Assim que Liz entrou em casa, pegou sua mochila e rumou para o andar superior, deixando Damon e suas insinuações pra trás. Deus, já era difícil ficar por perto sem aquilo, imagine agora, com ele todo saidinho?

No topo da escada, percebeu que nunca tinha estado ali antes. Em suas visitas pela casa, por motivos óbvios, nunca estivera naquela parte da mansão. Algumas portas se espalhavam pelo corredor e ela explorou, curiosa. O primeiro cômodo era um banheiro social. O segundo, um quarto imaculadamente arrumado. “Deve ser o quarto do Stefan, ele deve até ter mania de limpeza”, pensou ela com um sorrisinho. O terceiro que ela checou estava com a porta trancada. “O Damon não deve querer ninguém mexendo na coleção de revistinhas dele”. Ela riu mais um pouco. Por fim, atrás da última porta, encontrou um aposento quase tão arrumado quanto o que vira antes, só que, sobre uma cadeira, ela viu roupas femininas. Notou que eram de Rose.

Decidiu se instalar ali mesmo. Estava cansada demais pra procurar outro lugar pra ir. Além disso, Rose deixara claro na mensagem que enviara que só retornaria no dia seguinte.

Liz se preparou para dormir. Trocou as roupas que usava por seus pijamas favoritos. Simples, basicamente short e camiseta. Escovou os cabelos, apagou a luz e deitou-se. A cama era um tanto dura para o seu gosto, mas o corpo cansado não protestou por mais de um pensamento.

Relaxada, ela fechou os olhos e esperou o sono chegar. Após alguns instantes, sentiu o colchão ceder ao seu lado e braços lhe enlaçarem a cintura.

“Mas que diabos” ela acendeu o abajur “Damon! Sai daqui, agora!”

“Não” Foi a resposta tranqüila dele, enquanto a puxava para mais perto.

Ele mantinha com os olhos fechados e o rosto sereno. “Ah, se eu não te conhecesse” ela pensou. Então pediu novamente.

“Damon, por favor. Eu tô cansada. Me deixa dormir”

“Foi você quem começou com o falatório. Eu simplesmente vim pra cama dormir...”

“E de onde você tirou a brilhante idéia de vir dormir minha cama?” ela o cortou, perdendo a paciência.

“Na verdade, é minha.” Ele abriu os olhos e sorriu. “Minha cama, meu colchão, meu travesseiro... enfim. Meu quarto.”

Liz se sentou na cama e tentou olhar em volta. Mesmo na penumbra, conseguiu ver que ele estava falando sério. O quarto todo tinha a cara dele. Os móveis pesados, de mogno. Os CDs de rock. Até mesmo a pintura abstrata pendurada em uma parede, aos olhos dela, tinha tudo a ver com ele. Mas então porque...?

Ela levantou com um pulo. “Desculpa, Damon. Eu... eu não...” ela gaguejou. Ainda bem que não enrubescia, senão a humilhação seria ainda maior. Pensando bem, agora era óbvio o motivo pelo qual as roupas de Rose haviam sido esquecidas ali.

“Tudo bem” agora era ele quem sentava na cama, sob as cobertas. Ela notou que ele estava nu da cintura pra cima. Ela quase babou.

Ele notou a direção do olhar dela e, é claro, não perdeu a oportunidade. “Gosta do que vê, princesa?”

Ele pegou a primeira coisa que encontrou – uma almofada jogada perto da cama – e a atirou na direção dele. “Seu imbecil convencido, se você simplesmente tivesse me dito onde dormir, nós não estaríamos aqui, nessa situação ridícula!” ela bufou de raiva.

“Calma princesa” ele tinha apanhado a almofada ainda no ar e agora brincava com ela. “Como é que eu ia imaginar que ia encontrar você assim, tão linda, na minha cama?” ele deu um sorriso que beirou a inocência. “Gostei do pijama.”

Ela revirou os olhos. “Eu sabia que devia ter ido embora.” Ela pegou a mochila e começou a procurar suas coisas no escuro. Ele levantou e acendeu a luz. “Obrigado, Deus, por ele estar de calças”, ela agradeceu em pensamento assim que o viu na claridade.

“Você é que está sendo ridícula. Eu não fiz absolutamente nada demais!” ele sorriu, sem vergonha alguma. “Eu nem mesmo tentei te seduzir!”

Liz tentou decidir se sentia-se decepcionada ou aliviada. Escolheu simplesmente ignorar o comentário. Apenas disse: “Você acha que se esgueirar pra minha cama é ‘nada demais’?” e ele notou o tom irônico na voz dela.

“MINHA cama” ele falou como se precisasse desenhar pra ela entender. Depois deu de ombros. “Enfim, eu achei que você já tava dormindo e não quis te acordar.”

“E teve de se jogar em cima de mim por quê?” ela podia jurar que estava vermelha de raiva.

“Eu não me joguei em cima de você, princesa.” Ele sorriu. “Eu. Te. Abracei.” Deu um passo na direção dela ao proferir cada uma das palavras. “E antes que você me pergunte o porquê e jogue pó de fada em mim até eu ficar cego, em minha defesa eu digo que gosto de dormir de conchinha.”

“Pó de fada? Hã? Eu devo estar alucinando” ela passou a mão pelos cabelos e suspirou. “Desde quando você tem complexo de Peter Pan, Damon?”

Ele gargalhou ao perceber que ela entendera a piada. “Não importa. Mas, de verdade, você tá fazendo drama onde não tem. Agora deixa isso tudo aí no chão e vem dormir” ele se virou e apagou a luz.

“Eu não vou dormir com você!”

“E se eu disser que tenho medo do escuro?” ele fez beicinho.

“Compra uma lanterna e enfia no...”

“Nossa!” ele a cortou “Cadê aquela menina doce e gentil que eu conheci” ele se aproximou novamente dela, e lhe acariciou o rosto com as mãos.

Ela respirou fundo antes de responder bufando, se livrando do toque dele. “Você quer mesmo saber, Damon?”

“Talvez, mas hoje não” ele deu um sorriso safado. “Já que vamos dividir a cama...”

“Só nos seus sonhos, Salvatore!” ela queria quebrar algo na cabeça dele, mas nada lhe pareceu pesado o suficiente.

“Eu não gosto de dormir sozinho, princesa.” Ele fez carinha de abandono.

Ela semicerrou os olhos e disse por entre dentes “Então é melhor você comprar um cachorro pra te fazer companhia até a Rose voltar.” Ela pegou novamente a mochila que ele lhe tirara das mãos. Deu dois passos em frente e jogou uma jaqueta, que Rose deixara na cadeira, nele.

“Você parece que tá com ciúmes, princesa.” ele piscou pra ela.

“Vai te catar, Damon!”

Damon suspirou. “OK, que você nunca diga que eu não sou um cavalheiro. Pode ficar com a cama e dormir tranquila. Eu passo a noite no quarto do Stefan.” Ela se afastou e cruzou os braços, esperando que ele saísse. Ele caminhou até a porta, a abriu, virou-se e, deixando Liz na dúvida se aquilo era uma ameaça ou uma promessa, disse:

“Mas essa conversa ainda não terminou. Eu e você ainda vamos passar a noite na mesma cama. Muitas noites, na verdade. E dormir vai ser a última coisa que você vai querer fazer.” E sorrindo, ele saiu.