Os Outros escrita por Sochim


Capítulo 40
Confiança (editar)


Notas iniciais do capítulo

Olá você!!!
Postando capítulo gigante para compensar a demora. Espero que gostem.



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Naruto havia combinado com Tsunade que começaria a frequentar grupos de estudo na terça-feira, para que pudesse se concentrar apenas nos amigos naquele primeiro dia. A diretora, provavelmente considerando o quanto amigos eram necessários na atual situação do aluno, aceitou a ideia sem uma segunda palavra sobre o assunto. Desse modo, assim que o horário das aulas acabaram, Naruto se reuniu com os amigos e seguiu com eles para fora do colégio. Ele sabia que seu tempo com eles estava contado e pretendia fazer cada segundo valer a pena.

Ele só percebeu quando era tarde demais que tinham seguido o caminho até o parque municipal. Fazia vários anos que ele não ia para lá. Era um passeio comum que sua família fazia junto com as famílias Sabaku e Uchiha, lembranças que ele vinha tentando ignorar. Apreensivo, ele sentiu a ansiedade correr por seu corpo, mas, ao olhar para os lados e se ver cercado de pessoas em quem confiava e a quem amava, decidiu que não podia deixar transparecer seu nervosismo e respirou fundo. Tinha voltado para Konoha para enfrentar o passado e era isso que precisava fazer agora.

Entraram no parque e caminharam por bastante tempo até encontrar um espaço tranquilo em meio a duas árvores pequenas. Não havia muita gente em volta, pois todos preferiam garantir um espaço entre as raízes das árvores maiores. E, como nenhum deles estava interessado em disputar lugar com ninguém, nem pretendiam ser ouvidos por curiosos, acharam aquele espaço mais que satisfatório.

Sentaram-se todos em um círculo, Naruto entre Shino e Shikamaru. O sol brilhava e queimava, mas havia uma brisa tranquila vinda do lago lá embaixo, por isso nenhum deles se incomodou por não ter a proteção dos galhos e folhas de uma árvore. Durante o caminho até lá, Naruto tinha falado pouco, como tinha acontecido desde manhã e seus amigos não deixaram de notar a mudança.

― Você está diferente, Naruto. ― Tenten comentou de repente. ― Está calado demais.

― Eu não tenho muitas coisas para contar. ― Naruto deu de ombros, pois era verdade. O que poderia contar além de sua completa entrega à tristeza e ao luto? Não eram assuntos para reencontros. ― E ainda não consigo acreditar que o Shino me deixou escrever um edital.

― Bom, eu não deixei… ― Shino começou, mas Naruto fez um gesto dispensando suas desculpas esfarrapadas.

― Não importa. Você abriu mão do seu precioso edital e eu não vou te deixar esquecer desse dia.

― Não precisa se esforçar. ― Shino deu de ombros. ― Todos no colégio lembram muito bem daquela edição.

― Eu imagino. ― Naruto olhou-o, sério. ― A entrevista que você fez com Gaara. Ele foi bem sincero. Não lembro dele ter sido sincero assim nunca na minha vida.

― Ah, é, ― Tenten interrompeu-o com um tom sarcástico e bravo ― porque você realmente o conhece a vida toda.

― Um detalhe que teria sido interessante que nós soubéssemos antes, não é, Naruto. ― Lee acompanhou-a na censura.

― Não era um assunto fácil de discutir, embora Gaara tenha feito sem esforço, ao que parece. ― Naruto respondeu um pouco ríspido. Ao perceber, fez um gesto impaciente com as mãos e se desculpou com os amigos. ― Olha, eu não queria que ninguém soubesse o que tinha acontecido. Tudo era tão complicado, ainda é. Havia tantas coisas acontecendo. É confuso com todas as mentiras e meias verdades.

― Você podia contar com a gente para ajudar. ― Shikamaru observou, ganhando um olhar carrancudo e cético de Naruto. ― Nós somos parte do grupo de jornalismo da escola, Naruto, e somos seus amigos. Podíamos ter ajudado.

