Os Outros escrita por Sochim


Capítulo 9
Nossa escola


Notas iniciais do capítulo

Os irmãos Uchiha e Sabaku entram em conflito. Os Outros expressão desapontamento com a direção.



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Ibiki olhou para aquele número de alunos da Escola Secundária de Konoha, que a diretora Tsunade tinha lhe mandado de presente e, por um momento, lembrou-se de cinco anos atrás, quando um outro grupo de alunos costumava frequentar aquela delegacia.

Na época, ele ainda era novo no cargo de delegado, mas teve naqueles garotos sua grande oportunidade. Foram um verdadeiro teste para a sua paciência. Lembrava-se de alguns deles vagamente, de outros, sequer sabia o nome, mas pelo menos dois deles Ibiki podia dizer que conhecia bem.

Antes de falar com o bando de adolescentes, que não estavam mais tão agitados quanto antes, Ibiki atravessou a pequena multidão, até encontrar dois rostos conhecidos.

— Por que não me surpreendo em vê-los aqui novamente? Ainda mais numa situação dessas…

— Nós só viemos ajudar, delegado — disse Kankuro. — Chegamos tarde, é verdade, mas fizemos o que podíamos.

— Desculpe-nos por não ter vindo antes — Itachi emendou, irônico.

Ibiki encarou-os com uma expressão desconfiada, mas ao final da inspeção discreta e silenciosa de seus rostos, deu de ombros.

— Nunca pensei que viveria para ver um Sabaku amigo de um Uchiha. Pelo visto, a vida me reserva muitas surpresas ainda. Espero que as próximas sejam agradáveis.

Kankuro e Itachi se entreolharam, sem saber exatamente o que pensar sobre aquele comentário. Ibiki percebeu a confusão dos rapazes e emendou, pacifista:

— Não que essa já não seja uma boa surpresa. Mas não sei o que esperar de uma parceria como essa.

Os rapazes apenas riram. Não havia muito o que dizer para Ibiki. Tudo o que tinham para falar, já tinha sido dito em outros tempos. Ibiki tinha a mesma opinião e por isso voltou-se para os alunos.

— Muito bem — disse, com a voz firme. Sua expressão era suficiente para fazer com que todos se calassem. — Vamos ver por onde eu começo.

Passando no meio dos alunos, Ibiki olhou nos olhos de cada um deles, sem se demorar mais tempo do que o necessário. Queria passar autoridade, não medo. Sua capacidade de causar medo ficava reservada para situações mais urgentes que aquelas.

— Se eu me lembro bem e se as coisas não mudaram tanto nos últimos anos... Cada um dos grupos tem sua organização... E sua hierarquia. Vamos começar por baixo. Os peixes pequenos são os mais fáceis de pegar. — riu, achando graça das expressões assustadas dos garotos.

Não demorou muito para o delegado diferenciar os barraqueiros, dos que realmente pertenciam aos grupos que dividiam a escola. Dispensou os primeiros, pois não havia muito o que fazer com eles. Nenhum dos que estavam ali tinha passagem alguma pela polícia; todos eram menores de idade; e muitos não se arriscariam a passar pela delegacia de novo; outros, dariam a Ibiki uma nova oportunidade de puni-los (disso, o delegado tinha certeza).

— Peixes ainda muito pequenos... — comentou Ibiki, quando liberou os garotos.

Na entrada da delegacia, alguns pais e responsáveis começavam a chegar. Iruka, da República, era um deles. Ibiki gostaria de cumprimentá-lo, ao invés de agüentar aqueles moleques e, depois de pensar rapidamente, foi exatamente o que ele fez.

— Boa tarde, Iruka!

— Ibiki! O que está acontecendo aqui? A Tsunade me ligou agora a pouco...

— Você é responsável por um deles?

— Sou. Neji Hyuuga está conosco na República.

— Entendo. Vou tentar terminar rápido aqui.

A tentativa ficou somente na promessa.

A medida que o tempo ia passando, Iruka viu a chegada de Shino, Lee e Shikamaru, que se espalharam pela delegacia, tentando falar com qualquer um que fosse possível. Se intrometeram tanto na ação dos policiais e receberam mais de uma ameaça de que seriam expulsos se continuassem.

— É melhor vocês três esperarem lá fora. — Iruka chamou-os de lado, vendo que eles insistiriam até serem de fato expulsos.

Os aspirantes a jornalistas pensaram em discutir, mas uma veia saltada no pescoço de Iruka alertou-os de que não seria uma boa ideia. Shino puxou os outros para a escadaria da delegacia.

