Capítulo 19: Retorno.

Como Osen-chan havia previsto, a viagem foi breve e chegamos a noite. Logo que me viu, a oni veio apressada em minha direção.

- Chizuru-chan, como foi o encontro? - ela perguntou curiosa. Esperava que eu voltasse com boas notícias, dissesse que eu e Hijikata-san tínhamos finalmente nos acertado...

- Ele apenas agiu como sempre... - respondi. Era notável o desapontamento pela minha voz - Não quero falar sobre isso. Se me der licença, Osen-chan...preciso me deitar. Estou mesmo muito cansada.

Não estava mentindo, precisava mesmo dormir agora. Mas também naquele momento não estava disposta a conversar. Queria apenas ficar sozinha em meu quarto, no escuro, chorando...como aquele homem depois de tudo ainda conseguia me afetar?!

Da forma como as coisas estavam, era provável que nossa história terminasse mesmo daquele jeito. Ele morreria e eu ficaria sozinha. Iria criar nosso filho, ele teria uma vida maravilhosa, mas eu passaria o restante da minha vida ao lado de um homem que eu não amava.

Por que eu havia ficado tão decepcionada? Logo agora que havia pensado que já tinha superado isso, fui vê-lo certa de que não esperava mais nada dele.

Não...não...eu só estava mentindo para mim mesma esse tempo todo, não é? Pensando que talvez dessa forma a dor e o sofrimento diminuíssem gradativamente. Até esquecer completamente da existência dele.

Era óbvio que naquele momento em que nos vimos, queria que nos acertássemos. Ele iria abandonar as lutas, ficaria ao meu lado, teríamos uma longa e feliz vida juntos. Eu, ele e nosso filho também.

Ele jogou fora aquela felicidade novamente. E eu não conseguia aceitar ainda o que ele havia decidido.

Mas, agora não havia nada a ser feito... Eu parti mais uma vez, e mesmo ele estando presente nesse momento, nem mesmo fez qualquer esforço para me impedir. E eu estava cansada de implorar por atenção, de pedir para que ele me escutasse alguma vez nessa vida.

Agora não tinha mais volta. E pensando no futuro me vinha a imagem de Kazama-san. No lugar de Hijikata-san, era ele que estaria ao meu lado. Era com ele que eu formaria uma família.

Era ele que eu devia amar desde o começo. Não estaria sofrendo tanto agora e talvez nem tivesse sofrido no passado.

Aquele trato... mais do que nunca estava disposta a cumpri-lo.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Na manhã seguinte, logo após o café, resolvi conversar com Osen-chan.

- Eu...penso em partir ainda nesta semana. Sei que não tenho mais o que fazer aqui. E agora que eu e Tomoko nos recuperamos, precisamos retornar para a mansão de Kazama-san.

- Mas, por que?! Eu já disse que não confio naquele homem, você não deve voltar para lá! - Osen-chan bateu com força na mesa, era bem visível sua irritação – Não importa o que diga, eu não vou aceitar!!

- Eu prometi que voltaria. Ainda tenho que cumprir aquele trato.

-Mesmo assim! Eu posso conversar com ele e...!!

- Onis sempre cumprem suas promessas, não? Foi o que me disseram.

- Mas não precisa cumprir essa...- insistiu ela - Não vê que está colocando sua felicidade em jogo?

- Que felicidade eu poderia ter se estou para perder o homem da minha vida e ainda sendo esta uma decisão do próprio?! - desabafei. Osen-chan ficou quieta por um tempo.

- Ainda assim, não concordo. Está sendo precipitada, Chizuru-chan...para começar, nem devia ter aceitado aquela proposta de Kazama.

- Osen-chan...você não entende, não é?

- Não tem como eu entender. Para mim você está apenas tomando uma decisão errada e que mais tarde a fara se arrepender.

- Você já amou alguém de verdade? - perguntei, de repente. Ela suspirou pesadamente, parecia ter se lembrado de algo.

-Sim, eu acho...tenho alguma ideia do que seja isso. Antes eu achava que poderia ficar com quem eu quisesse....mas depois de um tempo comecei a pensar mais em meu clã e, consequentemente, a escolha do meu futuro marido deixou de ser por minha conta...

- Então, no final, você está fazendo o mesmo que eu, Osen-chan. Pensando em ficar ao lado de alguém que não ama.

