Alex’s POV.

Eu estava conversando com a Taylor, quando ela teve que sair pra fazer alguma coisa. Eu continuei sentado no degrau na frente do chalé de Perséfone por algum tempo.

-Olá! – Disse uma das caçadoras que eu vi mais cedo, Haide.

-E aí? – Eu disse sorrindo de lado.

-Posso me sentar ao seu lado?

-Claro. – Ela se sentou e ficou me encarando.

-Quem é seu pai ou mãe olimpiano?

-Eu não sei ainda.

-Ah...

-Você é muito diferente do resto das caçadoras que eu conheço, sabia?

-Sim, eu sei. Eu vou te contar uma história, que quase ninguém sabe. Não que seja algo tão secreto, mas é uma boa história. Certa vez, - Ela disse brincando com o pingente de um belo colar que eu não tinha notado antes. Era muito pequeno, mas era lindo. Era discreto, e eu podia apostar que também era antigo. – Uma garota, considerada a mais bonita de todas na escola e por onde passava, ela se apaixonou. E mesmo sendo tão nova, ela sabia que aquele era o amor da vida dela. Com a facilidade que ela tinha de encantar as pessoas, não demorou muito pra conquistar o garoto. Porém ela foi separada dele, trazida à esse acampamento aqui, numa tarde de verão de 1947. Ela nunca saía do acampamento, não tinha onde passar as férias. Mas uma vez, ela conseguiu uma missão, mesmo sendo quase insignificante no acampamento, pelo parentesco dela. No final das contas, ela acabou se saindo uma grande guerreira e por isso tinha conseguido representar o seu chalé. Como ela saiu do acampamento, conseguiu passar mais um verão com o menino que ela amava. Um verão, foi tudo o que eles tiveram antes que fosse tarde demais.

        Ele estava muito doente e ela o viu morrendo aos poucos, nada poderia o salvar. Ela viu o último suspiro dele e ela acreditou que talvez fosse o último suspiro dela também, ela sentiu como se o ar dela tivesse se esgotado. Ela estava triste e muito revoltada, ela foi brigar com a mãe dela, que caso você não tenha percebido, era Afrodite. Ela implorou pra que Afrodite tirasse aquele amor do coração dela, já que ela não podia o fazer voltar dos mortos. Porém, o pedido dela não foi atendido. A garota tinha sido a filha de Afrodite mais brava até aquele dia, tinha mudado a visão de muitos sobre o chalé, tinha sido fiel e nunca tinha se revoltado. Muitos diziam que ela era a mais bela entre todas as suas irmãs também. Mas tudo aquilo não a importava mais, ela nunca pensou que sua mãe se divertiria com a sua dor. Então ela mudou naquele dia. A garota com raiva da mãe, fez uma coisa que ela sabia que Afrodite jamais perdoaria, mesmo que esse algo fosse contra a sua própria natureza. – Eu achei que ela continuaria a história, mas de repente ela parou e ficamos em silêncio por um bom tempo. Eu sentia como se ela me entendesse. Ninguém se importava com ela, mas ainda assim, ela fazia tudo certo, e a mãe dela nem se importou com ela.

-O que ela fez? – Então Haide olhou pra mim e sorriu de um jeito tão doce, que eu quase me perdi.

-Ela virou uma caçadora.

-Espera. Você é filha de Afrodite?!

-Isso mesmo. – Ela disse com um leve sorriso, e só então eu pude ver a dor por trás daquele sorriso.

-E não é difícil pra você?

-Ás vezes, sim. Mas eu não tinha mais nada a perder. Eu só amei uma vez e quando eu penso como eu gostaria de estar com alguém, eu lembro de com quem realmente eu queria estar, mas não adianta pensar sobre isso, não é? E mesmo eu sendo caçadora, cantadas é o que não me faltam, eu recebo elas aos montes. – Disse ela rindo.

