Fascination escrita por lady riot


Capítulo 2
Quando o Sol encontra a Lua




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O dia seguinte foi muito melhor. E pior. E emocionante.

Já me sentia mais a vontade na escola, lembrava de todos os caminhos para as classes e já começava a decorar meu horário e os nomes e rostos dos colegas de classe. Dei um show particular no jogo de vôlei na aula de educação física, precisava daquilo.

Foi pior por que Isabella Cullen não estava lá. Reparar isso e me sentir estranho, meio mal, era uma atitude realmente masoquista, e eu sabia. Mas eu queria ter certeza de que ela não tinha ido por algum outro problema e não por minha causa, não pelo estranho ódio que ela sentia por mim. Queria confronta-la também. Mas ela não estava lá.

Naquela manhã. Mal havia parado a moto e já podia ver o sorriso brilhante da loira que também havia reparado na reação estranha da Cullen perto de mim, Lauren alguma coisa.

- Olá, Eddie!

- Edward – corrigi automaticamente. Que mania de tentarem abreviar meu nome!

- Desculpe, Edward – ela se demorou em cada sílaba, saboreando – Como está hoje?

- Bem. – Mallory! Lauren Mallory, consegui lembrar.

Ela ainda não parecia natural, meio falsa, mas era tão bonita... Achei que não faria mal algum lhe dar um pouco de atenção. Fomos conversando até a minha sala, aparentemente eu ainda deveria ser escoltado, mas não reclamei, decidi que daria o benefício da dúvida a Lauren, ao menos ela não agia como se eu tivesse atropelado seu cachorro, nem me olhava com ódio, muito pelo contrário.

Apesar de todos estarem me tratando realmente bem, eu fiquei tenso até a hora do almoço, esperava um piano caindo na minha cabeça a qualquer instante, e quando entrei no refeitório, com Lauren enroscada em meu braço, Mike ao meu lado, fiz o melhor que pude para não olhar em volta, não parecer interessado na mesa do outro lado do salão, mas não pude evitar lançar um rápido olhar para os Cullen. Ela não estava lá. Aproveitei para demorar meu olhar um pouco mais em Rosalie, simplesmente perfeita.

Quando percebi estava sendo arrastado para uma mesa bem cheia por Mike e Lauren me olhava fazendo um beicinho, meio enciumada. Não liguei, mas ri e voltei a atenção para ela.

Fiquei feliz por ela começar a conversar com as amigas, porque por mais que me esforçasse, estava tenso demais para ouvir o que ela falava. Apesar de tudo, achei que Isabella simplesmente passaria a me ignorar e me deixaria pensando que o que eu havia visto nos olhos dela, havia sido minha imaginação. Mas ela não apareceu.

Só quando fui para a aula de biologia consegui relaxar realmente, por que percebi que ela realmente não vinha. Sentei-me sozinho, mas Lauren sentada sobre minha mesa, ainda falava animada sobre a viagem para a praia que Mike estava organizando. Somente quando o sinal tocou, ela se levantou com um sorriso triste, e foi para seu lugar, ao lado de um garoto de cabelo estranho e unhas pintadas de preto.

Foi bom ter a carteira só pra mim, sem as vibrações de ameaça de morte, sem Isabella. Foi o que eu fiquei repetindo para mim mesmo. Mas ainda me incomodava o fato de ela ter faltado por minha causa. Não poderia ser por minha causa, eu andava num momento egoísta e egocêntrico e por isso achava isso, certo?

Me sentindo extremamente bem depois da minha exibição no jogo de vôlei sai em direção ao vestiário, em meio a congratulações de alguns garotos e gritinhos de meninas, ela estavam começando a me fazer sentir uma estrela do rock. Vesti a calça jeans e coloquei um suéter marrom que minha mãe me deu, eu achava um pouco justo, mas ela insistia em dizer que estava ótimo e que realçava meus olhos.

Mike me esperava na porta e riu quando me viu praticamente correndo em direção a moto.

- Fugindo da Lauren, é?

- Fala baixo! – o empurrei com o ombro enquanto fazia sinal com o indicador para ele ficar em silêncio. Lauren era linda, mas eu não agüentava mais ela falando sem parar, teria de me acostumar com doses periódicas, se eu forçasse, acabaria gritando pra ela ficar quieta.

- Vai chamá-la pra sair?

- Não sei ainda.

- Está interessado em alguma outra garota?

- Não quero nada com a Jéssica, não se preocupe. – o olhar espantado dele me fez rir.

