A Little Bit Longer escrita por Clara B Gomez Sousa


Capítulo 38
Eu Fico Idiota de Novo


Notas iniciais do capítulo

Viu! Eu disse que normalizaria o ritmo!
Ainda mereço uma bronca, né?



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Meu pai me convidou a ir dormir um pouco, e eu fui meio que amparado a ele. Quando cheguei no quarto, me sentei na cama, e ele se sentou ao meu lado. Colocou seu braço ao redor de mim, e disse que sabia que eu estava sobrecarregado. Tanto pela fama, quanto pelos problemas, fãs, brigas, doenças e mortes de entes queridos que estavam me assolando. Disse que eu não demonstrava isso, e que tinha medo de que eu escondesse a verdade dele e ficasse com aquilo para mim. E que eu poderia chorar á vontade.

E foi o que eu fiz. Chorei até adormecer no colo de meu pai. Ele me deitou na cama e saiu.

Eu odeio minha vida. 

Bem, eu passei a semana com meu pai, ele tentou não me fazer ficar triste, não tocar no assunto sobre meu avô, mas... Era difícil. Assim que voltei para minha mãe, paguei uma passagem de avião para Stratford para mim. Sozinho. Desapareci de casa á noite e fui para o aeroporto com a roupa do corpo. Desliguei qualquer meio de comunicação que minha mãe ou Scooter pudessem me localizar. De novo eu estava desligado do mundo.

Não preciso dizer que minha mãe surtou. Simplesmente quando desembarquei em Stratford, haviam alguns guardas e paparazzis. Os guardas simplesmente me perguntaram se eu era o garoto famoso desaparecido.

-O quê?! – Minha mãe é paranóica. SÓ SUMI POR CINCO HORAS (tudo bem, mais que isso)! Não tinha sido morto, nem abduzido, ou algo assim. Do ponto de vista policial, uma pessoa só é taxada como desaparecida se estiver sumida há mais de 24h.

Bem, tive que responder a um interrogatório, ligar pra minha mãe e avisar que não estava nas mãos de um pedófilo, e agüentar um sermão de meia hora sobre não sair sem avisá-la, ainda mais sair do país. Bem, mas ao menos consegui autorização dela para ficar e ver minha avó, e quem sabe, pedir desculpas ao Chaz e ao Chris.

Quando cheguei na casa da minha avó, ela me abraçou com força. Disse que meu avô queria me ver antes de ir, o que me fez ficar péssimo, e soltar alguns soluços abraçado a ela. Um tempo depois, ela estava me servindo um cheesecake para me colocar para cima. Mas eu continuava pra baixo, tentando prender o choro, tentando não mostrar que estava triste. Não conversei muito com ninguém, não saí da casa da vovó, e tentei fugir o máximo possível de paparazzis.

Passei um dia lá. Aproveitei para passar no cemitério aonde meu avô estava. Deixei flores em sua lápide e caí de joelhos na grama. Baixei a cabeça. Queria mostrar que estava forte! Que era forte! Mas, olhe para mim! Eu era só um garoto de 16 anos, magrelo, com Aids, viciado em álcool, á beira do suicídio. Como eu poderia parecer forte? Sério?

Tudo bem, chega de drama. Eu voltei para Atlanta, levei uma bronca, fiquei de castigo, e voltei a ficar insuportável. Beber incansavelmente, ser rebelde, tirar notas baixas, matar aula, desrespeitar Scooter e meus pais. Era involuntário. Eu estava entrando em crise. Se alguém não me parasse, eu surtaria.

A minha vida deu outra reviravolta. Começou numa sexta. Depois de mais uma aula cabulada, e de mais uma bebedeira descontrolada, me tranquei no meu quarto. Depois de um banho e uma aspirina, desmaiei na cama. De sono e dor de cabeça.