-Isso é diferente!! - exclamou ela - Tenho minhas responsabilidades, meus deveres, como a representante de meu clã, mas não é por isso que me casaria com qualquer pessoa como você está fazendo!

-Não acho que Kazama-san seja qualquer um. Apesar de tudo ele me ajudou quando eu precisei e por esse motivo quero retribuir!

-Você não o conhece, Chizuru-chan!!

-Osen-chan...tem alguma coisa sobre Kazama-san que você sabe e que não quer me contar, não é? - rebati. Ela arregalou os olhos, mas logo tornou a ficar irritada.

-Eu...não é o tipo de coisa que quero falar agora.

-Certo...

-Bem, vou indo Chizuru-chan. Decida como quiser.

Osen-chan então se levantou e foi embora. Depois eu me levantei também. Estava mesmo sem fome.

Decidi então visitar Tomoko. Bati na porta de seu quarto e a chamei:

- Posso entrar?

- Sim...

Tomoko estava deitada. Logo que me viu começou a sorrir.

- Chizuru-sama, fico feliz vê-la!

- Como está, Tomoko-san?

- Estou bem, como pode ver. Mas ainda recomendam que eu fique assim deitada.

- Entendo.

- O que foi Chizuru-sama? - perguntou ela – Não parece estar muito animada hoje...

- Eu pretendo retornar a mansão de Kazama-san em poucos dias.

- Isso é ótimo! Finalmente vamos voltar! Sinto falta do meu filho e também de Amagiri!

- Sim...o problema é...

- Você não pensa em voltar?

- Há uma coisa que ainda não sabe, Tomoko-san...e quero que me garanta que não contará a mais ninguém.

- Tudo bem. Tem minha palavra, não falarei nada.

Então comecei a contar para Tomoko sobre minha história. Sobre como vim parar na mansão de Kazama-san, meus motivos, sobre o Shinsengumi, sobre a criança que eu estava esperando e até mesmo sobre aquele trato.

Ela ouviu tudo em silencio, apesar de ter ficado bem espantada. Dizia que havia notado que eu estava grávida, mas nunca imaginaria que não era de Kazama-san.

- Eu acho que depois de todo esse tempo, você precisava saber. Não sei se ainda me consideraria sua amiga, escondi muitas coisas...

- Não, não estou em posição de dizer qualquer coisa. Ainda mais porque também já escondi algumas coisas, como aquela vez que fomos ao centro... você continuou do meu lado apesar de tudo, tentou me proteger, para mim é uma prova de que é uma boa amiga. - respondeu ela, sorrindo novamente – mesmo que não retorne a mansão, espero que me visite novamente algum dia!

- Mas eu retornarei...não pretendo ficar aqui. Como disse, tenho alguns assuntos pendentes, preciso conversar com Kazama-san!

- Tomoko... - de repente ouvimos a porta sendo aberta, uma das criadas apareceu com uma pequena bandeja, trazendo a refeição e alguns remédios.

- Ah, já está na hora?

-Bem, Tomoko-san, já vou indo. -disse, já me retirando para que ela pudesse tomar os remédios tranquila- Se puder, mais tarde venho visitá-la!

Sai daquele quarto e logo voltei para o meu. Fiquei na cama, olhando a paisagem pela janela. Não havia muito o que fazer ali.

Tentava não pensar muito em Hijikata-san, para não começar a ficar deprimida.

E o resto dos dias que passei na mansão foram assim. Tive bastante tempo para descansar para o dia da viagem.

- Eu não concordo com o que está fazendo, mesmo assim...não vou deixá-la ir pra lá sozinha... - disse Osen-chan na hora da despedida.

- Obrigada mais uma vez, Osen-chan! Sem você, acredito que nem estaria viva! Muito obrigada por ter cuidado de mim e de Tomoko-san também! - agradeci.

Kimigiku e mais alguns homens do clã Shinobi nos acompanhariam até a mansão para que nada desse errado no caminho. Assim tanto eu quanto Tomoko ficávamos mais tranquilas.

Falando em Tomoko, ela estava realmente alegre. Durante todo o caminho ficou conversando. Sentia mesmo muita falta de seu filho e também de todos daquela mansão, por isso estava ansiosa para voltar.

