Imperfeição escrita por GabrielleBriant


Capítulo 1
Pode me Chamar de Egoísta




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Todas as personagens que você reconhecer pertencem a Stephenie Meyer. Eu não quero nem vou lucrar com o que escrever.

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IMPERFEIÇÃO

Gabrielle Briant

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I

PODE ME CHAMAR DE EGOÍSTA

ROSALIE

Quarta-feira, 21 de agosto de 1935.

Se a vida tivesse seguido o seu curso natural, naquele exato momento eu deveria ser um amontoado de matéria orgânica em decomposição, exalando gases fétidos enquanto apodrecia lentamente no mausoléu dos Hale. Não é o que eu posso chamar de uma imagem muito encantadora e, definitivamente, ela não combinava em nada comigo.

Então, por que eu suspirava ao pensar no mausoléu? Simples: porque se eu, de fato, estivesse em meu sepulcro, ainda estaria em Nova York.

Eu sou uma garota da cidade. Sempre fui. Lembro-me que o meu avô materno tinha uma pequena granja dos arredores de Rochester e eu era obrigada a passar alguns feriados em contato com a natureza. Apesar das brincadeiras, das conversas e da maravilhosa experiência do primeiro amor – com um primo – eu mal podia esperar para voltar para a minha casa e sentir o delicioso cheiro das ruas pavimentadas.

Era irônico que, depois de morta, eu fosse obrigada a, pelo menos uma vez por semana, respirar o ar puro da floresta, enquanto – imagine só – caçava.

No banco de trás do Hudson, eu suspirei, recostando a minha cabeça no vidro da janela e olhando para as imensas árvores que se erguiam na estrada terra.

Eu sou uma pessoa que se adapta bem a situações adversas. Por exemplo, em tempo recorde me adaptei a esse negócio de não ter batimentos cardíacos; sou expert em me esquivar de sangue humano; e até mesmo aprendi a caçar o meu próprio jantar sem sujar de lama a barra do vestido. Mas, como eu disse, eu sou uma garota da cidade. Logo, eu nunca – jamais – vou aceitar a decisão que Carlisle tomou há algum tempo: deixar a minha amada Nova York, para ocuparmos uma cidadela nos confins do Tennessee.

Suspirei novamente.

- Ainda falta muito?

Esme olhou para mim e sorriu daquela maneira maternal e acolhedora.

- Mais ou menos, Rosalie. – Os olhos de Esme brilharam em excitação. – Em vinte minutos, devemos entrar na cidade... e, então, levaremos mais quinze minutos até chegarmos à nossa casa... Não é isso, meu bem? – Ela perguntou, olhando de soslaio para Carlisle.

Carlisle sorriu. Eu percebi que ele procurava o meu olhar através do retrovisor, mas preferi não retribuir. Continuei com minha atenção voltada à janela.

- Você vai gostar da nova casa, Rosalie – Ele finalmente disse. – É mais espaçosa que a anterior. E Riverside é muito arborizada e chuvosa, de forma que você vai conseguir levar uma vida quase normal!

- Hm. – Respondi com desanimação deliberada.

- Você sabe que nós não podíamos continuar em Syracuse.

Rolei os olhos. Será que ele não esqueceria nunca?

Antes dessa mudança, nós estávamos vivendo em Syracuse, Nova York. Eu, como uma boa vampira recém-nascida, ficava em casa, me alimentava com freqüência e obedecia a Esme e Carlisle como se fossem meus verdadeiros pais – afinal, eles eram a minha nova família; se não andasse na linda e me mostrasse um exemplo de comportamento e responsabilidade, eles poderiam me expulsar, e eu não teria para onde ir. Tudo mudou, no entanto, quando uma nota de jornal anunciou que os King estavam visitando a minha nova cidade – entre eles, Royce King e a sua noiva.

Eu gosto de dizer que o que eu fiz não foi exatamente um ato de vingança; eu estava salvando a vida da jovem mulher que fora louca o suficiente para aceitar meu querido Royce em matrimônio. De qualquer forma, vingança ou não, eu matei Royce. Eu também matei os seus amigos – os mesmo que estiveram presente no fatídico dia que levou ao fim da minha vida. E dois seguranças, que não tinham culpa nenhuma, coitados. Apenas estavam na hora errada e no lugar errado. Os matei rapidamente.

Quem diz que a vingança não é plena, nunca se vingou da maneira certa ou da pessoa certa.

Eu dei um breve sorriso. Isso ocorreu exatamente na mesma hora em que as árvores da estrada cessaram.

Esme olhou novamente para mim, exultante.