― Certo, Shikamaru. ― Naruto respondeu com sarcasmo. ― E com isso você quer dizer que a Temari nunca te disse nada. O que eu acho bem difícil de acreditar, porque ela disse para o Shino e para o Kiba.

― Não se trata do que ela disse ou não, também é a história da família dela, não apenas a sua história. ― Shikamaru respondeu sem se perturbar. ― Só estou dizendo que você não confiou na gente.

Naruto soltou um muxoxo e ficou quieto mais uma vez. Talvez os amigos estivessem certos e ele deveria ter confiado neles, no entanto, ele tinha direito a guardar suas coisas para si. Se ele queria manter segredo sobre algo, todos deveriam respeitar sua vontade e ficar com as bocas fechadas sobre aquilo. Olhou ao redor, para o parque. Algumas lembranças se insinuaram em sua mente, como vinha acontecendo desde que percebera para onde tinham ido. Afastou-a com um esforço maior do que antes e teve a impressão de que a tentativa de afastar lembranças indesejadas estavam tirando sua energia para ser simpático com os amigos. Precisava se controlar ou aquele dia não acabaria bem.

Isso tinha acontecido várias vezes nos meses em que esteve com Jiraya. Naruto concentrava todas as suas forças em não pensar nos pais e acabava descontando no padrinho as muitas frustrações que aquele esforço infrutífero produziam em seus espírito. Aquele não era o tipo de pessoa em que Naruto queria se tornar, por isso aprendera a refugiar-se no silêncio, onde podiam acusa-lo de estar distante e mudado, mas não podiam sair feridos pelos ricochetes de sua própria dor.

Por mais alguns minutos ele permaneceu calado, tentando ouvir a conversa sem participar dela, até que o toque do celular de Hinata o despertou de seu devaneio mal humorado.

A menina pegou o celular e atendeu com uma voz calma e preocupada.

― Oi, Kiba. ― A voz carinhosa dela tocou um ponto meio adormecido no subconsciente de Naruto. ― Eu estava preocupada. ― O rosto da menina tornou-se mais sério e ela franziu a testa, prestando atenção à voz do outro lado da linha. Nesse ponto, todos no círculo olhavam para ela, esperando. ― Mas o que aconteceu? ― Hinata soltou um suspiro, olhando ao redor e percebendo, apenas naquele momento, que todos a olhavam com ansiedade. ― Se você prefere assim… escuta, Kiba, se não quiser ficar sozinho agora, nós estamos no parque municipal. Perto do posto de atendimento de primeiros socorros ― ela fez uma pausa para escutar e sorriu um pouco. ― Certo. Então a gente se vê daqui a pouco. ― Ao desligar o telefone, Hinata falou a única coisa que todos já tinham entendido: ― ele está vindo.

― O que aconteceu? ― Naruto perguntou, percebendo que seu tom de voz ainda apresentava a antipatia de antes e procurou controla-la. ― Ele tinha dito que estava com problemas em casa, não é?

― Sim. ― Hinata mordeu os lábios. ― Mas ele não disse o que era, só que não estava muito bem hoje.

― Bom, eu sei de uma coisa que pode animá-lo. ― Lee sorriu e olhou para Naruto.

― Ah, é. ― Tenten também olhou para o amigo. ― Ele ainda não sabe que você voltou. Vai ficar furioso quando te vir.

Isso fez Naruto sorrir.

― Por quê?

― Porque você foi embora sem avisar ninguém, nem mandar notícias, acho. ― Lee respondeu, rindo.

― Bom, eu avisei a ele. ― Naruto corrigiu-o, mas percebeu que a resposta não deixou os outros contentes. Ele tinha avisado Kiba e ninguém mais. ― Certo, podemos passar para a parte em que vocês não estão mais bravos comigo?

― Vamos esquecer isso. ― Shino falou, num tom muito parecido com o que usava para mandar cada um fazer o seu trabalho no jornal. Virando-se para Naruto, ele assumiu de vez seu conhecido tom profissional e emendou um assunto que parecia mais condizente com seus interesses. ― Naruto, tem uma coisa que eu preciso te dizer.

