Opera Paris escrita por Lauren Reynolds, Jéh Paixão


Capítulo 39
2ª Fase: Capítulo 37 - The Doubt Never Goes Away




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Capítulo 02 – The doubt never goes away.

A dúvida nunca vai embora.

A carruagem da Condessa Cullen deixou as terras inglesas no meio da madrugada. Havia um cocheiro e um barão, enviado do Conde Carlisle, que fora instruído a seguir viagem juntamente com a Condessa e não devia deixá-la só. A viagem de Londres até a Cidade Luz iria demorar cerca de cinco a sete dias, se tudo ocorresse bem e nenhum comuna ou revolucionário os encontrasse pelo caminho.

- Lady Cullen, é um prazer revê-la. – O tripulante fez uma reverência. – Obrigado por aguardar. Suas bagagens já foram embarcadas. Este é nosso capitão, o Sr. Beckett.

- Boa noite, Sr. Beckett. – Ela fez um aceno de cabeça.

- Prazer, senhora. Tenho que lhes informar que, infelizmente, nossa viagem será um pouco lenta. Chegaremos à primeira província litorânea da França em cerca de sete dias. – Ele ajeitou o quepe.

- Algum problema com os comunas, senhor capitão? – O barão perguntou.

- Eles estão tomando algumas estradas próximas a alguns estreitos que costumamos usar como rota rápida entre a França e o norte da Europa. Está ficando demasiadamente complicado fazer estes trajetos. – O capitão completou, olhando para o horizonte, enquanto seus tripulantes terminavam os preparativos para a viagem.

- Preocupe-se menos, Senhor. – Esme sorriu. – Com o que quer que seja que esteja em nosso caminho, nós lidaremos. Preciso chegar à França e ir para Paris, o mais rápido possível.

- Chegará senhora, sem dúvida.

Quando embarcou, Lady Cullen foi diretamente para seus aposentos.

O navio partira de Portsmouth discreta e silenciosamente. Não houve muito alarde referente à partida da Senhora Cullen. Assim como o marido, Esme Evenson Cullen vinha de uma importante família inglesa, uma antiga e muito influente família inglesa. Embora parecesse frágil aos olhos alheios, a condessa sabia muito bem se cuidar e o mais importante, imagino eu, Esme Cullen sabia lidar com as pessoas, com todo o tipo de gente, desde a abastada nobreza até os pobres e famintos. Ninguém intimidava a condessa, assim como ninguém se intrometia com o clã Cullen, era uma equação simples.

- A maioria dos portos franceses estão sendo vigiados, capitão. - o marujo entrou afoito na cabine. - Nossa rota terá de ser mudada. La Havre está vigiada.

- Por favor, chame a Senhora Cullen. Tratarei deste assunto com ela.

O marujo sabia o quão perigoso estava ficando aquele tipo de viagem. Ele não era um marujo qualquer, era o responsável por manter a rota traçada pelo capitão. O jovem havia estudado na Escola Portuguesa de Cartografia, a melhor da época; ele sabia bem o que costumava acontecer em épocas que revoltas assolavam o governo. O jovem correu e bateu o mais delicadamente possível na porta da cabine de Esme Cullen. Quem abriu foi o segurança:

- Em que posso ajudá-lo?

- Err... hum, desculpe. - ele respondeu afoito. O homenzarrão lhe assustava. - O senhor capitão deseja ter com a senhora Cullen. É de extrema urgência.

- Ela estará lá. Por favor, aguarde um momento.

O homem tornou a fechar a porta e o marujo suspirou aliviado. Dentro da cabine, o grande homem batia a porta do quarto da condessa; explicou o que o marujo queria e tornou a fechar. Alguns minutos se seguiram e Esme saía de seu quarto vestindo um longo casaco escuro. O marujo fez uma reverência e explicou o que havia se passado.

Esme não temia por ter que optar por uma rota mais longa, de fato, seu temor era por não chegar a tempo na capital francesa e por acontecer alguma coisa a Isabella. E uma parte de si, a maior dela, na verdade, temia e a fazia tremer por dentro ao pensar nos jovens e em seu misterioso sumiço. Era verdade que Edward sempre fora o pior, aprontara demais ao longo da vida e quando, de fato, ele havia se endireitado, algo, no mínimo, assombroso acontecia.