- Estamos aqui! Riverside!

Naquele momento, eu ainda não sabia que naquele local o meu "...e viveram felizes para sempre" se iniciaria. Então, apreensiva, eu mordi o meu lábio inferior, respirei fundo e olhei.

E me surpreendi. Acho que, talvez por estar assistindo filmes de velho-oeste demais, eu esperava encontrar uma estereotipa cidadezinha do interior – apesar de estar nas montanhas no Tennessee, e não no Kansas. Mas o fato é que o que eu vi me agradou muito. Era uma cidadezinha bem-arrumada, limpa, cheia de jardins. Ela era clara, apesar do sol penetrar muito fracamente através das nuvens, e as casas eram modestas e bonitas. A rua da entrada parecia ser também a rua principal; eu pude ver uma escola, um açougue, um mercado, uma padaria, duas ou três lojas de roupas, algumas lojas de ferramentas, insumos, rações e outros produtos agrícolas e um correio. Havia uma igreja protestante logo em frente à igreja católica e, entre elas, uma pracinha onde eu pude ver alguns jovens conversando e tomando sorvetes. Nenhum deles chamou a minha atenção; mas os dois automóveis seguidos pelos três caminhões de mudança chamaram as deles.

- A cidade em si é bem pequena – Esme apontou o óbvio. – Quase todos que moram aqui, no perímetro urbano, são pequenos comerciantes. Ali ficará a clínica de Carlisle – ela continuou, apontando para uma pequena casa onde alguns homens trabalhavam, dando alguns toques finais na reforma. – A casa pertencia aos McCarty; você logo os conhecerá. É uma viúva que mora com o filho. Eleanor McCarty quis baixar o preço quando soube que nós pretendíamos construir uma clínica! Ela disse que o último médico que morou em Riverside faleceu há quase dez anos! Parece que toda a cidade está feliz com a nossa vinda...

Eu não estava prestando muita atenção. Pouco me importava se seria bem-vinda ou não – teria de me mudar em poucos anos, de qualquer forma; para que me importar em fazer amigos?

Quatro minutos e vinte e sete segundos depois, nós vimos as árvores grandes voltarem a se erguer, anunciando que já havíamos saído da cidade. Carlisle dirigiu por algum tempo na rodovia estadual, antes de desacelerar e entrar à esquerda, numa estradinha de barro que parecia levar a lugar nenhum.

O carro começou a chacoalhar violentamente no terreno acidentado, e eu pude ouvir um dos motoristas dos caminhões de mudança perguntar-se para onde diabos estávamos indo. A estrada desconfortável, no entanto, não durou mais que dez minutos: logo nós entrávamos no que parecia ser uma enorme clareira na floresta e, no centro dela, erguia-se uma das casas mais bonitas que eu já vira em minha existência: era um sobrado de madeira com grandes janelas de vidro. Os jardins eram suntuosos, lindos; e, a julgar pelo olhar que Esme lançava a eles, certamente foram o ponto decisivo para o fechamento do negócio. Eu me permiti dar um breve sorriso, enquanto abria a porta e deixava o carro.

Percebi Carlisle abraçar brevemente Esme e me observar com satisfação – eu não fui exatamente feliz nos últimos dois anos, e sabia que eles se preocupavam.

Esperei Carlisle abrir o porta-malas do Hudson para começar a pegar as minhas bagagens. Aparentemente, a equipe de mudança apenas me viu naquele momento, pois senti o cheiro de sangue humano ficar mais forte enquanto ouvia passos firmes e desajeitados se aproximarem de mim.

- Srta. Cullen – disse o homem. – Deixe-me ajudar.

- Não precisa – respondi asperamente, sem sequer olhá-lo. Puxei um dos meus baús sem esforço nenhum. – Eu posso me virar sozinha.

Vi, pelo canto do olho, ele dar um sorriso irritantemente malicioso antes de virar-se para os companheiros. Alguns riram, alguns apenas balançaram as cabeças. Eu decidi ignorar e começar a me encaminhar para a casa.

- Primeiro andar, segunda porta à esquerda – Eu ouvi Esme me instruir. Certamente aquele era o caminho para o meu quarto.

Não prestei muita atenção por onde andei. Sei que passei por um hall e entrei numa sala grande cujas portas de vidro davam para o fundo da casa, onde havia, um campo e, há mais ou menos um quilômetro de distância, um lago e a floresta. À esquerda da porta ficava a escadaria de mármore, a qual eu subi e logo entrei na porta mencionada por Esme.

