Capítulo 3 – Reencontro

POV Bella

                De onde eu estava pude ver com total nitidez aquele que nas últimas horas povoava todos os meus pensamentos e a pontinha de culpa me dizia o quanto aquilo era errado.

                Poxa, eu sou jovem, desimpedida, por que tinha que me interessar justo pelo ficante da minha irmã? Que para piorar a situação era “Edward Cullen” o advogado de defesa mais lindo e cobiçado de Londres.

                Suspirei alto ao vê-lo lindo... beijando minha irmã.

                Ao notar seu olhar em minha direção fechei a cortina com medo que ele pudesse saber quem eu era, e para tentar esquecer um pouco minha angústia resolvi ligar para Ang.

                − Oi amiga, como estão seus avós? – perguntei me jogando sobre a cama cheia de livros da faculdade.

                − Estão melhor que eu, aliás, qualquer um está melhor que eu. - respondeu meio triste.

                − Nossa! Que foi Ang, aconteceu alguma coisa?

                − O mesmo de sempre, meu namorado tirou o dia pra ficar solteiro. Argh! Tô com tanta raiva dele Bella, acredita que Mike só veio aqui um pouquinho pra conhecer meus avós e nem ficou comigo direito? “Só passei pra ver seus avós amorzinho, tenho jogo marcado com os caras e como vou ficar muito cansado, não vou sair hoje” – ela falou engrossando a voz na tentativa de imitá-lo. − Às vezes me pergunto se realmente estou feliz com ele, sei lá, o Mike é muito diferente de mim.

                − É por isso que não namoro amiga, a gente só passa raiva, mas eu... acho que estou precisando de dar uma saída, não quer aproveitar e dar um troco no Mike?

                − Ah! Agora sim você está falando minha língua, aonde vamos? – disse animada.

                − Que tal darmos um passeio e assistir a um filme?

                − Seria legal dar uma volta, mas acho que não tô com saco pra filme. – reprovou.

                − Você quem sabe, eu só preciso sair de casa e deixar os livros um pouco, essa semana tenho muitas provas e acho que queimei todos os meus neurônios de tanto estudar.

                − Então, vamos ao Hyde Park, fiquei sabendo que a temporada de shows está começando hoje.

                − Combinado te pego daqui à uma hora.

                Quando a linha foi desligada, juntei meus livros de qualquer jeito e fui tomar um banho me sentindo um pouco melhor, assistir a um show dispersaria minha atenção, era tudo que eu queria naquele momento. Esquecer a confusão e a batalha travada por minha mente e meu coração.

                Dos oito Royal parks de Londres, o Hyde Park é o meu preferido, a beleza dos bosques, jardins e do lago artificial Serpentine, me encantam.

                No verão eu sempre procurava um lugar sob alguma árvore para estudar ou ler um livro e sempre aos finais de semana fazia caminhadas ou apenas observava os casais jogados naquele imenso tapete de grama, as crianças brincando ao ar livre, e pessoas de todas as idades de um lado a outro praticando esportes ou simplesmente dando um passeio.

                Quando chegamos notamos o quanto o local estava abarrotado de gente, em sua maioria jovem. Escolhemos um lugar um pouco afastado para sair do tumulto, sentamos na grama com latinhas de refrigerante e mergulhamos na música que ecoava por todos os lugares.

Last Kiss – Pearl Jam

                − Ah! Daqui a gente não vai ver nada. – reclamou minha amiga fazendo beicinho.

                − Ang, se tivéssemos comprado os ingressos antes poderíamos estar lá dentro, mas em cima da hora é difícil e está muito cheio, vamos ficar aqui mesmo, dá pra curtir o som do mesmo jeito daqui.

                − É fazer o que né? – suspirou resignada.

                − Pelo menos estou com minha mente ocupada em algo que não seja provas. − “E Edward Cullen”, acrescentei mentalmente, sorrimos juntas.

                − E aí meninas. – chamou um rapaz loiro e forte ao se aproximar acompanhado por outro carinha magricelo de cabelos escuros.

                − Oiiiiii como vai? – Ang cumprimentou depois de se levantar num movimento rápido e ofereceu-lhe um beijo no rosto. Levantei-me também. - Bella, esse é o James, um amigo de infância, crescemos juntos. – ela falou tocando o braço do rapaz que me encarava intensamente.

                − Ah! Muito prazer - ele estendeu a mão para me cumprimentar e me beijou o rosto suavemente.

                − O prazer é meu. – sorri encarando seus olhos claros.