Isabella andava vagarosamente pelo quintal, tomando um pouco de luz solar. Suas feições continuavam tristes e abatidas, e ainda resquícios de dores em seu abdômen. Será que um dia voltaria a dançar?

- Eu jamais entenderei o que pode ter acontecido, Gerard. - Ela aceita o chá que ele lhe oferece. - Tínhamos tudo combinado.

- Em minhas andanças pela cidade, tomei a liberdade de ir à polícia e a guarda real, para informar-me melhor dos acontecimentos recentes. - Ele responde num tom formal e melancólico. - Os comunas são grande parte do problema. Ouvi dizer que as pessoas que estavam nas ruas foram confundidas com os partidários do imperador.

- Então não houve somente um protesto, foi mais que isso. - ela desviou seu olhar da xícara se porcelana e encarou-o.

- O senhor Cullen jamais a abandonaria. Eu receio que os tiros que o bastardo visconde tenha disparado, foram mais letais do que ele poderia ter previsto.

- Do que falas, Gerard?

- Tem detalhes sobre a família Cullen, que eu não sou o indicado para lhe responder, senhorita Swan. Não compete a mim e sim a eles. - A expressão dele era impassível. Ele jamais contaria a ela sobre os segredos obscuros daquela família. - Todavia, acredito que ele não tivera forças para travar uma nova disputa com o visconde e a massa enfurecida.

- Se não for incômodo, continue averiguando. Eu gostaria de saber se existe alguma notícia do paradeiro de Alice e Rosalie. - ela sentou-se na cadeira de ferro negro que havia no jardim. - Gerard, por que continua comigo? Por que não retorna para Londres?

- Porque a senhorita é a única boa companhia para o senhor Edward, e a senhorita o faz feliz. Além do mais, agora é impossível de se deixar Paris. Os comunas fizeram um cerco e estão impedindo a saída das pessoas. As revoltas aumentaram. Eu ficaria feliz se conseguíssemos sair da cidade.

- Tão grave assim? – ela se perguntava se ir para a casa no litoral era uma boa escolha, caso conseguissem deixar a cidade.

- Extremamente grave. A guarda imperial diz que estava revolução será a segunda maior que esta cidade já viu. Eles não sabem se o imperador irá resistir muito tempo, o cerco está se fechando cada vez mais. - Gerard ficou com a expressão sombria. Talvez sair do centro da cidade fosse uma boa coisa a se fazer - Se me permite senhorita Swan, vou até a cidade verificar algumas coisas.

Isabella assentiu. Ele recolheu a xícara que ela acabara de esvaziar e saíra rapidamente. A pálida bailarina andou vagarosamente para dentro do sobrado amarelo. Bella trajava um vestido fluido e longo, num tom escuro e bordô. Em sua cintura havia um laço de fita de cetim na cor negra. Ela não usava espartilhos, anquinhas ou sequer sapatos de salto.

Bella subiu as escadas, entrou em seu quarto e abriu um pequeno baú que havia próximo a penteadeira. O baú era de madeira escura e com alças em couro; dentro dele encontravam-se vários pares de sapatilhas de balé, suas sapatilhas de balé. Ela retirou a sapatilha de cor preta - que havia usado em seu último espetáculo no Opera Populaire - e deixou-as sobre a banqueta. Seguindo a inspiração que vinha misteriosamente, como uma névoa, ela pegou um vestido fluido, cujo comprimento ia até os joelhos, e o vestiu. A seguir, abaixou-se cuidadosamente e calçou as sapatilhas.

No andar de cima, ao invés de um empoeirado sótão, Alice tinha mandado que fosse colocados espelhos nas paredes e barras de bronze. O piso e as cortinas haviam sido trocados e o lugar transformou-se em uma sala de espelhos.

Bella respirou fundo, apoiou-se num pé, ajeitou o outro quase que paralelamente ao primeiro e então inspirou o ar mais uma vez. Lentamente ela endireitara o corpo e, enquanto segurava a barra com uma mão, foi subindo o braço esquerdo em forma de arco até o alto. Ficou na ponta dos pés, subiu o braço novamente e concluiu seus 'pliers'.

