A Escolha escrita por Miss Black_Rose


Capítulo 3
Capítulo 3




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* * *
Mary sabia que a aposentadoria era um mau sinal para qualquer agente. A verdade é que espiões jamais se aposentam e, se o fazem, é através da morte.

- pobre Harris – lamentou a quarentona. A voz naturalmente fria, embora por dentro seus sentimentos fossem sinceros. O agente parecia aceitar bem, no entanto, a aposentadoria ilusória, mas por qual motivo ele fora condenado a ela? Mary deu de ombros. Para ela, as pessoas se tornavam pouco a pouco descartáveis e a idade por si só já favorecia isso. Mas haviam outros criados especialmente para substituí-los e voltando os olhos para a pequena menina sentada timidamente no sofá, Mary teve sua certeza. Ada não seria uma mera garota, porém, faria de tudo para que parecesse uma, afinal, era assim que os espiões viviam: se metamorfoseando constantemente às ordens de alguém que, provavelmente, jamais conheceriam na vida.

Como uma borboleta...

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CAPÍTULO III

Mary se sentou no banco estofado, com um pequeno romance entre os dedos longos, ora ou outra, observando Ada mirando e atirando contra os alvos de dentro de uma cabine isolada, com os amortecedores nos ouvidos. Meio ano havia se passado desde que Harris a trouxera para si. Durante esse período dera à menina um condicionamento diferente do agente, focando em sua sensibilidade e delicadeza feminina. Ada não havia melhorado muito nas prendas, mas era cedo para julgá-la. A menina ainda teria muito tempo para aprender a se portar como uma dama e, mais ainda, diante das pessoas.

Durante todo esse intervalo de tempo, a pequena não abrira a boca.
No começo, a agente desconfiara que fosse alguma deficiência, mas com o tempo concluiu que a menina estava longe de ter qualquer “defeito”. Havia algo nela, um mistério, um “quê” de alguma coisa que a intrigava, obrigando-a a prestar mais atenção na pequena menina.

Ada tinha olhos tristes e sombrios que falavam por qualquer palavra e era através desses olhos que Mary pretendia entendê-la.

Um homem jovem, talvez no auge de seus trinta e alguns poucos anos se aproximou da agente. Vestia um sobretudo marrom claro, com uma gravata escura, e calçava sapatos de grife, sob a barra da calça de linho bege. Mary afastou levemente com os dedos um fio de cabelo perdido no rosto e encarou os olhos azulados do rapaz, que se sentou ao seu lado, apoiando um guarda-chuva na parede.
- Ethan. – disse a quarentona, impassível.

- Mary. – retribuiu o homem com um tom charmoso na voz.

- o que faz por aqui nessa época do ano? Pensei que estivesse em Moscou.

- Moscou é fria e poluída. Prefiro Paris que, embora, seja tão poluída quanto, me traz mais saudades. – respondeu o jovem, olhando em seguida para Ada e perguntando, ironicamente: - Desde quando se interessa por pedagogia, Mary? Se bem lhe conheço, não tem paciência para tratar com adultos e, suponho que muito menos com crianças.

- ponha tudo no singular, Ethan. Divido a mesma paciência que tenho para ouvi-lo com essa criança. E se quer saber, não lhe devo satisfações do meu trabalho.

- ora, mas não seja tão ranzinza! – Ethan exclamou, cínico, e após uma pausa: - Deve ter algum motivo por trás dessa intenção.
- Nada tão importante. Harris a trouxe para mim.

- Harris? Ouvi dizer que apareceu morto na Alemanha. Parece que falhou pela primeira vez em uma missão.

Mary suspirou e concluiu, dando sinais de cansaço:
- todos falham um dia, Ethan.

- pois é. – respondeu o agente. – e acho que a nossa maior falha é a morte. Por falar nisso, estou no encalce de um grupo de cientistas russos que estão se dedicando dia e noite para combatê-la. Consegui o relatório de um vírus mutante ou alguma coisa do tipo que eles dizem ser o primeiro passo para acabar com a Senhora dos Submundos.

- E o que está fazendo aqui se os cientistas são russos?
- missão ultra-secreta, Mary, mas posso antecipar que as coisas foram mais longe do que eu esperava. Uma tal de Sophia roubou a amostra do vírus dos russos e agora está vagando por aí sem proteção alguma. – respondeu o agente, irônico.

- mas isso é terrível, Ethan. O risco de uma epidemia é muito alto.
- eu sei. Já tomamos providências. Posso dizer que Paris está, literalmente, cercada. Hum, mas a menina parece tomar jeito com a coisa! – Ethan exclamou, mudando bruscamente de assunto. – Fez um bom trabalho!

- não me dê crédito algum. Tudo isso é obra de Harris. – respondeu Mary, indiferente.

- é, parece que ele conseguiu passar todo o seu legado para alguém. Bem, é melhor eu ir e deixar que termine seu romance, que por um acaso não tem nome. Por algum motivo especial?

- você anda muito intrometido, Ethan. Vá atrás de sua francesa e procure uma forma de cuidar da própria vida.

- ok, ok. – respondeu o agente com um largo sorriso, apaziguante. – eu já estava indo mesmo, mas você devia dar um jeito nesse seu mau-humor ou vai me enlouquecer com isso! Se tem uma coisa que desperta o meu carinho é uma mulher rancorosa. – concluiu num tom descarado e malicioso.

- Ethan... – Mary o alertou maternalmente.

O jovem agente retribuiu com um sorriso e saiu da sala.
Mary voltou sua atenção para Ada que encaixava o pente dentro da arma concentradamente, mas de uma forma levemente desajeitada por ter as mãos pequenas. Voltando os olhos para as páginas do livro, a agente buscou uma pena dentro da bolsa de couro importado ao seu lado e seguiu uma lista de nomes com a ponta da caneta, marcando um “x” no nome de Harris.
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