- Do que está falando?

- Já viu como ela te olha?

- Mas ela não olha só para você?

- Chame a menina para sair e não me enche!

Ele ainda me olhava, meio espantado, meio em dúvida. Como ele não poderia ter notado? Era tão óbvio. Ri de novo enquanto subi na moto. Coloquei a mão no bolso da jaqueta para pegar a chave e vi a lista de comprar que minha mãe havia feito, ela não sabia cozinhar muita coisa, meu pai era quem fazia isso, mas ela estava muito empolgada para experimentar. Era um pouco assustador, eu só queria comida normal, mas o sorriso dela me venceu, como sempre. Eu sempre fui um otário quando se tratava do sorriso dela, ela me dizia que algum dia encontraria uma garota cujo sorriso seria meu fim. Está aí um ótimo fim, no sorriso de alguma garota.

Aproveitei que não estava chovendo, apesar de ainda estar nublado, e subi na moto, desviando dos carros que estava na fila para sair do estacionamento e tudo aconteceu rápido, quase rápido demais para eu compreender. Uma van azul me fechou e na tentativa de desviar, quase arranquei o espelho retrovisor de um Volvo C30 prateado. E teria arrancado se, no que pareceu, um segundo antes, ele não tivesse ido para a frente, como se tivesse me visto. Com aquele monte de carros velhos espalhados pelo estacionamento e eu quase bato no Volvo.

- Tyler, seu idiota! – eu gritei, arrancando o capacete, sentindo todo o sangue se esvaindo do meu rosto.

- Ai, meu Deus, Edward! Desculpe, eu... Você se machucou? – eu ainda estava parado, com as mãos nos cabelos quando ele desceu da van e parou ao meu lado.

- Volta pra droga do seu carro e vai embora agora antes que eu te bata!

- Desculpa, Edward, meu Deus! Eu não te vi aí...

- Eu juro por Deus, Tyler...

- Não, mas...

- VAI!

Ele não discutiu mais e voltou pro carro, moleque imbecil, mal sabe andar de bicicleta e tenta dirigir um carro daquele tamanho.

Me voltei para a janela do motorista do Volvo, começando a me sentir como eu mesmo de novo.

- Acho que não fiz nenhum estrago muito grande – disse para a janela fechada, que começava a descer lentamente, voltando o olhar para o espelho – Se eu puder fazer alguma coisa...

- Também acho que não foi nada demais – ela não falava, cantava. Levantei o olhar para encontrar o rosto miúdo de Alice Cullen me encarando divertida.

Só percebi que a encarava boquiaberto quando ela riu, pelo menos acho que ela riu, o som lembrava pequenos sinos. Encantadora.

Passei a mão no cabelo sorrindo, constrangido, quando percebi uma coisa.

- Você foi muito rápida! – ela me olhou, inexpressiva – Quero dizer... Eu nem tinha visto o monte de lixo que Tyler dirige e você acelerou na hora certa! Como se soubesse o que ia acontecer. – os sinos soaram mais uma vez.

- Talvez eu soubesse. – ela disse tão rápido que demorei pra entender o que as palavras formavam.

Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, ela já tinha ido embora. Certo, então a família inteira era esquisita. O Volvo brilhou como se o sol tivesse batido nele, mas o céu estava nublado.

Respirando fundo, recoloquei o capacete e fui embora.

O mercado não era muito longe da escola, só a algumas ruas ao sul, junto à rodovia. E antes que eu pudesse parar de pensar na resposta de Alice, já estava vendo a fachada do Thriftway.

Ainda estava muito distraído pra prestar atenção no que comprava, andava devagar pelos corredores, olhando para o fundo do carrinho sem ver. Fui me acalmando a medida que o carrinho ficava forrado de mantimentos, bloqueando minha vista de seu fundo, me fazendo voltar a olhar para a frente.