Quando acordei, foi por que Scooter chamava meu nome. Gritei um vago “Já vou”, e levantei. Enrolei quase uma hora, mas enfim desci. Scooter e minha mãe me aguardavam na sala. Desci as escadas e os encontrei em pé, perto da porta. Quando vi a cara dos dois, fui logo falando:

-Ok, sei que estou atrasado... O que foi dessa vez? – Nem me lembro direito do que Scooter me respondeu, só sei que falava do meu comportamento coisa e talz. Só sei que eu não demonstrei interesse nenhum, e ele me chamou a atenção. E eu me irritei.

-Ah, você só está fazendo isso por que eu que sou a sua fonte de renda! – Falei.

-O quê? Fonte de renda?! – Scooter perguntou.

-É, acha que eu não percebo as suas ligações?! Só dinheiro, dinheiro, dinheiro!!!

-Justin, você não tem o direito de falar isso! Devia agradecer a mim!! – Ele revidou.

-Agradecer a quê?! Você só está aqui comigo agora por que eu sou o adolescente mais rico do mundo, se eu não tivesse alcançado sucesso, você já teria me abandonado!! – Retruquei.

-Justin! – Mamãe gritou.

-É isso mesmo! Ele só está aqui por causa da grana!!

Daí Scooter fez uma coisa que pensei que nunca o veria fazer na minha vida. Ele me pegou pelos dois braços e me puxou para mais perto dele, perto o bastante para ficarmos cara a cara e, enquanto nós nos encarávamos, falei:

-Me solta!

Mas ele não me soltou, só apertou-me mais forte e disse, com ira na voz:

-Se você acha mesmo isso, acha que eu só faço o que faço com você pelo lucro que você me dá, saiba que você pode muito bem voltar pro fim de mundo de onde veio e voltar a ser o zero à esquerda que sempre foi, nem vai fazer falta!! Eu não vou ligar!

-Scooter!! – Minha mãe gritou. Scooter me soltou, fazendo um pouco de impulso, o que me fez recuar um pouco, assustado, e em estado de choque. Bati de costas na parede, incrédulo. Ele nunca tinha dito nada parecido para mim. Eu não tinha palavras pra revidar. Até por que as minhas sumiram com a surpresa. Aquilo foi como se tivessem me dado um tiro. Se fosse outra pessoa, eu nem ligava, muita gente me chamava de zero à esquerda. Normal.

Mas... Mas o Scooter?!

Justo o homem que me levou à fama que eu tinha naquele momento... Ele ter falado aquilo foi... Pra você saber a proporção daquilo pra mim, imagine seu pai, ou sua mãe, ou seu melhor amigo, amigo MESMO, dizendo que você não é nada, que se você sumisse ele não ia ligar. Você não ficaria arrasado? Então. Eu fiquei.

Fiquei sem reação, só olhando para ele com um olhar de raiva e decepção estampado no rosto, de boca aberta. Meus olhos começaram a lacrimejar. Scooter, quando percebeu o que tinha dito, desfez o olhar de revolta e disse:

-Justin, me des... – Ele não conseguiu terminar. Fechei a boca, virei-me e bati a porta da sala com força, indo embora.

-Como você pôde?! – Ouvi minha mãe dizer, antes de eu entrar na porta que levava às escadas.

-E pensar que em todo esse tempo em que confiei em você... – Murmurei para mim mesmo entre soluços, enquanto descia às escadas com velocidade. – Pra quê?! – Refiz minhas feições, e a cara de choro se transformou num olhar de ira para o desconhecido. – Para ser chamado de zero à esquerda... – Fiquei em silêncio, preso em pensamentos.

-Eu não vou fazer falta? – Disse, quando cheguei à garagem, uns minutos depois. – Veremos...

Entrei na RangeRover e a liguei. Assim que ouvi o motor roncar em alto som, dirigi até o portão da garagem. Assim que ele se abriu e eu me vi livre, arranquei com velocidade e saí do prédio. Já estava escuro, mais ou menos. Já deviam ser lá umas sete e meia, oito horas. E estava frio, tive que ligar o aquecedor.

“Pode voltar pro fim de mundo de onde veio e voltar a ser o zero à esquerda que sempre foi...”.


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Notas finais do capítulo

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