- Eu ainda estou aqui. - ela disse para si mesma, enquanto observava seu reflexo no espelho. Não estava perfeito, seria necessário que praticasse mais para voltar à boa forma, mas ainda sim, ela estava ali.

- Olá, querida. - ela viu o reflexo de Madame Dwyer no espelho. – Monsieur Gerard estava de saída e disse que eu poderia subir. – ela desculpou-se.

A bailarina encarou-a, surpresa, logo em seguida, foi tomada por grande felicidade ao ver a professora de balé.

- Oh, Madame Renée! – Ela abraçou-a. – Não sabe como fico feliz em vê-la! Onde está morando, o que houve?

- O incêndio, por sorte, não atingiu a parte interna dos quartos e aposentos. Conseguiram contê-lo antes que chegasse. – Ela contara, enquanto sentava-se na banqueta do piano vertical. – Conseguimos tirar algumas coisas e recuperar outras, mas muita coisa se perdeu.

- Monsieur Charlie e Phillip devem estar devastados, ainda mais com toda a coisa com o Visconde. – Ela lembrou-se de James de Chagny.

- De fato. Muitas obras e todo o dinheiro do Visconde foi doado para a reconstrução do Opera, já que evidentemente um patrono o faria. E o imperador está cobrindo todo o resto. Uma boa ação perante toda esta bagunça com os comunas. – Renée permanecia ereta, mas por trás daquela expressão, Isabella sabia que ela estava tremendamente abalada com tudo.

- Eu não tenho notícias de nenhum deles, Madame.

Madame Renée sorriu triste, afinal, a sociedade já sabia do possível enlace da filha do violinista sueco Swan e primeira bailarina/soprana do Opera, com o Conde Cullen. Era visível que o Conde nutria fortes sentimentos por ela, e que provavelmente iriam para Londres, mas ainda sim... Perder todos de uma forma tão drástica e perder a única coisa que sabia fazer em sua vida... Era deprimente. A senhora encarou-a, observando os movimentos lentos e cuidadosos da bailarina.

- Eu não me recuperei ainda, se é o que iria perguntar. – Bella observou-a pelo reflexo do espelho. – O senhor Visconde, além de tentar me tirar os bens de meu pai, fez o favor de me tirar a dança e a música também. – Ela ironizava. – Felizmente não tive nenhum ferimento num ponto vital, todavia, não posso mover-me com a mesma agilidade de outrora.

- Isso vai ajudar.

Madame Renée virou-se para o piano e começou a tocar uma melodia lenta, que enchia a sala dos espelhos de um novo sentimento, de uma alegria e uma esperança que eram quase possíveis. Isabella fechou os olhos e arriscou mais alguns movimentos, agora afastados da barra. A música enchia seu corpo, como um pouco de água enche um copo; a música trazia a vida de volta a si, mesmo que momentaneamente.

Gerard, assim que saíra, pedira ao cocheiro que o acompanhasse até a propriedade Cullen fora dos limites da cidade. O homem sentara ao lado do cocheiro e ambos seguiram trocando algumas palavras até os limites da cidade. A visão de Paris era de uma cidade sem vida, sem luz. As ruas estavam pouco movimentadas, as crianças não brincavam e os comerciantes apenas deixavam as portas de seus estabelecimentos parcialmente abertas. Muitos portavam armas e objetos para defender-se, no caso de um possível ataque.

Quando se aproximaram dos limites da cidade, algumas ruas pavimentadas com paralelepípedos, alguns comunas faziam uma barreira. Eles foram obrigados a pararem.

- Quem passa? – perguntara um comuna.

- Gerard, meu bom homem. Sou mordomo e este é o cocheiro da família Cullen. – Gerard dissera humildemente.

- Família Cullen? – Outro comuna juntava-se a conversa. – Ouvi dizer que desapareceram.

- Sim, meu senhor. Meu patrão desapareceu e eu estou cuidando de sua noiva, a senhorita Swan. Bailarina. Está mal da saúde. – Ele contara.

- E foram estas mesmas pessoas que estavam na companhia do imperador. Eu deveria levar a todos para a Assembléia. Qualquer partidário do imperador será detido. – O homem dizia, irado.

