustadas na pele. Mameha usou magia para modificar os ferimentos. As marcas se posicionaram na forma de um dragão, que se enrolava no braço de Marine. Além disso, as marcas ganharam uma tonalidade azulada, desde então, Marine sente orgulho em carregar o Dragão Marinho consigo.

Não sabemos muito sobre Aniya, pois sua mente entrou em colapso, apagando qualquer vestígio de seu triste passado. Nós só sabemos o que Mameha nos contou. Ela tomou conhecimento de uma espécie de “cadeia” onde pequenos infratores eram brutalmente castigados. Mais do que isso. Eram forçados a trabalhar arduamente e se não o fizessem direito seriam punidos. Essa cadeia “treinava” escravos. Vários senhores feudais iam até esse local comprar escravos, de todos os tipos. Para trabalho, para divertimento, para sacrifícios... Aniya era uma dessas infratoras. Pelo que Mameha ficou sabendo, quando pequena Aniya furtou um pouco de pão e foi pega, jogada nesse antro e cruelmente maltratada. Mameha pediu para vê-la. Quando abriram a cela da pequena loira, ela estava em um canto, encolhida e tremendo de medo. Com a boca e as mãos cheias de sangue. Mameha se assustou com aquilo e perguntou se havia acontecido algo. O capataz contou que, enquanto quebrava algumas pedras, ela parou de trabalhar (o que era inaceitável) e desmaiou, a pobre estava incrivelmente exausta. Foi, então, carregada até a sala de tortura e teve os caninos e as unhas arrancadas. Mameha lançou um inútil olhar de reprovação e repúdio ao capataz. A menina assustada não queria a aproximação de ninguém. Mameha deu um passo em sua direção e ela gritou.

- Acalme-se, pequena. Não lhe farei mal. Vou tirar você daqui.

Ainda hesitante, a loirinha olhou nos olhos de Mameha e sentiu que podia confiar. Mameha a comprou e a trouxe para a Okiya. Cuidou de seus ferimentos e, como sempre, trabalhou com magia. Mameha gostava de dar o nome de criaturas poderosas e dominantes para suas meninas. Marine era o dragão. Encantador, porém instável. Você não pode prever quando ele te fará mal ou bem. Shizuka era a serpente. Sempre esguia e silenciosa pronta para dar o bote quando preciso e te hipnotizar com um olhar intrigante. Aniya se dava muito bem com Marine, e dizem que a única criatura capaz de enfrentar um dragão é um tigre, então, por que não? Após o crescimento das unhas e dos dentes definitivos, Mameha usou magia para que os caninos e as unhas de Aniya ficassem ligeiramente pontiagudos e afiados. Seus olhos denunciavam seu nome, Tigre de Cristal. Aparência bela e imponente, com olhos alvos e chamativos, mas que no fundo era frágil como um cristal. Devo confessar que as unhas de Aniya tinham um formato muito bonito e aqueles dentinhos pontudos lhe davam um charme todos especial. Os clientes adoravam...

Bom, de todas as histórias a minha é a menos cruel, porém a mais complicada. Minha família era muito pobre, faltava comida e sentíamos frio. Morávamos em um casebre perto de uma lagoa. Um belo dia, um dos subordinados do Imperador foi até nossa casa e fez uma proposta irrecusável aos meus pais. Ele compraria a mim por uma quantia mais que razoável, levando em conta nossa situação. Minha mãe recusou a proposta, mas meu pai aceitou, e eu fui vendida. À força, tendo os apelos de minha mãe como plano de fundo, fui arrancada de seus braços e jogada na carruagem. Após alguns dias de viagem, finalmente chegamos ao centro do Império japonês, o palácio do Imperador. Arrastaram-me até o Imperador e sua esposa e me anunciaram como mais nova serva. Eu ajudaria em todos os afazeres. Eu tinha sete anos e já teria de trabalhar duro e de forma escrava. Ao lado do Imperador, havia dois jovens. Um tinha a aparência de dez anos e o outro parecia ter minha idade. O menor me olhava intrigado, hipnotizado... Havia algo de errado comigo? Aquilo estava me constrangendo, ou melhor, irritando. O mais velho me olhava com superioridade. O soldado já havia dado todas as informações sobre mim, mas a esposa do Imperador queria ouvir minha voz.

- Qual seu nome, minha jovem? – ela perguntou.