A chuva me pegou quando cheguei em casa, coloquei as compras sobre a mesa e tentei adivinhar onde guarda-las. Minha mãe ainda não estava lá, ainda estava trabalhando. Ela era enfermeira no único hospital da cidade e sempre chegava tarde em casa, me dando algumas horas para ficar sozinho. Liguei o rádio e fiquei mudando de estação por alguns minutos, mas me irritei com todas as músicas. Resolvi colocar um CD, subi as escadas até meu quarto e virei o conteúdo de minha mochila em cima da cama, fotos, papéis, correntes, conchas recolhidas de uma praia que eu deveria ter dado de presente para minha mãe, até alguns pares de meias e vários CDs se espalharam pelo colchão. Escolhi um que eu mesmo havia gravado, uma coisa mais variada. Coloquei a música para tocar e desci as escadas, o piano intenso de Carly Comando preencheu o ambiente, estava pensando em me afundar no sofá e começar a ler O Morro dos Ventos Uivantes para a escola, mas a perspectiva de ler mais uma vez aquela história odiosa me fez girar os olhos e jogar o livro longe. Fiquei de pé, considerando que eu deveria lembrar o bastante da história, e fui para a cozinha para fazer a janta e surpreender minha mãe, teria de tomar cuidado para que ela não se acostumasse com aquela atitude.

Terminei de preparar a incrível ceia em que o prato principal eram nuggets de frango, jantei e deixei o prato dela pronto, dentro do microondas com um bilhete colado na porta

Fiz seu jantar,

não se acostume!

Fui para o quarto, coloquei a bermuda e o moleton, e encontrei uma antiga revista do Homem Aranha no meio da bagunça em cima da minha cama, empurrei tudo para o chão e me deitei, começando a ler. Parei enquanto ele fazia mais um resgate fantástico da imortal tia May para pensar em como aquela revista foi parar ali. Em algum momento eu tinha que limpar minhas coisas, daqui a pouco alguma coisa começaria a criar vida.

Já havia voltado a ler quando minha mãe chegou.

- Edward! – ela gritou lá de baixo.

- O que? – gritei de volta, sem nem me mexer.

- Vem aqui!

Bufei enquanto levantava, parando a música.

- Oi! – ela me disse sorrindo.

- Oi.

- Não vai me contar da escola?

- E o que há para contar? – ela torceu o nariz

- Ora, vamos...

- Bem – esfreguei o pescoço – conheci uma garota! Lauren Mallory. Ela parece... – enquanto pensava em como defini-la, minha mãe me lançou um olhar de quem espera o pior – Legal. E tem o Mike!

- Mike Newton?

- É.

- A família dele tem uma loja de produtos esportivos, vocês vão se dar bem.

- Não vai falar nada da Lauren? – eu perguntei rindo.

- Eu não gosto dela, vai saber... – eu ri mais uma vez.

- Você conhece os Cullen? – perguntei me sentando na frente dela, do outro lado da mesa.

- Claro! Dr. Carlisle é realmente um amor, e um ótimo médico! – ela dizia sem muita atenção voltada para o prato que eu havia feito – Nuggets? Mesmo? – dei de ombros, me reclinando na cadeira – Bom, acho que demos sorte por ele querer ficar no nosso hospital, se eu fosse Esme faria ele aceitar um emprego em outra cidade, uma mais animada pelo menos.

- Esme?

- A esposa dele. – ela respondeu de boca cheia, parecia uma criança – Muita coragem adotar quatro crianças... Só você já me enche de trabalho.

- É, mas eles não parecem se adaptar muito bem a escola – disse na defensiva – Sentam sempre sozinhos.

- Você deveria fazer amizade com eles, Eddie! – ela sorriu, dando outra garfada – Mostrar para seus amigos que eles são ótimas crianças. – completou depois de engolir dessa vez.

Lancei-lhe um olhar incrédulo.

- Com certeza, mãe.

- Ora, vamos... A pequenininha, Alice, é um doce! E a mais nova deles é tão linda... E acho que ela não está namorando... – ela comentou pensativa – Isabella, ou algo assim.

- Está brincando? Eu e Isabella Cullen?

- Não precisa pular da cadeira! Foi só uma sugestão!

Não respondi. Ela não precisava saber de nada mais, eu nem podia ter certeza se ela faltou por minha causa.

- Acho que vou dormir... Boa noite, mãe! – acenei sem vontade, enquanto subia as escadas.

Liguei a música novamente, mas coloquei fones de ouvido, deitei ouvindo os primeiros acordes de alguma música do Eve 6, parecia ser Inside Out, mas dormi rápido demais para confirmar, estava mais cansado do que havia pensado.

O resto da semana foi praticamente a mesma coisa, e já estava completamente acostumado com a rotina de aulas, conversava com praticamente todos os alunos, os Cullen não estavam incluídos, tinha medo de saber o que a Isabella falou para eles de mim, especialmente depois do incidente com o carro da Alice. E honestamente, não estava nem um pouco interessado em arrumar uma briga com o grandão, Emmett, acho. As aulas de educação física eram o ponto alto do dia, estava começando a ficar famoso por minhas habilidades, era algo bom para ser conhecido.

