Todo Mundo Odeia o Chris escrita por erico_nietto
Brooklyn, 1982
Mesmo com uma das chuvas mais fortes dos últimos tempos, uma coisa que minha mãe detestava era a demora.
Rochelle: Julius, acelera esse carro.
Julius: Você não percebe a quantidade de água que está caindo?
Parecia o dilúvio.
Rochelle: Desse jeito não vamos chegar em casa nunca.
Ela queria o que? O Oceano Atlântico caindo sobre nossas cabeças e um escuridão sem igual.
O carro começou a falhar e foi parando aos poucos. Julius conseguiu aproveitar o momento para encostar ao lado da calçada. Rochelle começa com sua impaciência.
Rochelle: Mas era só o que faltava! Acabou a gasolina?
Julius: Eu acho que ele afogou.
Drew: Também, olha quanta água!
Julius: Não é nada disso.
Julius só encostou no banco e ficou em silêncio. Rochelle olhou para os filhos no banco de trás.
Rochelle: Respirem mais devagar. Temos que poupar o ar.
Tonya entrou em pânico.
Tonya: Vamos morrer aqui dentro? Ah meu Deus, eu vou morrer sem ver o Billy Ocean!
Rochelle: Pára com todo esse escândalo, ninguém vai morrer. Julius, vai lá fora.
Julius: Fazer o que?
Eu dele não teria perguntado nada.
Rochelle: Vê qual é o problema do carro.
Julius: Isso é problema no motor, eu não sei.
Rochelle: Se não sabe, vai lá fora ver!
Meu pai simplesmente olhou para o lado de fora e viu a solução.
O Padre ainda estava usando sua batina. Ajoelhado diante da grande cruz daquela enorme igreja, ele orava.
Padre: Senhor, evitai a entrada do mal por essa porta. Proteger as pessoas que costumam vir em sua casa e jamais deixe o mal sugar os seus servos. E se o senhor me ouve, me proteja dessa vida perigosa e cheia de bandidagem.
Rochelle empurra a grande porta, que se abriu em duas. O padre viu todos entrando e com medo, parecia estar sendo condenado.
Padre: SENHOR! É uma família de gangster.
Rochelle: Que Gangster! Nosso carro parou de funcionar e decidimos entrar.
Apesar da calmaria de Rochelle, o padre não estava convencido.
Padre: Vocês estavam indo para um banco, mas já que viram uma igreja pensaram que seria mais fácil!
Tonya: O senhor é maluco? Parece um elefante olhando para um rato.
Vendo que era apenas uma família, ele foi ficando mais calmo.
Padre: Eu sinto muito. Mas vai fazer poucos dias que a igreja vem sendo roubada.
Rochelle: Mas é claro! Antigamente vocês pediam dinheiro com saquinho e hoje passam pelos fiéis segurando um balde!
Padre: Mas isso é um absurdo. Aqui em nossa igreja não funciona assim e você sabe. Tanto é que vivia dizendo que seu marido tinha dois empregos e não contribuía com nenhum centavo.
Rochelle: Eu nunca falou isso.
ALGUNS MESES ATRÁS
Lá estava Rochelle, de pé na frente de todos orando com muita força.
Rochelle: Senhor eu não preciso de sua ajuda, eu não preciso de nada que venha de tí!
Todos abrem os olhos assustados e trocam olhares.
Rochelle: Eu não preciso de paz ou saúde porque meu marido tem dois empregos, meu filho negro estuda numa escola de brancos e minha filha tem plano de saúde! AMÉM!
HOJE
Todos estavam sentados, esperando que a chuva passasse.
Drew: Será que o padre não tem nenhum joguinho aí não?
Tonya: Aqui é uma igreja.
Drew: Eu sei, mas ele deve ter alguma coisa que mexe com os espíritos, sei lá!
Tonya: Mãe, olha o Drew aqui falando coisas malignas.
Rochelle estava do outro lado, conversando com o Padre.
Rochelle: Eu sempre lutei como ainda luto pelos meus filhos. Mas é muito difícil.
Padre: Eu entendo sua situação. O que mais tem nessa igreja são mães querendo um futuro melhor para seus filhos.
Rochelle: Eu sei que posso passar do limite em certos pontos, mas padre, eu sinto uma força, algo que vem de dentro.
