Entre Olhares escrita por nathcastelloes


Capítulo 1
Capítulo 1 - Primeira Impressão




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ENTRE OLHARES

Capítulo 1 - Primeira Impressão

Eu encarava a janela observando os pingos finos de chuva que caiam do lado de fora da Grande Londres. Agora estava no quarto luxuoso de Rosalie, minha única e meia irmã, vendo-a escolher em seu computador uma das milhares de roupas que poderia vestir, aquilo me tirava do sério, até quanto um indivíduo poderia ser tão fútil. Eu a amava, mas simplesmente não entendia o porquê de sua vaidade exacerbada.

No inicio foi difícil, mesmo sempre vindo para cá, era complicado me adaptar a esse mundo complicado dos milionários e ainda pior era pensar em minha mãe sozinha no Brasil.

Tenho 21 anos, meu nome? Isabella Swan, sou filha de Charlie Swan e Renée. Meu pai é um empresário e possui uma rede de seguros aqui na Inglaterra, vive trabalhando pra nos garantir uma vida mais do que digna, eu diria.

Minha mãe é escritora. Eles se separaram quando eu ainda era muito nova, ela me levou para o Brasil e somente há quatro anos retornei à Londres para cursar a faculdade de Jornalismo na City University.

Logo depois da separação papai conheceu Sue, minha madrasta, que engravidou de Rose e tratou de ensiná-la tudo da sociedade inglesa, por isso minha irmã é tão apegada às aparências, às vezes acho que ela não consegue perceber as pessoas como elas são realmente, ela as vê como acha ou gostaria que elas fossem. Tudo é muito fácil e acessível pra ela, melhores roupas e calçados, melhor mesa num restaurante, melhor lugar em um show ou num pub, lugar aonde iríamos essa noite.

            ─ Dá para parar de me olhar com essa cara? Não vai escolher sua roupa? O pub vai estar cheio hoje.

            ─ Não sou como você que demora 4 horas pra ver que vestido usar.

            ─ Aff! Quer que eu escolha um vestido para você? Olha aqui no computador.

            ─ Não! Eu nunca sairia com essas coisas.

Revirei os olhos voltando minha atenção para o livro em minhas mãos.

Não era o tipo garota romântica, mas já estava me simpatizando com O Morro dos Ventos Uivantes, indicado por minha melhor amiga Angela. E era nesse momento em que eu me emocionava.

Romances me deixavam meio melancólica, e esse não era diferente, eu nunca tinha encontrado um amor na vida, fiquei com alguns carinhas, mas amor de verdade nunca tinha experimentado e há quatro anos eu tinha um sério problema, todos eram focados apenas em minha irmã. Ela era a patricinha mimada, mas que chamava a atenção onde passava e infelizmente vivia influenciada pela Sue, gastando o dinheiro de nosso pai como se não houvesse amanhã.

Eu não era assim. Não posso dizer que sou uma santa, mas penso muito nas minhas atitudes e viver nesse mundo da high society de Londres não era uma das minhas prioridades.

Olhei para o relógio na parede clara e me levantei levando comigo o livro. Realmente agora era hora de me arrumar. Não era desleixada, só não tinha um estilo tão... exibicionista.

Entrei em meu closet e escolhi um pretinho básico no primeiro olhar. Queria só ver a roupa que Rosalie usaria. Ela era o tipo de garota que arrasava até fantasiada de bruxa. Não que eu seja feia, mas só acho que ela chama mais atenção. Os olhos dela eram azuis como um oceano sem fim, os meus são azulados, mas não se comparam àqueles de tamanha profundidade.

Soltei meus cabelos, era assim que eu gostava, ao natural, caindo em cascatas por minhas costas. A única coisa que Rose “invejava” em mim eram os cabelos. Os meus eram pesados, os dela escorridos. Ela sabia bem como eu sofria para domá-los.

            ─ Não acredito que você vai assim. ─ berrou quando me viu saindo do closet.

            ─ Algum problema com a minha roupa?

Ela era uma loira escultural, típica inglesa, sabe? Eu tinha os fios num tom castanho escuro, meu corpo era bonito para mim. Se não fosse por ela acho que eu faria sucesso por aqui. No Brasil era assim, lá eu era bonita.

Minha irmã usava um vestido vermelho que combinava perfeitamente com sua pele branca como neve. Sua sandália era absurdamente alta e a maquiagem realçava seus traços.