― Ah, Shino, tem mesmo que falar sobre isso agora? ― Chouji resmungou, ao lado de Shikamaru. ― O cara já não está de bom humor.

― Não mesmo. ― Naruto sorriu para ele, tentando brincar com o próprio humor e amenizar a situação com os amigos. Olhou para Shino e fez sinal para que falasse. Shino não era do tipo que se intimidava pelo mau humor alheio.

― É sobre o jornal. ― Shino começou, com tato, o que não era muito comum para ele. ― Nós tivemos que substituir você.

Aquilo pegou Naruto de surpresa. Fazer parte de um jornal estudantil não tinha sido de seu interesse em um primeiro momento, mas com o tempo, aquela atividade tinha lhe conquistado. Depois de entrar no Jornal, no entanto, quando se perguntou, a sério, o que queria fazer quando saísse do colégio, estudar jornalismo e escrever tinha sido uma resposta fácil, certa. Ele não queria sair do Jornal, mas não tinha pensado nele nos últimos seis meses, tampouco pensou nele quando decidiu voltar para Konoha. A sua vida de seis meses atrás parecia distante e pertencente a outra pessoa. Mesmo assim, como percebeu que Shino esperava uma resposta, o que saiu foi:

― Por quem? Não tem espaço para mim? ― A ideia de ser rejeitado se instalou no fundo de sua mente. Já tinha sentido aquilo antes e não esperava que sentisse de novo. Não com eles.

― Nós esperamos por bastante tempo. ― Shino disse, olhando-o com seus olhos frios. ― Fizemos o que estava ao nosso alcance para impedir que outros candidatos entrassem…

― É verdade. ― Shikamaru interviu. ― Nós tivemos vários candidatos, você nem pode imaginar, ainda mais depois daquela edição. Nós ignoramos vários deles, mas por fim a diretora Tsunade nos obrigou a abrir inscrições ou seríamos todos expulsos do Jornal.

― Não podíamos abandonar o Jornal. ― Shino emendou. ― E não sabíamos se você voltaria.

― E não existe nada mais importante para você do que o Jornal. ― Naruto ouviu-se dizendo. Mais uma vez com aquela acidez indesejada na voz.

― O Jornal é importante para todos nós. ― Shikamaru corrigiu-o. ― Mas não é a única coisa importante.

― Tudo bem. ― Naruto resmungou, mais para si mesmo. Sentindo o peso daquele reencontro assaltá-lo como uma bala. Olhando para os amigos, deixou o ar sair pesadamente do pulmão e fez um sinal afirmativo com a cabeça. ― Tudo bem ― repetiu, como quem tenta acreditar nas próprias palavras. ― Vocês têm razão, eu não ia querer que abrissem mão disso.

― Naruto… ― Chouji recomeçou, num tom reconciliador ― nós tentamos de verdade manter o seu lugar. Shino rejeitou um monte de candidatos que eram um pouco melhores que razoáveis.

― Você sabe como ele é chato. ― Lee brincou, testando o humor instável de Naruto.

Chouji olhou irritado para ele e continuou:

― Fizemos isso várias vezes, até que a diretora Tsunade nos colocou contra a parede, dessa vez para valer. E então… não pudemos mais ignorar.

― Tudo bem. ― Naruto conseguiu dizer isso sem parecer muito chateado. Enquanto ouvia, forçou-se a se lembrar do porquê tinha voltado e em todas as promessas que tinha feito a Jiraya e Tsunade para que confiassem nele. Não sobraria tempo para o Jornal da Escola. ― Será que posso saber quem me substituiu? Porque se me disserem que foi aquele Ichigo, eu vou ficar realmente bravo.

― Ele foi um dos finalistas. ― Lee observou.

― Ótimo. ― Naruto sorriu, fingindo ficar satisfeito com a situação toda. ― Então, quem foi?

― Uma menina nova. ― Shino voltou a falar. ― Ino Yamanaka.

