asylum escrita por HMSanches


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 3...



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PoV Emilie

Eu e Veronica quase começamos a comemorar quando estávamos no interior do Asylum – um pouco contraditório, levando em conta o aspecto horrível daquele lugar.

Como estávamos propositalmente sem nada que nos identificasse, e, óbvio, nos esquivávamos refinadamente de cada pergunta que nos era feita, fomos instaladas em um quarto que tinha ficado vago não havia muito tempo.

Enquanto eu mexia em uma das faixas que descascavam do padrão listrado verticalmente na parede, Veronica tomou uma decisão que me surpreendeu. Ela veio ao meu lado, e, antes que eu pudesse me mexer, segurou-me em seus delicados mas ainda assim fortes braços e me beijou apaixonadamente, no instante exato em que duas pessoas que trabalhavam ali vinham nos ver.

- Desculpe... Devia ter perguntado primeiro... Prometo que Arthur não vai ficar sabendo disso... E... Ainda somos amigas? - ela sussurou em meu ouvindo num volume que somente eu ouviria.

- V...

- Ok. Só se você quiser. - ela me olhou sorrindo travessamente de volta.

Eu já sabia que Veronica beijava garotas - e nós duas sabíamos que, não muito tempo atrás, isso definitivamente não era aceito por ninguém. Eu não discutia; simplesmente não me importava.

Pude sentir por mim mesma tudo o que Aprella estava passando. De novo.

As máquinas em que nos colocavam pareciam saídas de uma sala de tortura da polícia de algum ditador. Tudo era definitivamente velho, com muita ferrugem, fios com partes desencapadas, respingos de sangue por todos os lados. E talvez nem os próprios médicos sabiam completamente os efeitos dos medicamentos que nos davam.

Eu mesma já tinha sido institucionalizada antes (logo quando comecei a escrever poemas - até que consegui convencer a todos que eu não precisava de tratamento), e tinha passado por todos os exames e tratamentos aterrorizantes que aconteciam ali.

Nem de longe o lugar onde eu tinha estado era tão terrível quanto este. Tinha alguns ratos, mas eles eram leais, nobres e mais cordiais do que muitos seres humanos - e haviam sido minhas melhores companhias naqueles meses.

Felizmente, conseguimos facilmente localizar Aprella durante o jantar.

- Emilie? O que faz aqui? - ela correu em minha direção e me abraçou, como se fizesse meses que não me via.

- Eu e a Veronica vamos levar você daqui. - disse, sorrindo pra ela, que olhou em volta e não demorou a ver nossa amiga.

- Você achou que a gente não viria? - Veronica sorriu também, ajeitando os lindos cabelos escuros, sentada ao meu lado na mesa do refeitório, cruzando as pernas de um jeito que nem mesmo algumas dançarinas sabiam fazer.

Aprella pareceu, ao mesmo tempo, assustada e contente.

- Ah, me deixe apresentar Maggots pra vocês. - ela olhou para o lugar de onde tinha saído, e conseguiu atrair a atenção da garota de cabelos vermelhos que devia estar jantando com ela.

A pequena amiga de Aprella não demorou a chegar até nós.

- Emilie, Veronica... Esta é Maggots. Capitã, esta é a minha amiga Emilie sobre quem lhe falei, que também escreve poemas e compõe música. A que está ao lado dela é Veronica. - ela continuou as apresentações.

- Oi, Maggots! - cumprimentei; ela era alguém que combinaria muito mais com algo parecido com uma casa de bonecas do que com este sanatório imundo.

Veronica não deixou passar a chance de beijar Maggots.

- Olá, marinheiras! - a garota ruiva estava muito feliz por nos conhecer.

- Então... Minha amiga falou de mim? - tentei começar uma conversa com aquela que já era a mais recente integrante de nossa turma.

- Sim, falou, quando me flagrou escrevendo... E disse que você também escreve bem. - o comentário me deixou ruborizada, tão corada quanto os cabelos da pequenina.

- Que tal nos reunirmos todas as quatro em algum lugar mais tranquilo que este refeitório pra conversar? - sugeri; seria bom manter o grupo longe do tumulto.

- Eu pego alguns muffins e chá. - Veronica levantou-se, e caminhou lentamente até a cozinha, e só voltou quando conseguiu o que queria.

- Vamos! Eu levo vocês até nosso quarto. - Aprella se pronunciou; segui-a com Veronica e a capitã.

Caminhamos pelos nada convidativos corredores, até chegar ao local onde elas estavam instaladas.

Maggots mostrou os rascunhos que tinha com ela - eram ótimos, mas, ligeiramente diferente do meu estilo de poesia. Coisas relacionadas a felicidade de estar em companhia dos velhos amigos; eu preferia pensar que apenas a miséria nos reúne.

Saímos dali para caminhar um pouco - e arquitetar o plano de fuga para o dia seguinte. Felizmente, havia um piano no saguão de entrada - não estava muito bem afinado, mas, serviria.

Sentei-me diante dele, e comecei a executar uma de minhas próprias composições.

