- Oh-ou! O que aconteceu? – perguntou parando o carro no farol fechado.

- Nada. – murmurei.

- Rachel...

- Ele está me evitando. – sussurrei.

   Trevor afagou meus braços e abraçou-me carinhosamente.

- Ele é um idiota. Só pode! – resmungou Trevor pisando no acelerador e parando em minha casa.

- Bom... De qualquer jeito, boa sorte no encontro com Nikky.

- Muito obrigada, Rachel. Você é uma grande amiga. – sussurrou me abraçando e afundando o rosto em meu cabelo.

- De nada. – sussurrei em resposta, e saí batendo a porta atrás de mim.

   Dei um tchauzinho enquanto ele saia e percebi um movimento dos arbustos ao lado da casa. Entrei na sala correndo, ofegando e com o coração à mil.

- Oi, Rachel. – saudou Victor manuseando a panela com graciosidade.

- Ah, oi. Victor, sem ser grosseira, mas, o que você faz da vida? – perguntei.

- Vamos dizer que eu sou um chef de cozinha. – respondeu cortando os legumes com precisão.

- O.k. Chef, e o que vamos ter hoje para comer?

- Hoje comeremos legumes cozidos ao vapor, frango com molho de laranja, arroz integral e creme de milho. – respondeu.

- Nossa! – exclamei. – Onde a mamãe está? – perguntei.

- Dormindo. Foi um dia bem cansativo para todos.

   E bota cansativo nisso!

- Uhum. – murmurei com a cabeça longe. – Bom, acho que vou descansar também.

- O.k.

   Subi as escadas e entrei no quarto de meu irmão. O peguei no colo, e sentei na cadeira.

- O que eu fiz de errado? – perguntei principalmente para mim. – Eu não sei. Ele tá me ignorando, Masen. Fingindo que eu não existo. – sussurrei chorando.

   Comecei a sussurrar a canção que fiz para Luke anteontem e apertei Masen contra o peito. Senti braços finos enlaçarem meus ombros.

- Vamos. Acho que você precisa de alguém que lhe responda as coisas. – sussurrou mamãe pegando Masen de meus braços e o depositando no berço.

  Levantei da cadeira, bamba, e caminhei até o quarto de minha mãe. Sentei na cama e abracei os joelhos deitando. Senti mamãe sentar ao meu lado e afagar meu ombro.

- Pode falar. – sussurrou.

- Ele... Ele me beijou e depois disse que foi um idiota por pensar que um dia eu iria olhá-lo de outra forma. E-eu sentei na cozinha e estava pronta para falar com ele, m-ma-mas ele “fugiu”, e agora não atende ao telefone, fugiu de mim na praia e não responde minhas mensagens de voz. – gaguejei soluçando alto.

   As lágrimas pareciam ter vida própria.

- Amanhã ele vem aqui, e daí vocês podem conversar. – incentivou-a.

- É, pode ser. – respondi acomodando-me em seu colo.

   Adormeci com minha mãe fazendo carinho em meus cabelos e sussurrando uma música desconhecida.

  Abri os olhos com o barulho da porta do quarto.

- Mãe? – perguntei

   A pessoa continuou andando.

- Victor?

   Parecia que eu não existia.

- Luke? – perguntei. Foi um nome que passou pela minha cabeça.

   A pessoa se virou, olhou para mim por curtos segundos, e correu. Quanto mais eu corria, mais a pessoa ficava longe.

   Sentei-me na cama assustada. Mamãe colocou a cabeça para dentro do quarto.

- Vamos comer? – perguntou.

   Foi um sonho. Foi um sonho. Só um sonho!

- Claro. – murmurei tirando o cabelo da testa suada.

   Desci as escadas e sentei-me na primeira cadeira que vi pela frente.

- Bom apetite. – disse Victor batendo e esfregando uma mão na outra.

   Comi em silêncio. Masen dormia calmamente no carrinho ao lado da cadeira de mamãe.

   Levantei, peguei a louça suja, lavei sem perceber e enxuguei as mãos na toalha de louça.

- Boa noite a todos. – sussurrei subindo.

- Boa noite. – responderam em coro.

   Acariciei a face delicada de Masen e subi.

- Wednesday, Cooper, venham aqui. – disse com uma voz diferente e estralando os dedos.

   Os brutamontes vieram correndo e entraram em meu quarto quase me derrubando. Tomei um banho quente, lavei e sequei o cabelo. Troquei a toalha por um pijama, soltei o cabelo e deitei no espaço mínimo entre Winnie e Cooper.

   Dormi rapidamente pensando que, se eu dormisse, o amanhã chegaria muito mais rápido.