Geisha escrita por Najayra


Capítulo 1
Capítulo 1 - Guerra na Okiya


Notas iniciais do capítulo

Narrado por Rika



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Eu estava em meu quarto, sentada sobre o parapeito da janela, admirando o pequeno jardim e o lago ao estilo oriental típico que tinha nos fundos de nossa Okiya. Desde que vim trabalhar aqui, aquelas águas têm sido minhas melhores amigas. Pena que o mesmo não acontece com a “água” da casa. Marine, a representante do elemento água, vive exclusivamente para me irritar, contrariar e me desafiar. Eu não sei como a Aniya consegue ter tanto apresso por ela...

Nossa Okiya é considerada a mais exótica da região, pelas “belezas” que vivem nela. E para um local tão exótico, com pessoas tão exóticas, nada melhor que um tema igualmente exótico para nossa Okiya. Os quatro elementos: fogo, água, terra e ar. E coincidentemente, cada uma de nós coube perfeitamente em um desses elementos.

Aniya é leve, alegre e extrovertida. Sua cabeça parece estar sempre livre e limpa de preocupações. Ela é a representante do ar. Com sua yukata super-curta e de cores leves. Tem os cabelos loiros, olhos acinzentados e uma expressão um tanto infantil. Considera Marine como uma irmã mais velha. Ela é a dançarina da casa.

Marine é um problema. Volúvel, ousada demais, petulante e egoísta. A representante da água é inconstante. Ora está calma e cristalina, ora está agitada e turva. Ignora sua yukata comprida e sempre arruma um jeito de deixar as pernas e os ombros à mostra. Devo admitir que tem belos olhos azuis e cabelos cor de chocolate. Mas o que encanta os homens é a sua voz, ela é a cantora da Okiya.

Shizuka é a representante da terra. Sempre tranquila e responsável. Mameha costuma deixá-la no comando da casa quando se ausenta. Aparentemente é recatada, mas na verdade saber agir de forma madura e sensual perto de um homem. Toca os instrumentos musicais, acompanha as apresentações de Aniya e Marine. Tem olhos verdes e cabelo preto. Ela se mostra muito quieta, mas é bastante inteligente e sabe montar estratégias com muita eficiência.

De repente, ouvi um grito vindo da sala. Arrastei meu corpo até lá, de má vontade. Quando cheguei, vi a histérica da Marine esperneando.

- O que houve aqui?

- Rika! Eu sei que foi você! Devolva!

- O que eu fiz dessa vez?

- Você pegou meu pente! Aquele que ganhei de um cliente, com pedras de safira!

- E por que eu iria querer algo que nem combina comigo, Marine?

- Pelo prazer de me irritar!

- Ei! Quem gosta desse passatempo é você e não eu!

- Ah! Parem com isso! – resmungou Aniya ao ver que já estávamos prontas para rolar no chão.

- Deixe-as, Aniya. Quando Mameha ouvir as duas brigando, ela virá dar um jeito. – disse Shizuka lendo um livro.

Não levou muito tempo para que Marine e eu nos atracássemos. Puxões de cabelo, unhadas, tapas, tudo o que tínhamos direito. Até que Mameha apareceu...

- Escuto barulho de cadelas no cio? – ela conseguia ser sempre sarcástica.

- Na verdade, briga de galo. – contrariou Shizuka.

- Galinhas... – corrigiu Aniya.

- Shizuka, ajude-me com elas.

Shizuka confirmou com a cabeça e foi para trás de Marine enquanto Mameha vinha em minha direção. As duas nos agarraram pela cintura e nos separaram. Saímos descabeladas e com algumas marcas pelo corpo, nada que Mameha não pudesse cuidar.

- O que vocês pensam que são? – ela estava irritada. – São geishas. Comportem-se como tais!

- Todos pensam que geishas são o mesmo que cortesãs, prostitutas. Então, qual o problema de agirmos como tais? – Marine falava muita besteira.

- Vocês sabem o verdadeiro significado de ser geisha. Vocês vendem suas habilidades, não seus corpos. Aniya dança, Shizuka toca e você, Marine, canta.

- É... Mas os clientes sempre recebem um “extra” e a senhora aceita o dinheiro.

- Marine, quem faz o extra é você... E porque quer! Aniya não faz nada, Rika não faz... Nunca te forcei a fazer nada, você que sempre se insinua para o cliente. O que sempre ensinei a vocês são as regras do jogo da sedução e como ganhar sempre. Cabe a vocês decidirem entre ganhar ou perder e, desculpe Marine, você sempre perde para os clientes.