O quarto era bem espaçoso. O único móvel que já estava ali era uma grande cama de dossel – inútil, desde que eu não podia dormir. À esquerda havia uma porta que levava a um grande closet. Grande demais, na verdade; imagino que Esme tenha mandado transformar um dos quartos naquele closet, já que, sempre que eu estava triste, ela me comprava roupas, achando que aquela futilidade me faria sentir melhor.

Bem, funcionava.

Eu entrei no closet e me admirei no grande espelho que ficava ao fundo. Os meus cabelos estavam presos de forma que deixava à mostra como o meu pescoço era longo e não escondia nenhum dos belos traços do meu rosto. O vestido verde-musgo, no entanto, era simples demais; não fazia jus às minhas formas. Irritada, eu o tirei, tentando não me admirar enquanto estava de lingerie – não queria que Edward observasse esse tipo de pensamento.

Rapidamente, abri o meu baú e tirei de lá uma das minhas roupas confortáveis, que eu usava para caçar: uma calça de camurça marrom, uma blusa branca de linho e um corset preto que eu usava pra marcar a minha cintura. Vesti também botas longas de couro e, me olhando no espelho, soltei os cabelos para prender apenas a metade dele, deixando os meus cachos dourados cascatear pelas minhas costas.

Olhei para a minha imagem e sorri. Eu estava deslumbrante. E eu sei que era uma futilidade, mas me sentir bonita foi o que me manteve sã nestes últimos dois anos. Edward tinha o seu piano, eu tinha o meu espelho.

Rapidamente desci as escadas. Esme já estava na sala, guiando os trabalhadores a colocar o piano perto da porta de vidro que levava aos fundos da casa, enquanto Carlisle e Edward fingiam não ter força sobre-humana e tiravam aos poucos as malas do carro.

Chamem-me de egoísta, mas eu não tinha paciência para aquilo.

Ignorei quando os homens quase soltaram o piano para me olhar.

- Esme – Eu disse asperamente. – Vou explorar o lugar. – Pelo olhar, ela sabia que eu pretendia caçar.

Esme sorriu.

- Muito bem. Tente não demorar muito.

Não respondi. Eu tinha toda intenção de demorar muito, e só voltar quando boa parte da arrumação tivesse sido feita.

- Ela ficará chateada – Edward disse, assim que eu saí.

Apenas dei de ombros e continuei o meu caminho, adentrando a mata e começando a explorar as montanhas do Tennessee.

XxXxXxX

O sol já se punha quando finalmente voltei para a minha nova casa. Uma pequena garoa caía do céu, deixando o chão da floresta lamacento e definitivamente estragando uma das minhas botas favoritas. A minha roupa, com a qual eu tive tanto cuidado para não sujar enquanto abatia dois alces, agora estava salpicada de chuva – e aquilo certamente não era bom para a camurça.

Cheguei à frente da casa e suspirei aliviada ao perceber que os três caminhões não estavam mais lá. Sentei-me na escadaria da entrada e tirei as botas. Chacoalhei-as para me certificar de que a lama não respingaria no chão da sala.

Levantei-me e procurei ouvir o que se passava do lado de dentro: Caneta raspando papel; aquilo deveria ser Carlisle no escritório. Móveis sendo arrastados; certamente Esme, terminando a arrumação. E, finalmente, o barulho de ferramentas batendo contra metal; com certeza era Edward trabalhando incansavelmente em seu carro. Idiota obsessivo. Eu ainda não entendia qual era a graça de se passar o dia todo trocando peças de motor.

Lentamente, entrei. Esme estava na sala – o cômodo, aliás, já estava perfeitamente arrumado. Prestei mais atenção na porta de vidro ao fundo da sala. A vista que ela proporcionava era incrível: um vasto campo com grama que levava a um pequeno lago e, atrás dele, a floresta.

- Rosalie! – Ela disse, sorrindo. Eu realmente estava esperando que ela estivesse furiosa, mas estava enganada. Edward também. – O que você achou da floresta?

Tentei sorrir.

- Bem, será bem mais fácil nos alimentarmos aqui. Tem muitos animais.

- Em uma palavra: ursos! Teve sorte de achar algum hoje?

- Não. Apenas alguns alces.

Esme deu de ombros.

- Bem, você terá a oportunidade de achá-los algum dia, eu tenho certeza. Agora quero que você veja se gosta do jeito que eu arrumei o seu quarto. Não arrumei o seu closet porque achei que você mesma iria querer fazer isso, já que é tão apegada às suas roupas.

- Claro – sorri, desta vez com sinceridade. – Obrigada, Esme.