― Que bonitinho. ― Naruto fez com que todos os olhassem sem entender. ― Vocês sentiram tanto a minha falta que me trocaram por outra loura de olhos azuis. ― E começou a rir.

― Você já a conheceu? ― Tenten perguntou, confusa.

― Já. No corredor. Tropecei na mochila dela. ― Naruto sentia-se inexplicavelmente mais leve agora. ― Isso explica porque ela conhecia meu nome e perguntou se eu era “o Naruto Uzumaki”.

― Hum. ― Tenten riu. ― Ficou famosinho, heim.

― Graças a vocês, imagino.

― E ao Gaara. ― Shino lembrou e Naruto fechou a cara por um momento, mas acabou concordando.

 

*

 

Cerca de uma hora mais tarde, o mau humor de Naruto pertencia ao passado, mas eles continuavam falando sobre a nova integrante do Clube de Jornalismo do colégio. Naruto queria saber o máximo possível sobre ela e, surpreso, percebeu logo que nenhum dos seus amigos era muito fã da garota. Segundo eles, Ino Yamanaka era metida, intrometida, inconveniente, e insuportavelmente eficiente. O próprio Shino admitiu que teve dificuldade em encontrar algum problema real no texto que ela tinha apresentado para seu teste: um artigo sobre o histórico de violência de Konoha e seu efeito sobre a juventude nas diferentes gerações.

― O que Shino está tendo dificuldade para dizer, é que nossa edição sobre o bullyng e popularidade era perfeita, até Ino apresentar esse texto e percebermos que nossa edição estava incompleta. ― Shikamaru falou, em determinado ponto da conversa.

― Às vezes é preciso um olhar de fora. ― Shino admitiu, parecendo irritado consigo mesmo.

Naruto, nesse momento, teve uma epifania. Ele conhecia o sobrenome Yamanaka pois era um dos muitos nomes que Jiraya havia citado entre os amigos de seu pai. Inoichi Yamanaka costumava ser amigo de Minato em seus tempos de colégio. Mas não era só isso…

― Ela não é exatamente de fora. ― Naruto comentou de repente.

― Como você sabe? ― Tenten perguntou.

Antes que Naruto tivesse chance de responder, no entanto, todos eles ouviram, ali perto, uma voz irritada e suficientemente alta:

― Seu filho da puta!

A voz de Kiba chamou a atenção de todos, mas apenas Naruto se levantou. Em parte, tinha se tornado um costume para ele levantar-se diante de uma provocação, mas esse instinto tinha prevalecido apenas por um segundo. Assim que se virou e viu Kiba, relaxou imediatamente.

― Seu desgraçado! ― Kiba xingou de novo.

― Oi. ― Naruto disse simplesmente. Era engraçado ver o amigo numa mistura de irritação e divertimento por vê-lo.

Kiba sorriu com o cumprimentou e deu alguns passos na direção deles.

― Seu cretino!

― Babaca e patife, já entendi. ― Naruto respondeu, rindo.

― Que bom que você sabe o quanto você é idiota. ― Kiba encerrou os últimos metros que faltavam para os dois se encontrarem e eles deram um rápido abraço.

― Você deixou bastante claro. ― Naruto respondeu, afastando-se para dar espaço para Kiba sentar-se com eles no círculo.

― O que você está fazendo aqui? ― Kiba quis saber tão logo se sentou com os demais.

― Eu voltei.

― Pra valer?

― Até o fim do ano. ― Naruto corrigiu-o.

― Bom, melhor que nada. ― Kiba disse, tornando-se sério por um momento. ― Agora dá para explicar porque não deu notícias?

― Já perguntamos. ― Lee se meteu. ― Sem resultado satisfatório.

― Sem resultado diferente possível. ― Naruto suspirou, cansado.

― Então…? ― Kiba cobrou.

