A Lenda escrita por Cchan


Capítulo 22
Capítulo 22




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Correu em direção a ela. Aproximou-se da jovem que estava sentada e encostada numa enorme árvore, que fazia sombra sobre seu ensanguentado corpo de gestante. Kouga segurava uma de suas mãos, mas não havia tempo para ciúmes. Como podia ter sido tão burro em prestar mais atenção no Naraku e esquecê-la durante a luta?!



Ela murmurava algo que, à distância, ele não conseguia ouvir, nem mesmo forçando sua aguçada audição. As palavras saíam de sua boca como um sacrifício, como se a cada letra fosse cada vez mais difícil proferí-las.



– Inuyasha... Nosso... Filho... - balbuciou num tom quase inaudível para o hanyou que se aproximava enquanto tentava, inutilmente, estancar o enorme ferimento em seu ventre. - Eu... Estou... Com... Medo...



– C... C... Calma, vai tudo d... Dar certo! - este estava trêmulo.



– NÃO, NADA VAI DAR CERTO! OLHE O ESTADO DELA!



– CALA A BOCA, LOBO IMBECÍL!



Olhou para trás numa tentativa frustrada de gritar por ajuda, mas não havia mais ninguém por perto, somente seus amigos. Estes que estavam quase aos prantos e nada podiam fazer.



– I... Inu... Yasha... Por que... Você... Está... Chorando? - disse abrindo um pequeno sorriso.



– Ah, sua boboca, é que eu odeio... Ver você... AH, CALA A BOCA! - Inuyasha usou seu braço para enxugar as lágrimas, e ao fazer manchou seu rosto de lama e sangue.



– Você... Fica... Tão... Fofo... Preo... Cupado. - fez algo que muitos julgavam ser um riso, mas sua expressão tornou-se de dor com o feito.



– NÃO RIA, SUA BOBA! VAMOS, EU VOU TE LEVAR PARA A CHOUPANA DA VELHA KAEDE E TUDO VAI... - foi interrompido.



– Não... Meu amor... Acho... Que... Não tem... Mais... Nada... Para ser... Feito... Me... Desculpe... Eu... Deveria... Ter... Ficado lá... Onde... Você... Mandou... - lágrimas verteram e se misturaram com o sangue que estava em seu rosto. - Me descul... Pe...



– Não, Kagome, a culpa foi nossa! Nós não conseguimos te proteger! Nos desculpe! Por favor, não fale assim!



– Kouga... - seus olhos sorriram para o amigo.



– PARE DE OLHAR PRA ESSE LOBO FEDIDO E OLHE PRA MIM! POR QUE VOCÊ ESTÁ PEDINDO DESCULPAS?! ESSA NÃO É A ÚLTIMA VEZ QUE A GENTE VAI... VOCÊ NÃO... VOCÊ NÃO VAI MORRER! VOCÊ NÃO VAI MORRER! NÃO VAI! NÃO VAI! EU NÃO VOU DEIXAR! - pôs as mãos na face ensanguentada da moça, forçando-na a olhar para o seu rosto. Seus belos olhos temporariamente âmbares estavam quase se fechando. - JÁ DISSE QUE EU NÃO VOU DEIXAR! NÃO ME DESOBEDEÇA DE NOVO, KAGOME! NÃO...


– Cuidem bem... De todos... Especial... Mente... Do... Shippou..., O... Brigada... Por... Tudo... Eu... Fui... Muito... Feliz... Ao... Seu... La... A... Do..., Eu te... Amo..., Meu... Inuyasha... - e esse foi seu último murmúrio, antes que seu corpo se tornasse frio e pálido e seus olhos perdessem, completamente, o brilho.



– Não... Não. Não! NÃO! NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO! KAGOMEEEEEEEEEEE! KAGOME! VAMOS, VAMOS, ACORDE! KAGOME, ACORDE! EU DISSE QUE NÃO IA TE DEIXAR MORRER! VOCÊ DISSE QUE A GENTE IA FICAR JUNTOS PRA SEMPRE! POR FAVOR, ACORDE! KAGOME! KAGOME! - balançava inutilmente os ombros de sua amada, que havia acabado de falecer.


Em sua mente, uma promessa que havia feito, não o deixava mais calmo com a situação:


"– Prometo não deixar nada acontecer a vocês dois... AGORA PÁRA DE CHORAR!"


No dia em que havia pedido-na em casamento. Havia prometido. Ele havia prometido e quebrado a promessa. Num sussurro, desabafou:



– Me desculpe, Kagome. Não fui bom o bastante... Para proteger vocês. Eu sou um fraco. Me desculpe, Kagome. Me desculpe...