Isabella não apareceu mais na escola, na hora do almoço sempre olhava na direção da mesa deles, mas sempre estavam apenas os quatro.
Mike estava muito animado com a viagem para La Push Ocean Park, dali duas semanas, e começava a me contagiar, eu sabia que não seria nada como a Califórnia, mas não custava nada desejar por isso.

Já não me importava mais em checar se o caminho estava livre em minha mesa na aula de biologia, mas ainda me incomodava o fato de que talvez eu fosse o culpado pela cadeira vaga a meu lado. Não seja egocêntrico, eu me dizia.

O primeiro final de semana foi ainda mais tranqüilo, minha mãe ainda animada pela minha presença, resolveu me levar para um tour pela cidade, nos demoramos em alguns lugares, enquanto ela conversava com conhecidos, mas ainda assim não demoramos mais de uma hora para percorrer a cidade inteira. Resolvi voltar a velhos hábitos e calcei minhas chuteiras e fiquei fazendo truques com a bola no quintal, mas não agüentei ficar fora de cara por muito tempo depois que começou a chover. Mike me convidou para ir a sua casa e jogamos vídeo game, acabei com ele. Nada extraordinário, mas acabei me divertindo.

Na minha segunda semana eu já começava a ter vontade de ir para a escola, não para estudar, claro. Lauren já começava a me irritar com sua atitude possessiva e eu comecei a demonstrar meu desagrado, ela fingia não notar.

Tive uma tarefa sobre o enfadonho Morro dos Ventos Uivantes e fiquei feliz por realmente lembrar o bastante para conseguir tirar uma boa nota.

Tudo estava mais simples, fácil até.

Quando sai da aula, Lauren já me esperava. Não parei e ela teve de correr um pouco para me acompanhar. Lá fora o ar estava coberto por pontinhos brancos e as pessoas exclamavam e giravam, felizes.

- Está nevando! – ela disse – Que legal!

- Ótimo. – resmunguei. Me encolhi, muito, muito frio.

- Não gosta de neve?

- Não gosto de frio.

Antes que ela pudesse me dizer algo tentando mudar minha opinião, foi atingida na cabeça por uma enorme bola de neve. Torci os lábios me forçando ao máximo para não cair na gargalhada. A única pessoa por ali era Jéssica, e ela caminhava para o lado oposto de sua próxima aula.

Me despedi rapidamente, já caminhando, definitivamente aquela era uma briga na qual eu não queria me meter.

Não agüentava mais todo mundo falando da neve, então respondia apenas com sorrisos cordiais. Enquanto entrava no refeitório com Mike, as bolas de neve passavam zunindo por nós, e ele estava desesperado para entrar na brincadeira. Quando se voltou para mim, ri.

- Tenta a sorte. – alguma coisa na minha expressão fez ele apenas rir de volta e acertar outra pessoa.

Lauren nos encontrou completamente mal humorada e ainda mais molhada e desgrenhada. Dessa vez não pude evitar rir, aparentemente a briga com Jéssica foi melhor do que eu poderia ter esperado. Fomos para a enorme fila para comprar comida, e meu olhar correu por hábito para a mesa do canto. E como se não estivesse com frio o bastante, congelei. Haviam 5 pessoas sentadas ali.

- Ei, Ed, o que vai querer? – Lauren perguntou. Virei de costas para a mesa dos Cullen, a encarei com a boca aberta, mas simplesmente passei a mão pela nuca, nem consegui reprimi-la pelo “Ed” – O que há com ele? – ela perguntou ao Mike.

- Nada. – respondi – Só quero um refrigerante hoje.

- Sem fome? – ela insistiu.

- Acho que meu estômago não está bom.

- E vai tomar refrigerante? – ela ria.

- Deixa o cara... – ouvi Mike murmurar.

Esperei que eles pegassem a comida e os segui até a mesa, olhando para o teto, brincando com a garrafa de refrigerante, a girando nas mãos, acabei tirando todo o gás.

Mike e Lauren tomavam turnos me perguntando se eu estava bem, e eu dizia que sim, mas eles eram tão insistentes que eu começava a considerar uma manobra evasiva e fugir para a enfermaria.

Você não fez nada! Se acalme! Gritei em pensamento para mim mesmo, eu nunca fui covarde, mas tinha uma vontade enorme de não desagradar Isabella, imbecil, eu sei, mas se ela não me queria por perto, iria embora.