De cabeça baixa, não respondi. Desde pequena eu era uma menina não muito obediente, mas não tanto quanto sou agora. Era mais dócil, mas hoje isso não existe mais. O soldado bateu em mim e eu caí no chão. O menino mais novo veio me socorrer, preocupado.

- Você está bem? – ele me ajudava a levantar.

Eu fitava seus olhos, em um tom azul-marinho, algo muito incomum para um japonês. Minhas irmãs geishas e eu claro que, com nossas características físicas, nós não tínhamos sangue japonês genuíno. Todas nós somos filhas de imigrantes e herdamos suas características. Mas o pequeno garoto era japonês, e aquela cor em seus olhos era algo extremamente diferente e atraente. Seus olhos levemente puxados encontraram os meus olhos, com a temível cor vermelha. Assenti com a cabeça, respondendo à sua pergunta anterior.

- Qual seu nome?

- Ri-Rika. – o som de minha voz pareceu atingir a todos. Qual era o problema?

- Sua voz é muito bonita, Rika. – ouvi a esposa comentar.

- Os olhos dela, apesar da cor incomum, são levemente repuxados. Algum dos pais é japonês? – perguntou o filho mais velho.

- Sim, meu senhor. – respondeu o soldado.

- Realmente... Exótica e bela. Será uma empregada valiosa. – um menino de dez anos dizendo isso? Que tipo de coisas eram ensinadas a ele?

Passei anos trabalhando para a família imperial. Tinha o filho mais novo como um amigo. Isso era ruim, pois eu estava começando a alimentar sentimentos por ele que não deveriam existir. E ele não parecia rejeitá-los. Um belo dia, quando eu já tinha os meus doze anos, eu fui arrumar o quarto do jovem garoto. Ele estava estudando uns relatórios que seu pai havia pedido. Eu fazia o meu trabalho, quieta e, então, ele começou.

- Rika.

- Ahn, sim? – respondi surpresa.

- Você trabalha conosco há todos esses anos e nunca lhe perguntei.

- O que o senhor deseja saber?

- Qual a sua idade?

- Para que isso agora?

- Apenas por curiosidade.

- Tenho doze.

- Hum... Sou um ano mais velho que você.

- Mesmo? Pensei que tivéssemos a mesma idade.

- Posso fazer um pedido, Rika?

- Claro, senhor.

- Não me chame de "senhor". Sou muito jovem para isso.

- Como devo chamá-lo então?

- Pelo nome. Irie Nurahyon, ou melhor, apenas Irie.

- Mas isso é...

- É uma ordem.

- Ah, certo... Irie.

- Bem melhor assim. – e ele me mostrou o sorriso que me fascinava.

Corei e fiquei presa naquela bela imagem. Ao ver que fui um pouco indiscreta, desviei o olhar, mas ele já havia notado minha reação. Ele se aproximou de mim, agora um tanto sério. Eu me mantive cabisbaixa, em sinal de respeito. Ele não me tocou. Apenas apoiou um dos braços no biombo que estava ao nosso lado e inclinou seu corpo em minha direção. Seu rosto atravessou o meu, indo em direção a minha orelha. E então começou a sussurrar:

- Irei dizer algo a você. Mas é segredo absoluto, ouviu? – assenti com a cabeça, corada. – Desde o dia em que pisou neste lugar... Mesmo com o imenso jardim que tenho de frente para a janela de meu quarto, mesmo com tantas obras espalhadas pela casa, tantos detalhes elegantes, mesmo com a natureza tão esbelta que me rodeia... Você é a única coisa capaz de chamar minha atenção.

Eu arregalei os olhos com a intensidade da última frase. Ele pegou levemente em meu queixo e o ergueu, logo em seguida, seus lábios tocaram os meus. Nos olhamos e seus olhos pareciam querer me invadir, roubar o pouco equilíbrio e sanidade que ainda me restavam.

- De todos os sons, o único que escuto é sua voz. De todas as visões, a única que quero é a sua imagem. De todos os aromas, seu perfume é o único que percebo. Os melhores sonhos que tenho são aqueles em que você está presente. De todas as garotas que terei para escolher, você é quem eu quero como esposa.

Eu ouvi a todas as frases com alegria, mas a última corroeu meu coração. Nada poderia ser melhor do que ouvir isso. Uma simples empregada sendo pedida em casamento pelo futuro imperador. Só podia ser sonho... Mas logo eu descobri que era pesadelo. O irmão mais velho dele ouvia tudo do outro lado da porta do quarto. Agora com quinze anos, tomou o controle da Guarda Real. Ele adentrou o quarto furioso e me pegou pelo braço.