                James ficou sem graça ao ouvir os elogios da amiga. - Nossa! Como você está diferente, bem mais forte e está lindo meu amigo, como estão as coisas?

                − Bem Ângela, é muito bom te ver. – falou sério meio tímido. - Deixe-me apresentar a vocês meu amigo, esse é Ben, ele trabalha comigo na promotoria.

                Cumprimentamo-nos e notei Ang um pouco mais do que interessada no tal Ben.

                − Vocês são promotores? – questionei tentando não pensar no que aquela profissão me trazia à memória.

                De tantas ocupações o primeiro a me notar tinha que ser do ramo jurídico? Saco!

                “Advogado, rico, bonito e safado... Edward Cullen. Mas que droga! Por que esse cara sempre volta?” – eu estava revoltada comigo mesma. Um cara lindo na minha frente e eu pensando no idiota que dividia a cama com minha irmã.

                − E então, o que vocês estão fazendo do lado de fora do show? – perguntou o magricelo encarando minha amiga.

                − Apenas ouvindo a banda, não estávamos programadas pra assistir o show e os ingressos acabaram.

                − Hum, aconteceu o mesmo conosco, ficamos entediados e resolvemos dar uma volta. – James informou nos chamando a sentar na grama novamente. Isso significava que ele ficaria ali não é? Agradeci aos deuses por isso.

                Ang passou a maior parte do tempo conversando com o novo amiguinho Ben. “Mike vai pra escanteio” – pensei com meus botões. “Também, quem manda deixar a namorada sozinha em pleno domingo?”

                Ambos eram muito simpáticos, mas James era mais calado, como se medisse as palavras ao falar, seu olhar era intenso e não posso negar que me senti atraída por ele, claro que nossa conexão não foi nem um milésimo do que a que tive com Edward Safado Cullen, mas era bom saber que pelo menos alguém me notava.

                − Você é tão linda... – James dizia mais uma vez em meu ouvido provocando arrepios por meu corpo. – Quero vê-la novamente. – pronunciou roçando a barba por fazer em meu rosto. Suas palavras saíam naturalmente e isso me assustava já que ainda nem o tinha beijado.

                − Ah! Claro, podemos marcar alguma coisa James. – falei rápido demais.

                − Está nervosa? – sussurrou mais uma vez agora afastando parte do meu cabelo para ter acesso ao meu pescoço.

                − Hum... não. – falei num fio de voz, mas por dentro eu estava realmente com medo, ele parecia ser boa pessoa, mas sei lá, não sei explicar o porquê disso. “Acho que estou perdendo o jeito”, refleti.

                Fazia um bom tempo que não saía com ninguém. E era estranho ter a boca de alguém quando se quer outra. “Pára com isso sua idiota, siga em frente, se arrisque” – a voz interna me alertava.

                Senti seus dedos tocarem minha face numa lentidão exagerada e logo os lábios os acompanharam distribuindo beijos até minha boca.

                Ang não ficou com Ben, apenas conversaram, trocaram olhares e tal, mas eu sabia que ela não teria coragem de trair Mike, mas tive fortes dúvidas se eles continuariam depois das investidas do rapaz.

                Depois de passar bons momentos com James trocamos telefone e marcamos de nos encontrar durante a semana.

POV Edward

                Está bem eu tenho que admitir que as coisas entre eu e Rose não estão nada boas, pelo menos pra mim. Ela insiste que eu vá à casa dela num jantar que sua mãe está preparando para receber um primo que chega hoje da América, o tal Emmett, mas nós estamos juntos há apenas um mês, tipo, que homem em sã consciência vai conhecer os pais de uma garota com esse tempo de namoro? Se é que nosso relacionamento poderia ser chamado de namoro.

                Ah! Tudo que eu não queria agora era compromisso, mas a garota é tão convincente que fica difícil dizer não e no fundo eu até gosto dela, não era algo profundo como foi com Kate, mas eu me sentia bem com Rose, não precisávamos de palavras pra nos sentirmos bem, geralmente com ela meu corpo comandava o cérebro, o oposto do que se sente por exemplo quando se ama de verdade alguém.

                Definitivamente eu não queria dar o próximo passo, liberdade era o meu nome, não tinha vontade de me apegar a ninguém muito menos assumir isso para pais extremamente cuidadosos como ela mesma os definia.

                Seguindo contra tudo que eu prezo agora eu estou aqui, costurando o trânsito de Londres em direção à minha forca. Ai só de pensar me dá calafrios.