-Você não tem o espírito da sua mãe. – Ela entendeu o que eu quis dizer. Ela era gentil e não tinha problemas em lutar, ela se importava com as pessoas, seus sentimentos não eram falsos.

-Obrigada.

-E porque você me contou essa história?

-Bom, eu ainda sou filha de Afrodite e eu consigo perceber alguns sentimentos. Você precisava ouvir essa história, eu sei que precisava, te fez sentir melhor. – Ela continuava brincando com o pingente e reparou no meu olhar curioso. –Quer ver algo?

-Pode ser.

Ela tirou o colar e colocou o pingente no meio da palma de sua mão. O objeto brilhou e imagens de um garoto e ela apareceram.

Foi como uma história contada em flashes, desde o dia em que eles se conheceram. De alguma forma, ele via mais do que devia, ele sabia da coisa toda sobre deuses.

-Eu não gosto muito dela... – Disse um garoto de cabelo dourado e olhos escuros, em alemão, mas de alguma forma, eu o entendi.

-Mas por quê?

-Ela vai te tirar de mim.

-Não seja bobo, ninguém pode fazer isso! – Disse Haide com uma aparência um pouco diferente da atual, ainda mais radiante. A mãe dela deve ter tirado boa parte da beleza dela quando ela virou caçadora, e ela ainda era linda.

-Mas você vai partir!

-De qualquer forma... – Ela passou a mão suavemente pelo rosto do garoto. –Eu gosto dela.

-Por quê?

-Ela me deu algo que fez tudo valer a pena. Ela me deu você. Eu nunca vou te esquecer.

-Isso se ela não quiser que você me esqueça...

-Não seja bobo, ela é maravilhosa, ela nunca vai me magoar, eu sou filha dela.

Depois de alguns diálogos, o fim. Ele morreu com a cabeça recostada no colo de Haide. Logo depois, a imagem dela chorando, implorando aos pés de sua mãe, e o jeito como sua mãe apenas sorriu com crueldade e diversão, como se não fizesse diferença.

-Quantos corações não foram partidos só hoje? Quantas pessoas já não perderam alguém? Isso não faz diferença.

-Mas eu sou sua filha! Eu sou fiel á você! – Gritou Haide, ainda chorando.

-Você ainda é só mais uma humana. O seu sofrimento ainda é lindo e puro, foi um romance perfeito pra um livro! E não há nada que eu possa fazer. – Disse Afrodite, se retirando, deixando sua filha sozinha, com sua dor e raiva.

E a última cena, Ártemis protegendo a nova caçadora da ira de Afrodite.

-...E então você fica com o crédito, Ártemis? Ganha uma nova caçadora e eu perco a minha melhor filha? Você fez a cabeça dela quando ela estava com raiva!

Haide sorriu perversamente, encarando Afrodite.

-Quantos corações não foram partidos só hoje? Quantas pessoas já não perderam alguém? Isso não faz diferença.

Então as imagens foram sumindo e pequeno pingente perdeu o brilho, voltando a ser o pingente normal. Haide colocou o colar de volta no pescoço.

-Eu sinto muito. – Eu disse à Haide.

-Tudo bem... Quem devia ter sentido muito, não sentiu.

-E... Desde quando eu entendo alemão?

-Desde quando eu te permiti entender pra ver isso? – Ela disse rindo. –E não tente, não funciona com outras coisas, você não fala alemão só por ter entendido isso.

-Certo. – Eu disse, assentindo.

Então Alice veio correndo até nós.

-ALEX!

-Oi, Alice. – Então Haide olhou pra mim e pra Alice, dando um sorrisinho.

-Creio que devo me retirar agora... – Então ela se levantou e foi até o chalé de Ártemis.

-Quem era aquela? – Perguntou Alice, se sentando ao meu lado.

-Uma caçadora.

-E o que uma caçadora faz por aqui?

-Sei lá, vieram falar algo pro Quíron. – Eu disse, dando de ombros.

-Estranho...

Isso sem dúvidas, mas eu ainda ia saber sobre o que elas vieram falar...