- Meu bom homem, não me leve a mal, mas o Senhor Cullen e a senhorita Swan obviamente estavam na companhia do imperador. A senhorita Swan era bailarina e era elogiada pelo imperador, e o senhor Visconde de Chagny era patrono, fizeram uma apresentação especial no palácio.

- Caro senhor, precisamos partir o mais rapidamente possível. A residência do senhor Cullen precisa ser organizada, tenho ordens expressas para levar a senhorita Swan imediatamente para lá. – O cocheiro interviu.

O homem pareceu ponderar, então, fez um sinal para que eles passassem. Gerard concluiu que fazer o mesmo percurso quando trouxesse a senhorita Swan e os empregados para a mansão, não seria uma boa idéia. Os comunas estavam ficando cada vez mais revoltados e não iriam aturar mais uma vez. Felizmente, o resto do percurso até a propriedade da família Cullen fora tranqüilo, justamente por ser bem afastada da cidade e no alto de um morro.

Quando os dois chegaram à mansão, dessa vez pela estrada que contornava a propriedade e entrava pelos fundos, num caminho mais íngreme e sinuoso, o cocheiro deixou a carruagem parada a frente da propriedade e seguiu Gerard, que já girava a grande chave antiga e dourada pela fechadura. A porta dos fundos era branca, de madeira bem espessa e envernizada, para impedir que as chuvas estragassem as portas. Eles entraram por um pequeno corredor, que dava para a cozinha, uma pequena saleta e então a sala de jantar.

- Monsieur Gerard? É o senhor quem está aí? – Uma voz ecoava pelos corredores e provinha do fundo da mansão.

- Oh, Senhora, estão todos aqui ainda? – Gerard observou a cozinheira sair de outro cômodo, uma parte anexa à mansão, onde os criados tinham seus aposentos.

- Bonjour, messieurs! – Ela saudou-os. – Estamos todos aqui. Como não tivemos mais notícias, eu tomei a liberdade de dar algumas ordens.

- Nada de ruim ocorreu por aqui, eu espero. Eu temia por todos estarem em apuros, por isso vim hoje. Estive ocupado com a senhorita Swan.

- O que fizeram por aqui, senhora? – O cocheiro olhou ao seu redor.

A cozinheira fechou a porta pelo qual eles haviam entrado e foi para o fogão, que tinha algumas chamas crepitando. Ela colocou um pouco de água dentro da chaleira, um punhado de ervas e pôs para ferver. Enrolou-se em seu chalé e sentou na cadeira.

- Continuamos cuidando da casa, senhor, porém pedi aos meninos que acorrentassem firmemente os portões principais e que deixassem de cuidar dos jardins da frente. – Ela contava. – O pomar também está descuidado e as janelas e portas dos cômodos da frente estão trancadas. Cobrimos alguns móveis e trancamos alguns outros ambientes. Não tivemos problemas, mas todos nós estamos com medo.

- Fez muito bem. Nós passamos pela estrada principal e o tempo fez o necessário para ocultá-la o suficiente. Peça aos jardineiros que usem a cerca viva para fechar aquela entrada. Usaremos somente o caminho dos fundos. – Ele serviu-se de um pouco de chá e, logo em seguida, serviu o cocheiro e a cozinheira.

- Nenhuma notícia dos patrões?

- Nenhuma. – Gerard murmurou. – Preciso que deixe aberto alguns cômodos. Nós iremos trazer a Senhorita Swan e Madeline. Só restam elas duas e a senhorita bailarina está machucada.

- Seria pedir demais a senhora que deixasse a sala de estar aberta com o piano descoberto? – O cocheiro pediu. – A senhorita Swan poderia voltar a tocar ou quem sabe arriscar alguns passos, é bom para a recuperação.

- Excelente! Farei. Vou pedir que voltem com dois dos meninos, assim eles ajudarão a trazer o que for preciso. Tomem muito cuidado, por favor.

Os dois homens não ficaram por muito tempo. Apenas trocaram mais algumas palavras e voltaram imediatamente para a cidade, com mais dois criados. A carruagem percorreu as estradas por trás das matas, um caminho estreito, porém mais seguro, silencioso e sem comunas, o que era deveras importante.