                − Você parece tenso. – Rose dizia olhando-se no espelho do carro. Ela fez questão de ir à minha casa aquela tarde pra garantir que eu não faltaria ao tal jantar em família, pois já supunha que eu não estava muito a fim de uma reuniãozinha chata.

                − Não, Rose, é impressão sua. – respondi sem nem olhar para seu rosto perfeitamente maquiado. Eu estava entediado, não tenso, ela é tão desligada que nunca adivinhava o que eu sentia.

                Encostei o carro próximo a um Citroen Airscape.

                − Bonito carro. – elogiei enquanto caminhávamos em direção à porta principal que estava aberta.

                − É da minha irmã. – ela disse fazendo uma careta.

                − Sua irmã? Mas você nunca me disse que tinha uma irmã. Qual o nome dela?

                − Eu não achei que seria necessário, aliás, acho que posso contar as palavras que trocamos nesse tempo, você parece insaciável, Edward. – Sorriu maliciosa acompanhada por mim. Ela estava certa, pouco nos falamos, afinal tínhamos mais o que fazer. Ela parou por um instante e continuou. - Já que perguntou, o nome dela é Bella. E ela é minha meia irmã na verdade, filha do meu pai com outra mulher.

                − Ah sim, tudo bem, então.

                − Rose! – a voz alta masculina ressoou e quando dei por mim, um bruta montes pegava minha quase namorada no colo. - Ahhh!!! Nossa, estava com saudades, pentelha.

                − Arghhh me solta, Emmett, seu... seu... – ela começou a bater nos ombros largos do marmanjo que a soltou quase deixando-a cair no chão, mas a segurou rapidamente pela cintura.

                − Hum... então você é o namorado da minha priminha pentelha, é? – perguntou ele finalmente se dando conta de que eu estava lá.

                − Acho que sim. - cocei a cabeça sem jeito.

                Ele apertou forte minha mão e sorriu me olhando de lado como se me analisasse.

                − Eu te conheço de algum lugar? – perguntou mais para si do que para mim.

                − Acredito que não, muito prazer, meu nome é Edward Cullen.

                − Bem, você deve imaginar quem sou eu, muito prazer, Emmett. – sorriu. – Cullen, já ouvi esse nome, ah sim, você é advogado, não? Já vi fotos sua numa revista, creio eu. – ele virou-se para Rose com um sorriso brincalhão. - E você hein priminha, tá tão grande, nem parece aquela pentelha que me pregava peças na infância.

                − Não sou sua priminha, seu chato. Me esquece, Emm. – notei o humor de Rose mudar ao ouvir as palavras.

                − Ele não é seu primo, Rose? Mas você disse que... – comecei e ele me interrompeu para explicar.

                − Na verdade, eu sou filho adotivo da Irina, irmã da Sue, então tecnicamente não somos parentes, mas sempre nos tratamos como tal, não é, priminha? – provocou explodindo numa gargalhada jogando a cabeça para trás. Não entendi direito o porquê daquela graça toda, mas... o grandão parecia ser gente boa, pelo menos era alto astral.

                − Venha, Edward, vou te apresentar o resto da família. – Rose me puxou pela mão até uma sala de estar enorme, onde sentados estavam sua mãe, seu pai, um rapaz que me foi apresentado chamado Mike e a pessoa que eu menos esperava ver, meu inimigo número um nos tribunais.

                − Você? – perguntamos juntos. Ele levantou-se assim como os outros.

                − Ei, vocês se conhecem? – Rose questionou quando percebeu que nos encarávamos feio.

                − Sim. – novamente falamos juntos.

                − Ah! Então estamos todos em casa.  – Emmett anunciou abraçando os dois. – Imaginem só, os namorados das minha queridas priminhas se conhecem.

                Então, o babaca era namoradinho da tal Bella, mas e a Kate, será que ele a deixou? Aliás, onde estava a garota que atendia por aquele nome, agora eu faria questão de conhecer a pobre coitada.

                − Pois é, Emmett, parece que sim. – James respondeu desgostoso e sentou-se novamente e nem fizemos questão de apertar as mãos.

                − Onde está Bella, James? – Rose perguntou.

                − Lá em cima trancada com Angela, parece até que vão pra algum casamento. – bufou.

                − Vou lá buscá-las. – a loira subiu as escadas murmurando algo como “só me faltava essa agora”.

                Ficamos todos conversando na sala, ou melhor, eu e Emmett ficamos conversando enquanto Sue e Charlie recebiam à porta Alice e meu irmão Jasper.

