Aquele sorriso no dia errado

Já basta ter acontecido o milagre dos milagres eu ter voltado para casa no natal, e ainda me acontece isso.

Assim, meu presente de natal esse ano foi um belíssimo cd player. Assim, daqueles bonitões que tocam os CDs que você coloca dentro! Mas, como nada é perfeito, e, é claro, na minha vida nada nunca é perfeito, aquele magnífico aparelho veio sem uma parte insignificante, que nunca irá fazer falta. O fone. Básico.

''Tudo bem Lil'', pensei. ''É só você pegar o dinheiro e ir comprar! Super simples!''.

O que quer que fosse aquilo, era tudo. Menos simples. Minha mãe me encarou amedrontada quando o pânico de que só poderia usar aquele aparelho com o bendito do fone me levou a vasculhar a casa toda a procura de dinheiro para conseguir comprá – lo. Quando finalmente tinha as preciosas moedinhas na mão, sai correndo. Sim, eu estava aparentemente desesperada.

Claro que não tinha pensado na hora em que sai, e uns cinco minutos de corrida depois percebi que tinha esquecido a blusa. Só uma coisinha: estamos no inverno e a temperatura atual deve beirar os dez graus. Enquanto eu corro pelas ruas, sinto os olhares das pessoas em mim. ''É claro'', pensei. Na atual estação, qualquer pessoa que anda (ou melhor, corre) pelas ruas usando uma calça moletom e uma blusinha de manga curta (ou seja, quase virtualmente nua) é vista como uma alien pelado que gosta de comer melancia.

Hã?

Tá, o pior ainda está por vir. Sim, ladies and gentleman tem um pior. Como eu iria adivinhar que com tantos lugares na Europa pra se morar, aquele inútil, imbecil acéfalo e muitas coisas horríveis que me passam pela mente podia escolher justo a minha cidade, no meu bairro, a cinco quarteirões de casa, para morar?Hein?

Eu sou azarada demais.

Enquanto voltava, toda feliz e contende, chacoalhando meu fone novo me deparei com a última cena que eu gostaria de ver na minha vida inteira: lá estavam eles, Sirius Black, James Potter, Remus Lupin e Peter Pettigrew, rindo, todos encapotados por causa do frio.

E foi nessa hora que aconteceu. Assim, qualquer um deles podia ter olhado pra mim, Sirius, Remus ou Pete. Mas não ele. E muito menos sorrir daquele jeito idiota.

"Sorria de volta!", escutei minha consciência dizer.

Quase mecanicamente, dei um alô discreto, ignorando o fato de que meus ossos pareciam congelar a cada movimento de meu corpo. O que os outros repararam, já que Remus (diga – se de passagem, meu BFF) gritou:

- Lily, não ta meio frio pra você andar assim?

- AH... – respondi estupidamente. Era simplesmente óbvio que estava muito frio pra andar daquele jeito! O que ele queria que eu dissesse? ''Imagina Remus, impressão sua, ta o maior calor, e eu to super bem com a minha blusa que deixa os meus braços completamente indefesos do frio!''

- Não quer entrar? – sugeriu James, ainda com aquele sorriso obsceno estampado no rosto. Controlei o impulso de sair correndo gritando que tinha um cara querendo me atacar.

- Não Potter, muito obrigada.

Mencionei que tenho problemas mentais? Porque eu simplesmente não dei aquela resposta e sai correndo? Nãão. Lily é muito esperta, Lily tem que se atrasar para sair, e Lily tem que ver uma mulher de cabelos castanho – escuros sair de dentro da casa, olhar para ela e oferecer um chá quente. E Lily também tem que aceitar, sem jeito, a oferta da mulher, porque Lily é muito educadinha e burra o suficiente pra não sacar que estava pondo os pés no território inimigo, no caso, a casa dos Potter.

Eu disse casa? Quis dizer mansão.

Tudo isso porque eu queria um fone.