Madame Renée Dwyer despediu-se de sua prima-ballerina e caminhou pela calçada em direção ao que restava do Opera Populaire. Muitos dos que trabalhavam nos bastidores das grandes óperas, ainda residiam lá, Renée insistia em ficar lá, dando apoio as outras que não tinham outra casa, senão o grande teatro.

As catacumbas, onde outrora residia um estranho e misterioso fantasma, estavam silenciosas. Depois da noite em que três tiros foram disparados contra peito do monsieur Fantôme, e um contra Isabella, diga-se de passagem, aquele local tornara-se um silencioso antro. Ninguém ousava descer. Ninguém ousava perguntar sobre o fantasma e nem sobre a bailarina.

- Será que voltaremos a ver o Opera em um grande espetáculo, Madame? – Uma das garotas do coro perguntou, enquanto ajudava com um curativo.

- Ainda temos o apoio do imperador, pelo menos enquanto ele não é decapitado pelos malditos comunas! – Ela exclamou. – Precisaremos do apoio de outro patrôn*, o dinheiro do Visconde vai acabar e ficaremos sem.

- E nem sabemos se Charlie e Phillip continuarão como donos do Opera. – Outra menina, cujo braço estava enfaixado, disse baixo, visivelmente triste. – Eles eram bons, estavam dentro das tendências.

- Tudo culpa do fantasma e daquela Isabella!

Renée sentiu um rubor subir pelo pescoço e parar sobre suas bochechas. Como ousavam falar do Fantasma e de Isabella, sem ao menos conhecer, de fato, o que havia acontecido?!

- Aqueles que falam o que não sabem, descobrem mais tarde que o silêncio é mais prudente. Por isso senhorita, segure essa língua, e mantenha suas mãos na altura dos olhos! – Ela cantarolou, exclamando por fim.

A corista ficou pálida. Ela sabia que dizer “manter as mãos na altura dos olhos”, significava ver um perigo que ela não podia imaginar. E, de fato, ela não o fazia.

- A senhorita Isabella Swan está recuperando-se dos seus ferimentos. Infelizmente, este fatídico acontecimento a impede de fazer movimentos bruscos com o corpo e a impede de cantar, considerando seu estado emocional. – Renée explicou, num tom mais ponderado. – As senhoritas tiveram sorte em saírem com ferimentos superficiais. Tenham compaixão e ajudem-se, porque precisamos reconstruir este lugar, colocá-lo novamente no topo do mundo, ou então ficaremos sem moradia, dinheiro, comida e, se nada disso for suficiente, também ficaremos a mercê dos comunas.

- E o fantasma? Ele nos assustava. – Uma delas disse baixo, com medo da resposta de Renée.

- O Fantasma era um gênio musical, provavelmente agora jaz em algum canto, todavia, era ele o mentor de Isabella Swan e isso a deixa suficientemente abalada para não cantar. Agora durmam. Temos muito que fazer amanhã.

Na manhã seguinte, enquanto Isabella se vestia, com a ajuda de Madeline, Gerard bateu a porta de seu quarto. Isabella escondeu-se atrás de seu biombo e a jovem criada abriu a porta ao mordomo.

- Bom dia, senhorita. – Ele disse num tom mais alto. – Estou partindo novamente para a casa dos meus patrões e já pedi que levassem boa parte das suas roupas e pertences. A senhorita pretende se demorar na cidade?

- Não, Gerard. Quero apenas passar no teatro e ver como as meninas estão. Podemos ir todos juntos. – Ela deduziu. – As carruagens já partiram com os baús?

- Ainda não. Então pedirei aos dois meninos que vão à frente e eu ficarei aqui. Prefiro acompanhar a senhorita. – Ele sorriu e pediu licença a Madeline.

- É uma boa coisa mudar para a casa dos senhores Cullen. – Madeline sibilou.

- Madeline, por favor, peça a Adelitta que venha aqui. Enquanto isso, gostaria que você reunisse seus pertences, mandasse-os junto as carruagens que irão a frente e trocasse de roupa, porque gostaria que me acompanhasse.