- E – Ela disse rapidamente, assim que eu comecei a me encaminhar para o quarto. – vista algo bonito. A Sra. McCarty está vindo nos visitar.

Eu assenti e subi rapidamente as escadas que levavam ao meu quarto. Estava muito bonito: Esme havia colocado lençóis de cetim branco e dourado na cama, o que combinava com as cortinhas brancas. Os móveis eram muito elegantes e na minha penteadeira já estavam arrumadas as minhas jóias e maquiagens. Notei que ela tinha comprado alguns bibelôs novos. Eu gostei.

Entrei no meu closet, onde Esme pusera todas as minhas... Parei subitamente. Ali deveriam ter onze malas, e não apenas dez. Mordi o meu lábio inferior e prestei atenção: os dois baús com roupas de caça estavam lá. O baú de bolsas, o de chapéus, e os três baús de sapatos. O de vestidos de verão, o de vestidos de festas, e apenas um dos meus vestidos do dia-a-dia.

Comecei a sentir aquela sensação ruim na boca do meu estômago e o ardor em minha garganta aumentou exponencialmente, apesar de eu ter acabado de me alimentar. Corri para o último baú e o abri, procurando desesperadamente o meu vestido favorito: era um azul-marinho drapejado que marcava muitíssimo bem a minha cintura e descia apenas até um pouco acima do meu joelho. Ele não estava lá.

De repente, me senti furiosa – novamente, fora a futilidade o que me manteve sã; em termos de Edward, seria como se o piano dele estivesse sem uma tecla.

Respirei fundo, e o cheiro fez a minha garganta queimar ainda mais intensamente. Era sangue humano.

Dane-se. Eu não me importava.

- Esme! – Eu disse alto, saindo do meu quarto. Certifiquei-me de não respirar. Fui até o pé da escada e olhei diretamente para Esme, que segurava uma bandeja de chá e a oferecia aos convidados humanos. Não me importei em olhar para eles. – Esme! Um dos meus baús sumiu!

Ela sorriu, praticamente me ignorando. Aquilo era irritante.

- Rosalie, querida, você pode vir aqui por um instante?

Não!

Inalei rapidamente, no intuito de conter a minha fúria e me arrependi de pronto. O cheiro de sangue humano estava forte demais e as minhas emoções não ajudavam em nada a diminuir a sede.

Tive de fechar os meus olhos para me conter.

- Você me ouviu? – Falei finalmente. – Apenas têm dez baús no meu quarto!

Ela sorriu.

- E nós logo resolveremos isso – disse calmamente. – Venha conhecer os seus vizinhos.

O olhar de Esme contradizia a sua voz. Ela tinha aquele olhar duro que apenas uma mãe consegue fazer. Eu não sabia como desobedecer Esme, e me amaldiçoava por isso.

Estava decidida, no entanto, a ser mais que desagradável com aqueles humanos.

Desci as escadas batendo os pés, deixado claro que não estava nem um pouco feliz com a situação. Quando cheguei perto do sofá – sem respirar, porque se não acabaria atacando os humanos – Esme colocou uma mão em minhas costas.

- Rosalie, essa é Eleanor McCarty – eu olhei muito rapidamente para a mulher. Ela tinha os seus quarenta e cinco anos e seria bonita, se não se cobrisse de negro do pescoço aos pés. Tinha um sorriso simpático no rosto e estendeu a mão para apertar a minha. Eu aceitei, apenas por ainda estar de luva. – E esse é o seu filho, Emmett McCarty.

Assim como eu fiz com a mãe, procurei apenas olhá-lo rapidamente, mas não foi possível. Assim que os meus olhos recaíram sobre o rosto dele, eu paralisei em choque. Ele era, sem sombra de dúvida, um homem; era alto, forte e tinha um rosto incrivelmente másculo... mas nos cabelos negros encaracolados, nos olhos inocentes e nas covinhas que apareciam em seu sorriso extraordinariamente acolhedor eu vi o pequeno Henry – o filho da minha amiga Vera.

Lembranças de um passado feliz passaram como um foguete pela minha mente. Memórias, antes encobertas por uma espessa nuvem, agora mais claras e intensas do que nunca. Por um momento, eu não estava segurando a minha respiração – eu simplesmente não conseguia respirar.

Deixei um sorriso sincero dançar pelos meus lábios.

- Oi – foi tudo que consegui dizer.

O sorriso do homem abriu-se mais, quase de uma forma brincalhona. As covinhas se fizeram ainda mais óbvias no rosto dele.

- É um prazer te conhecer, Rosalie.

- É... É um prazer.

XxXxXxX


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