- Perfeito. Magnífico. Nem parece deste mundo.

- Indescritível. Nunca ouvi nada parecido. Seu estilo é único.

- Divino. Celestial. A melodia mais agradável que eu já ouvi.

- Fico honrada por saber que vocês gostaram. - mais uma vez, senti meu rosto queimar com os elogios.

Ainda ouvi Veronica sussurar para Maggots algo como “acredite, ela é ainda melhor com um violino, e ainda sabe desenhar e costurar”.

Descobri que a capitã não tinha nenhum parente próximo conhecido, e nem ninguém que pudesse acolhê-la - seus pais eram espanhóis que haviam se mudado sozinhos para a América, e morreram. Foi revelado, também, que ela crescera ouvindo as ondas do mar e a acolhida dos bons colegas que seus pais tinham, formando aquele velho espírito de união. Ela até havia tentado morar com alguns vizinhos e amigos próximos dos pais, quando estes se foram, porém não sentia-se acolhida por mais nenhum deles. Em um momento, ela começou a beber rum, conhaque, vinho e outras bebidas mais do que qualquer um deveria; e foi encontrada inconsciente e trazida pro Asylum havia poucos meses. Felizmente, estava se recuperando.

Arquitetamos o plano de fuga quase instantaneamente - nenhum médico, segurança ou qualquer funcionário estava por perto; pegaríamos a documentação de Maggots e de Aprella, e arranjaríamos um jeito de fugir.

Surpreendentemente, a sala onde guardavam os arquivos dos pacientes estava num estado tão perfeito quanto uma construção que tivesse sido inaugurada naquele instante; não parecia fazer parte do que havia ao redor. Não foi difícil encontrar as fichas de minhas amigas, e as poucas coisas que tínhamos trazido e haviam confiscado - que se resumia a algum dinheiro e as chaves de minha casa.

Não havia mais nada que elas quisessem trazer dali.

- Vamos precisar invadir o armário de limpeza. E não acho que eles vão sentir falta de coisa alguma que pegarmos. - disse, enquanto olhava para o cadeado.

Encontrar tudo destrancado no interior do Asylum não foi exatamente uma surpresa - afinal de contas, por que motivo algum interno pegaria qualquer coisa que armazenavam? Ninguém pensaria em se livrar dos medicamentos - mesmo que jogassem tudo fora, outros seriam comprados. Ninguém pensava em fugir, ou, se pensava, achava que não haveria meios - nenhum paciente tentava.

Provavelmente, só trancavam a grade externa pela segurança dos pacientes - afinal de contas, alguém indesejado poderia entrar e causar problemas.

Não havia ninguém acordado em nenhum dos aposentos que eram voltados para o caminho que levava até a cidade; pelo menos todas as luzes já estavam apagadas.

Por sorte, encontrei o que desejava - um lindo frasco de vidro com ácido sulfúrico, que provavelmente seria usado em reação com algum outro produto para produzir algum remédio. Eu jogaria o conteúdo diretamente sobre o cadeado, que derreteria e abriria. Seria pouco provável que, até a manhã seguinte, quando notariam o local destrancado, alguém passasse por aqueles portões.

Saí novamente ao encontro de minhas amigas.

- Eu tenho a chave. - disse, sorrindo, com o frasco de vidro em mãos.

Cuidadosamente, removi a tampa e derramei algumas gotas do conteúdo do vidro; o alumínio derreteu rapidamente.

Quando a corrosão tinha terminado, abri a passagem. Havia uma linda noite sobre nós.

Esperamos que um ônibus passasse para nos levar para casa.

Meus pais estavam viajando, não haveria problema em hospedar Maggots ao menos temporariamente.

- Sei que é uma decisão importante, mas... eu acho que devíamos nos mudar juntas. - minha voz saiu mais parecida com um suspiro.

- Isso seria perfeito. Teríamos a vida que sempre sonhamos. - Veronica concordou.

- Além do mais, já estamos planejando ir pra faculdade no próximo outono, se formos aceitas, e seria bom pra todas nós. - Aprella também estava mais do que feliz com a proposta.

- Se vocês me aceitarem... Estou com vocês. - Maggots disse timidamente.

- Capitã... Preciso dizer que estaríamos mais do que felizes por ter você com a gente? E, você fica na minha casa, até a gente se ajeitar. - disse a ela, sorrindo docemente.

Ela quase chorou.

- Emilie... Ainda temos que falar com a Contessa... - Veronica destacou.

Contessa. A nossa vitoriana que não estava com o restante da turma no momento.

- Certo... O tempo do pai dela no senado está terminando, e duvido que ela não venha morar na mesma casa que nós. Ela está tão ansiosa para se ver livre de adultos controladores quanto nós estamos. - respondi.

Não demonstrávamos, mas, estávamos ansiosíssimas para colocar meu convite em prática.


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Notas finais do capítulo

Obrigadíssima a @nanainworld @liz_morais e @juru_m que estão acompanhando esta fic... espero que estejam gostando!



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