- Sim, senhorita. – Ela sorriu e saiu do aposento.

Isabella terminou de trajar um vestido longo e fluido, com um pouco de dificuldade abaixou-se para ajeitar suas meias e calçar um sapatinho estilo Oxford. Madeline já tinha ajeitado seu cabelo, o que lhe pouparia um pouco de tempo, então, quando estava apenas retocando o ruge* em frente ao espelho, Adelitta batera a porta do quarto. Após ouvir a permissão de Isabella para entrar, ela parou próxima a porta.

- Mandou me chamar, senhorita?

- Sim, Adelitta. – Ela sorriu. – Nós estaremos indo para a Mansão Cullen hoje. Eu gostaria que você acompanhasse os dois messieurs que levarão as carruagens. – Ela lhe entregou um papel com algumas anotações. – Gerard me fez este mapa com um caminho alternativo para a mansão. Demorará algum tempo, mas é mais seguro. Madeline se certificará que tudo seja lacrado aqui, enquanto eu resolvo minhas pendências.

- Como quiser. Vou me aprontar.

Adelitta deixou o aposento e desceu as escadas rapidamente. Isabella pegou seu casquete* a pequena bolsa e deixou seus aposentos. No portão da casa, Adelitta já se despedia de Gerard e partia com as três carruagens que iam para a mansão Cullen, ao passo que Madeline já fechava a porta da frente, trancando-a com a chave mestra. Gerard ajudou Isabella a subir os dois degraus da carruagem, logo em seguida Madeline e então, ele mesmo.

- Para onde, senhorita Swan? – O coche perguntou.

- Para o escritório do Monsieur Fontaine.

As ruas parisienses estavam um pouco mais movimentadas que nos dias anteriores, visto que os comunas não tinham causado mais problemas graves, entretanto, ainda viam-se muitas revoltas nas cidades das redondezas e muitos saques a propriedades do imperador Napoleão III.

A secretária de Fontaine abriu a porta, deixou que Gerard acompanhasse Isabella e trancou logo em seguida. Seu chefe recebera Isabella com uma expressão de preocupação e alívio no rosto.

- Sente-se senhorita. – Ele indicou a poltrona. – Fico feliz que esteja bem. Eu fiquei sabendo do grande ocorrido nas catacumbas e ontem puder ver pessoalmente o que ocorrera com o Opera. Demasiado triste.

- Muito, Fontaine. – Ela assentiu. – Mas apesar dos pesares, estou me recuperando.

- Devia sair da cidade, senhorita baronesa.

- Por hora, irei me afastar da cidade. – Isabella pousou as mãos sobre as pernas. – Estou partindo hoje para a Mansão Cullen e não pretendo voltar à cidade, até que tudo se resolva. Tudo o que está na casa de minha amiga Alice, deverá ser levado para a minha residência no litoral.

- Não sei como podemos fazer isso tão prontamente senhorita, de fato, as estradas estão fechadas. – Ele apontou um mapa. – Aqui e aqui, e aqui também.

- Se me permite. – Gerard sentou-se na poltrona e pegou uma tachinha. – Este caminho. – Ele pôs a tachinha sobre um ponto de Paris que Fontaine ainda não tinha pensado. – Será seguro o suficiente, embora seja necessário quase três horas para deixar as redondezas. Entretanto, é seguro.

- Posso pedir que façam isso esta semana?

- O mais prontamente possível, Fontaine. – Ela acrescentou. – Espero que o senhor tenha conseguido fazer o que lhe pedi.

Fontaine sorriu. Levantou-se e abriu um armário grande, cheio de pastas. Atrás de duas prateleiras, havia maletas, duas delas, de porte médio, surradas. Ele fechou as cortinas no escritório e girou a chave da porta. Quando se aproximou da mesa novamente, abriu as duas maletas com uma chave pequena, entregando-a a Isabella no instante seguinte. Nas maletas havia bolos de notas de cem francos. Muitos deles. Eram fileiras de dez, com dez notas cada um, e três camadas.

- Toda a quantia?

- Não. Somente um quinto está aqui. Todo o resto está nessa conta. – Ele entregou um papel timbrado a ela, que leu atentamente as contas que constavam nele.