Kouga saiu, delicadamente, de perto. Sua amada estava morta. E pior, havia perdido-a para um de seus maiores inimigos! E o outro, que estava ao seu lado, chorava, coisa que jamais presenciara o hanyou fazer. E, definitivamente, o príncipe dos youkais lobo não podia chorar na frente de seu rival amoroso. Do seu ex-rival amoroso...



"Kagome... Me perdoe." E com essas palavras, seguiu em seu redemoinho de folhas e poeira, rumo ao esconderijo, onde poderia, finalmente, derramar prantos em paz.



Os amigos estavam surpresos. Surpresos, não: aterrorizados.



– Miroku... A Kagome está...? - Sango não tinha coragem de pronunciar a maldita palavra. Não ao ver o desespero do meio-youkai.



– Sim, Sango. A Kagome está morta. - disse Miroku com pesar.



– NÃO, A KAGOME NÃO ESTÁ MORTA! ELA SÓ ESTÁ... DORMINDO! EU VOU LEVAR ELA PARA A CHOUPANA DA VELHA KAEDE E TUDO VAI...



– NÃO, INUYASHA! NADA VAI ACABAR BEM! ELA ESTÁ MORTA! NÃO TEM MAIS VOLTA! - gritou o monge. - Acabou.



– NÃO, NÃO ACABOU! - estava inconformado. Nada poderia fazê-lo desistir, tinha de pelo menos tentar salvar um amor que não poderia mais ser salvo.



– INUYASHA, SEU BURRO! A KAGOME... - Shippou não conseguia mais nada proferir, o choro não permitia.



Sango aninhou-se no peito do marido e chorou como uma criança, chorou como se ali estivesse morta a sua irmã. De fato, estava. Kagome e Sango eram tão unidas que podiam ser tidas como irmãs, afinal, na vida temos amigos unidos pelo destino, mas irmãos por opção.



Miroku tentava consolá-la, mas como? Este também chorava. Nada poderia acalentar o coração dos pobres amigos, à não ser a miko na qual todos tanto gostavam.



Inuyasha tentava prender o choro, mas aquelas malditas lágrimas teimavam em cair. Malditas, malditas sejam! Abaixou-se e tentou colocar o corpo da jovem, desajeitadamente, em seus braços, com o objetivo de tirá-la da enorme poça de sangue ali jazida e levá-la para outro lugar, com esperanças de que seu amor pudesse voltar a viver.



– Deixe-a aí.


– MIROKU, EU NÃO VOU DEIX...


– DEIXE-A AÍ. - gritou enfurecido.


O hanyou de lacrimosos olhos âmbares não entendia o por quê, mas logo compreendeu. A árvore que fazia sombra sobre o corpo da menina era a Goshin Boku, o lugar onde se conheceram, onde quase sempre conversavam e onde descobriu que era Kagome quem ele queria, e que ela seria sua esposa custe o que custasse. Era, sem dúvidas, o melhor lugar para... Para... Enterrá-la.



– Deixe que pelo menos a alma da Senhorita Kagome descanse em paz, Inuyasha. - fez uma espécie de gesto budista em frente ao corpo da amiga. - Ela merece.



– Mas... Eu não quero que ela vá embora! - Algo escorria e brilhava em suas bochechas. MALDITAS LÁGRIMAS, MALDITAS!



Inuyasha, a vida é assim, alguns nascem outros...



– MIROKU, MAS VOCÊ NÃO ENTENDE?! EU ACABEI DE PERDER TUDO! TUDO! O MEU FILHO, A MINHA MULHER, TUDO, TUDO, TUDO! - levou as mãos ao rosto, tentando acalmar-se. - Nada pode substituí-los. - sussurrou num tom abafado.



O amigo saiu de perto. Nada que ele dissesse iria acalmar nem cicatrizar a enorme ferida que se abria no coração do companheiro. Infelizmente, nada mais poderia ser feito.



– Inuyasha, você é tão patético... Como ousa derramar uma lágrima sequer por essa ridícula humana?



Uma voz conhecida. Ele sabia quem era. Cretino! Aproveitando-se de seu momento de fraqueza e sofrimento. Do seu ponto fraco. Da sua falecida Kagome. CRETINO! Aquilo não ficaria assim.



Sentiu um ódio, do qual jamais imaginou ser capaz de sentir, brotar em si. Uma fúria que ninguém poderia segurar nem apaziguar. Uma sede por matança e carnificina do maldito que proferiu tão insensíveis palavras.



– COMO VOCÊ OUSA DIZER ISSO, SEU MALDITO?!