― Eu tive problemas de saúde. ― Naruto confessou, todo aquele estresse tinha começado por causa de sua falta de confiança nos amigos, então era melhor saná-las de uma vez. ― Tive que tomar remédios para controlar a ansiedade e a depressão. Ainda tenho que tomar remédios, na verdade. Eu não queria saber de nada e o Jiraya precisou me levar para a terapia. Só pude voltar com autorização do psiquiatra.

― Psiquiatra?

― Sim. ― Naruto confirmou, como se aquilo não fosse nada e esperando que assim se encerrasse o assunto. O que eles pensavam? Que ele tinha ido passar férias na praia?

Enquanto os outros amigos baixaram os olhos para contemplarem as informações que Naruto tinha disponibilizado tão de repente, Kiba foi o único que continuou olhando-o de frente. Ele tocou de leve no ombro de Naruto e falou baixo:

― Sinto muito.

― Eu sei. Deixa pra lá.

― Você acha que foi uma boa ideia voltar?

― Eu precisei voltar. Acho que já disse isso uma centena de vezes hoje, mas ainda não me convenci de ter feito a escolha certa. Mas era a única possível.

― Eu entendo.

Naruto agradeceu sem dizer uma única palavra, mas achava que Kiba conseguia entender isso também. Kiba mexeu-se e bateu as mãos, chamando a atenção dos outros, distraindo-os dos impactos do que Naruto tinha dito.

― Sobre o que estavam falando?

Por um momento, os outros pareciam perdidos, e Tenten foi a primeira a se recuperar:

― Sobre Ino Yamanaka.

― Aff. ― Kiba pareceu murchar.

― Também não é fã dela? ― Naruto perguntou, achando graça.

― Ele é insuportável.

― Eu não a acho tão insuportável assim. ― Chouji comentou, baixinho, como se não quisesse ser ouvido.

― Qual é, Chouji? ― Kiba reagiu imediatamente. ― Ela não consegue ser legal com ninguém. Nem com você. E não se esqueça de quem é namorado dela.

― Quem? ― Naruto quis saber.

― Gaara. ― Kiba respondeu, olhando para ele. ― Não é legal? Termos agora a namoradinha do Gaara como companheira de jornal?

― Eles não são namorados… ― Shikamaru observou, fazendo Kiba revirar os olhos.

― Mas eles são amigos, isso basta. Você teria deixado Suigetsu entrar no Jornal?

― Não.

― Pois é. Devíamos ter deixado Ichigo entrar no lugar dela.

― Ele usou “o mesmo” como pronome pessoal. ― Lee fez aspas com os dedos na expressão e olhou com censura para Shino.

― É gramaticalmente errado. ― Shino deu de ombros.

― E você é um péssimo líder. ― Kiba reclamou.

Naruto, que não conseguia deixar de rir da situação agora, apesar da sua relutância anterior em aceitar ser substituído, saiu em defesa de Shino.

― Um membro do Jornal não pode errar ― disse, recebendo um olhar decepcionado de Kiba. ― Além disso, você conhece o ditado. Mantenha os amigos perto e os inimigos mais perto ainda.

― Ah, não! Sou voto vencido.

― Eu concordo com você, Kiba. ― Tenten comentou.

― Só porque você não gosta de muitas garotas por perto. ― Hinata respondeu e sua ousadia fez com que todos rissem.

― Você está passando muito tempo comigo, garota! ― Tenten brincou. Depois, quando todos se acalmaram, ela virou para Naruto. ― Você não respondeu minha pergunta.

― Que foi…?

― Como você sabe que a Ino não é de fora?

Naruto concordou com a cabeça e respondeu logo:

― O pai dela já morou aqui, quando mais novo. Foi colega do meu pai na época do colégio.

― Hum, interessante…

― Quer saber o que é realmente interessante? ― Naruto encarou-a. ― Adivinha quem vai ser o advogado de Kenn Sabaku no julgamento.

― O pai dela? ― Kiba olhou-o. ― Eles eram amigos também?

― Ao que parece, sim.

― Então esse cara também não acha que a culpa foi do Kenn?

― Acho que não é assim que a profissão funciona.

― É, mas se a questão envolve um amigo, o cenário muda, não é?