Monsieur Fontaine havia retirado todo o dinheiro que Isabella, Alice e Rosalie tinham no banco francês e havia transferido-o para o banco europeu, deixando apenas em francos vivos, uma parte da quantia. Isso iria garantir que eles pudessem deixar a cidade tranquilamente quando fosse preciso, já que não se sabia que destino a nova revolução iria tomar.

- Fico grata, Monsieur Fontaine. Não vou lhe deixar com um contato, mas lhe enviarei notícias. – A bailarina sorriu.

- Espero apenas que fiquemos vivos. Já mandei que alguns guardas vigiassem sua casa no litoral e que escoltassem nossa ida até lá. – Ele falou. – Eu também estou deixando a cidade.

- Para onde vai?

- Por enquanto a Suíça. Tenho uma residência aconchegante. Ouvi dizerem que é uma nação neutra. – Ele sorriu. – Este é meu contato lá. Temo que seja nosso último encontro na cidade luz.

- Obrigada por seus serviços, monsieur. Sou-lhe muito grata.

- Eu é que fico feliz, senhorita. Vou prestar meus últimos serviços à senhorita e partirei.

- Sim, monsieur. Merci. Et Au revoir.

- Au revoir, ma cherry. – Ele abraçou-a e abriu a porta para que ela e Gerard deixassem o local.

Isabella entrou na carruagem e ordenou ao cocheiro que as levassem ao teatro Opera. Enquanto passavam pelas ruas de Paris, ela avaliava as pessoas que ali estavam, alguns usavam fardas e roupas que ela nunca tinha visto e outros tentavam seguir suas vidas normalmente. Ao que parece, ela constatou, o Imperador vai mesmo ser deposto.

O Teatro de Paris tinha poucos escombros nas escadarias da parte da frente, o que tornava possível que as carruagens e carroças parassem por ali.

Gerard desceu primeiro e ajudou Isabella a descer, já que ela ainda sentia muitas dores na região abdominal. Madeline ladeava a bailarina, que entrava no lugar que antes fora sua casa. Havia algumas pessoas trabalhando ali, que não a reconheceram prontamente, mas quando ela entrou na galeria, o pintor que fazia a restauração do lugar foi lhe dar boas vindas. Ela e Madeline seguiram para os bastidores, que estavam com suas estruturas inteiras, permitindo que as bailarinas continuassem a viver ali.

- Nunca tinha vindo aqui. – Madeline disse baixo. – Gostava de residir aqui, senhorita?

- Claro. – Bella sorriu. – Tínhamos sempre musica e diversão, histórias assustadoras e muita alegria.

Isabella entrou num corredor amplo e viu algumas bailarinas que ensaiavam alguns passos. Mais a frente estava madame Renée, sempre vestida em seu vestido negro, com sua trança, dando apoio às garotas do coro.

- Bonjour, Madame.

- Bella, Cherry! – Ela exclamou. – Achei que não iria deixar a casa.

- Estou deixando a cidade e indo para a mansão Cullen, enquanto ainda é tempo.

- Entendo. – Ela fez uma expressão triste. – Espero que possamos nos ver novamente. Os comunas e os líderes da Assembléia Nacional, ao que parece, apóiam as artes. Poderemos ficar por aqui e restabelecer o Opera.

- Perfeito, Madame. Fico feliz. – Ela sorriu. – Preciso ir. Gerard está nos esperando.

Elas despediram-se, Isabella despediu-se rapidamente das outras meninas e então voltou à carruagem. Ela sentiu, quando entrava no teatro, uma mistura de tristeza e nostalgia; ver todo aquele suntuoso lugar em pedaços, era como ver um violino Stradivárius sendo quebrado lentamente. Ninguém, em tempo presente ou futuro, conseguiria dar novamente ao Opera Populaire, a mesma elegância e glamour de outrora. Sua história ficaria gravada junto àquelas paredes, em meio ao fantasma de uma lembrança de alguém querido.

Perdida entre seus pensamentos entristecidos, ela nem reparou que a carruagem havia tomado um rumo diferente e adentrava a propriedade de seu amado pelos fundos. Ela nunca tinha reparado o quão grande a propriedade era. A estrada era ligeiramente curvilínea e um pouco estreita, suficiente para uma carruagem passar, mas era impossível de ser vista por qualquer outro veículo daquele tempo.