- Olha como fala! Eu sou a sua fonte de lucro, Dona Mameha! E tem mais! Depois de mim, quem mais lucra nessa casa é essa daí, a Rika. O que ela tanto faz com os clientes, hein?

- Nada do que você costuma fazer, Marine.

- Ah, é! Esqueci que você aguarda a chegada do príncipe rico que irá te levar para o castelo...

Não pude me conter. Interrompi a fala de Marine com um belo tapa na cara. Mameha havia me soltado, pareceu que ela queria que eu batesse. Dei meia volta e entrei em meu quarto, fechando a porta e me sentando em frente ao espelho. Ouvi Marine reclamar do lado de fora, Mameha disse que iria cuidar dela depois e entrou em meu quarto para me tratar.

- A pior coisa que você faz é cair nas implicâncias dela.

- Eu sei.

- Então, não caia.

- Eu tento... Ao máximo.

Mameha se aproximou e abaixou minha yukata, deixando meus seios e os machucados expostos. Começou a me acariciar, na verdade, esparramava uma pomada, que sempre carregava consigo, sobre meus machucados.

Mameha era praticante de magia. Muitos diziam que ela era uma bruxa. Para mim, ela era uma mãe. Mameha tinha grande apresso por mim, eu sentia isso. Ela era a única que sabia a verdade, completa, por trás do meu rosto bonitinho. Ela aproveitou a pomada para passar sobre a “tatuagem” em minhas costas.

A perfeita imagem de uma fênix, desenhada em detalhes pela espada de um homem vil. Meu maior desejo é que um dia as chamas do inferno se deliciem com o tempero da carne daquela criatura. Ao passar as mãos sobre a figura, contrai um pouco o corpo e senti uma dor aguda.

- Ainda dói? – Mameha perguntou.

- Um pouco...

- Não posso dizer que você sofreu mais que as meninas, pois são categorias diferentes de sofrimento. Mas posso afirmar que a categoria de sua dor é abominável.

Não respondi, pois quem cala consente. Eu concordava plenamente com Mameha, mas não fazia questão de voltar com as lembranças a minha mente. De repente, Mameha começou a falar. Um monólogo, ou melhor, uma avaliação. Ela estava falando sobre mim...

- Rika, a representante do fogo. Ah... Sempre indiferente, um corcel indomável. O desejo maior de muitos homens, dos que podem e aqueles que não podem pagar por seus serviços. Pena daqueles que desembolsam fortunas para obter seus “cuidados”. Em minutos de conversa percebem que cometeram um erro gravíssimo. – ela riu, interrompendo a critica.

- Qual a graça, Madame Mameha?

- A graça, minha pequena, está no fato de você não se curvar a ninguém e todos terem plena consciência disto. Mesmo assim, há aqueles que te desafiam e pensam sair vitoriosos... Você sofreu muito na mão de pessoas impiedosas, conhece bem a verdadeira face da vida. Mesmo assim, não perde a pose nem a elegância que lhe é peculiar.

- Agradeço os elogios.

- Cabelos de intensa cor ruiva... Isso é o de menos. – ela pegou em meu queixo e me fez olhar para ela – Sua marca não está em suas costas, na cor de seu cabelo ou em seu coração... Tal marca está em teus olhos. Dois rubis que abrigam labaredas dançantes e inquietas, prontas para queimar o primeiro que ousar invadir o santuário sagrado de sua beleza.

- Gosto do modo como utiliza as palavras, Mameha. Elas saem poéticas, até o que é triste ou assustador sai belo e sonoro.

- Agradecida, minha pequena. Bom... Você está nova em folha! – ela dizia se levantando. Eu puxei novamente a yukata por sobre os ombros – Agora devo cuidar de Marine, você fez um belo estrago na minha melhor garota.

- Sei que pode lidar com o “prejuízo”. – ela riu suavemente.

- Claro, claro. Se cuide, Rika.

Apenas assenti com a cabeça e a vi sair de meu quarto e fechar a porta. Toquei com uma das mãos parte da fênix. Todas aqui conheciam o passado umas das outras, mas ninguém ousava comentar. Era algo que queríamos eliminar de nossas vidas. Quando Mameha nos acolheu, tínhamos marcas, ferimentos horríveis, que foram curados por suas poções. Mas em cada uma de nós, houve pelo menos um ferimento que nunca desapareceu completamente. Para manter nossa beleza, Mameha usou magia para “disfarçar” tais marcas. Esses ferimentos “corrigidos” funcionam como nossos codinomes aqui na Okiya.


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Notas finais do capítulo

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