            ─ Se você for vestida assim eu não vou com você. – disse ela nervosa.

            ─ Por que você implica tanto comigo?

            ─ Porque você simplesmente esquece que nós somos da alta sociedade e usa umas roupas tão apagadas que me lembram aquele povo brega com quem você anda. Aposto que vai com a Angela. – conjecturou.

            ─ O que tem minhas amigas? ─ irritei-me

            ─ Nada. Elas só usam os mesmos trapos que você.

            ─ Você julga as pessoas pela aparência. ─ vociferei.

            ─ Não julgo, não! Se eu fosse assim eu não conversaria com você e Angela. Se vocês fossem mais... preocupadas com a aparência eu diria que vocês eram perfeitas! E você poderia andar comigo e com minhas amigas.

            Fechei os olhos respirando fundo algumas vezes. Controle-se, Bella, sua irmã é assim mesmo, você já está acostumada, nada de perder o bom senso. Voltei a encará-la e ela retribuía meu olhar, mas não para mim e sim para minhas roupas.

Saiu bufando e bateu a porta com uma força desnecessária me deixando ali parada de frente para o espelho e me perguntando o que tinha demais na minha roupa.

Rosalie como eu previa foi sozinha para o pub e com nosso motorista, aquela folgada, tem preguiça de dirigir seu próprio carro.

Entrei em meu carrinho, um Citroen Airscape, e passei na casa da Ang para irmos juntas ao pub.

Logo que entramos pude notar minha amada irmãzinha num mesa no canto do local com mais três amigas, todas louras e oxigenadas como ela, porém, mais metidas e irritantes.

Ela apenas me olhou de cara fechada e eu, como sempre, nem aí, fui direto para o bar pegar algo para beber.

-Ei Erik, pode nos servir duas cervejas? – pedi ao nosso amigo do outro lado do balcão.

-Claro Bells, já tá saindo.  E aí Angela, como vai?

-Tudo bem. – respondeu ela.

Ele se afastou por um instante e voltou com dois copos. 

Brindamos a nós e começamos a beber a cerveja estupidamente gelada.

-Bella, Bella. Ei, posso saber o que tanto você olha... – perguntou Angela direcionando o olhar para a entrada do pub exatamente no lugar em que eu estava focada.

Mas eu não consegui responder, por que simplesmente não encontrava minha voz. As mãos suavam frio e o coração parou por alguns segundos voltando com força total em minha caixa torácica. Meus olhos de alguma forma estavam presos ao dele, mas isso foi tão rápido que nem tive tempo de pensar em minha resposta para Ang.

Seus olhos eram como espelhos de sua alma, me deixaram completamente perdida e fascinada e apenas um leve piscar fez o contato morrer. Sua atenção se voltou para os amigos que o acompanhavam.

O que foi aquilo? Eu me perguntava silenciosamente. Nunca havia sentido isso, nunca troquei olhares tão íntimos, os segundos presa por seu olhar foram suficientes para me tirar o chão e me fazer flutuar como se um anjo me puxasse para fora do corpo e me levasse para lugares inimagináveis. Foi a sensação mais estranha, linda, gostosa e perfeita de toda minha vida.

Fixei meus olhos na mesa ao lado onde um casal se beijava ternamente e me imaginei recebendo as mesmas carícias que a mulher recebia, porém daquele homem que havia chegado há alguns minutos e já me tinha em suas mãos.

Ele passou por nós e me lançou mais um olhar acompanhado de um sorriso gentil e franco e ficou do lado oposto do balcão do bar.

Eles pediram cerveja como nós e ficaram batendo papo por ali.

Ang tagarelava ao meu lado sobre uma nova paquera, mas eu não conseguia me concentrar o suficiente, pois minha atenção permanecia totalmente presa a ele, agora através do espelho à nossa frente que me dava uma visão privilegiada, eu podia entender, inclusive o que eles conversavam, algo sobre arranjar alguém para o rapaz de cabelos castanhos e olhos claros, que me pareceu familiar, mas eu não tinha muita certeza de onde o havia visto.

Por um curto momento de descuido ele me pegou o encarando pelo espelho e sorriu tão sem graça quanto eu, passou as mãos pelos cabelos enquanto eu baixei os olhos com o rosto queimando, devia estar completamente ruborizada, isso sempre acontecia comigo, essa era uma das reações que eu mais odiava em mim, sempre me entregava.