Me aventurei a lançar um olhar para a mesa deles, o grandão, o loiro e a Isabela estavam com os cabelos completamente encharcados de neve derretendo, ela tinha a expressão mais engraçada no rosto, inconformada com a brincadeira, tentei conter o riso, mas ainda sorri e meus ombros balançaram de leve. Alice e Rosalie se curvavam, tentando escapar enquanto Emmett sacudia o cabelo molhado na direção delas. Parecia alguma coisa saída de um filme.

Havia alguma coisa diferente sobre eles, não conseguia ter certeza do que. Examinei Isabella com mais cuidado. A pele estava menos pálida, provavelmente por estar batendo em Emmett com uma bandeja naquele instante, os círculos em torno dos olhos estavam mais claro, bem menos perceptíveis. Mas havia algo a mais...

- O que você está olhando, Eddie? – Lauren perguntou, olhando na mesma direção que eu.

Naquele exato momento, os olhos dela lampejaram e encontraram os meus.

Virei a cabeça, para o outro lado, olhando para cima, extremamente sutil. Como sou burro. Mas pelo menos, naquele pequeno instante em que nossos olhos se encontraram, ela não parecia com ódio, nem queria me matar, mas estava... preocupada. As sobrancelhas juntas, os lábios contraídos, com genuína preocupação. O que era aquilo, agora?

- Isabella Cullen está olhando para você! – Mike riu, me cutucando nas costelas.

- Ela parece com raiva? – não havia maneira evasiva de perguntar isso.

- Não – ele riu – Ela deveria estar? O que você fez?

- Ainda não sei, mas parece que foi bem ruim... – esfreguei os olhos com uma mão, subindo para o cabelo.

- Acho que eles não gostam de ninguém. Pelo menos nunca perceberam ninguém por tempo o bastante para gostar... Mas ela ainda está olhando para você. O que você fez, cara? – ele ainda ria. Irritante.

- Dá pra parar de olhar pra ela? – sibilei lhe dando um empurrão leve.

A risada dele aumentou, mas ele desviou os olhos. Estava pronto para lhe dar muito mais do que um empurrão, caso ele não me ouvisse.

Lauren nos interrompeu, ela parecia muito interessada em outra guerra de bolas de neve e minha impressão era de que ela torcia muito para que Jéssica estivesse envolvida. Mike concordou, além de apreciar a bagunça, acho que ele pensava na mesma garota, mas não com as mesmas intenções. Eu preferi não comentar, como se a cidade já não fosse molhada e fria o bastante.

Passei o resto do almoço voltando o olhar para qualquer lado, menos na direção da família Cullen. Lembrei da aula de biologia e meu estômago revirou. Eu iria, ela aparentemente estava mais preocupada do que com ódio de mim, mas se me olhasse como se quisesse me matar de novo, eu falaria com ela, perguntaria o que ela tinha contra mim. Pelo menos tentei me convencer que era isso que eu faria. Acho que aquele olhar inspiraria medo em qualquer um.

Estava pronto para me livrar de Mike, que era um alvo muito popular dos atiradores de bolas de neve, mas quando chegamos à porta, todos gemeram em uníssono. Estava chovendo e a água lavava todos os vestígios de neve em faixas claras e geladas pelo canto do meio fio. Sai na chuva rindo da cara emburrada do meu amigo.

Ele reclamou incansavelmente no caminho para nossas classes e eu sempre respondia para ele calar a boca.

Minha carteira ainda estava vazia quando chegamos na classe e me sentei esparramado. O professor Banner andava pela sala, distribuindo microscópios e uma caixa de lâminas. A aula ainda demoraria alguns minutos para começar e todos conversavam, eu não estava com paciência então comecei a rabiscar notas musicais numa folha do meu caderno, fazia muito tempo que eu não tocava...

Percebi o momento exato em que a cadeira do meu lado se mexeu, mas não levantei os olhos, me concentrando ainda mais nas notas que não formavam qualquer música.

- Oi – apesar de só serem duas letras, já começavam uma música, a que eu gostaria de estar escrevendo ali.

Olhei para cima, desconfiado por ela resolver falar comigo. Estava sentada a maior distância de mim que a carteira permitia, mas sua cadeira estava virada para mim. O cabelo gotejava, despenteado, mas ainda assim ela parecia uma super modelo que havia acabado de sair de uma sessão de fotos. Seu rosto lindo era simpático, calmo, e tinha um leve sorriso nos lábios perfeitos. Os olhos estavam cautelosos.