― Imagino que sim. ― Naruto suspirou. ― Não sei de mais nada. Tudo o que eu achava que sabia sobre essa história toda parece um borrão. ― Ele confessou, ciente de que dizia isso em voz alta e que todos os amigos olhavam para ele. ― Não tenho certeza sobre mais nada. Nunca tive, na verdade, mas agora…

― Foi por isso que você voltou? ― Kiba perguntou. ― Para descobrir?

― Foi. ― Naruto achou estranho como dizer aquilo fez com que todo o peso extraordinário que sentia nos últimos meses… não, nos últimos anos, diminuísse imediatamente. A consciência de que agora todos sabiam, que não precisava mais fingir, o fazia se sentir bem e, pela primeira vez em muito tempo, parte de alguma coisa boa e confiável.

Tenten encarou Naruto.

― Tudo o que sabemos nos foi contado por Gaara. Queremos saber de você.

Naruto pensou naquilo por um momento. Depois, decidindo que aquelas era as únicas pessoas que tinham provado merecer sua confiança antes de recebê-la, começou a contar tudo o que sabia.

 

*

 

Quando o céu já começava a ficar escuro, estavam todos ainda em círculo, sem falar, pensando na história que Naruto tinha contado. Cada um tinha tentado levantar uma hipótese diferente, apenas Naruto tinha ficado calado o tempo todo, ouvindo os amigos conjecturar coisas nas quais ele próprio já havia pensado várias vezes ao longo de cinco anos. O problema era que nenhum deles conseguia ver uma razão para que alguém quisesse causar mal aos pais de Naruto. Assim, a ideia original, que o acidente tinha sido causado por uma imperícia de Kenn Sabaku e que ele tinha tentado se livrar da prisão acusando outra pessoa, continuava a voltar para suas mentes. Por fim, Naruto achou melhor encerrar uma discussão que, enquanto não conseguissem novos fatos, permaneceria insolúvel.

― Pessoal, não adianta tentarmos adivinhar. Eu preciso descobrir mais coisas, não dá para seguir só com isso.

― Você está certo. ― Shino concordou, ainda franzindo a testa e Naruto sabia que ele estava tentando encontrar uma brecha no pouco que sabiam. E o problema era esse, havia muitas brechas. ― Você recisa falar com as pessoas envolvidas.

― Com Kenn e Fugaku? ― Naruto olhou-o como se ele fosse um alienígena. ― Acha que nunca tentei?

― É, mas você era uma criança. ― Shino fez um gesto, dispensando sua opinião. ― Vamos começar com a seguinte questão: por que Kankuro e Itachi saíram de Konoha?

― Para fazer faculdade. ― Naruto respondeu.

― Hana Inuzuka faz faculdade e não precisou sair de Konoha.

― Irrelevante.

― A faculdade, sim. Mas eles eram inimigos. Saíram de Konoha na mesma época, voltaram na mesma época e, o que é mais curioso, como amigos.

― E você acha que isso significa alguma coisa?

― Bom, não tenho certeza, mas você sabe como eles agem com os irmãos, não é? Como se soubessem algo que eles não sabem.

Naruto fitava-o em silêncio, considerando suas palavras. De fato, Shino não estava falando nenhum absurdo. Mesmo assim, a ideia de falar com eles não o agradava nem um pouco.

 

*

 

A noite já havia chegado quando Naruto se deu conta de que os amigos, especialmente Shino, Shikamaru e Hinata olhavam no relógio com frequência irritante. Apesar de não achar que fosse muito tarde, considerou que o melhor a fazer era encerrar aquele dia que tinha sido tudo, menos calmo emocionalmente.

― Vocês querem ir para casa? ― Perguntou, dando a dica para quem quisesse ir aproveitar essa chance.

― Eu preciso ir. ― Hinata falou e parecia algo entre culpada e apreensiva.

― Acho melhor todos irmos embora. ― Shino olhou no relógio mais uma vez.