Quando chegou a casa, Gerard ajudou-a a descer e a subir as escadas dos fundos. A bailarina foi tomada por uma grande nostalgia e por um turbilhão de lembranças.

- Passa bem, senhorita Swan? – Madeline perguntou ao ver sua expressão beirar a tristeza.

- Em partes. – Ela respondeu. – Estou sentindo dores novamente. Preciso me deitar.

- Madeline, leve-a para os aposentos que foram separados para ela. Vou pedir que descarreguem as bagagens e que preparem um novo curativo, senhorita Swan. – Gerard ordenou.

Em outro lugar da França, um navio aportava numa cidadezinha francesa e uma dama, acompanhada de seu criado, descia do navio. O céu estava ligeiramente enegrecido e um vento frio soprava fortemente próximo a baía. Esme Cullen parou próxima a via e esperou que sua carruagem estacionasse.

- A carruagem estará aqui em breve, milady. A previsão para chegar a Paris é de dois dias ou três, dependendo de como o nosso caminho estiver. – Ele parou com os braços para trás, ao lado de sua senhora.

- Perfeito. Gostaria que fôssemos o mais rápido possível. E que pegássemos o caminho mais tranqüilo que for encontrado. – Ela disse baixo. – Não estou em um estado de espírito adequado para ter problemas com comunas parisienses. – Murmurou ela, com certo azedume.

- A senhora teme pela bailarina, ou estou equivocado?

- Não, plenamente certo. Tenho medo do que possa acontecer a ela. Meus filhos estão desaparecidos, minhas futuras noras estão desaparecidas e Isabella está sozinha em Paris.

- Monsieur Gerard está com ela, acho que podemos considerar isso um aspecto positivo.

- Sim, assim espero. – Ela concordou, embora seu coração lhe dissesse que algo importante ainda estaria para acontecer.

N/A:

*Patrôn: Patrono

*Ruge: Blush substancia vermelha usada como blush neste período. Custava muito caro.

*Casquete: Chapéu pequeno, usado no topo ou na lateral da cabeça. Difundido mundialmente pelas inglesas e francesas.


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Notas finais do capítulo

Olá meninas!
Primeiramente, Feliz Natal e Feliz Ano Novo!
Que 2013 seja cheio de coisas boas, sentimentos bons, muitas fanfics, família, amor, dinheiro, saúde e paz.
s2
Bem, ainda não tive tempo livre para responder os comentários, mas vi que várias disseram que não entenderam nada. Ainda vai demorar para entender o que acontece realmente na história, mas prometo que aos poucos vou explicando. (Pq se não, que graça teria, não é mesmo?!) Só o que posso adiantar é um resumo simplificado de tudo o que aconteceu e do que, provavelmente, estará para acontecer, mas sim dar spoilers:
-> Na 1ª fase, até a apresentação/capítulo chamado Don Juan, Bella se perde dos Cullen no meio da confusão por alguns motivos: 1) Visconde, 2) pessoas enfurecidas com o fantasma, 3)Os tiros que eles levam e 4) os comunas de paris revoltados.
-> E tudo o que aconteceu após esse capítulo teria sido um sonho dela, e na verdade, ela acorda alguns dias depois com dores e a história segue o rumo do capítulo 36. :)
-> Se quiserem procurar, no youtube tem o musical do "Fantasma da Opera 2", onde a Christine Daae vai fazer um novo espetáculo para um homem misterioso. Vou postar no grupo no face algum link e algum resumo desse musical novo. Eu me inspirei nele para começar essa 2ª temporada.
E de brinde, vou deixar algumas questões no ar e quero ver o que vocês acham aqui nos reviews ou lá no grupo: *Porque Edward fugiu, quando podia salvar Bella? *Quem atirou nele? *Porque atiraram nele? *Qual o misterioso segredo dos Cullen? (Se é que vocês não sabem...)
Link do grupo: https://www.facebook.com/groups/119864531506798/
Comentem e recomendem!
PS: Essa semana eu termino o capítulo 30 de UPA o/
beijinhos



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