Estava sentado no banco daquela praça, tentando afastar todo e qualquer pensamento. Concentrou-se na leve brisa que soprava, afastando momentaneamente o calor. Abriu os olhos rapidamente ao sentir a presença de alguém sentando ao seu lado, e quase caiu do banco ao notar quem era.

—Onii-san! Você não está morando nos Estados Unidos? O que faz aqui?

—Vim visitar minha família, não posso? – o irmão de Hiro diz sem expressão alguma no rosto. Seus olhos eram iguais aos de Hiro, mas demonstravam frieza e seriedade e seus cabelos escuros eram penteados para trás, o que o fazia parecer mais velho do que realmente era – E você pode imaginar minha surpresa ao perceber que o meu irmão mais novo já não morava mais naquela casa... Francamente! Sempre achei que você fosse maduro! Me enganei não é mesmo?

— Você nem sabe os motivos que me levaram a sair de casa! Não quero ouvir nada vindo de você, Makoto onii-san! – Hiro conteve-se para não gritar, afinal estavam em um lugar público.

— Por favor, volte para casa, mamãe está preocupada! – Makoto murmurou enquanto apertava o ângulo do nariz com o polegar e o indicador, com os óculos na mão.

—Não, ela não está, até porque foi ela quem me expulsou...

Makoto pareceu um pouco espantado com a afirmação de Hiro, não era bem assim na versão dada por sua mãe, mas em nenhum momento pensou em duvidar do irmão, pois sabia muito bem que ele não mentia, e se tentasse, o faria muito mal. Suspirou. Tinha procurado por Hiroto para lhe dar um sermão e o mandar de volta para casa, mas resolveu não continuar com aquilo. Pensou melhor e notou que as atitudes de sua mãe continuavam as mesmas, ela não parecia desesperada por encontrar o filho como disse estar. Makoto a conhecia bem e sabia que ela dava mais valor à opinião pública do que à família.

Depois de alguns instantes em silêncio, se levantou e disse, sem olhar para trás:

— Você está melhor sozinho... não deixa eles te acharem...

Hiroto olhou para o lugar onde o irmão havia sentado, e percebeu que havia um pequeno cartão de papel, que não estava ali antes. Leu o que havia escrito nele e sorriu. Era o cartão de uma renomada escola de Patissiéres na Europa.

Sentiu-se melhor ao receber o apoio sem palavras do irmão, e resolveu voltar para casa.

No caminho, lembrou-se do motivo por que foi até aquele parque. Queria por seus pensamentos em ordem, o que não conseguiu, e se afastar do garoto amigo de Yui, que tanto lhe incomodava.

Entrou um pouco receoso pela porta da frente, e soltou o ar ao perceber que estavam apenas Ui e Yui na sala. A duas dormiam profundamente no sofá. Ui sentada, e Yui com a cabeça repousada em seu colo.

Sorriu sozinho ao ver a cena. É assim que tem que ser. Era nisso que ele sempre pensava ao ver as irmãs Hirasawa. Elas ficavam bem juntas e se completavam, uma família. Olhou por um pouco mais de tempo para Yui. Ela ressonava tranquilamente, com o rosto levemente corado.

—Hiro...kuun... – balbuciou Yui. Hiro pensou que ela tivesse acordado, mas ela continuou de olhos fechados. Seu coração acelerou ao perceber que ela estava sonhando com ele. Corado, dirigiu-se até a cozinha, pensando em preparar o almoço.

—Ela sonhou comigo... – Hiro murmurou para si mesmo, com um sorriso bobo no rosto, enquanto cortava os legumes. Porque aquilo parecia tão importante para ele...? O fato de Yui estar pensando nele... o deixava muito feliz...

Ultimamente, Hiroto estava se sentindo estranho, diferente do normal. Sem querer, Hiro passou a analisar seu próprio comportamento. Desde que conheceu Yui muitas coisas aconteceram... Hiro continuou cozinhando, enquanto pensava. Lembro de todas as vezes em que Yui estava por perto.

Seu coração apertava, era como se ele acelerasse e parasse de bater ao mesmo tempo. Sempre que ela tocava, mesmo no gesto mais despreocupado, ele sentia seu corpo todo tremer,suas mãos suavam frio, e quando ela o encarava, ele não conseguia sustentar seu olhar, pois tinha medo. Medo... medo de que ela visse em seus olhos tudo o que ele pensava e sentia... que ela percebesse... notasse... O que ela não poderia saber? Era tão ruim assim...? Não, não era... era bom! Fazia Hiro sentir-se nas nuvens...

—O que é isso...? O que... ela ... significa pra mim? – disse apertando a camisa, tentando em vão fazer seu coração voltar ao seu ritmo normal. Com um estalo, a resposta apareceu na sua mente... ela sempre esteve ali, na verdade, mas ele não a via. Era tão obvio que chegava a ser engraçado. Hiro riu sozinho, ao perceber aquilo que com todas as forças tentou, inconscientemente, negar.

Estava apaixonado! Apaixonado por Yui! Amava aquela garota distraída, preguiçosa, estranha e tão fofinha... admitiu finalmente. Seu coração parecia bater com mais força depois da evidente revelação.

E agora? Como iria encará-la com esses sentimentos transbordando dentro de si.. como iria agir perto dela... será que ela poderia retribuir... seriam só amigos...?

Hiro virou-se para trás ao ouvir os barulhos de passos lentos e arrastados atrás de si. Na porta estava Yui, com o rosto amassado e o cabelo mais bagunçado que o normal.

—Hiro-kun... eu to com fome... – Yui sussurou, a voz pesada de sono.

O coração de Hiro pulou dentro do peito.

E agora?