Com o canto do olho, Naruto percebeu Kiba balançar a cabeça numa leve negativa, mas nenhum dos dois disse nada. Todos levantaram e recolheram as coisas que tinham espalhado pelo chão ao longo do dia.

Quando começaram a andar para a saída do parque, Naruto sentia-se satisfeito. Tinha certeza de ter os melhores amigos do mundo e, embora tivesse tido algumas surpresas nem tão agradáveis assim, todos tinham provado seu valor ao se mostrarem dispostos a ajuda-lo em um assunto que era tão importante para ele. Não tinha como agradecê-los nem recompensa-los de maneira adequada. Mas estava feliz e queria aproveitar essa sensação o máximo que pudesse.

O grupo andou junto por boa parte do caminho. Por um momento, Naruto achou que seguiriam todos para a República, mas se lembrou que todos já tinham voltado para suas próprias casas e estavam morando com os pais novamente. Era bom que todos tivessem a chance de ficar com suas famílias e Naruto sentia-se feliz por eles. Os primeiros a seguir para seu próprio destino foram Shino, Tenten e Lee. Mais à frente, seguiram Chouji e Shikamaru.

Agora, Naruto estava pensando em Hinata. Não tinha certeza de como era sua relação com o pai e a irmã, mas sabia que com Neji as coisas não podiam ser piores. Isso o deixava preocupado e sabia que o mesmo acontecia com Kiba. Por mais que a situação entre os três fosse difícil de explicar, Naruto sabia que todos nutriam um sentimento em comum: eles se importavam um com o outro. Quando chegou o ponto em que teria que seguir por outro caminho, Kiba fez sinal para que seguisse com eles mais um pedaço.

Eles chegaram até a rua em que Hinata morava e pararam na esquina. A menina se virou para eles e sorriu timidamente.

― Tchau. ― ela disse, tímida e sem graça. ― Vejo vocês amanhã.

― Até. ― Kiba respondeu

Ele permaneceu parado enquanto a menina se afastava pela rua. Naruto ficou com ele, observando-a em silêncio. Quando Hinata alcançou a porta de sua casa, olhou para eles e acenou rapidamente, entrando na casa em seguida.

Kiba suspirou, virando-se para Naruto.

― Você percebeu?

― O quê?

― O clima.

Naruto sabia que ele não estava falando da temperatura, mas da estranha sensação que os amigos tinham passado, de ansiedade e apreensão, enquanto andavam em silêncio pelas ruas. Ele fez que sim com a cabeça e os dois começaram a voltar por onde tinham vindo.

― Essa cidade está uma loucura. ― Kiba comentou.

― Tsunade me disse para tomar cuidado.

Kiba fitou-o.

― Todos temos que tomar cuidado. Shino acha que eu não sei disso, mas eu sei melhor do que qualquer um com quem estamos lidando.

― Neji?

― É.

― Eles estão com medo dele?

― Todo mundo está com medo. ― Kiba deu de ombros. ― Estão certos. Mas…

― O quê?

― Me incomoda como ninguém percebe que, agindo da maneira que Neji quer, estamos validando suas atitudes.

― Sim. ― Naruto olhou para a rua escura e vazia àquela hora.

― Não é nada oficial, mas é como se ele tivesse imposto um toque de recolher.

― Sério?

― É. Quero dizer, mesmo que não haja uma ordem explícita para que a gente vai para casa depois de certo horário, todo mundo sabe que, se encontrar com um deles depois de certo horário, é certo que alguém vai sair ferido.

― Entendi.

― Isso tem que acabar, Naruto.

― Sim. ― Naruto fitou-o. ― E Hinata?

― Eu me preocupo com ela. ― Kiba passou uma mão pelo rosto. ― É frustrante que ela tenha que ficar sozinha naquela casa com ele.

― Sozinha?

― Não sozinha, mas o pai dela está sempre fora e a irmã é muito nova. Neji faz o que quer.

― E agora ele estendeu seu domínio ao resto da cidade.

― Exato.

― E quanto aos Populares?

