Pure Heart escrita por Shiroyuki


Capítulo 5
Capítulo 5 - Colega de quarto e Amigo de Infância




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/106750/chapter/5

Yui ajudava Ui a arrumar a sala. Suas amigas já haviam ido embora e elas estavam se preparando para ir dormir. Yui terminou de juntar todos os pratos e copos na pia, e estava subindo as escadas para ir tomar um banho, quando a campainha tocou. Desceu os degraus em um pulo e correu até a porta. A sua frente estava Hiroto. Ela ia perguntar se ele havia esquecido algo, quando notou seus olhos vermelhos e inchados.

Sem dizer uma única palavra ela o puxou para dentro e o colocou sentado no sofá, ao mesmo tempo em que sentava-se também. As luzes estavam apagadas, mas Yui não se incomodou em acendê-las, a lua iluminava todo o cômodo. Ui estava entrando na sala naquele momento, para ver quem tinha apertado a campainha, mas ao ver os dois juntos no sofá, precipitou-se ate a escada,subindo discretamente, para deixá-los sozinhos.

—O que aconteceu Hiro-kun? – disse num tom preocupado, entrelaçando a mão de Hiroto com a sua.

—Eu... não podia mais... eu quero... – Hiro balbuciou, não conseguindo conter as lágrimas, que rolavam livremente pelo seu rosto. Yui não aguentava vê-lo chorando. Abraçou o garoto com força, e depois pousou a cabeça dele no seu colo, como Yui fazia quando queria consolá-la.

—Você pode me contar tudo o que quiser. Eu vou ouvir tudo o que Hiro-kun tiver pra dizer – ela falou calma e reconfortantemente, passando mão livre na cabeça de Hiro. Os fios escuros e macios lhe faziam cócegas nas pernas, assim com a respiração entrecortada dele, mas não era ruim.

Hiro suspirou, tentando encontrar sua voz. A proximidade repentina da garota o desconcentrava um pouco, mas ele conseguiu começar.

— Eu, eu briguei com a minha mãe... Na verdade não foi bem uma briga... foi só ela gritando e eu ouvindo, como sempre, mas eu não consegui aguentar mais. Eu sai de casa, Hirasawa-san.

— E porque você não conseguiu aguentar mais?

—Há algum tempo atrás, minha família era de certa forma, feliz. Meus pais quase nunca estavam em casa, é verdade, mas sempre que tinham uma folga, saíamos todos juntos, meus pais, eu e meu irmão mais velho. Era bom... Minha mãe queria que eu fizesse o ensino médio na Europa, e depois cursasse a faculdade de direito, assim como Makoto-oniisan.

Yui nem mesmo respirava, estava absorta na história. Hiroto continuou:

—Eu fui contra a sua vontade e fiquei no Japão. Minha família nunca foi do tipo carinhosa ou compreensiva, mas desde que eu tomei minha decisão, tem sido muito pior. Meu pai não fala mais comigo, e minha mãe só sabe gritar. Eu já devia ter ido embora há muito tempo...

—Porque você decidiu ficar no Japão Hiro-kun?

— Eu queria poder seguir meu sonho, Hirasawa-san – Hiro disse, ligeiramente sonhador.

—E qual é? – perguntou curiosa.

Hiro virou a cabeça, olhando para Yui. Seus olhos brilhavam de um modo estranho, o que deixou Yui um pouco perturbada. Ela não conseguia desviar seu olhar...

—Meu sonho é fazer doces. Eu quero me tornar um Patissiere! – falou, determinado.

—Verdade? Doces? Incrível! – Yui estava agora animada, imaginando todas as possibilidades de provar os diferentes doces feitos pelo Hiro-kun.

Hiroto levantou a cabeça do colo de Yui e a fitou diretamente, coisa que raramente fazia.

—Muito Obrigado, Hirasawa-san! Por me ouvir, e por ser uma pessoa tão especial... Realmente, muito obrigado – agradeceu Hiro, segurando as duas mãos da garota em seu colo.

Só então percebeu o quão próximo havia ficado dela. Podia sentir sua respiração, e seus narizes quase se tocavam. Mirou seus olhos, que brilhavam intensamente, apenas com a luz da Lua que entrava pela janela. Os orbes cor de chocolate demonstravam surpresa, e também expectativa. Baixou seus olhos e fitou sua boca, entreaberta e convidativa. Ao notar a linha de seus pensamentos, Hiroto levantou-se num salto, soltando rapidamente as mãos de Yui, que não parecia nem um pouco abalada pela cena anterior. De fato, ela nem mesmo havia percebido as intenções de Hiroto.

—Bem, acho que eu tenho que ir – disse ele, atropelando as palavras e seguindo rumo à porta. Yui segurou sua mão, o impedindo de continuar.

—Não! Hiro-kun fica aqui! – disse, parecendo uma criancinha manhosa – Vem! Eu vou contar para Ui-chan que você vai morar aqui com a gente! – seu tom mudou rapidamente para um mais animado, arrastando Hiro escada acima.

— E você precisa se um banho – ela completou.

Hiro corou. Ele tinha corrido até chegar à estação de trem, e depois fez o caminho de volta a pé. Seu cheiro não deveria estar nem um pouco agradável.

Yui chegou até o quarto de Ui e bateu na porta, abrindo logo em seguida. Ui estava sentada no chão, respirando com dificuldade.

