A Little Bit Longer escrita por Clara B Gomez Sousa
- Aconteceu algo?
- Ahn? O que? – Perguntei. – Ah, sim... Aconteceu...
- Pode me contar? – Olhei para o lado, e disse:
- Claro. – Suspirei. – Bem. Eu tenho AIDS. Há um tempo.
- “Há um tempo” quanto?
- Bem... Vai fazer cinco meses.
- Hum...
- Bem... – Fitei a janela enorme da sala. – O médico que eu vou é meio pessimista. Ele disse que se eu tomar um remédio que eu não quero tomar, eu não resistiria por muito tempo.
- Bem... – Ela disse, depois de um longo silêncio. – Por que você não quer tomar?
- Por que... Sei lá... Se é pra eu morrer, que eu morra logo...
- Não vai nem fazer um exame para recontar as CD4?
- Não. Não quero.
- Por que você não quer tomar esse AZT?
- Por que ele não cura de nada, só adia a morte! Eu não quero isso, se fosse possível, me jogava na frente de um caminhão hoje mesmo!
- Ops, ops... – Ela disse, como se farejasse algo no ar. – Será que você não quer tomar esses remédios é por que você... Não quer ter AIDS?
- É... Bem... – Suspirei, sem achar resposta. – Eu não sei...
- Você não acha que, agindo desse jeito, escondendo a AIDS, é como se... – Ela colocou as mãos em frente ao rosto. – Você não quisesse ver?
- Tá, e se for? Se eu fizer os exames e desse baixo, mesmo assim eu não tomaria droga de AZT nenhum! – Se fosse o Dr. Infecto, já teria me dado uma bronca. Mas Sophie foi bem calma, e mudou de assunto. Começou a falar sobre álcool. O que eu ainda não tinha falado, só um simples “Sou alcoólatra”.
- Como você começou?
- Um idiota me ofereceu Vodca. Eu estava péssimo, aceitei, tomei, depois bebi mais, e mais, e mais, quando vi, mal via um palmo em frente do nariz. – Respondi, com uma voz ruim, olhando pra janela, afundado na cadeira, com uma cara pior ainda.
- Quem é esse “idiota”? – Ela perguntou, enfatizando o “idiota”. Desviei o olhar da janela para ela, depois voltei a olhar a paisagem, e disse:
- Russell Brand.
- O noivo da Katy Perry?
- Sim.
- Vocês são amigos? Você e Katy?
- Sim. Ela é uma ótima pessoa. Não sei o motivo dela ter se envolvido com aquele... Aquele... Aquele motherfucker... – (n/A: Não escrevo palavrões em português, bem, nem em inglês, essa é uma exceção!) Respondi com raiva na voz, nem me importando no “filtro de decência” que costumava ter.
- Ela deve ter encontrado algo legal nele.
- Não sei. Katy e eu somos quase irmãos, só falta a ligação de sangue... Ela sabe que eu odeio Russell, sabe que ele que me viciou... Acho que só com o Russell me atropelando de propósito que ela termina com ele. – Disse. Segundos depois, me ligando no que disse, fiz um olhar de “Tive uma idéia!”.
- O que está pensando?
- E se eu... – Disse, começando meu plano diabólico. Sophie logo me cortou, com uma risada. Disse que eu devia ser menos suicida. Eu retruquei, dizendo que já pensei em pôr fim a minha própria vida. Ela me perguntou o motivo de tal pensamento.
- Ah, muitas coisas. A pressão da fama, bullyies que insistem em me chamar de gay, cabelo de tigela, voz de menina, os tempos ruins que passei antes da fama, as brigas dos meus pais...
- Você disse que já pensou em se suicidar, certo?
- Sim...
- Já tentou? – Ela perguntou. Olhei para baixo. Já tinha acontecido. Uma vez. Fiquei muito mal, entrei em depressão e tudo mais. Umas semanas de terapia, e um tempo fora dos tabloides, e eu dei a volta por cima, voltei com tudo, mais feliz que nunca, e nunca mais fiz algo parecido.
- Já... – Respondi, rasamente. – Uma vez. Quando eu explodi nas rádios.
- Por quê?
- Por que eu mal podia sair de casa, não sem quase ser sufocado! Por paparazzis, fãs, haters, todo mundo! Ainda passo por isso, mas algumas coisas já viraram hábito, e não me perseguem mais tanto assim. No começo era pior, já tive que ir pro hospital por causa de crise respiratória! – Disse. – E então, chegou uma noite que eu não agüentava mais. Tapei o nariz e tentei me sufocar com o travesseiro.
- Quando você parou?
- Quando meus pulmões já ardiam, e eu já estava zonzo. Parei pra pensar na minha mãe, no meu pai, meus irmãos... E então parei. – Sophie me perguntaria mais alguma coisa, mas o nosso tempo acabou. Eu tive de ir embora, mas no dia seguinte estávamos juntos novamente.
Daquela vez, eu chorei abraçado a ela. Tinha ido para a casa do meu pai. Quando ele apareceu na casa da minha mãe, eu ainda estava tomando banho. Em dez minutos deles sozinhos, eles conseguiram discutir, e eu tive de separar os dois, antes que meu pai partisse para a agressão. De novo a praga da separação dos meus pais me deixava mal. Mas, Sophie conseguiu me pôr para cima de novo. E gastei o resto do tempo olhando para a janela.
Quando iria embora, ela pareceu se lembrar de algo. Me parou, e disse:
- Eu tenho comigo uns folhetos e umas apostilas sobre o vírus, a doença, sintomas, tratamentos. Se você quiser dar uma olhada, eu posso te emprestar. Algumas são um pouco técnicas demais, outras estão em linguagem mais para a sua idade, mas, o que você não entender, é só me perguntar. O que você acha?
- Muito bom. Posso levar para ver em casa, e te trago depois?
- Claro.
- Obrigado. - Disse, sorrindo, e saí da sala. Eu não sei se estaria como estou agora se não fosse a Sophie. A minha Sophie.
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