- Meu nome é Bella Cullen – ela continuou – Não consegui me apresentar direito semana passada. Você deve ser Ed Mansen.

O que? Agora ela decidiu ser gentil comigo? Me forcei a lembrar do rosto dela, da expressão de desagrado, de ódio. Eu não poderia ter somente imaginado aquilo. Percebi que precisava falar, ela estava esperando uma resposta. Mas eu só conseguia pensar em coisas idiotas.

- Bella? – perguntei – Não é Isabella?

Ela torceu o nariz por um instante, mas sorriu.

- Não gosto de Isabella. – ela disse simplesmente - Como sabia meu nome?

Opa.

- Acho que todo mundo sabe seu nome... – disse tentando parecer calmo, mas fiquei sem graça. Esqueci que não deveria saber nada dela – E é Edward, não Ed. – tentei desconversar.

- Mas não é assim que todos te chamam? – ela me olhou confusa.

- É. Só não gosto... – dei de ombros e sorri. Ela mordeu o lábio de leve. Então também estava prestando atenção. Só não ouviu muito bem minhas respostas.

Infelizmente, o professor começou a aula naquele momento. Olhei para frente tentando me concentrar e não ficar a encarando com o olhar abismado. As lâminas na caixa estavam fora de ordem. Trabalhando como parceiros, teríamos que separar as lâminas de células de ponta de raiz de cebola nas fases de mitose que rotulá-las corretamente. Não devíamos usar os livros. Em vinte minutos, ele voltaria para ver o que tínhamos conseguido.

- Podem começar – ordenou ele.

- Primeiro as damas, parceira? – perguntei sorrindo, só uma pontinha de cinismo na voz. Ela me encarou quase com a mesma hilária expressão de inconformismo que havia dado ao irmão quando ele atingiu com a bola de neve no refeitório. Mesmo sem saber se era seguro, meu sorriso aumentou – Ou posso começar se preferir.

- Não. – ela disse, meio emburrada, meio... não consegui entender aquela expressão. Nem nisso ela colaborava – Eu começo.

Ela olhou para a lâmina por apenas um instante.

- Prófase. – declarou.

Agora ela só estava se exibindo, era impossível ela ter acertado olhando tão rapidamente. Eu já havia feito essa experiência antes e apesar de evitar qualquer trabalho escolar o máximo que eu pudesse, me pareceu desaforo não confirmar.

- Posso olhar? – perguntei, ela já começava a retirar a lâmina, tentei detê-la tocando sua mão. Estava fria como gelo, talvez a guerra com neve tenha se estendido após o almoço.

Mas o que achei realmente estranho foi o choque que passou pela minha pele, como se uma corrente elétrica tivesse passado entre nós.

- Desculpe – ela murmurou e mordeu o lábio, afastando a mão de imediato. Pareceu mais preocupada com o fato de ter as mãos frias do que qualquer outra coisa.

Puxei o microscópio e tive dificuldade de olhar para ele. Ela tinha a mesma expressão indecifrável de antes, parecia estar prestes a corar, envergonhada. Ela deveria estar corada, com uma pele tão clara como a dela, seu rosto deveria estar avermelhado, mas não estava. Estranho.

- Prófase – concordei após uma análise rápida, mas não tanto quanto a dela. Anotei numa folha de caderno, enquanto ela trocava a lâmina.

- Anáfase – murmurei. Eu já estava quase escrevendo sem deixa-la conferir, mas resisti.

- Posso?

Ela me sorriu quase maliciosa, passei o microscópio e ela o pegou com um cuidado extremo para não me tocar.

Ela olhou tentando parecer desinteressada, mas não sabia fingir muito bem, conferindo meu acerto. Aquela brincadeira estava divertida.

- Lâmina três? – ela perguntou enquanto eu anotava. Apenas sorri em resposta.

Terminamos antes que qualquer um chegasse perto disso. Lauren parecia extremamente entediada enquanto seu parceiro de unhas pintadas comparava sem parar duas lâminas e outra dupla tinha um livro aberto sob a carteira.

Por mais que eu quisesse me distrair, não havia nada mais a fazer se não olhar para ela. Vi aquele olhar de preocupação de novo. Ela mordia o lábio e uma leve ruga se formava entre suas sobrancelhas, e foi aí que consegui identificar aquela diferença sutil em seu rosto.

- Você usa lentes de contato? – perguntei, curioso demais.

A expressão dela passou de preocupada para confusa.

- Não.

- Seus olhos – apontei – parecem diferente.

