Logo depois que ele saiu, um Corola prata e velho parou na frente de casa. De dentro, saiu a pessoa que eu menos queria ver naquele momento. Trevor.

- Oi! – disse animada.

- Uhum. – resmungou. A chuva começou forte.

- Hmm, quer entrar? – perguntei.

- Não. O que eu tenho para falar será rápido.

- O.k. Pode falar. – incentivei.

- Você lembra daquela tarde? – perguntou com o rosto já molhado por causa da chuva. – Quando você me perguntou seu eu a amava? Qual foi a resposta?

- Sim – sussurrei avançando alguns passos.

- O que eu te disse foi verdade, e continua sendo até hoje. Mas não sei se posso continuar com você, sabendo que seu coração, seus sentidos e sua mente pertencem a outro! – disse Trevor.

   Não!

- Não. Não Trevor, isso é mentira. Não é verdade! – tentei implorar. – Não me deixa!

- Não posso. Desculpe-me. Te amar e saber que você ama ELE, - Trevor frisou bem o ele, para que eu soubesse de quem falávamos. – é muito doloroso, Rach!

   Eu amava os dois de uma maneira diferente, e Trevor era inteligente o suficiente para perceber isso.

   Encurtei o espaço que nos separava e entrei na chuva o abraçando pelo pescoço. Ele me abraçou pela cintura e me segurou ali.

- Obrigada por tudo. – sussurrei. – Espero sinceramente que você e eu sejamos amigos!

   Tentei sair, mas Trevor não me deixou.

- Trevor, eu preciso ir agora. Desculpa ter feito isso com você. – disse me virando.

- Não, me desculpe por ter te usado e feito você falar todas essas coisas.

   Parei.

- O que?

- Eu sou um tipo de paparazzi. – declarou.

   Abri a boca para dizer alguma coisa, mas pensei que sairiam bobagens desconexas.

- Trevor! – exclamei passando as mãos no rosto para tirar os cabelos grudados nele por causa da chuva. – Bom, se esse é o seu verdadeiro nome!

- Rachel... Eu...

- Não. Creio. Que. Você. Fez. Isso. Comigo! – disse pausadamente travando o queixo e segurando o choro de raiva.

- Rachel! Por favor! Me deixa explicar! – implorou quase caindo aos meus pés.

- Rachel nada! – gritei furiosa. – Por que agora você não vai fazer uma matéria sobre mim e sobre Luke, sobre nossa vida, sobre nossas experiências que eu te contei. Acho que já te dei bastante material para muitas revistas! – berrei batendo a porta tão forte em sua cara, que por um momento, pensei que a casa ia cair.

   Os dias foram ridículos e ritmados. Nem Luke, nem Trevor vieram para as aulas até o final da semana. Decidi perdoar Trevor pelo que ele fez. Liguei para ele sexta-feira e Winnie estava tão nervosa quanto eu com a chegada dele. A bolinha de pelos andava pela sala de estar balançando o mini-rabo e dançando. Peguei-a no colo. Ainda tinha cheirinho de filhote. Coloquei-a no chão e fiquei brincando com ela. Winnie ficava mordendo meu dedo e eu a rodava no chão de madeira.

   A campainha tocou e Wednesday saiu correndo até a porta e ficou a encarando. Trevor passou o dedo por baixo da porta e Wednesday latiu freneticamente.

- Shh! – exigi abrindo a porta para ele.

   Trevor sentou-se no chão de madeira na frente do sofá e ficou ali chamando Winnie.

- Vem Winnie. Vem aqui menina! – chamava e nada dela sair do meu lado. Trevor se aproximou de mim e Wednesday saiu pulando para cima da mão dele. Como se ela fosse um brinquedinho, ele a pegou e começou a brincar com ela fingindo que as pessoas eram seus dedos. – Ela está linda!

- É. Bom, eu te chamei aqui, porque quero me desculpar pela ceninha que eu fiz alguns dias atrás. Foi ridículo e desnecessário.

- Tudo bem. Relaxa. Eu queria dar um amiguinho para a Wednesday, mas não sei se sua mãe vai gostar. – disse ele.

- O que? – perguntei.

   Ele levantou-se foi até o carro e pegou uma caixinha pequena.

- O que é isso?

   A caixa fez um barulho engraçado.

- O amiguinho dela. Se você não quiser eu devolvo para a loja. – disse ele.

   Agarrei a caixa antes que ele fizesse algo e abri. Outro filhote da raça de Wednesday só que caramelo, fazia barulhos engraçados.

   Levantei e o abracei segurando o filhote.

- Ela ou Ele? – perguntei.

- Ele.

   Oh, Deus!

- Hey, Cooper! – disse levantando o filhotinho manhoso e gordinho. – Bem vindo à família! Obrigada! – sussurrei vendo Trevor sair pela porta da frente.

   Deixei os dois no chão. Wednesday pulou sobre Cooper que chorou de medo. Eu ri pegando Winnie e Cooper do chão. É vocês vão ter que se acostumar.