-E então, Bella? – Ang interrompeu minha lamentação.

-Hã? Então o quê?

-Aposto um doce que você não ouviu nada do que falei.

-Não vou apostar por que... vou perder desculpa amiga, só...

-Só... estava encarando o Cullen ali, né?

-Quem?

-Vai dizer que não reconheceu aquele gato que te encarou quando entrou, aquele é Edward Cullen, filho de Carlisle Cullen, um dos maiores advogados do país.

-Eu sei quem é Carlisle Cullen, só não sabia que ele era seu filho, imaginei que o conhecia de algum lugar, mas... – falei me virando pra onde ele estava, mas eles já se afastavam do bar e caminhavam para uma das mesas do outro lado do salão, mais especificamente a mesa onde estavam as louras, inclusive minha irmã.

Ah, como eu era tapada, como poderia imaginar que aquele homem poderia se quer me enxergar, talvez ele tivesse visto alguém conhecido por perto e sorriu gentilmente.

Encarei novamente o casal na mesa ao lado pedindo que aquilo de alguma forma pudesse acontecer comigo.

Os olhos arderam e lutei contra as lágrimas sem entender ao certo o porquê daquela reação, eu geralmente não me importava com a esnobada de um cara, isso vinha sendo comum depois que cheguei nessa cidade, talvez eu estivesse há muito tempo sem ninguém, talvez toda a melancolia de um amor que eu não tive ou de uma paixão nunca vivida pesasse sobre mim ao sentir aquele olhar se desconectar do meu e levar a esperança de algo bonito junto com ele.

-Ang, eu... não estou me sentindo muito bem, vou para casa.

-O que houve amiga, você está pálida. – assustou-se ao fitar meu rosto com uma expressão curiosa e preocupada.

-Preciso... – pausei ainda vendo-o andar em direção à minha irmã. – Preciso ir embora agora Ang.

-Mas, a gente acabou de chegar.

-Ang, por favor. – implorei. -Fique aqui amiga e espere o Mike vocês marcaram de se encontrar mais tarde não é?

-Sim, mas não vou deixar você ir sozinha.

-Não! – falei mais alto do que deveria e ao perceber baixei o tom. -Eu quero ficar sozinha, não se preocupe comigo, a gente se fala depois.

-Você está muito estranha, mas tudo bem, já que prefere ir sozinha vou ficar.

-Obrigada até mais.

Caminhei apressadamente em direção à saída atravessando todo o salão, me espremendo entre o amontoado de pessoas. Para meu desespero teria que passar bem em frente à mesa onde ele agora estava sentado cochichando ao ouvido de minha irmã. Logo que me viu ela apenas sinalizou quase imperceptivelmente com a cabeça, como se estivesse com medo de eu me aproximar, mas ele notou e direcionou o olhar para mim, a expressão satisfeita morreu ao me fitar os olhos. Não tenho idéia de como estavam minhas feições, não deviam estar boas, afinal, o sorriso lindo mostrando seus dentes perfeitos esvaneceu ao notar... a umidade em meus olhos? Só aí percebi que as lágrimas contidas jorravam pelo rosto, teimosas e pertinazes. Levei uma das mãos à face e limpei a água salgada que descia, respirei fundo por duas vezes notando a expressão carregada do homem estonteante que gostaria de ter conhecido. Desconectei nossos olhares e continuei minha jornada até o estacionamento.

Nem um toque - Rosana


...Você chega com os amigos, faz um tipo que me agrada
faz de tudo pra chamar minha atenção
passa a mão pelo cabelo, e me olha pelo espelho
faz de tudo pra chamar minha atenção
olho pro casal da mesa ao lado
beijos e abraços apertados
e eu querendo te dizer, muito prazer
e na fantasia do momento quem de nós vai resistir mais tempo
meu olhar procura o teu mais uma vez
não posso me conter
nem um toque e eu querendo, dizer muito prazer
nem um toque e eu sonhando, sonhando com você
nem um toque e eu querendo, dizer muito prazer
nem um toque e eu sonhando, sonhando com você



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Notas finais do capítulo

Espero sermos merecedoras de alguns reviews e recomendações!
Beijos e até o próximo capítulo!