Kankuro e Itachi estavam sentados ao lado da sala do delegado. A calma que estampavam nos rostos contrastava completamente com a situação. Fazia tempo que não chegavam sequer perto daquele lugar, mas não havia mudado muita coisa. Suas famílias ainda causavam a mesma confusão de antes, afinal. Ao menos dessa vez eles não eram o centro das atenções.

Quando Ibiki finalmente terminou com os Populares e Impopulares, achando graça dos nomes, os dois amigos levantaram preguiçosamente.

— Vejo vocês na segunda-feira — anunciou Ibiki para os garotos. — Até mais, Kankuro... Itachi... Venham me visitar de vez em quando.

— Vamos pensar nisso... - Kankuro riu, saindo da delegacia.

*

A porta bateu violentamente quando Sasuke entrou em casa. Antes que conseguisse alcançar a escada, porém, a porta foi aberta novamente, dando passagem para Itachi.

— Para de manha, pirralho! — reclamou o irmão mais velho. — O que você quer me provar com essa atitude?

— Provar? — Sasuke parou no primeiro degrau da escada. — Não quero, nem preciso, provar nada a você!

— Não mesmo? Então me explica uma coisa... — Itachi caminhou lentamente até onde Sasuke estava. — Por que está fazendo exatamente as mesmas coisas que eu fiz na escola? Grupos, popularidade, brigas...

— Eu não fiz nada disso — disse Sasuke. — Cheguei onde estou naturalmente. Porque é onde eu deveria estar. Porque é onde meus amigos me colocaram.

Itachi fez uma expressão de deboche, movendo a cabeça negativamente. Sasuke ignorou isso e continuou, tomado por uma vontade incontrolável de atacar o irmão.

— Ao contrário de você, Itachi, eu não pretendo desperdiçar o que eu consegui, para acreditar em uma mentira idiota e me aliar ao cara que eu mais odeio!

— Só para saber... — Itachi ainda tinha um sorriso de deboche, mas agora estava visivelmente mais irritado. — Quem é o cara que você mais odeia? Eu ou o Gaara?

— Por que não tira as suas próprias conclusões?

— ITACHI!

Os dois irmãos ouviram uma voz feminina gritar e, no instante seguinte, Itachi estava com os braços de sua mãe envolvendo seu pescoço. Sasuke não ficou para ver a cena (que considerava patética) entre mãe e filho. Subiu as escadas e se trancou no quarto.

*

Kankuro apressou o passo para tentar alcançar o irmão, mas o garoto andava rápido demais quando estava nervoso daquele jeito. Gaara passava pelas pessoas quase atropelando-as, sem se importar com quem aparecesse na sua frente. Kankuro teve a nítida sensação de que Gaara imaginava seu rosto em cada uma das pessoas em que esbarrava propositadamente, com violência. Gaara, de repente, teve que desviar de um senhor que passava com um cão imenso, o que proporcionou a seu irmão tempo suficiente para alcançá-lo.

— Para quê tanta pressa? — perguntou Kankuro, recebendo um empurrão como resposta.

— Me deixe em paz!

— Não é tão simples, infelizmente — Kankuro agarrou o braço do ruivo. — Temos um assunto a resolver.

— Não, não temos! — Gaara parou, encarando-o. — Não temos mais nenhum assunto em comum. Aliás, nunca tivemos, não é? — acrescentou.

— Ah, sem drama, por favor! - Kankuro revirou os olhos, irritado e impaciente. — "Me deixe em paz!"; "Não temos mais nada em comum!" — provocou.

 A reação de Gaara foi violenta. Acertou o rosto do irmão com um soco. Kankuro colocou a mão na boca, contendo a expressão de dor.

— Que merda foi essa? - Perguntou, querendo gritar, mas controlando-se a ponto de ter um tom de voz casual.

— Isso foi só um pouco do que você merece, traidor…

— Ah... Okay.

Kankuro olhou para baixo, sem tirar a mão esquerda da boca. Gaara institivamente olhou para sua outra mão, temendo e esperando uma represália. Kankuro percebeu e se movimentou rapidamente o braço direito, despertando os reflexos do garoto.

Enquanto Gaara preocupava-se com o braço direito do irmão, que era destro, esqueceu-se de se defender do outro braço, que acertou-lhe o nariz, deixando-o desnorteado por um tempo.

— Aprendiz! — disse Kankuro, afastando-se do garoto, que estava tonto com a pancada. — Quer me bater, bata. Mas, por favor, não me mata de desgosto.

Ficaram em silêncio, enquanto o mais novo se recuperava.  

— Vamos para casa — Kankuro falou novamente.

Ao encostar em Gaara, ele o repeliu.

— Por que você voltou?

— Porque eu preciso ajeitar as coisas.

— É tarde demais, Kankuro. Vai embora.

