No Amount Of Masks... escrita por Shinobu


Capítulo 2
Second Lesson – Yearning.


Notas iniciais do capítulo

Ade, este capítulo é teu. Talvez num próximo mundo possamos ser amigas outra vez ♥



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Vou ter saudades tuas.

Estava prestes a sair de casa, sozinho. Era a primeira vez que ia a um baile sem a minha família, apesar da minha idade. Como tal, estava um pouco nervoso e, ao mesmo tempo, aliviado.

Sempre que ia acompanhado com os meus pais, eles faziam de tudo para me arranjar alguma possível pretendente. Mas acabavam sempre por falhar. A minha mãe era mais compreensiva; dizia que eu eventualmente iria encontrar a mulher com quem me iria unir sem ter que me preocupar. Já o meu pai, ameaçava que me iria deserdar e mandar-me para o exército.

Enfim…

Pelo menos, mesmo que pequena, havia uma remota possibilidade de encontrar alguém interessante. Ou ela.

Já havia ido a vários bailes e nunca mais a havia visto. Procurava sempre por alguém com longos cabelos róseos, mas nunca encontrava ninguém. Acabei por desistir, apesar de ainda me lembrar do que ela me ensinou, da solidão.

E iria certamente aplicar-se a hoje, naquele sítio onde eu iria ficar sozinho.

Quando finalmente cheguei ao palácio onde era o baile, nem me incomodei a observar a paisagem. Era um castelo normal como os outros, com um jardim normal como os outros.

Com pessoas normais como qualquer outro castelo.

– Será que me poderia conceder esta dança? – Perguntou uma garota com longos cabelos verdes que se encontravam apanhados. O seu vestido era branco e azul, assim como a sua máscara. Esbocei um pequeno sorriso e tomei a mão dela, dançando uma música com ela.

– Um…você dança muito bem.

– Obrigada.

– Poderia…saber o seu nome? – Perguntou-me, olhando inocentemente para mim.

– Ora, se é um baile de máscaras, não devemos revelar a nossa identidade, não é?

– Acho que tem razão… – Ela desviou o olhar dela para o chão, tristemente. Ficámos em silêncio o resto do tempo. Assim que a música acabou, fiz uma pequena vénia e saí da pista de dança, deixando-a para trás.

Realmente, que perda de tempo. Não havia uma única pessoa interessante aqui.

Olhei ao meu redor à procura de alguma coisa que servisse para me distrair até ao fim da noite. Infelizmente, não encontrei nada. Puxei uma cadeira numa das mesas e sentei-me, suspirando em seguida.

– Que baile tedioso…

– É…huh?

Voltei-me para quem havia falado e encontrei-a ao meu lado, também sentada numa cadeira. A moça dos longos cabelos róseos. No entanto, desta vez ela não estava vestida de preto e branco, mas sim de cremes e laranja. Ela voltou a sua cara para mim e sorriu. – Boa noite, Len.

– Talvez eu pudesse retribuir o cumprimento se soubesse o teu nome.

– Vejo que temperamento não é o teu forte. – Disse, retirando um leque laranja e branco da sua mala e colocando-o à frente do seu rosto delicadamente, como da última vez que a havia visto. – Não que isso importe. Sabes porque estou aqui hoje?

– Pela mesma razão que eu? – Perguntei aborrecidamente, enquanto deixava os meus olhos passear pela multidão.

– Sim e não.

Olhei para ela com uma expressão confusa, fazendo com que ela risse. – Ou é uma coisa ou é outra, não?

– Não. Anda, anda. – Ela levantou-se e puxou-me pela mão, fazendo com que eu também me levantasse. – Posso ter o prazer de dançar com a sua alteza? – Disse, fazendo uma vénia e sorrindo. Não pude deixar de esboçar um pequeno sorriso também e, mais uma vez, fui conduzido por ela até à pista de dança. Começámos a dançar calmamente, seguindo o ritmo da música. Por algum motivo, dançar com ela fazia-me agir mais delicadamente, como se tivesse medo de partir uma boneca. Porque de facto, ela parecia uma boneca, mesmo que as suas acções não demonstrassem o mesmo.

– Então, Len. Ouvi dizer que a tua família está noutro reino a resolver alguns assuntos.

– C-Como é que sabes? – Perguntei, surpreendido.

– Eu sei tudo. – Ela sorriu mais uma vez, e depois voltou à sua expressão normal. – Sentes saudades deles?

– Sim. Quer dizer, não. Talvez. – Desviei o meu olhar para o chão, ao pensar nos meus pais.

– Talvez?

– Talvez.

Quando voltei a olhar para os olhos dela senti, por algum motivo, que ela me compreendia. O olhar dela transmitia, de certo modo, que “estava tudo bem” e que eu “podia confiar nela”. Arqueei uma sobrancelha e voltei a olhar para o chão, agradecendo por ter uma máscara na cara que evitava que ela pudesse ver a minha expressão.

