Hiro sentou-se num dos sofás vermelhos perto das janelas, parecendo exausto. Yui o fez cantar 8 músicas seguidas no karaokê que Sawako instalou no palco. Ela agora estava cantando Caramelldansen alegremente, enquanto dançava ao ritmo da música, a coreografia de Hare Hare Yukai, segurando o microfone e se enrolando cada vez mais nele sempre que girava. Logo depois Mugi apareceu, vestindo um avental cor-de-rosa cheio de babados com um gatinho bordado (obra de Sawako-sensei) por cima do uniforme escolar e serviu bolo e chá para ele. Hiro comia seu bolo, sem desviar o olhar da dança de Yui, quando sentiu alguém sentando a sua frente.

— E aí? Festa legal ne... – Akihiko disse, parecendo desinteressado, sem olhar para ele.

Hiro o fitou incrédulo. Desde o momento em que se conheceram, nunca haviam trocado mais de duas palavras, e agora estava iniciando um diálogo. Akihiko suspirou pesadamente antes de continuar.

— Sabe duma coisa, Kinoshita? Eu vou falar sem enrolação – ele se inclinou sobre a mesa, na direção de Hiro, com um olhar feroz – o que tu tá querendo com a minha Yui , hein?

Hiro engasgou com o pedaço de bolo que estava em sua boca. Que tipo de pergunta era aquela?

— Eu vou dizer só uma vez, então vê se escuta direitinho. Fica. Longe. Dela. – ele proferiu cada palavra como uma sentença, cerrando os punhos – nem vem dizer que você quer ser só amigo, eu vi bem o jeito que olha pra ela!

— Eu não vou mentir para você – Hiro falou, para que apenas Akihiko pudesse ouvir, inclinando-se um pouco também – eu realmente gosto dela. Muito. E por isso não vou me afastar ou seja lá o que você quiser que eu faça.

— Olha só a sua volta – Akihiko balançou o braço na direção das outras garotas, que conversavam e cantavam, alheias a conversa dos dois – tem um monte de garotas mais bonitas que ela, bem aqui. Você viu aquela Mio? Não precisa dela!!!

— Eu não quero as outras – Hiro o olhou severo – Eu amo apenas Yui.

Akihiko levantou num salto, segurando Hiro pela gravata, aproximando seu rosto perigosamente. Todos os olhares de voltaram para os dois.

— Eu já disse! Você não passa de um riquinho fracassado! Ela é MINHA!!! – sibilou.

— Ela não é de ninguém! –desafiou Hiro – Yui é Yui. E eu a amo... – ele falou mais baixo a última parte.

Akihiko soltou a gravata de Hiro e afastou o punho cerrado. Avançou para cima do moreno, que surpreendendo a todos desviou. Akihiko se atrapalhou um pouco, por estar surpreso e baixou a guarda, e foi então que algo ainda mais inesperado aconteceu. Hiro golpeou Akihiko com força, com a expressão raivosa que ninguém nunca tinha visto em seu sempre calmo e cordial rosto. Akihiko caiu na mesa atrás de si, quebrando-a num estrondo.  Hiro aproximou-se de novo, rapidamente pronto para desferir mais um golpe.

— Parem já com isso!!! – a voz de Yui ressoou pela sala, alta e imperativa. Todos olhavam a cena atônitos.

                Hiro paralisou, com a mão erguida, e o rosto adquirindo um semblante culpado. Akihiko ainda no chão, olhava para ele com raiva. Hiro baixou a mão, a oferecendo para ajudar Akihiko, que levantou-se do chão sem nem olhá-lo. Os dois se viraram para Yui que agora chorava copiosamente.

               — Por que vocês estão fazendo isso?  - ela soluçou.

                — Me desculpe, Yui-chan eu... – Hiro baixou o olhar, envergonhado pelo que tinha feito. Nunca havia brigado em toda a sua vida, mas vendo Akihiko falar daquela maneira, perdeu o controle – eu sinto muito mesmo.

                Hiro saiu do lugar, com a cabeça baixa e as mãos no bolso, se sentindo muito mal pelo que havia feito. Yui tivera tanto trabalho para fazer uma festa para ele e era assim que ele retribuía... sou uma pessoa horrível... um riquinho fracassado...

                Yui chorou ainda mais vendo Hiro partir. Caiu de joelhos no chão, secando as lágrimas que teimavam em cair. Mugi levantou Yui do chão e a colocou sentada num dos sofás ali.

                — Não há motivo para chorar, Yui-chan – Mugi disse, calma.

                — M-mas... Hiro-kun, e Aki-kun... porque eles fizeram isso?

                —Você realmente não sabe? – Sawako a fitou incrédula, assim como as outras.

                Yui levantou os olhos para a sensei, sem entender.

                Sawako suspirou, sentando a frente de Yui, impaciente. Com uma expressão calma, ajeitou os óculos.

                — VOCÊ É IDIOTA? – Ela berrou, com uma expressão assustadora, voltando à calma usual logo depois – certo, eu vou explicar com todas as letras...

                —Espere! – Akihiko se precipitou, suplicante. - Eu posso...

                —Entendo... – Sawako levantou-se, dando o lugar para ele. Saiu discretamente, arrastando as outras garotas junto.

                — Aah.. Sawa-chaan! Eu queria veeer... – Ritsu relutava.

                — Hmmm... como que eu digo isso... – ele lutava com as palavras, olhando para o rosto coberto de curiosidade da garota a sua frente – eu... eu te amo, Yui!

                — Me... ama? – ela parecia confusa.

                — Sim! Amo! Muito!... Eu quero sair com você Yui! Por favor, me responda... – ele agora quase suplicava, de pé, com as mãos apoiadas na mesa.

                Yui não sabia o que pensar. Nunca imaginou essas palavras sendo dirigidas para ela. Era como num mangá shoujo. Então eu sou a personagem principal? Essa é a hora em que eu devo dizer “sim, eu sempre esperei por isso”...? eu... não quero...

                — Aki-kun... eu...eu não posso... eu não quero... me desculpe – ela parecia prestes a chorar novamente, com a cabeça baixa   e o rosto vermelho.

                — E se fosse o Kinoshita? Hein? Se fosse ele você também ia dizer que não e se desculpar? – ele falou, parecendo irritado.

                Yui parou para pensar. E se fosse Hiro-kun, naquela situação? E se fosse ele dizendo que a amava? Espera! Porque esse pensamento a fez sorrir? Porque ela ficou feliz em imaginar Hiro-kun se declarando para ela ? Ela diria que não para ele? Não! Ela nunca conseguiria negr nada para Hiro-kun... ela nunca diria não para ele!...

                Mas... Por que?

                — Aki-kun... se você se sente estranho... sem conseguir parar de pensar em uma pessoa, e quer ficar sempre ao lado dela... e sente muita, muita saudade quando ela está longe... e sente o coração apertando quando ela está perto... isso é estar... apaixonado? – Yui disse, se levantando e corando muito.

— B-em... acho que sim... eu – Akihiko começou, mas foi interrompido              .

— É isso... eu tenho que ir... Eu tenho que ir! – Yui correu até a porta, mas deu meia-volta, dando um beijo na bochecha de Akihiko, o que o deixou sem jeito.

— Obrigada! – ela exclamou, antes de sair correndo.

Eu vou lá... – Ela pensava enquanto corria - eu vou lá fazer o que?...