― Eles não existem mais. ― Kiba fez um barulho de escárnio ao se referir a eles. ― Jiroubou foi o primeiro, se juntou ao grupo de Neji e os outros seguiram o mesmo caminho. Não reparou na hora do almoço? Sasuke agora só está com Suigetsu, Juugo e Karin. E a Sakura, claro.

Eles continuaram andando por mais alguns metros.

― O Shino me colocou numa missão.

― Missão?

― Ele quer que eu descubra o plano do Neji.

― E chegou a algum lugar?

Kiba olhou para ele e sorriu de uma maneira que não deixava dúvidas.

― O que é?

― Um clube da luta ou coisa assim. ― Kiba falou. ― Ele reuniu vários garotos, não apenas do colégio. Qualquer um que esteja a fim de bater em alguém. Eles se reúnem em algum lugar fora da cidade e promovem uma luta.

Naruto não sabia o que dizer. Ele olhou para Kiba sem conseguir acreditar. Além de ser algo que arriscava a segurança dos próprios participantes, também era algo que demonstrava a força que aquele grupo teria em uma cidade como Konoha.

― Há quanto tempo você sabe disso?

― Faz um mês. O problema é que cada reunião é em um lugar diferente e eu ainda não consegui ver uma reunião deles.

― Quando souber onde será a próxima, eu quero ir com você.

― Eu sei. ― Kiba olhou-o e sorriu. ― Mas não sei se é uma boa ideia.

― O que não é uma boa ideia é você ir sem alguém para cuidar da sua retaguarda.

― Sei disso também.

― Então… ― Naruto olhou-o, mas Kiba não respondeu. Por fim, Naruto observou: ― Qual é, Kiba? Por que me contou, então?

― Se Neji pegar a gente, quem vai pagar é a Hinata.

Naruto não soube o que responder. Ele sabia que era verdade. Que chances eles tinham de entrar em uma reunião como aquela sem serem pegos?

― E se não fizermos nada? ― Kiba olhou para Naruto. ― Shino ainda não sabe o quanto eu descobri. Eu poderia simplesmente esquecer tudo isso e proteger Hinata.

― E as outras pessoas, Kiba? Shino e os outros também serão vítimas deles mais cedo ou mais tarde. Pensa nisso. Nós já o provocamos de todas as maneiras possíveis, eles já nos odeiam há muito tempo. Não há nada que a gente possa fazer para diminuir o ódio deles.

― Mas nós podemos conseguir uma coisa contra eles e garantir que Neji fique longe de Hinata e dos nossos amigos. ― Kiba considerou e olhou para Naruto em busca de apoio.

― Você está falando de chantagem?

― É nossa melhor chance.

― Não sei. ― Naruto bufou. ― Não sei se temos força para ir contra eles. Se eles são tantos e se as pessoas têm tanto medo deles, não sei se é uma boa ideia tentar chantageá-los.

― Então fazemos o quê?

Naruto pensou por um momento. Não estava gostando nem um pouco daquilo.

― Vamos primeiro nos concentrar em descobrir onde será a próxima reunião e vamos até lá ver o que eles estão fazendo.

― Vamos filmar.

― Sim. E depois decidimos o que fazer.

Kiba concordou, olhando para os dois lados da rua.

― É incomoda a sensação de que eles podem estar em qualquer lugar.

― É. ― Naruto olhou ao redor. Antes que Kiba dissesse tudo aquilo, não tinha realmente se importado em olhar para os lados como fazia agora. ― É melhor a gente ir andando. Não queremos que nossos planos acabem antes que a gente comece a coloca-los em prática.

Os dois amigos seguiram juntos por mais algumas ruas e se separaram na praça. No caminho para casa, Naruto pensou em todas os planos e decisões que tinha tomado naquele dia. Ele estava certo sobre os grupos de estudo. Não sobraria muito tempo para eles.


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Notas finais do capítulo

Dúvidas, sugestões e críticas nos comentários.
E, sempre que alguém quiser saber o que está acontecendo comigo, pode passar lá no meu perfil que de tempos em tempos eu atualizo :P



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