A Lenda escrita por Cchan


Capítulo 24
Capítulo 24




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O farfalhado de folhas que vinha da floresta era contínuo, o que chegava a incomodar. O vento frio brincava sutilmente com aldeões adormecidos, deixando cabelos bagunçados e pés gelados. As estrelas estavam brilhando, incontáveis, vestindo a noite com seu brilho.

O barulho do silêncio poderia ser escutado, caso se prestasse bastante atenção. O dia estava dormindo enquanto a lua brilhava livremente pelo céu noturno. A beleza daquele luar era incomparável. E a noite reinava entre a atmosfera da escuridão.

Os youkais noturnos saíam em busca de suas presas, diferentemente dos diurnos, que seguiam o exemplo dos humanos e dormiam placidamente. Tudo estava normal. Tudo estava perfeito.

É, de fato, tudo estava perfeito. Até que o clima é rompido por um grito. Um grito escandaloso de pura dor e súplica; um enorme desejo de que aquilo não fosse verdade. Era Kagome. Ela havia descoberto o destino de seu filho.

- NÃO, INUYASHA! ISSO NÃO PODE SER VERDADE! - debulhava-se em lágrimas no colo do marido - Não pode ser... Não pode, não pode, não pode...

- Nós... Vamos dar um jeito.

- DAR UM JEITO?! COMO NÓS VAMOS DAR UM JEITO?! NÃO HÁ NADA QUE NÓS POSSAMOS FAZER, INUYASHA! NÃO HÁ NADA! NADA! Nada... - ajoelhou-se e olhou para o ventre que não mais apresentava sua proeminência - A culpa é toda minha. Eu sou uma inútil, uma inútil, uma idiota, uma completa idiota...

- Kagome, não fale assim...

- MAS É A VERDADE! SOU UMA IRRESPONSÁVEL! VOCÊ SABE QUE A CULPA É MINHA, INUYASHA! VOCÊ SABE!

A fúria brotava dentro de si. Ouvir sua esposa proferindo tais palavras era torturante, pois ele, o protetor e pai da criança, sentia-se o mais culpado de todos.

- EU ERREI! EU NÃO DEVERIA TER IDO! ONDE EU ESTAVA COM A CABEÇA? EU ESTOU GRÁVIDA! NÃO, EU ESTAVA... A CULPA É TODA MINHA! TODA MINHA!

- Kagome, POR FAVOR, você quer parar? - e a raiva era eminente em seu tom de voz.

- A culpa é toda minha, toda minha... Toda minha... A culpa... Toda... Toda minha, toda... - num murmúrio quase inaudível, repetia incansavelmente.

- Kagome...

- O meu filho... O meu filho...

- KAGOME...

- Ele... Ele se foi e a culpa é toda minha...

- VOCÊ QUER PARAR COM ISSO, SUA BAKA?

E o semblante da colegial mudou de triste para de puro espanto. Como Inuyasha, sabendo que ela encontrava-se naquele estado emocional delicado, gritara com ela daquele jeito? Seria possível alguém ser tão insensível a esse ponto?

- O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO FALANDO COMIGO DESSE JEITO? VEM CÁ, EU NÃO ESTOU MAL O SUFICIENTE PRA VOCÊ? QUER QUE EU ME MATE? PORQUE EU ME MATO, INUYASHA! EU SOU UM MONSTRO, EU ESTOU ME SENTINDO HORRÍVEL E SERIA MUITO LEGAL DA SUA PARTE MOSTRAR UM PINGO DE...

- SOU IDIOTA, ME ESCUTE! - segurou seus ombros e forçou-a a encarar seus enormes e arregalados olhos âmbares - A culpa não foi sua.

- Ah, claro que a culpa não foi minha, foi do Naraku que... AH, POR FAVOR, INUYASHA!

- KAGOME, A CULPA NÃO FOI SUA!

- ENTÃO DE QUEM...?

Parou abruptamente a pergunta. Só naquele momento percebeu as lágrimas que haviam se formado nos olhos do esposo. Kagome tinha a capacidade de entender os olhares de Inuyasha como ninguém. Este definitivamente era o de um pai se destruindo pela perda de um filho. E, pelo que ela percebera, achava que a culpa dessa perda era dele.

- Inuyasha...

- Kagome, a culpa não foi sua - a voz do hanyou estava rouca e embargada por um choro contido -, a culpa foi minha, sua boboca. Foi minha. Eu prometi proteger vocês. Era uma promessa.