Ela mordeu o lábio de novo, percebi que era um ato completamente involuntário, mas deu de ombros e desviou o rosto.

Eu tinha certeza que estavam diferentes. Lembrava quando ela havia me encarado da última vez, eram pretos, até mais escuros que seu cabelo. Hoje estavam claros, completamente diferentes, quase dourados. Não havia maneira de isso acontecer, mas não entendia porque ela mentiria sobre isso.

Olhei para a mesa. As mãos dela atravessavam a superfície e se agarravam no tampo com força de novo.

O professor Banner veio à nossa mesa, para descobrir por que não estávamos mais trabalhando. Olhou por cima do meu ombro e viu o trabalho concluído, prestou mais atenção para conferir as respostas.

- Então, Isabella, não acha que Edward devia ter a chance de usar o microscópio? – perguntou o Banner.

- É Bella. – eu corrigi automaticamente, não gostava que abreviassem meu nome, achei divertido alguém que não gostava de usar o nome completo – Eu...

- Na verdade – ela me cortou – ele identificou três das cinco lâminas.

Eu ia dizer que fizemos tudo juntos, mas agora o professor me lançava um olhar cético.

- Já fez essa experiência de laboratório antes? – perguntou ele.

- Não com raiz de cebola – dei meu melhor sorriso – achei uma ótima escolha. – agora ele me olhava como se eu estivesse sendo engraçadinho, eu estava, mas sorria como se falasse sério.

- Blástula de linguado?

- Foi.

Ele assentiu.

- Você estava em algum curso avançado na Califórnia?

- Num internato, sim, senhor.

- Bom – disse ele depois de um momento – Acho que é bom que os dois sejam parceiros de laboratório. – ele murmurou mais alguma coisa ao se afastar, mas eu já não prestava atenção. Sem saber o que falar para ela, comecei a rabiscar de novo no caderno.

- Chato a chuva levar a neve, não é? – perguntou Bella. Apesar de ter sido ela a puxar o assunto, parecia não gostar do assunto. Tentou se enturmar puxando um assunto somente porque causava a euforia geral, mas ela realmente era uma péssima mentirosa.

- Não muito – respondi sincero só para ver se ela ficava constrangida de novo.

- Você não gosta de frio. – não era uma pergunta.

- Você também não parece gostar.

- Forks deve ser um lugar difícil para você morar – ela me ignorou, parecendo incomodada pelo meu comentário.

- Nem faz idéia... – respondi sorrindo, mas minha voz soou melancólica demais.

- Então por que veio para cá?

Ninguém havia me perguntado aquilo. Especialmente daquele jeito exigente, quase acusador. As pessoas pareciam tão eufóricas por eu ter voltado que não se lembraram de descobrir por quê.

- É complicado – não queria falar sobre aquele assunto específico.

- Acho que vou conseguir acompanhar. – ela pareceu ofendida pelo jeito que eu disse aquilo.

Fiquei em silêncio por algum tempo. Mas cometi o erro de olhar para os olhos dela. O dourado escuro me deixou confuso, de um jeito bom, parecia ouro derretido, acabei falando sem pensar.

- Meu pai morreu.

- Oh – ela mordeu o lábio mais uma vez, dessa vez tão forte que eu fiquei com medo que ela se machucasse – Desculpe.

- Não foi culpa sua. – eu tentei sorrir – Voltei por causa da minha mãe, ela não podia ficar sozinha.

- Por que eles te mandaram para o internato?

- Eu quis ir.

- Por que foi embora para começar? – agora ela parecia brava com a minha atitude.

No que é que ela estava pensando? E por que diabos eu estava despejando minha vida para ela? Eu que deveria estar fazendo mil perguntas!

- Por que isso te interessa? – fui seco.

- Eu não sei... – ela murmurou. Foi tão baixo que fiquei na dúvida se ela estava falando sozinha.

Suspirei meio contrariado.

- Eu não gosto daqui. Nunca gostei. Esperava que, indo para lá, eles me seguiriam eventualmente.

- Mas você que teve que voltar.

- É.

- Ainda depois de uma coisa tão triste... – ela estava pensativa agora, não me recriminava mais – Veio cuidar de sua mãe... Viu? Mesmo sendo complicado eu consegui entender. – ela achou que eu a estava chamando de burra, era só o que faltava.

- Na verdade – tentei mudar de assunto – acho que você a conhece!

Ela me encarou inexpressiva por uns instantes, me analisando talvez, demorou para responder. No que ela estava pensando? E por que me irritava tanto não saber?