- Isso machuca! – eu disse.

- Kimura, solte-a! – Irie pedia.

- Irie... – Kimura deu um tapa violento no rosto dele. – Não tens consciência do absurdo que acabou de dizer a esta serviçal?

- Não é um absurdo. Quero e irei me casar com Rika. – ele dizia, ainda com o rosto virado pelo tapa, sem olhar para o irmão.

- Você quer, seu irresponsável. Mas não irá... Jamais. – ele me puxou pelo braço – Seus serviços não são mais necessários. Sua estadia termina aqui. – disse ele com a voz ríspida.

Ele então me arrastou para fora do quarto até o salão imperial, onde se encontravam o Imperador e sua esposa. Ele disse que eu havia seduzido Irie, e que agora ele queria cometer a loucura de se casar comigo. Irie tentou explicar, mas o Imperador foi irredutível. Kimura disse que existia um lugar para mulheres como eu, a Okiya da Bruxa. Eu fiquei apavorada. Todos tinham conhecimento da fama daquela mulher. Eu implorei para que não fizessem isso. De nada adiantou. Todos, com exceção da Imperatriz, concordaram em me jogar naquele antro de bruxaria. Mas Kimura pediu que, antes disso, ele pudesse me castigar. O Imperador concordou novamente. Kimura me levou para um quarto isolado e nos trancou lá dentro.

- Por favor, senhor, eu lhe imploro que não faça nada comigo.

- O que pensa que desejo fazer com você? – ele me abraçou por trás e foi subindo com sua mão por minha perna.

- Por favor...

Ele rasgou a parte de cima de minha roupa simplória, deixando esta parte nua. Eu começava a chorar. Ele acariciou meus seios, que na época eram menores que agora, óbvio.

- Hum... Bonitos... Mas não me interessam. – ele me jogou no chão com força. Foi até um canto do quarto e sacou uma espada da bainha – Cuide para não se mexer enquanto faço minha obra de arte.

- Obra de arte? – eu dizia em prantos.

- Diga, Rika. Já viu, alguma vez, meus desenhos?

- Sim, meu senhor.

- Gosta deles? Acha-os bonitos?

- S-sim... Acho...

- Então terá um deles... Carregará uma obra minha, para sempre, consigo.

Ele começou a correr a espada em minhas costas. Eu gritava de dor. Sentia minha pele ser rasgada pouco a pouco. Podia ouvir também a voz de Irie, gritando por mim, do outro lado da porta trancada. Uma noite de tortura. Uma noite para nunca mais esquecer.

No dia seguinte, Kimura finalmente destrancou a porta. Irie havia ficado lá, esperando para que pudesse me ver.

- Ela é toda sua... – Kimura disse a ele.

Irie correu para dentro do quarto, correu até mim. Um corpo deplorável despejado no chão, em meio a um rio carmim que se misturava com minhas lágrimas cristalinas. Estava imóvel, não conseguia falar com o homem que eu amava, somente ouvia seu apelo desesperado.

- Rika, por favor, não morra. – ele me abraçava sem se importar com o sangue – Rika, escute. Espere por mim. Eu ficarei mais poderoso. Poderei enfrentar meu pai e passar por cima do meu irmão, irei atrás de você. Escute bem, Rika. Você ainda será minha esposa. Não esqueça isso. Eu amo você. – foi a última coisa que ouvi antes de apagar.

Quando acordei, estava na Okiya, sendo avaliada por Mameha.

- Mas isso é uma obra prima! Traço perfeito! – ela falava da marca em minhas costas.

Levei algumas semanas para abrir a boca e me conscientizar de que Mameha era uma boa pessoa. Mas nunca me relacionei com as outras meninas, apesar de que elas pareciam ignorar minha vontade. Elas se preocupavam comigo, me tratavam bem, até mesmo Marine. E isso me cativou.

Então se passaram cinco anos. E ainda estou aqui. Aos 17, ele deve estar com 18. Muito tempo se passou e nada. Pelo visto, aquela promessa nunca existiu. Meu mundo agora é a Okiya, minha família está aqui. Sou a Fênix em Chamas. E vários clientes adorariam se “queimar” em mim, mas nunca conseguem o que desejam.


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