– Inuyasha, você vai morrer agora e vai poder se encontrar com aquela fêmea humana idiota.



Entre as árvores, uma enorme sombra se aproximava. Os movimentos eram suaves, porém precisos, como se criasse uma estratégia com os olhos que reluziam em meio à escuridão da densa floresta do qual saía. Alguém que o hanyou não estava pronto para encarar, não naquele estado, completamente ferido e ensanguentado. Completamente abalado e destruído. O maldito... O maldito.



– - - - - - - - - - - - - - - -


– Miroku, Sango, levem o Shippou daqui. Fujam. - murmurou. Assim os amigos fizeram, sem protestar. Montaram em Kirara e saíram silenciosamente.



O amigo olhou em volta, certificando-se de que todos haviam partido e que estariam à salvo rumo à choupana da Senhora Kaede.



– O QUE FAZ AQUI, SESSHOUMARU?! - bradou com toda a fúria contida em seu peito.


– Huh. Então é mesmo verdade que aquele maldito do Naraku está morto... - sua expressão permanecia fria e séria, como sempre - Idiota. Não sabia que eu quem deveria matar aquele cretino?


– CHEGOU TARDE, SEU MISERÁVEL! AGORA VÁ EMBORA! NÃO QUERO TER DE ACABAR COM VOCÊ TAMBÉM NO MESMO DIA!


– O que era isto aqui? - dirigiu o olhar para onde havia sido a linda festa de casamento do irmão caçula - Quer dizer que você se casou e não convidou o seu irmão, Inuyasha? Que patético.


– PARE AGORA OU EU VOU ATÉ AÍ CORTAR O SEU PESCOÇO!


– E a noiva era aquela...? - desta vez, olhava para Kagome - Como pôde deixar a noiva morrer durante a luta? Quanta incompetência... Nunca mais conte a ninguém que é meu irmão, pois eu, o grande Sesshoumaru, nunca deixaria que algo tão ridículo acontecesse.


– Já chega... Já chega! JÁ CHEGAA! VOU CORTAR O SEU PESCOÇO COM AS MINHAS PRÓPRIAS GARRAS!


Inuyasha correu, sem pensar, em direção ao irmão mais velho. Suas garras desferiram um enorme golpe, que não atingiu o alvo, pois o mesmo era muito rápido.


– Lerdo como sempre... - sacou a Bakusaiga. - OBSERVE COMO SE FAZ!


Sesshoumaru sibilou algo que deveria ser o nome do ataque e desferiu um enorme golpe. Um raio de tom azulado brotou da espada e atingiu o hanyou. Queimava-lhe o corpo, toda sua pele parecia esticar-se e contrair-se, causando dor e agonia intensa. Os olhos de Sesshoumaru adquiriram um amedrontador brilho malígno.



Levantou-se rapidamente e tornou a atacar, recebendo outro golpe da Bakusaiga, do mesmo modo como na primeira vez. Esta ação repetia-se inúmeras vezes e sempre da mesma forma: Inuyasha se levantava, tentava usar suas garras, tinha o golpe desviado pelo irmão e recebia uma enorme rajada de raios vindos da espada do mesmo. Por mais que tentasse, estava cada vez mais difícil se levantar e atacar. Não encostaria na Tessaiga, queria o sangue daquele miserável impregnado em suas garras. Mas algo sempre tem de dar errado...



Não aguentando mais atacar sem efeito e apanhar humilhantemente, Inuyasha caiu de joelhos e quase não se mexia. Sua respiração estava ofegante. A prateada franja cobria-lhe os olhos enquanto a manga de seu quimono cedia, deixando seu ombro esquerdo à mostra.



– O que foi, Inuyasha? Já quer desistir? Vou acabar com você agor...



Sesshoumaru parou. Estava com os olhos arregalados, e fitava o hanyou que estava na sua frente, aquele que era obrigado a admitir que era seu irmão.



O sangue youkai do meio-youkai pulsava em suas veias. Suas garras cresciam, assim como sua sede por morte. Os lindos olhos âmbares, que o mesmo possuía, adquiriram um tom de vermelho vívido e as pupilas que nele haviam desapareceram. Num estranho salto, já se encontrava de pé. Um grito estridente deixou seus enormes caninos amostra. Inuyasha havia se transformado num ''youkai completo''.


– Huh. Já perdeu o controle de si?


– RWAAAAAAAAAAAAR! - atacou rumo ao pescoço do adversário.


– Inuyasha, não sabe que é inútil? - ao dizer, desferiu outro golpe da Bakusaiga.