O caminho para mim, porém, foi longo e cansativo. Eu estava desanimada e nem tentava mais esconder isso. Quando finalmente chegamos, ao final do dia, Tomoko foi direto ver seu filho e eu tinha assuntos a tratar com Kazama.

Mesmo cansada resolvi subir aos aposentos dele. Ele me recebeu e não parecia nem um pouco surpreso.

- Ora, há quanto tempo! - disse ele e o sorriso malicioso voltou a sua face - Teve tempo o bastante para se recuperar?

- Sim, eu e Tomoko estamos bem. Agradeço por ter nos deixado ficar na mansão de Osen-chan.

- Então, parece que aquela tola pela primeira vez fez algo de útil além de me causar problemas.

Eu ainda perguntaria mais tarde para algum dos dois o que havia acontecido para que se detestassem até hoje. Mas no momento não queria prolongar muito a conversa. Ficar muito tempo assim, no quarto de Kazama-san não era bom.

- Se me der licença, já vou indo.

- Eu já devo ter dito, mas parece que você não escutou. Não se pode esperar muita coisa dos humanos...

- O que está querendo dizer com isso?

- Eu soube, parece que aquele homem a abandonou de novo.

- Não diga o que não sabe, Kazama-san. E também não se meta nisso. - dessa vez minha fala foi mais fria - Não importa a minha vida ou o que sinto, contanto que cumpra este trato que fiz com você, não é?

Não esperei ele terminar de falar e já sai. Nenhum outro oni ou servo teria coragem de falar assim com um nobre como ele, mas sempre me alterava quando ele começava o assunto sobre o Shinsengumi ou sobre Hijikata-san. Ele gostava de provocar.

- Ora, Chizuru-sama, não sabia que já tinha voltado! -disse uma criada que acabava de passar pelo corredor, quando me viu do lado de fora do quarto.

- Ah, sim. Eu acabei de voltar!

- Deve estar cansada, não é? Vou pedir para prepararem seu banho!

- Muito obrigada!

Isso mesmo...eu só precisava de um bom banho para relaxar. E talvez esquecer por um minuto todos esses problemas.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Alguns meses se passaram e eu já estava no último mês de gestação. Nesse período as coisas não andavam muito fáceis. Desde quando voltei para esta mansão, aliás, a cada dia eu ficava mais desanimada.

Eu me sentia sozinha, ainda que Tomoko sempre estivesse por perto, tentando me animar. Não importava o que dissesse, nada para mim tinha mais sentido.

Eu havia recebido a notícia de que Hijikata-san havia morrido, não fazia muitos dias. Como a notícia veio de Kazama-san, uma fonte nem tão confiável, ainda pensava se realmente era verdade.

Mas mesmo que não fosse, uma hora ou outra aquele homem morreria, não é? Eu precisava apenas aceitar isso.

O dia do parto se aproximava também. Tenho um pouco de medo, admito. Eu aguentaria aquela dor? Já ouvi falar que é algo horrível. E a criança, como seria? Também, como seria minha vida a partir do nascimento dela?

Eu estava infeliz.

Ah...isso parecia uma prisão. Não importava a forma que visse. Eu não podia mais sair dali, pois da última vez havia acontecido tudo aquilo. Kazama deu ordens para que eu não pisasse fora da mansão, pelo menos não enquanto não tivesse a criança.

Depois do nascimento teria que cumprir aquele trato, não tinha mais como fugir...

- Chizuru-sama? Está ouvindo?

- Hm? - olhei para a porta, apenas tinha percebido a presença de Tomoko depois dela ter me chamado algumas vezes. Andava assim, tão preocupada e distraída ue conseguia perder a noção das coisas que estavam ao redor - ...eu já disse, não estou com fome.

- Precisa se alimentar.

- Depois eu como...

- Mas, não vim para falar sobre isso agora. Uma pessoa está lá na sala, veio visitá-la!

- Uma pessoa?

Quem seria?

Levantei-me com certa dificuldade. Agora essa barriga parecia me atrapalhar a todo tempo. Logo segui a serva até a sala, onde a visita me esperava.

- Ora, ora...Chizuru-chan! Parece que cheguei a tempo! - disse ela, sorrindo - Eu não gosto desse lugar, mas mesmo assim resolvi vir!

- Osen-chan? O que faz aqui?!

Continua...