— Oh! Hiroto-kun! Você por aqui! – ofegou, numa entoação obviamente falsa. Estava claro que ela andara espiando os dois, e correra até o quarto para não ser pega.

— Você não sabe o que aconteceu! – entusiasmou-se Yui – Hiro-kun vai morar aqui! Não é perfeito?

— Não, espera – Hiro a interrompeu – eu só vou ficar até encontrar um lugar. Não posso atrapalhar suas vidas dessa forma.

—Não irá incomodar, Hiroto-kun – Ui levantou, falando no seu habitual jeito calmo – Pode ficar o tempo que achar necessário. Acho melhor ver algumas roupas para você...

Ui foi até o quarto de seus pais. Havia algumas roupas de seu pai que poderiam servir em Hiroto.

Hiroto recebeu algumas peças de roupa, pijamas e uma toalha, e dirigiu-se para o banheiro, enquanto as irmãs arrumavam um lugar para ele dormir. Ui queria muito arrumar um futon no quarto de Yui, mas conteve-se. Hiro ia ficar um pouco perturbado em dormir no mesmo quarto que a sua irmã. Ui riu ao imaginar a cena.

A cama foi arrumada em uma sala do primeiro andar que seus pais costumavam usar como depósito, mas que agora só tinham um grande armário e algumas caixas vazias, que foram empilhadas em um canto para dar espaço para o futon. Logo todos na casa foram dormir. Aquele havia sido um longo dia afinal.

-

O dia amanhecia brilhantemente. Yui desceu correndo as escadas, como se fosse manhã de Natal. Correu desajeitadamente até a salinha, onde ela havia pendurado uma folhinha escrita com giz de cera “quarto do Hiro-kun”. Abriu a porta com cuidado. Queria se certificar se o Hiro-kun ainda estava ali.

Sorriu e avançou, ajoelhando-se ao lado do garoto, que ressonava tranquilamente. Fitou seu rosto adormecido por alguns instantes, e aproximou seu rosto do dele, imaginando uma forma de acordá-lo.

Hiro abriu seus olhos lentamente. A primeira impressão que teve era que ainda estava sonhando. Viu o rosto de Yui próximo ao seu, como na noite anterior, mas agora tudo estava iluminado pela luz do Sol. Sorriu tolamente.

Ao perceber que Hiroto havia acordado, Yui sorriu e se afastou. Nesse momento Hiro percebeu que não estava sonhando. Se fosse um sonho, Yui não iria se afastar, pelo contrário, iria se aproximar mais, e mais... Sentou-se no futon, tentando afastar os pensamentos que ecoavam na sua cabeça.

—Ohayo Hiro-kun! – Yui estava sentada no chão ao seu lado. Vestia uma camiseta rosa longa, que chegava até os joelhos e meias ¾ listradas.

—O-ohayo... – aquela era uma situação estranha para Hiroto. Havia conhecido Yui há apenas algumas semanas e agora já dormia na sua casa!

Moveram-se até a cozinha, onde Ui os esperava com o café pronto. Sorriu sarcasticamente ao ver que os dois saiam do quarto juntos, sua mente podia ser bem suja quando queria.

A campainha tocou. Ui levantou-se rapidamente para atendê-la, já que era a única que não estava de pijamas. Um sopro de surpresa pode ser ouvido, seguido de conversas rápidas e animadas. Yui levantou-se para ir ate lá ver quem era, mas não foi necessário. Acompanhando Ui estava um garoto, que para ela era muito familiar. Tinha os cabelos castanho-claros desordenados na altura do queixo e os olhos escuros. Ao vê-lo, Yui correu ao seu encontro, e ele a abraçou, levantando-a no ar por alguns instantes.

—Aki-kun! Senti tanta saudade! – exclamou Yui quando finalmente foi colocada no chão.

—Eu também Yui-chan! – disse o garoto olhando diretamente para ela, e depois fitou Hiro com o canto dos olhos – E quem é seu amigo?

Yui lembrou-se de Hiro, e foi até ele, levantando-o pelo braço.

— Sou Yamamoto Akihiko. – disse fazendo uma quase imperceptível reverência com a cabeça.

— Kinoshita Hiroto. – apresentou-se devidamente.

Logo Ui, Yui e Akihiko conversavam animadamente sobre fatos da infância. Algum tempo depois Nodoka foi até lá também, para vê-lo. Akihiko era neto da vovó, a velha senhora que morava na vizinhança e cuidava das irmãs Hirasawa, então foi criado junto com elas e Nodoka naquele lugar. Todos eles tinham muitos assuntos em comum, e já não se encontravam a bastante tempo.

Hiroto sentiu-se deslocado. Discretamente foi até seu quarto trocar de roupa, e depois saiu caminhar, pela porta dos fundos. Chegou à pequena praça do bairro, e sentou-se em um dos bancos dali. Queria por seus pensamentos em ordem.

Fechou e os olhos e imediatamente a imagem de Yui lhe veio à cabeça. Na noite anterior, com os reflexos azulados da Lua em sua pele. Nesta manhã, quando ela estava o observando dormir. Outros retratos de Yui passavam como slides na sua mente. Lembrou-se então do garoto dessa manhã. Ele tinha abraçado ela! De uma coisa, Hiro tinha certeza. Não gostava daquele garoto.

Ele me irrita.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Reviews?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pure Heart" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.