– Então…existe alguma coisa da qual tenhas saudades?

Ora, claro. Todos nós temos saudades de alguma coisa. E eu sem dúvida havia tido, de certo modo, saudades dela. Mas não poderia dizer algo tão…estranho, assim.

– Sim. É normal, não?

– Claro, claro. Seria anormal era se não tivesses saudades de nada.

Ficámos em silêncio durante alguns segundos, até que ela olhou para o chão e esboçou um sorriso triste. – Eu…também tenho saudades de algumas coisas. Coisas importantes. Aquilo que tu sentes falta…também te é importante, Len?

Ela voltou a olhar para mim, sorrindo. Não consegui evitar não sorrir também. – Sim, é importante para mim.

– Do que é que sentes saudades?

– Da minha infância. Na altura ninguém me pressionava para fazer escolhas. Era obrigado a fazer algumas coisas, mas sem dúvida era livre.

– Livre…sim, talvez a infância seja sinónimo disso. Liberdade. E a saudade, sinónimo de prisão.

A música terminou e dirigi-me para fora da pista. Ela correu atrás de mim e, novamente, segurou na minha mão e puxou-me.

– Tenho uma coisa para te mostrar.

Fomos até ao jardim do castelo, iluminados pela lua. Olhei ao meu redor e vi várias espécies de rosas por entre os arbustos. No entanto, ela voltou a puxar por mim e levou-me para a parte de trás do castelo.

– Para onde é que me levas?

– Já vais ver, já vais ver. – Ela riu novamente e puxou ainda mais pela minha mão. Quando finalmente chegámos às traseiras do castelo, ela largou a minha mão e apontou para uma fonte no centro. – Aqui. Não é bonito? – Disse, sorrindo.

Pisquei os olhos várias vezes e aproximei-me da fonte, olhando em redor. Havia vários arbustos cheios de hibiscos azuis a rodear a fonte, que deveria ter o triplo do meu tamanho. Era cinzenta e era adornada por vários golfinhos, compostos por uma pedra azul que era meio transparente e que brilhava com a luz da lua. A água que fluía era transparente e o som era relaxante. Não pude deixar de sorrir.

– O meu animal preferido é o atum. Mas golfinhos são muito bonitos também, não achas?

– Atum…? – Olhei para ela que se encontrava ao meu lado e comecei a rir. – Como é que o animal preferido de alguém é atum?

– Sendo, oras. – Ela olhou para mim com uma expressão emburrada.

Sorri e voltei a olhar para a fonte. – Cada animal tem a sua característica fascinante. Não vejo qualquer problema em gostares de atum. – Voltei a olhar para ela depois de alguns segundos de silêncio, encontrando-a corada. – E-Ei!

Ela tossiu forçadamente e suspirou. Em seguida, fechou os olhos e virou a cara, num ar de superioridade. – De qualquer das maneiras, já te ensinei o que tinha a ensinar. Creio que é tudo por hoje.

Antes de ela se ir embora, coloquei-me à frente dela e cruzei os braços. – Não tão depressa. Ainda não sei o teu nome.

– E não vais ficar a saber. – Ela levou o indicador dela ao meu nariz e pressionou-o, fazendo com que eu desse um passo atrás. Quando voltei a olhar para ela, tinha novamente o leque à frente da cara dela. – Sabes que o laranja é a cor da saudade?

– Laranja?

– Laranja ou cremes. Ambos representam a saudade, mas em diferentes níveis. Quanto mais escuro for o laranja, mais saudades tu sentes. Quanto mais claro for o creme, menos saudade sentes, até que ele acaba por se tornar branco, e deixas o sentir. Espero ser capaz, algum dia, de conjugar o branco com o laranja. – Ela deu uma volta rapidamente, como se estivesse a exibir o seu vestido creme e laranja, e sorriu. Sorri também, finalmente entendendo o que ela me queria ensinar hoje.

– Então…quando irás voltar para me ensinar mais alguma coisa?

– Assim que tiver algo para te ensinar, Len. Mas, prometo que volto!

– Até breve, então. Vou…ter saudades tuas.

Ela sorriu e acenou com a cabeça e saiu do jardim, delicadamente. No entanto, antes de desaparecer da minha visão, ela acenou com a mão, e eu fiz o mesmo. Voltei a olhar para a fonte e sorri, abandonando o local em seguida.

Laranja é uma mistura entre vermelho e amarelo, duas cores formadas por luz. Vide…a saudade.



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Notas finais do capítulo

Oh noes, eu não demorei milénios a actualizar! E para melhorar, o próximo capítulo vem a caminho! :O /milagre
De qualquer dos modos...espero que tenham gostado, já que este capítulo é muito importante a nível pessoal para mim OTL
Reviews? ~