Desta vez, não houve demonstração de dor, nem de agonia, somente de puro ódio. Os vermelhos olhos do youkai, agora ''completo'', o encaravam. Pupilas azuladas destacavam-se em meio à vermelhidão.



Atacou usando suas "garras voadoras", mas sem efeito. Enormes lâminas de sangue rasgavam o vento, mas mal atingiram o alvo, passando somente de raspão no rosto do adversário. Este passou a mão no novo ferimento e lambeu o sangue que tingia suas garras. Incrivelmente, abriu um minúsculo sorriso e pensou:



" Finalmente começará uma batalha digna de Sesshoumaru, filho de Inu no Taishou. "



Contra atacou com as "garras venenosas", mirando no estômago do irmão, porém, não teve o prazer de atraversar-lhe as tripas, pois o mesmo gesto já havia sido praticado pelo antigo oponente: Naraku.



– Como pôde permitir o Naraku de rasgar a sua barriga, seu imbecíl? Da próxima vez, se é que haverá próxima vez... DÊ PREFERÊNCIA AO SEU IRMÃO MAIS VELHO! - repetiu o golpe, mas, dessa vez, mirando em seu ombro desprotegido. Feriu-o. Envenenou-o. Mas, não o fez parar.



Inuyasha atacou repetidas vezes com suas garras, mas, com pequenos saltos, alternando entre direita, esquerda, para cima e para baixo, Sesshoumaru esquivava-se graciosamente.



– Tente recobrar a consciência, seu imprestável. Não quero ter o prazer de lhe matar enquanto estiver assim. Desse jeito, nunca se lembrará que foi o seu irmão que o fez. - bufou o "daiyoukai" indignado.



– RWAAAAAAR! - e essa foi sua resposta. (N/A: Irmãozinho educado... '-')



– Vamos, recobre A CONSCIÊNCIA!



Esmurrou a face do irmão mais novo, que caiu "de cara no chão". Este já não se mexia mais.



– Não é possível... Ele não é tão fraco ao ponto de morrer com um soco. ACORDE, SEU IMPRESTÁVEL! SESSHOUMARU ESTÁ FALANDO COM VOCÊ! - chutou a barriga do que estava deitado ao chão.



Seus olhos estavam recobrando o antigo tom âmbar e o vermelho tornava-se branco, como normalmente era. Aleluia! Estava voltando a ser o irritante Inuyasha de sempre... Era exatamente DISSO que ele precisava! Um soco na cara e um chute na barriga! Bem, talvez não. Não, definitivamente, não havia sido esse o motivo.



O cheiro do sangue de Kagome, que estava bastante próximo do seu corpo caído, o fez recordar da moça. Seu jeito, seu sorriso, seu beijo, seu toque, seu abraço, sua essência, sua Kagome. Como iria sentir sua falta...



– Sesshoumaru... - murmurou sentindo a vista enturvar. - O quê... O quê... O que foi que aconteceu? - levou uma mão à cabeça, mas sentiu uma pontada em seu ombro ferido, fazendo-o bufar de dor.



– Finalmente, já se recompôs. AGORA SAQUE A TESSAIGA E LUTE COMO UM... Youkai? Patético. Não tem nem mesmo o direito de ser chamado de youkai, seu hanyou imundo. Afinal de contas, tem esse asqueroso sangue humano dentro de você. Que repulsivo. Você me dá nojo! Gostaria de lhe matar lenta e dolorosamente, mas como estou sem tempo para tolices como você... VOU ACABAR LOGO COM ISSO! MORRA DE UMA VEZ, INUYASHA!



Inuyasha cambaleou e forçou seu corpo a pôr-se de pé. Sacou a Tessaiga. Nossa, como parecia pesada! Ou seria ele que estava fraco? O veneno de Sesshoumaru invadia-lhe o organismo e enfraquecia seus músculos, assim como seus sentidos.



Fitou o irmão que preparava-se para desferir um ataque com sua grandiosa espada, a Bakusaiga, mas, antes do mesmo o fazer, algo lhe chamou a atenção. Era sua salvação! Como não havia pensado nisso antes?!



Preso à cintura de Sesshoumaru, estava algo que jamais havia pensado em usar, uma espada forjada por um dos caninos de seu pai, a espada dos deuses: Tenseiga. A única coisa que poderia fazer com que sua amada voltasse a viver...


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Notas finais do capítulo

Prontinho, o capítulo está completo! *-*
Desculpem a demora, sendo que eu estava tendo crises de meia idade... T-T
Ok, mentira, estava sem criatividade, mas, acho que ficou razoável. O que vocês acharam? :)
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