*

Os restante da semana passou sem maiores novidades na escola. Sasuke, Gaara e seus amigos não apareceram, suspensos das aulas. Os Outros foram os únicos que contestaram o fato dos dois grupos não terem sido expulsos, depois de toda a confusão que organizaram.

Na quinta-feira de manhã, os estandes em que o jornal da escola era colocado à disposição dos alunos, estampava-se uma única folha, no lugar do jornal, impressa em tinta preta, com um texto em branco com letras grandes.

"No hino da NOSSA escola, encontram-se as palavras HONRA, DIGNIDADE, CORAGEM e INTEGRIDADE. Gostaríamos de dizer que pertencemos a uma escola onde a dignidade e a coragem fazem parte do currículo escolar e que essas virtudes se refletem na integridade das ações daqueles que nos representam.

No entanto, depois do que vimos no começo dessa semana, em que muitos de nossos colegas mostraram sua pior face, percebemos que essas palavras não têm, para os que as escreveram, o mesmo significado que têm para nós.

Após se reunir com os pais dos alunos envolvidos na barbárie de terça-feira, a diretoria da ESCOLA SECUNDÁRIA DE KONOHA mostrou que não conhece o sentido das palavras cantadas no hino dessa instituição.

Não é sem pesar que o Jornal de Konoha, o jornal feito PELOS alunos e PARA os alunos, expressa o seu sincero desapontamento com o andamento daquilo que nossos representantes chamam de justiça.

Quando procuramos a direção, em busca de uma resposta satisfatória, ouvimos apenas que os responsáveis "receberam as punições que condizem com seus atos" e que não cabe à diretoria "apontar e repudiar culpados".

O que aconteceu no campo de futebol, na tarde de terça-feira, não foi um espetáculo. Foi uma demonstração, das mais repugnantes, do que nossa escola está se tornando pouco a pouco. É tradição da ESCOLA SECUNDÁRIA DE KONOHA, facilitar o comportamento deplorável de seus alunos. Não é a primeira vez - e isso pode se confirmar pela história recente da escola - que alunos deixam de ser punidos por seus comportamentos.

Até quando continuaremos permitindo que poucos alunos ditem as regras que devemos seguir? Não fazemos parte da guerra que eles travaram pelos corredores da escola. Não compartilhamos do desejo deles de popularidade através de violência e ignorância. Mas seríamos cúmplices deles, nos mantendo calados.

O Jornal de Konoha recusa-se a permanecer calado. Recusa-se a obedecer a qualquer grupo de alunos que se ache no direito de chamar nossa escola de SUA. E recusa-se a seguir os preceitos ensinados nas salas de aula, que não são usados pelos que deveriam nos servir de exemplo."

Chouji, no comando da rádio de Konoha, repetiu durante o dia todo as palavras que estavam escritas naquele editorial. Tenten, no canal destinado à escola, fazia o mesmo.

Na sexta-feira, a diretora Tsunade chamou os integrantes do jornal em sua sala.

— Diretora Tsunade, não fizemos nada que não fosse nossa obrigação. - Shino apressou-se em defender os colegas, depois de ouvir algumas palavras polidas da diretora, que tentava não demonstrar irritação. — Nosso papel, como integrantes do grupo de jornalismo é mostrar o que está acontecendo nessa escola, independentemente de a quem isso possa afetar. Não há mentira em nada do que foi escrito no editorial.

— Vocês, como integrantes do grupo de jornalismo, deveriam entender que não há porque fazer tanto barulho por causa disso… — Não acho que seja assim, diretora. - Shikamaru intrometeu-se. - Como está escrito no editorial, não é a primeira vez que grupos de alunos disputam espaço nos corredores da escola. Gaara e Sasuke não são os primeiros. Antes deles, tiveram os irmãos deles, e antes do Kankuro e do Itachi, houveram outros.

— Nós, mais do que qualquer um aqui, sentimos na pele o efeito dessa "guerra". — Naruto também falou. — Somos nós que sofremos as consequências pela omissão da diretoria.

— Então vocês resolveram descontar na escola? — Tsunade perguntou sem pensar, perdendo o último resquício de raciocínio lógico que ainda possuía ao final daquela semana infernal.

— Não estamos descontando... — Kiba pronunciou-se. — Só estamos tentando acabar com isso. De uma vez por todas.

A visita d'Os Outros à sala de Tsunade produziu nos alunos a sensação nítida de que as coisas estavam mudando. Além disso, as palavras que Shino tinha escrito naquele editorial passaram a ecoar pelos corredores. Os alunos estavam mais divididos do que nunca. Se antes tinham que decidir entre ser Popular ou Impopular, agora cogitavam seriamente a terceira opção.


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