Capítulo 6 : Decisão de partida.

Eu, a aquela altura não esperava mais nada daquele homem, senão o mínimo : que aceitasse essa verdade.

Mas, ao invés disso ele me direcionou outro olhar de reprovação, quebrando o silencio com sua fala convicta:

-Não tem como esse filho ser meu.

Suspirei, mais uma vez cansada. De onde mesmo eu tinha tirado que ele concordaria com aquilo? Era tão cabeça dura que nunca iria aceitar, negaria até o fim.

-...quando aportamos em Edo, todos saímos para beber e você tinha bebido muito...então...aconteceu. -continuei.

Hijikata-san ao ouvir aquilo parecia ficar aflito. Seu silencio seguido foi a resposta definitiva que eu precisava naquela hora.

-É, não tem  mesmo  como Hijikata-san acreditar, não é? -falei, irônica.

Aquilo que eu já devia saber desde o início. Agora já percebia que tinha sido a mais tola de todas ao acreditar ainda no amor.

Amor não existia. Pelo menos não para mim.

Porque agora estava mais certa que para aquele guerreiro só importava a espada, a guerra, e acima de tudo sua honra. Nada mais,em sua vida eu não tinha espaço, tão pouco em seu coração. E o que dirá desta criança que estava para nascer?!

Nunca teríamos um futuro, uma família, pois ele morreria dando a vida pela causa que defendia.

Virei o rosto para o lado oposto, para não ver o olhar de espanto que me direcionava. Devia pensar o como eu era uma mulher indecente, que só falava agora absurdos. 

Antes de sair, ainda lhe disse:

-Não se preocupe, Hijikata-san. Já estou indo arrumar minhas coisas, só me dê alguns minutos.

Saindo então daquele quarto, fiquei mais aliviada. Longe de sua presença eu ficava melhor.

E meus olhos não derramaram mais nenhuma lágrima. Podia jurar que estava sem brilho.

Aquele brilho que tem toda pessoa apaixonada. Aquele brilho eu havia perdido.

Passei, por um quarto que estava com a porta aberta e parei, à frente da pessoa que estava sentada na entrada, distraído. 

-Heisuke-kun... 

Ele levantou o olhar para mim, quando lhe chamei. Parecia que eu tinha o tirado de devaneios.

-Chizuru...

Alguns segundos mais ficamos em silêncio. O que eu poderia dizer? Que iria partir? Que era a última vez que o veria, assim como todos os outros do Shinsengumi?

Aquele seria minha despedida então.

-Parece preocupada... -concluiu.

-Hum... 

-Vamos, Chizuru! Sorria! Não é comum vê-la assim tão desanimada!  -disse-me sorrindo, tentando me animar.

Não era possível eu me animar diante daquela situação, mas...tentei disfarçar da maneira que pude.

-Tá! Eu vou indo fazer o restante das tarefas! -disse, animada e sorrindo-lhe de volta.

Uma falsa animação. Mas, não contaria a ele a verdade, nem a ninguém, pois tornaria a despedida mais triste, mais dolorosa.

Assim, segui. Fingindo ir à cozinha, ajudar a preparar a refeição.

E quando parecia não ter mais ninguém olhando, segui para o quarto, para arrumar as coisas e sair.

De bens, só me restava um kimono que ganhei uma vez de presente, e umas coisas mais.

Olhei para aquelas coisas, que me traziam mais vazio ao coração. E decidi por fim deixá-las todas ali, só levando a espada e a roupa do corpo.

Afinal, nem eu sabia mais o que o destino me esperava. Seria ruim se eu caminhasse com muitos bens, certemente seria roubada.

Levantei, não olhando para o que deixava para trás, apenas objetos sem valor.

O que eu mais tinha de importante já tinha perdido, em algum momento, em alguma parte do caminho.

O pátio, que me levava à saida da base estava vazio. Nem Harada-san estava mais lá, nem Osen-chan e nem Kimigiku-san.

Curiosamente ninguém estava a guardar aquele portão. Parecia ter sido deixado perfeitamente para eu sair.

Sim, deviam ter sido ordens do Hijikata-san de que deixassem os portões abertos para minha saída.

Suspirei uma última vez. E a passos rápidos comecei a andar, cruzando o caminho.

Mas perto do portão, quando estava para dar o último passo, ouvi uma voz a me perguntar:

-Está mesmo certa deste caminho que irá seguir...?

Pare, bruscamente. E me virei para ver quem era, com certo receio.

-Saitou-san! -exclamei.

Tinha ficado mais aliviada por ser ele. Se fosse qualquer outro, tanto Heisuke-kun, como Harada-san ou Okita-san, logo me rodeariam desconfiados com perguntas sobre isso.

Parecia que nenhum deles sabia ainda da decisão de seu comandante.

E Saitou-san esperou em silêncio eu responder o que ele tinha acabado de perguntar. Não pensei duas vezes antes de lhe dar a resposta afirmativa:

-Sim. Estou certa desse caminho. -respondi, seriamente.

E mesmo que não estivesse certa do caminho, não teria escolha se estava sendo expulsa.

Ele se virou e saiu caminhando. Não iria me impedir nem burcar maiores explicações.

-Tome cuidado...  -murmurou, antes de sair.

No final, eu não poderia deixar de estar menos agradecida. Por tudo que ele e todos os outros fizeram.

-Obrigada, Saitou-san!! -gritei, quando ele estava mais longe.

Agora, estava livre. Mas sentiria muita falta de todos do Shinsengumi, independente do que Hijikata-san me fizera.

Sim, era melhor sair ao menos com essa satisfação, de que tudo o que eu vivi ali guardaria para sempre em meu coração.

Dei então meu primeiro passo para fora, o primeiro de muitos. Não olharia para trás, somente para frente e também para a  lua que iluminava todo o meu  caminho do céu.

Continua...