- Inuyasha, eu... Inuyasha...

Não havia nada a ser feito. Para que discutir de quem havia sido a culpa? Não adiantava quebrar a cabeça com isso. Amanhã, convenceria-o de que estava errado, por ora, algo deveria ser feito. Kagome fez a única coisa que poderia fazer para o consolo mútuo acontecer: ela o abraçou com força, deixando que as suas lágrimas molhassem o rubro quimono que ele usava. E ele retribuiu o gesto, sem derramar uma lágrima, pois não poderia demonstrar fraqueza no momento em que mais precisava de toda sua força.

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Do lado de fora da cabana, a espionagem havia acabado.

- E então, Miroku, o que você está vendo? - perguntou o kitsune com a perceptível curiosidade em sua voz.

- Acho que acabou... Parece que eles estão se abraçando. - o monge olhava pela brecha da porta - É, estão se abraçando. - confirmou.

- Bah, só isso?! Eu quero ver um beijo!

- Shippou, controle-se! - repreendeu Sango - Deve estar sendo um momento muito difícil para eles.

- Justamente por isso que deveria ter um beijo, ora! - resmungou Shippou.

- Santo Buda, dai-me paciência... - suplicou Miroku, evitando uma futura briga com o filhote. - Eu não queria estar no lugar dos dois...

- Nem eu. - concordou a exterminadora alisando o ventre.

- Ai, ai, ai, ai, ai, a Kagome deve estar tão triste... - sussurrou o pequenino - O que podemos fazer?

- Nada, Shippou... Nada... Só vamos dar um tempo para os dois. Vamos dormir aqui fora por hoje. Sango-chan, eu vou pegar aquela coisa estranha e macia que a Kagome-sama sempre leva para acampamentos, está bem?

- Certo!

- Quero o melhor para mulher que amo - derreteu-se sorrindo - e que carrega um filho meu! Ah, quanto a você, Shippou... Vá dormir com a Kirara.

- Mas onde ela está?

- Não sei... Deve ter saído com o Nekohi.

- Então onde eu vou dormir, Miroku?!

- Não sei... Mas aquele arbusto parece bastante confortável...

- Deixe de gracinhas, Miroku! - riu Sango dando um tapinha no seu ombro.

- Estou brincando! Shippou, aquelas folhas parecem venenosas. Fique naquela pedra ali e boa noite!

- MIROKU! - esperneou o pequenino.

É, não havia nada a ser feito. A solução era seguir em frente e tentar superar, por maior que fosse a dor. O que estava ao alcance dos amigos era esperar pelo dia seguinte para decidir o que fazer a respeito de tudo.

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No meio da noite, um incômodo barulho de passos fez com que a exterminadora de youkais abrisse os olhos para conferir o que estava acontecendo.

Com visão alterada pela embriaguês do sono e pelo breu em que estava, pouco conseguiu ver. Só enxergou brevemente um par de olhos castanhos, que assemelhavam-se muito aos seus. Tinham o olhar doce e meigo, como o de uma criança assustada. Pouco mais abaixo, o brilho de uma lâmina afiada era identificável na altura das mãos do desconhecido.

Cansada demais para raciocinar, Sango revirou os olhos e fechou-os. Pouco antes de adormecer naquela madrugada, ouviu um último murmúrio de pura saudade:

- Irmã...

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O sol subia gloriosamente no céu. Os passarinhos cantavam em devoção à primavera que acabara de chegar. A Sengoku Jidai acordava e junto a ela, Kagome. A colegial abriu os olhos e percebera que Inuyasha a encarava com um semblante sério.

"Será que tudo foi um sonho?" pensou aflita.

Ao sentar-se, sentiu uma leve pontada de dor no ventre ao o fazer: o corte. Maldito Naraku. Maldito ferimento... Este estava totalmente coberto por faixas brancas que envolviam todo o seu abdômen. Levou a mão à cabeça para ajeitar os negros cabelos que tinha (que mais pareciam um balão de tão ''inflados'' àquela hora da manhã) e assim percebeu que havia perdido as orelhinhas caninas das quais tanto gostava.

"Só se foi um pesadelo."  entristeceu-se com o pensamento.

O hanyou a acompanhava com os olhos, esperando mais choro, mais desespero; esperava o que deveria esperar-se de Kagome naquela situação.