- Como assim?

- Ela trabalha com seu pai.

- Meu pai?

- É. – eu ri – Dr. Carlisle? Seu pai?

- Ah. – ela pareceu sem graça, acho que não estava me ouvindo – Elizabeth, certo?

- Isso. Você é adotada, não é?

Ela arqueou as sobrancelhas.

- Você sabe bastante sobre mim.

Epa. De novo.

Ela riu da minha expressão.

- Sou sim. Acho que a cidade é pequena demais para se manter muitos segredos. – ela comentou parecendo meio frustrada com alguma coisa.

Girei os olhos. Cidade pequena até demais.

- Estou te irritando, não é? – ela estava preocupada de novo, a ruguinha apareceu entre as sobrancelhas.

- Na verdade não – disse sincero – só me incomoda não conseguir saber o que você está pensando das minhas respostas.

Não acho que ela tenha me entendido, mas ela não perguntou nada sobre.

- Mas é tão fácil ler minha expressão. Minha mãe sempre me chama de livro aberto. – ela franziu a testa.

- Eu te acho muito difícil de ler.

Ela deu um meio sorriso, aliviada e isso me irritou.

- Que bom! – ela sorriu me mostrou um enorme sorriso, com dentes ultra brancos.

Não consegui acreditar quando o professor retomou a aula. Agora deveria ser a minha vez de fazer as perguntas. Já havia contado boa parte da minha vida para aquela garota estranha e linda que poderia ou não me desprezar e ainda não sabia quase nada sobre ela. Durante a conversa ela pareceu bem interessada, mas agora se inclinava para longe de mim, as mãos tensas, fechadas em punhos.

Tentei prestar atenção nas explicações do Banner, mas minha mente viajava descontrolada. Quando o sinal bateu, ela deu passos largos em direção a porta, com uma enorme desenvoltura, e eu ainda nem tinha levantado quando ela sumiu pela porta.

Lauren pulou na minha direção e eu peguei minhas coisas, ainda encarando a porta, pensando em Bella.

- Foi tão chato! – ela gemeu – Todas pareciam iguais e o meu parceiro não sabia nada! Você teve muita sorte de fazer com a Cullen. – era o que ela dizia, mas sua voz estava cheia de desagrado.

- Eu sabia tanto quanto ela – respondi mal humorado por ela achar que eu não sabia nada, evitando mencionar que já havia feito aquela experiência antes.

- Ela parecia bem simpática hoje – ela comentou nada satisfeita.

Apesar de ter ficado feliz por até mesmo ela ter notado a diferença, tentei parecer indiferente.

- Não imagino qual era o problema dela antes.

Não me concentrei na faladeira infinita dela enquanto caminhávamos para o ginásio. No jogo, ela ficou no meu time e toda chance que tinha, esbarrava em mim, sorrindo. Chegou a fingir ter sido atingida pela bola só para que eu a aparasse. Todos ficaram preocupados, não sei como não viram que era mentira.

A chuva era apenas uma névoa quando fui para o estacionamento, não era muito agradável para andar de moto, mas ainda assim melhor do que se estivesse realmente chovendo. Fechei a jaqueta até em cima e subi na moto, andava devagar, tomando cuidado com os outros alunos que não se importavam em olhar para os lados. Foi aí que percebi a figura imóvel e branca. Bella Cullen estava encostada na porta da frente do Volvo, há alguns carros de distância, me olhando intensamente. Quase perdi o controle da moto, não conseguindo andar em linha reta, mas recuperei antes que alguém mais percebesse. Senti o rosto queimando, e evitei olhar para ela. Seu sorriso estava me ofuscando.


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Notas finais do capítulo

-

N/A.:. Olááááá, minhas rosas! Obrigadas mil por todos os comentários! Fiquei muito feliz de verdade! Especialmente pq nunca recebi tantos comentários tão rápido, me fez ficar louca pra começar a escrever o segundo capítulo!

Entenderam, né? Sou movida a elogios, quanto mais comentarem, mais rápido eu escrevo! huahuahuahua

Bom, eu ando meio mentirosa, né? Eu disse que ia manter a linha de acontecimentos do Crepúsculo, mas minha maior fã, *caham*, minha mãe, ficou falando que eu deveria mudar e puxar mais pro meu jeito de escrever e bom... o resultado está aí! To torcendo pra vocês não me odiarem!

Um enorme beijo pra toooodas! COMENTEM! Por favor... =D



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