Padre: É o poder de...
Antes que pudesse terminar minha mãe soltou um arroto e deixou todos sem graça. Inclusive o padre.
Rochelle: Eu sinto muito, meu Deus, me perdoe!
Padre: Está tudo bem, essas coisas acontecem.
E eu achando que era o poder de Cristo se manifestando sobre ela.
Um raio acompanhado de um trovão cai sobre o poste na rua e o lugar fica completamente escuro, causando euforia em todos.
Padre: Minha nossa, mas as trevas vieram com pressa!
Rochelle: JULIUS, JULIUS!
Julius: Calma, calma! Eu estou aqui!
Tonya: Mãe, eu estou com medo!
Drew: Cuidado Tonya, é o capeta!
Tonya / Padre: AAAHHHHH!
Rochelle: Parem já com isso, não tem capeta nenhum aqui!
Padre: O seu filho Drew está possuído! Crianças que brincam na casa de Deus são crianças perturbadas.
Rochelle: Pare com essa alucinação toda, está bem? Não tem ninguém possuído aqui.
No momento do susto ninguém sentiu minha falta. Então era hora de mudar o tema da série para "O Chris odeia todo mundo".
Os extensos bancos de madeira da igreja começam a ser empurrados. Rochelle sai aos saltos e Julius não sabia pra onde correr.
Padre: Vejam, são os espíritos se manifestando!
Rochelle: Ver o que com uma escuridão dessas?
Tonya: Pai, faz alguma coisa!
Julius: Fazer o que?
Drew: Você já foi coroinha da igreja! Exorcize esses espíritos daqui!
Julius: Deixem de falar besteira!
Eu tive que parar pois estava quase tendo um ataque de risos. Então pensei em algo mais assustador e real.
Barulhos estrondosos vinham da porta da igreja e ela parecia estar sendo empurrada.
Padre: Eles estão tentando entrar, façam alguma coisa!
Rochelle: Mas o senhor é o padre. Quer que nós façamos o que?
Julius: Essa porta não vai durar por muito tempo!
Chris faz uma voz rouca e medonha.
Chris (voz rouca): Me deixem entrar ou vou possuí-los!
Padre: Pelo poder divino, a luz do senhor irá retirá-lo desta casa!
Assim que o padre berrou, um raio caiu no poste e a luz voltou. Mas Chris estava tão empolgado e continuou batendo na porta de costas para todos.
Chris (voz rouca): Nada vai me parar! Eu vou arrombar essa porta e levá-los para o inferno!
Rochelle: E eu vou lhe dar uma surra de três meses!
Chris (voz rouca): Você não é de nada mulher!
Todos ficam surpresos até que Chris nota ter algo errado.
Padre: Vocês são uma vergonha pro nome do senhor.
Todos são empurrados para o meio da chuva e o padre não pensou duas vezes. Bateu a porta na cara de todos.
Drew: Olha só o que você fez!
Julius: Nem foi tão assustador.
Rochelle: Julius! Vai apoiá-lo?
Tonya: Vamos voltar para o carro e deixar o Chris do lado de fora.
Ah, Tonya, sua bandida!
Todos (menos o Chris) entram no carro. Julius tenta ligá-lo e ele funciona.
Julius: Chris, você vai andando. Se demorar mais de vinte minutos, estará de castigo.
Aquilo era uma injustiça!
Chris: Deus! Eu só estava brincando! - gritou - Eu não mereço tamanho castigo!
Foi quando a chuva parou completamente. O padre abriu a porta e não acreditou no que viu. Apenas olhou para Chris e disse.
Padre: Vá usar suas macumbas longe daqui. Anda!
Naquele momento eu me senti o Merlin.
No dia seguinte tudo parecia normal. Tirando a parte do noticiário na TV.
TV - Na madrugada de hoje, um padre foi atacado por forças sobrenaturais.
Padre: Uma ventania enorme abriu a porta da igreja e as cadeiras começaram a tremer, como podem ver estão bagunçadas até agora!
Que safado! Eu que baguncei tudo.
Padre: Estão vendo as marcas dos pés sujos no chão? Eu não sei explicar, mas foi um ataque espiritual! Jesus está voltando!
Naquele dia eu percebi que até a igreja me detestava.
FIM DO CAPÍTULO 5.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!