Superando as expectativas, a jovem sorriu. Não era um riso forçado. Não era um riso triste. Era um riso de quem havia sofrido, mas que era forte o bastante para erguer a cabeça diante das dificuldades.

Inuyasha virou a cara e bufou, murmurando algo inaudível aos ouvidos humanos. Qualquer um diria que estava mal-humorado, mas seus olhos âmbares transpareciam uma luz de alívio e alegria. Seus olhos sorriam para a moça.

Kagome vestiu-se apropriadamente para o dia (com seu típico uniforme escolar) e retirou-se da choupana silenciosamente. Olhou para o céu que estava num azul límpido naquela manhã. O sol brilhava avivando todos os tons da natureza.

- Quer saber? - disse para si mesma - Eu não vou ficar aqui parada.

Correu de volta a cabana, vasculhou algo em sua mochila amarela e puxou a enorme frigideira preta que encontrava-se embaixo das batatas fritas do marido. E riu com a expressão dele, que claramente dizia: "O QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO EM FAZER, SUA IMBECÍL?! SE FOR MAIS UMA DAQUELAS SUAS RECEITAS..." Mas, no fundo, ele era o que mais gostava dos caprichos da esposa.

Kagome reacendeu a fogueira da noite anterior e estalou ovos na panela. Misturados a cebola, salsicha, temperos tradicionais e uma pitadinha de sal, eles pouco pareciam apetitosos. Mas, pra falar a verdade, estavam deliciosos.

Acordou todos os amigos e convidou-os a ver o quão lindo estava o dia. Kagome ria como uma criança, o que contagiava todos.

Sango acordara naquela manhã com o mesmo pensamento que invadira a colegial naquela manhã:

"Será que foi tudo um sonho? Ou... Não, não poderia ser o..." Deixou-se invadir por aquele pensamento. "Não, não poderia ser... Eu devia estar sonhando."

Partiu para falar com a amiga, olhou no fundo de seus olhos e sussurrou:

- Kagome-chan, eu sei o quão destruída você está por dentro, mas precisamos de você sempre assim. O Inuyasha precisa de você. Ele depende de você. E nós também.

- Obrigada, Sango.

Abraçou a amiga apertado - mas não tanto ao ponto de machucar o bebê - e mordeu-a levemente no ombro. E a fez rir como sempre fazia.

No café da manhã, não houve nada de especial. Inuyasha brigava com Shippou e adicionara mais três galos na cabeça do kitsune. Sango batia em Miroku, afinal, só porque eram casados, não significava que ele podia passar a mão nela. Kirara brincava com Nekohi assim como dois gatos brincam nas movimentadas ruas de Tóquio.

"Tóquio..." lembrou-se a miko. "Mamãe... Souta... Vovô..." lágrimas invadiam os olhos, assim como as recordações invadiam sua mente. " Eu preciso voltar... Eu preciso vê-los."

Olhou para a floresta onde conhecera Inuyasha e lembrou-se tentadoramente do Poço Come Ossos.

"Eu preciso voltar..."

Precisava, mas não o faria por ora. Precisava juntar os fragmentos da jóia de quatro almas que restavam... CALMA! Se Naraku havia sido destruído, que outros fragmentos restavam? O de Kohaku, é verdade... Mas, era somente um... Sango poderia cuidar disso sozinha, não poderia? Na verdade, não sozinha, mas com Inuyasha, Miroku, Shippou, Kirara e Nekohi! O que estava impedindo-na de voltar?

Num sobressalto, perguntou à Inuyasha:

- INUYASHA, ONDE ESTÁ A JÓIA DE QUATRO ALMAS?!

Os olhos de Inuyasha arregalaram-se. E também o de todos presentes. Não era possível que haviam esquecido de pegar a cobiçada e poderosa jóia, na qual haviam lutado tanto para conseguir, no campo de batalha.

A jóia de quatro almas não estava ali. Não estava no vilarejo. Não estava perto o suficiente para que pudesse ser sentida. Não estava em lugar algum.


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Notas finais do capítulo

Bom, gente, terminei o capítulo, espero que tenham gostado. :D E, er... Bem... ESTOU DE VOLTA! o/ Mas só postarei o próximo capítulo na segunda feira, porque vou viajar esse final de semana, então... Até a próxima e obrigada pela atenção! *-*



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