Cheguei à casa de Luke faltando duas para as três da manhã. Segurei-o pelos braços, mas ele era muito pesado e quase caí na grama arrastando-o junto.

- Luke. – sussurrei.

   Ele abriu os olhos minimamente.

- Luke! – exigi e ele se assustou. – Acorda! Eu não sou o seu pai e eu não tenho força para te segurar. Acorda!

   Ele se firmou esticando os braços e vomitou novamente. Tá grávido ou o que? Que saco!

- Vamos. Cadê a chave? – perguntei.

   Ele riu.

- Luke. Cadê a chave? – perguntei novamente.

   Ele riu mais ainda.

- Luke Christopher Malory! – quase berrei.

- Ah, mãe! Deixa de ser chata. Eu não quero dormir! – disse ele pulando no gramado.

   Olhei para o lado, e uma adolescente loirinha e fofa olhava com uma cara esquisita para Luke.

- Luke, pára! Você tá parecendo um retardado! A garota tá olhando! – disse apontando com o queixo para a janela.

   Ele acenou para ela e voltou a pular.

- Se você não parar de pular agora eu vou te bater! – tentei partir para a ameaça já que nada funcionava.

   Para o meu maior desespero, ele começou a gargalhar muito alto.

- Shh! Cala a boca, Luke! Você vai acordar seus pais! – exigi baixo.

   Ele fez sinal de “shh!” colocando os dedos na boca, e tentando destrancar a porta. Cada vez que ele errava, ele começava a gargalhar. Só que, a risada dele era verdadeira, ou seja, me fazia dar risada também.

   Arranquei a chave de suas mãos e entrei na casa.

- Shh. – fiz o sinal colocando o dedo em seus lábios. Ele assentiu. – Se você fizer barulho, não vou cuidar de você.

   Coloquei-o em sua cama, e desci para pegar um copo de água, toalhas quentes e um balde. Sabe, pra no caso de vomitar. Estava voltando, quando percebi que tinham aspirinas no banheiro. As peguei e voltei para o quarto ele já estava com o pijama.

- Sou o super-homem. – disse subindo na cama e colocando os braços na frente do corpo.

- Hmm... Que bom. – respondi. Se ele quer ser tratado como criança, ele vai ser tratado como criança.

- Você pode ser a Lois Lane! – disse convencido caindo na cama com um grande estrondo.

   Comecei a rir. Quando parei, Luke me puxou quase colando nossos lábios, mas eu virei. Ele ficou surpreso pela rejeição.

- Até mais Luke. – disse saindo pela porta.

- Não! – gritou ele. – Fica aqui. – choramingou.

   Suspirei derrotada e afundei no piso de madeira de seu quarto.

- Não. Eu falei aqui. – disse ele se levantando e me colocando em sua cama com ele. – Fica aqui. Você é tão quentinha!

- É. Você está realmente bêbado. – sussurrei.

   Estava vagando para a inconsciência, quando o braço de Luke começa a pesar e me sufocar. Só por esse simples gesto, percebi que ele dormia profundamente.

   Levantei seu braço e saí de seu abraço. O quarto estava muito quente. Abri um pouco a janela e respirei o ar puro. Há tanto tempo que eu não vinha em seu quarto. Ele de certo modo parecia meio... Vazio.

   Ah, não! Será que ele vai se mudar novamente? Não! Isso não pode acontecer. Não de novo! Olhei para Luke que ressonava tranquilamente em sua cama, e acariciei seus cabelos loiros e sedosos. Fiz todos os traços de seu rosto, contorno de seus olhos arroxeados por causa da briga, os lábios entreabertos e um pouco feridos.

   Peguei um papel e uma caneta na cabeceira da cama e comecei a escrever.

Queria gritar para o mundo que te amo,

Mas você só complica as coisas.

Um dia de um jeito,

No outro de outro.

É confuso,

Mas acho que agüento.

Você sabe virar minha vida de ponta cabeça,

Mas quer saber um segredo?

Eu não ligo nem um pouco!

Pois você é o que faz meu Sol brilhar,

A Lua sorrir e o vento soprar.

Será que são verdade todos esses sinais,

De que você não pertence a mim?

Vivo perguntando-me isso.

Parece fazer sentido,

Mas quando te vejo, esqueço meu próprio nome.

Parece história de amor,

Mas não é.

E está longe de ser isso.

Porque você não é um príncipe encantado nem de longe.

Mas não importa!

Você vira minha vida de ponta cabeça,

Mas quer saber um segredo?

Eu não ligo nem um pouco!

Pois você é o que faz meu Sol brilhar,

A Lua sorrir e o vento soprar.

Queria gritar para o mundo que te amo,

Mas você só complica as coisas.

Um dia de um jeito,

No outro de outro.

É confuso,

Mas acho que agüento!

Pois você é o que faz meu Sol brilhar,

A Lua sorrir e o vento soprar.

   Sorri fechando os olhos e deitando em um sofá no canto do quarto.