                James, o babaca prepotente, apenas me encarava e depois de um tempo, quando Emmett nos deixou a sós para pegar bebida soltei, a pergunta que não queria calar.

                − E então? Como está Kate? – sorri notando seu rosto se franzir demonstrando irritação. Será que eu estava tocando em alguma ferida?

                − Está bem, eu acho. – respondeu a contra gosto como pude ver.

                − Você acha?

                − Nós terminamos há algum tempo, por que a pergunta?

                − Nada, só queria saber como ela está, faz um bom tempo que não a vejo, mas vocês realmente terminaram?

                − Tá achando o que? Que estou namorando duas ao mesmo tempo? - ele levantou-se e eu imitei seu gesto.

                − Nunca se sabe. – respondi.

                Seus olhos irritados se fixaram em algum ponto atrás de mim e vi o ódio se diluir ao visualizar alguém que vinha em nossa direção. Isso me tirou a concentração, assim, acompanhei seu olhar me virando de frente para a escada de onde desciam três lindas mulheres, duas morenas e a loira com quem eu saía.

                Eu não sabia quem era a irmã de Rose, mas quando o rosto de uma das morenas se ergueu e nossos olhos se encontraram reconheci aquele brilho, mais ainda, reconheci todas as sensações que senti quando a vi pela primeira vez, era ela, era a mulher misteriosa do pub, a que trocou olhares comigo e parecia me enxergar por dentro.

                Ela sorriu sem jeito ao me ver e baixou os olhos para os pés quando finalmente chegou ao último lance da escada.

                Eu via tudo como em câmera lenta, cada passo, cada gesto de mãos, a mordida nos lábios perfeitos e rosados e o olhar, o mais intenso que já vira que outra vez parecia úmido e meio avermelhado, como se tivesse chorado. Minha única vontade naquele instante era cuidar dela, protegê-la e acabar com o que quer que a faça sofrer.

                Imagens surgiam em minha mente ao observá-la caminhar em nossa direção, seus braços à minha volta, nossos lábios se tocando e minhas mãos passeando por aquele corpo lindo e perfeito.

                Meu coração pausou por uma batida ao sentir seu perfume e notar seu braço tocar o meu sem querer. Eu tinha certeza de que aquela linda mulher estava vindo em minha direção, mas ela passou por mim ainda sorrindo sem graça e foi direto para... JAMES?! Nem acredito nisso!

                Bella... era ela... a garota misteriosa era Bella Swan, a irmã de Rose, minha ficante e quase namorada e.... PIOR era a namorada do meu INIMIGO! Só pode ser brincadeira...

                Minha boca se abriu levemente ao ver James agarrando sua cintura e eu me vi fazendo o mesmo. Inveja era pouco perto das sensações que me preenchiam por completo. Ódio, raiva, vingança, dor, tristeza, mágoa, ciúme! Ciúme? O que era tudo aquilo que eu sentia? Meu mundo estava de cabeça pra baixo.

                − Angela, esse é o Edward, meu namorado. – Rosalie interrompeu minhas divagações me apresentando a garota tímida, que sorriu e pegou minha mão. – Aquela ali é a...

                − Bella – pronunciei pausadamente e vi seus olhos prenderem-se aos meus mais uma vez deixando James de lado por um instante.

                Ela estendeu a mão direita, mas não pude resistir, segurei-a pela cintura num abraço. Aquilo foi pior do que qualquer outra coisa, o calor de seu corpo e seu cheiro me deixou totalmente sem reação, senti seus lábios suaves roçarem meu rosto e retribuí o carinho enquanto aspirava o cheiro de chocolate de seus cabelos macios com os olhos fechados na tentativa de memorizar a textura de sua pele e seu aroma delicioso. – Muito prazer. – finalmente falei apertando sua cintura delicada e só então notei os olhos de meu inimigo me fuzilando.

Vou Ganhar Você - Franco Levine
Composição: Peninha

Quando você chega,
Ilumina tudo,
Todo mundo pode ver!

Você tem um charme,
Uma luz tão forte,
Faz a gente emudecer...

Quando você ri pra mim,
Se me toca sem querer,
Sinto tudo o que sou tremer...

Quando você precisar fugir da solidão,
Sou absolutamente seu...
O que eu vou te dar de amor,
Você nunca recebeu...

Quando a gente abre de verdade o coração,
Tudo, tudo pode acontecer...
Na primeira chance que eu tiver,
Vou ganhar você...

Quando você ri pra mim,
Se me esbarra sem querer,
Sinto tudo o que sou tremer...