   Mamãe veio até a sala com a roupa quase saindo de tão apertada.

- Oi mãe. Sua roupa não tá muito apertada? – perguntei.

   Ela assentiu olhando para mim.

- Porque a Winnie mudou de cor? – perguntou ela pegando o café.

   Abaixei-me segurando os dois no colo. Mamãe quase teve um treco.

- O que significa isso? – perguntou ela novamente.

- Isso é uma coisa que eu ganhei de Trevor. EU vou cuidar! Não esquenta. – a relaxei.

- Uhum! Até que ele e bem bonitinho! – disse se abaixando fazendo a saia rasgar na lateral inteira.

   Comecei a rir.

- É. Parece que hoje vou de calça! – anunciou subindo para se trocar e depois voltando já vestida.

- Muito melhor.

- Volta logo! – gritei.

   Alguém bateu na porta novamente e corri para atender segurando os dois com uma mão só. Wednesday não parava de se remexer e Cooper de chorar. Ah, Deus! Abri e dei de cara com o meu salvador.

- Rápido! Me ajuda! – disse lhe entregando Winnie que relaxou em seu colo.

- De quem é o outro cachorrinho? – perguntou Luke.

- Meu.

- Quem deu?

- Meu namorado. – respondi. Não, eu ainda não tinha falado que havia terminado com ele!

- Hmm... – resmungou colocando o outro em seu colo. – Ele é muito fofo! – disse.

- Cooper. – corrigi.

   Luke levantou a sobrancelha esquerda.

- Nossa! – exclamou.

- Pois é. Adorei esse nome. – sorri.

- Hmm, eu tenho que te contar uma coisa. – disse ele.

   Esperei pelo pior.

- Pet está na cidade e ela está em um hotel aqui perto e ela está comigo, queria saber se você poderia levar ela para conhecer a cidade.

   Abri a boca e disse:

- Leia meus lábios: NÃO! – sussurrei a primeira parte e gritei a última parte fazendo com que ele quase caísse do sofá.

   Ele fez cara de pedinte.

- Não. Eu não gosto dela! – defendi-me. Ele estreitou os olhos. – Tenho a Winnie para cuidar e agora tenho o Cooper. Isso já vale um tour pela cidade. Ou melhor, pelo mundo inteiro!

   Luke fechou a cara.

- Eu nunca te obriguei a ficar com o Trevor! – disse.

   A expressão se suavizou.

- Por que você não fica com ela? – perguntei.

- Vou voar em um jato de quatro bilhões de dólares.

- Ótimo. Leva ela! – tentei arrumar um jeito de conseguir me livrar da mocréia verde.

- O.k. Sabe, eu estava tentando fazer uma coisa para aproximar as coisas mais importantes da minha vida e você nem liga! Muito obrigada, Rachel.

   Revirei os olhos e apoiei o braço no joelho.

- Sabe, o que vai fazer amanhã? E o que fez quinta e sexta? – perguntei.

- Amanhã vou navegar no iate de um amigo meu. E quinta e sexta, fui dirigir as Ferrari e BMW com Petrova!

   Minha cara se fechou totalmente e podia sentir os raios de raiva saindo de uma nuvem preta que me fechou.

- Uau, parece que ela é bem mais legal do que eu. Ah, é me lembrei, ela é praticamente a sua esposa! – gritei com a dor na garganta, a cosquinha no fundo do nariz e lágrimas em meus olhos.

   Ai que raiva dela! Apoiei a cabeça nas mãos e peguei Wednesday e Cooper do colo de Luke. E peguei um cercadinho que estava na sala. Luke apareceu para me ajudar, pegando Winnie que não parava de me olhar tentando entender o porquê dos gritos e o cercadinho.

- Obrigada. – sussurrei. Se ouviu bem, se não ouviu amém!

- Não há de quê.

   Quando chegamos  ao quarto, coloquei a cerca do lado de minha cama e arrumei um tipo de cama com um cobertor velho.

- Quer saber, amanhã, porque você não vem velejar comigo? – perguntou.

- Quem mais vai?

- Eu, você, Petrova e o Jeremyah. – disse ele. – Ah, e o filme foi indicado ao Oscar. – disse orgulhoso.

- Quando? – perguntou.

- Daqui a alguns dias. – disse ele.

- O.k. – disse eu meio desinteressada.

- Acho que você não entendeu, quero que vá comemorar comigo!

   Sorri.

- Acho que não é o meu lugar. Sabe como é! – tentei não ir.

- Hmm... – murmurou de cabeça baixa. – Bom, caso mude de idéia, vou te dar um dos convites, O.k?

   Ele deixou um convite em minha mão, afagou a cabeça de Wednesday e Cooper e saiu pela porta levando minha felicidade com ele.

- Tudo o que eu faço é errado? – perguntei para Winnie que agora deitava calma em meu peito e Cooper a imitava formando uma bolinha caramelo. – Será que eu vou?